versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.11 Rio de Janeiro nov. 2019 Epub 28-Out-2019
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182411.29762017
O processo de envelhecimento é acompanhado por várias modificações, como alterações na composição corporal (redução da massa muscular, aumento de gordura corporal), redução da força muscular, flexibilidade, capacidade funcional e, associado à isso, ocorre um declínio de atividades físicas e desempenho cognitivo nesta população1-4. Esse quadro deletério observado no envelhecimento pode levar a possíveis complicações como a incapacidade física, o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, as multimorbidades ou a síndrome da fragilidade4-6.
Outro fator importante é a alteração cognitiva que o idoso irá apresentar ao longo do envelhecimento, levando a um déficit de memória e um declínio no desempenho em suas atividades diárias, como: leitura, raciocínio logico e abstrato, habilidades espaciais e capacidades verbais7. Existem 3 tipos de alterações cognitivas, o envelhecimento cognitivo normal, o comprometimento cognitivo e a demência8,9.
A prática de atividade física no envelhecimento melhora a aptidão física e a função cognitiva dos idosos. A prática regular de exercício físico desenvolve alterações positivas, desencadeando a angiogênese e o aumento do fluxo sanguíneo cerebral, a sinaptogênese e a neurogênese10.
O exercício físico aumenta o desempenho cognitivo, podendo aumentar a atenção seletiva e a memória de curto prazo. Assim diversos estudos evidenciam a prática de atividade física moderada ou intensa pode ser um tratamento não farmacológico para a melhora da cognição. Um estudo realizado na cidade de Florianópolis com 875 idosos sedentários apresentaram piora da saúde mental e aumento significativo de quadro depressivo11.
A prática regular de exercício físico pode prevenir ou até reverter problemas frequentes encontrados nos idosos durante o envelhecimento, diminuindo os efeitos deletérios do declínio cognitivo12-14. Porém é alarmante a quantidade de idosos inativos, que não praticam nenhuma atividade diária ou física, tornando-se a inatividade física como a quarta causa de morte no mundo15,16.
Estudos sobre a prática regular de atividade física em idosos e o perfil cognitivo desta população devem ser investigados devido à associação com os níveis de atividade física que podem ter impacto sobre funções cognitivas de idosos12,17-19. Posto isso, este estudo propôs avaliar o nível de atividade física e o estado cognitivo (Mini exame do estado mental) de idosos usuários das Unidades Básicas de saúde do Município de Maringá, Paraná.
Segundo dados obtidos junto à Secretária de Saúde do município de Maringá, PR, a população alvo é composta por 42.258 idosos (2016). A amostra inicial a ser considerada foi de 595 idosos, com a adição de 10% de possíveis perdas a amostra final ficou composta por 654 idosos de ambos os sexos, considerando um nível de confiança de 95% e 4% de margem de erro. O software utilizado para obtenção dos cálculos foi o StatDisk versão 8.4.
As UBS das quais fazem parte os idosos foram subdivididos em quatro regiões: Leste (7 UBS), que contempla 21,8% da população, Norte (8 UBS), com 34,5% da população, Oeste (8 UBS), com 23,2% da população, e Sul (8 UBS), que contempla 20,4% da população total de idosos da cidade. Conhecendo a composição das regiões foram selecionadas por sorteio três UBS para serem avaliadas em cada uma das regiões.
Após definido o tamanho da amostra em cada região e selecionada a UBS, foi importante manter a proporção de idosos da população na amostra, sendo assim os cálculos para obtenção da amostra final por UBS de acordo com sexo foram proporcionais às populações.
Foram incluídos no estudo idosos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 60 anos, com capacidade de fala e audição preservadas, que permitiram a aplicação dos questionários. Foi utilizado o Mini exame do estado mental (MEEM) para excluir idosos com déficits cognitivos importantes. O MEEM é composto por questões agrupadas em sete categorias: orientação temporal (escore máximo de 05), orientação espacial (escore máximo de 05), registro de três palavras (escore máximo de 03), atenção e cálculo (escore máximo de 05), recordação das três palavras - evocação (escore máximo de 03), linguagem (escore máximo de 08) e capacidade viso construtiva (escore máximo de 01). Quanto maior o escore em cada domínio, melhor o estado cognitivo no mesmo20. As notas de corte utilizadas para exclusão pelo MEEM foram: 17 para os analfabetos; 22 para idosos com escolaridade entre 1 e 4 anos; 24 para os com escolaridade entre 5 e 8 anos e 26 os que tiverem 9 anos ou mais anos de escolaridade. Estes pontos de corte foram baseados nos critérios de Brucki et al.21. Correspondem à média obtida por esses autores para cada faixa de escolaridade, menos um desvio padrão. Idosos classificados abaixo do ponto de corte específico para sua escolaridade, foram excluídos.
Para a caracterização do perfil sociodemográfico e de saúde dos idosos, foi utilizado um questionário semiestruturado, composto por informações referentes à idade (60 a 69 anos; 70 a 79 anos; 80 anos ou mais), sexo (masculino; feminino), estado civil (casado ou vive com o companheiro; solteiro; divorciado, ou desquitado; viúvo), raça (branca; negra; outra), renda mensal em salário mínimo (SM) de referência no Censo Demográfico 2016 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (R$ 880,00) (1 a 2 SM; 2,1 a 3 SM; mais de 3 SM), aposentadoria (sim; não), escolaridade (não estudou; ensino fundamental incompleto; ensino fundamental completo; ensino médio completo; ensino superior), autopercepção do estado de saúde (ruim; regular; bom; muito bom) e quantidade de medicamentos utilizados (nenhum; 1 a 2; mais de 2).
O nível de atividade física dos idosos foi avaliado utilizando-se a versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ). O mesmo é composto por sete questões abertas e suas informações permitem estimar o tempo despendido, por semana, em diferentes dimensões de atividade física (caminhadas e esforços físicos de intensidades moderada e vigorosa) e de inatividade física (posição sentada). O nível de atividade física foi classificado em sedentário (idosos que não realizaram nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana.), irregularmente ativo (idosos que realizam atividade física, porém, de forma insuficiente para serem classificados como ativos pois não cumpre as recomendações quanto à frequência ou duração), ativo (idosos que realizavam pelo menos 3 dias de atividade vigorosa, por no mínimo 20 minutos; ou 5 dias ou mais de atividade moderada ou caminha por no mínimo 30 minutos; ou pelo menos 5 dias e 150 minutos semanais de qualquer tipo de atividade física) ou muito ativo (idosos que realizavam atividades vigorosas por pelo menos 5 dias na semana, sendo 30 minutos por sessão; ou no mínimo 3 dias na semana de atividade vigorosa, no mínimo 20 minutos por sessão, mais atividades moderadas ou caminhada, por no mínimo 5 dias na semana e 30 minutos por sessão). O comportamento sedentário foi avaliado por meio do tempo médio sentado em um dia de semana, e em um dia de final de semana22.
Este estudo epidemiológico de corte transversal e base populacional foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR). Os dados foram coletados em 12 UBS, divididas nas quatro regiões (norte, sul, leste e oeste), das 33 UBS do município de Maringá, selecionadas por meio de sorteio após autorização da CECAPS. Os idosos voluntários foram abordados pelo pesquisador responsável ou pela equipe de pesquisadores, na própria UBS, informados quanto à justificativa, objetivos e procedimentos a serem realizados, conforme orientações para pesquisa com seres humanos constantes na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Foram abordados os idosos que se encontravam na sala de espera da UBS. Após esses procedimentos, aqueles que aceitaram participar da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foi optado pela entrevista direta na aplicação dos questionários, em razão da possível dificuldade de leitura, problemas visuais e de compreensão dos questionamentos. Os questionários foram respondidos, em média, com 15 minutos de duração.
Na análise dos dados, foi utilizado frequência e percentual para as variáveis categóricas. Para as variáveis numéricas, inicialmente, foi verificada a normalidade dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Como os dados não apresentaram distribuição normal, foram utilizadas Mediana (Md) e Quartis (Q1; Q3) para a caracterização dos resultados. Na estatística inferencial, o teste do Qui-quadrado foi empregado para investigar a associação entre o nível de atividade física e as variáveis sociodemográficas, de saúde e a prevalência de comorbidades dos idosos. Na comparação do nível de atividade física em função da quantidade de comorbidades associadas foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis, seguido do teste “U” de Mann-Whitney para pares de grupos. Considerou-se um nível de significância de p < 0,05.
Nota-se a prevalência de idosos do sexo feminino (56,0%), casados (61,3%), com idade entre 60 e 69 anos (59,2%), renda mensal de 1 a 2 salários mínimos (70,0%), da raça branca (81,0%) e aposentados (75,0%). Observou-se também que a maioria dos idosos possuem ensino fundamental incompleto (43,0%). Já em relação ao perfil de saúde dos idosos usuários da atenção básica a saúde do município de Maringá, verificou-se que a maioria possui percepção de saúde boa (48,5%), tomam de 1 a 2 medicamentos regularmente (43,9%), não tiveram histórico de quedas (83,7%) ou quase quedas nos últimos 6 meses (79,7%) e nível de atividade física ativo/muito ativo (60,7%).
Conforme os achados da Tabela 1, os idosos não realizam atividades físicas vigorosas e poucas atividades moderadas durante a semana. No entanto, nota-se que, em relação à caminhada, os idosos apresentaram nos dias de caminhada mediana de 3,0, como mediana de 40,0 e 140,0 nos minutos de caminhada por dia e semana, respectivamente.
Tabela 1 Nível de atividade física e estado mental dos idosos usuários da atenção básica a saúde do município de Maringá, PR.
Variáveis | Md | Q1-Q3 |
---|---|---|
Atividade física | ||
Dias de caminhada | 3,0 | 2,0-6,0 |
Min. de caminhada p/ dia | 40,0 | 20,0-90,0 |
Min. de caminhada p/ semana | 140,0 | 60,0-420,0 |
Dias de atividade moderada | 1,0 | 0,0-3,0 |
Min. de atividade moderada p/ dia | 20,0 | 0,0-60,0 |
Min. de atividade moderada p/ semana | 30,0 | 0,0-180,0 |
Dias de atividade vigorosa | 0,0 | 0,0-0,0 |
Min. de atividade vigorosa p/ dia | 0,0 | 0,0-0,0 |
Min. de atividade vigorosa p/ semana | 0,0 | 0,0-0,0 |
Estado Mental | ||
Orientação temporal | 5,0 | 5,0-5,0 |
Orientação espacial | 5,0 | 5,0-5,0 |
Memória imediata | 3,0 | 3,0-3,0 |
Atenção e cálculo | 2,0 | 1,0-4,0 |
Evocação (Lembrança) | 3,0 | 2,0-3,0 |
Linguagem | 8,0 | 7,0-8,0 |
Estado cognitivo geral | 25,0 | 23,0-27,0 |
Em relação ao estado mental (Tabela 1), os idosos apresentaram alto escore na orientação temporal (Md = 5,0), Orientação espacial (Md = 5,0), memória imediata (Md = 3,0), evocação (Md = 3,0) e linguagem (Md = 8,0), com escore moderado para atenção e cálculo (Md = 2,0). No estado cognitivo geral, os idosos apresentaram mediana de 25,0.
Ao comparar o estado mental em função do nível de atividade física dos idosos usuários da atenção básica à saúde do município de Maringá (Tabela 2), verificou-se diferença significativa entre os grupos no estado mental na atenção e cálculo (p = 0,036), estado mental na evocação (p = 0,001) e no estado cognitivo geral (p = 0,002). Este achado parece indicar que os idosos Muito ativos/ativos apresentam maior escore nestes domínios cognitivos em comparação aos com menor nível de atividade física.
Tabela 2 Comparação do estado mental em função do nível de atividade física dos idosos usuários da atenção básica a saúde do município de Maringá, PR.
Variáveis | Nível de atividade física | P | ||
---|---|---|---|---|
Muito ativo/ativo | Irregularmente ativo | Sedentário | ||
Md (Q1;Q3) | Md (Q1;Q3) | Md (Q1;Q3) | ||
Orientação temporal | 5,0 (5,0-5,0) | 5,0 (5,0-5,0) | 5,0 (5,0-5,0) | 0,130 |
Orientação espacial | 5,0 (5,0-5,0) | 5,0 (5,0-5,0) | 5,0 (5,0-5,0) | 0,180 |
Memória imediata | 3,0 (3,0-3,0) | 3,0 (3,0-3,0) | 3,0 (3,0-3,0) | 0,853 |
Atenção e cálculo | 3,0 (1,0-5,0)a | 2,0 (0,3-4,0) | 2,0 (0,5-3,0) | 0,036* |
Evocação (Lembrança) | 3,0 (2,0-3,0)b | 2,0 (0,3-4,0) | 2,0 (0,5-3,0) | 0,001* |
Linguagem | 8,0 (7,0-8,0) | 8,0 (6,0-8,0) | 8,0 (7,0-8,0) | 0,676 |
Estado cognitivo geral | 25,0 (23,0-28,0)c | 24,5 (22,0-26,0) | 24,0 (22,0-25,0) | 0,002* |
*Diferença significativa: p < 0,05 - Teste de Kruskal-Wallis - entre: a) Muito ativo/Ativo com Sedentário; b) Muito ativo/ativo com Irregularmente ativo e Sedentário; c) Muito ativo/ativo com Irregularmente ativo e Sedentário.
Ao analisar a correlação entre as variáveis de atividade física e estado mental (Tabela 3), verificou-se as seguintes correlações significativas (p < 0,05): orientação temporal e dias de caminhada (r = 0,13); orientação espacial com dias de atividade vigorosa (r = -0,17), minutos de atividade vigorosa por dia (r = -0,16) e minutos de atividade vigorosa por semana (r = -0,16); atenção e cálculo com dias de caminhada (r = 0,12), minutos de caminhada por dia (r = 0,16) e minutos de caminhada por semana (r = 0,16); evocação com dias de caminhada (r = 0,20), minutos de caminhada por dia (r = 0,26), minutos de caminhada por semana (r = 0,25), dias de atividade vigorosa (r = 0,16), minutos de atividade vigorosa por dia (r = 0,16) e minutos de atividade vigorosa por semana (r = 0,14); linguagem com dias de caminhada (r = 0,11); estado cognitivo geral com dias de caminhada (r = 0,20), minutos de caminhada por dia (r = 0,16) e minutos de caminhada por semana (r = 0,19).
Tabela 3 Correlação entre o nível de atividade física e o estado mental dos idosos.
Variáveis | Nível de atividade física | Estado mental | ||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 | |
1. | 0,56* | 0,77* | 0,23* | 0,14* | 0,18* | -0,06 | -0,08 | -0,07 | 0,13* | 0,07 | 0,08 | 0,12* | 0,20* | 0,11* | 0,20* | |
2. | 0,89* | 0,26* | 0,31* | 0,28* | 0,02 | 0,01 | 0,01 | 0,04 | -0,07 | 0,10 | 0,16* | 0,26* | -0,01 | 0,16* | ||
3. | 0,26* | 0,26* | 0,30* | 0,02 | 0,01 | 0,01 | 0,06 | -0,04 | 0,10 | 0,16* | 0,25* | 0,04 | 0,19* | |||
4. | 0,86* | 0,93* | 0,47* | 0,47* | 0,47* | 0,08 | -0,06 | -0,02 | 0,05 | 0,16* | -0,05 | 0,06 | ||||
5. | 0,94* | 0,50* | 0,53* | 0,53* | 0,05 | -0,09 | -0,01 | 0,06 | 0,16* | -0,07 | 0,06 | |||||
6. | 0,51* | 0,53* | 0,53* | 0,06 | -0,08 | -0,01 | 0,06 | 0,14* | -0,02 | 0,07 | ||||||
7. | 0,98* | 0,98* | 0,02 | -0,17* | -0,03 | -0,02 | 0,04 | -0,02 | -0,05 | |||||||
8. | 0,99* | 0,02 | -0,16* | -0,02 | -0,01 | 0,04 | -0,01 | -0,04 | ||||||||
9. | 0,01 | -0,16* | -0,02 | -0,01 | 0,04 | -0,01 | -0,04 | |||||||||
10. | 0,20* | 0,08 | 0,13* | 0,12* | 0,07 | 0,30* | ||||||||||
11. | 0,09 | 0,08 | -0,06 | 0,16* | 0,28* | |||||||||||
12. | 0,15* | 0,12* | 0,22* | 0,27* | ||||||||||||
13. | 0,06 | 0,27* | 0,83* | |||||||||||||
14. | -0,03 | 0,32* | ||||||||||||||
15. | 0,53* | |||||||||||||||
16. |
*Correlação Significativa - p < 0,05. Nota: 1. Dias de caminhada; 2. Min. caminhada p/ dia; 3. Min. caminhada p/ sem.; 4. Dias atv moderada; 5. Min. Ativ. Mod. p/ dia; 6. Min. Ativ. Mod. p/ sem; 7. Dias de atv. Vigorosa; 8. Min. Atv. vigorosa p/ dia; 9. Min. Atv. Vig. p/ sem.; 10. Orientação temporal; 11. Orientação espacial; 12. Memória imediata; 13. Atenção e cálculo; 14. Evocação (Lembrança); 15. Linguagem; 16. Estado cognitivo geral.
Os principais resultados deste estudo mostram que idosos com maiores níveis de atividade física possuem melhores escores de estado cognitivo geral quando comparados com sujeitos que demonstraram baixo nível de atividade física e / ou sedentarismo.
Algumas variáveis podem impactar negativamente nas funções cognitivas no envelhecimento. Dentre estas, o grau de escolaridade apresentado pelos idosos neste estudo pode ter influenciado nos resultados aqui mostrados, já que 43% dos sujeitos não possuíam ensino fundamental completo.
Mas apesar disso, bons níveis de atividade física e pratica regular de exercícios pode ser uma ótima ferramenta para combater tais disfunções cognitivas nessa população. A literatura mostra que quantidades adequadas de atividade física e exercícios físicos podem melhorar aspectos morfológicos do cérebro, como por exemplo aumento da massa cerebral de várias regiões do cérebro, dentre as quais pode-se destacar o hipocampo (região responsável por funções de aprendizagem e memória). Além disso, podem ser observadas melhoras em mediadores bioquímicos que podem provocar alterações no cérebro e nas suas funções cognitivas18,19,23,24, sendo que o aumento de alguns desses mediadores, como as neurotrofinas, podem ajudar na manutenção, crescimento dos neurônios e assim melhorando a plasticidade neural do sujeito.
Um fator importante para ter um envelhecimento saudável é sempre manter bons níveis de atividade física, tanto para a saúde física quanto para a saúde mental19,25. A Organização Mundial de Saúde16 afirma que a prática regular de exercícios tem o poder de prevenir, minimizar e/ou reverter muitos dos problemas que frequentemente acompanham o processo de envelhecimento.
O exercício físico pode influenciar na performance cognitiva e suas funções neurológicas por diversos motivos: a) em função do aumento nos níveis dos neurotransmissores e por mudanças em estruturas cerebrais (isso seria evidenciado na comparação de indivíduos fisicamente ativos x sedentários); b) pela melhora cognitiva observada em indivíduos com prejuízo mental (baseado na comparação com indivíduos saudáveis); c) na melhora limitada obtida por indivíduos idosos, em função de uma menor flexibilidade mental/atencional quando comparado com um grupo jovem18,25.
Partindo desse pressuposto, precisa ser destacado ainda que a ação do exercício físico sobre a função cognitiva pode ser direta ou indireta. Os mecanismos que agem diretamente aumentando a velocidade do processamento cognitivo seriam uma melhora na circulação cerebral e alteração na síntese e degradação de neurotransmissores. Além dos mecanismos diretos, outros, tais como diminuição da pressão arterial, decréscimo dos níveis de LDL e triglicérides no plasma sanguíneo e inibição da agregação plaquetária parecem agir indiretamente, melhorando essas funções e também a capacidade funcional geral, refletindo-se desta maneira no aumento da qualidade de vida26.
Dados epidemiológicos sugerem que pessoas moderadamente ativas têm menor risco de ser acometidas por desordens mentais do que as sedentárias, mostrando que a participação em programas de exercícios físicos exerce benefícios na esfera física e psicológica, e que indivíduos fisicamente ativos provavelmente possuem um processamento cognitivo mais rápido4,19.
Vale destacar que durante o processo de envelhecimento outras alterações ocorrem concomitantemente à essas alterações neurofisiológicas e cognitivas. Dentre essas, podemos destacar alterações na composição corporal, que por sua vez pode estar estritamente relacionado com piora nas funções cognitivas27,28. Essa associação da composição corporal, principalmente aumento da gordura corporal e declínio cognitivo, está relacionada às alterações de mediadores inflamatórios provocados pelo acumulo de gordura29. Esse aumento da inflamação sistêmica pode alcançar níveis centrais, fazendo com que tais moléculas atravessem a barreira hematopoiética, que por sua vez, vão provocar inflamação no tecido cerebral e assim causando danos teciduais e fazendo com que haja morte de neurônios e por fim piorando funções cognitivas30.
Ou seja, além da prática de exercícios físicos e atividade física já possuírem um impacto positivo sobre funções cognitivas, a manutenção de um peso corporal adequado é importante aliado contra essas disfunções do envelhecimento.
Dada a relevância dos achados sobre o tema e em razão do impacto que a prática de exercícios pode ter sobre a cognição e consequentemente sobre a qualidade de vida de idosos, é importante a realização de outros estudos na área. Especificamente no Brasil, onde essa relação é ainda pouco explorada, trabalhos sobre o tema podem ser relevantes para o conhecimento dos hábitos relacionados às atividades e de suas consequências para nossa população.
Os resultados deste estudo podem ajudar profissionais que atuam na prescrição de atividades físicas e exercícios, pois proporcionam informações relevantes, mostrando que idosos fisicamente ativos possuem uma maior chance de manter suas funções cognitivas durante o processo de envelhecimento.
Com isso, concluímos que níveis adequados de atividade física (~150 min/semana) podem estar relacionados a melhores escores de funções cognitivas de sujeitos idosos.