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O papel do Einstein na pesquisa

O papel do Einstein na pesquisa

Autores:

Nelson Wolosker,
Luiz Vicente Rizzo,
Cláudio Schvartsman

ARTIGO ORIGINAL

Einstein (São Paulo)

versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385

Einstein (São Paulo) vol.12 no.2 São Paulo abr./jun. 2014

http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082014ED3063

Pesquisa científica é um processo sistemático, que visa à construção do conhecimento por meio de um conjunto de avaliações estruturadas, gerando o desenvolvimento tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual ela se desenvolve.

O objetivo da pesquisa é produzir conhecimento, possivelmente aplicável dentro e fora do ambiente dos pesquisadores, podendo gerar ações práticas. Sua metodologia deve ser reprodutível e seus resultados podem ser transportados a situações do mundo real, gerando implicações para toda a comunidade.

Um bom exemplo desse processo ocorreu no início da última década, quando, pacientes com isquemia que apresentassem estenoses curtas da artéria femoral superficial eram tratados com pontes de safena obtendo ótimos resultados, mas às custas de altas taxas de complicações clínicas. Diversos estudos com o uso de angioplastia associada à colocação de stents demonstraram que essas mesmas lesões tinham bons resultados a longo prazo, porém com menores índices de complicações.(1,2) Com esse novo conhecimento e baseada em conceitos de custoefetividade, a conduta mudou, e os pacientes deixaram de ser submetidos a grandes cirurgias, passando a serem tratados pelo método endovascular.

Uma investigação bem conduzida é considerada a base do desenvolvimento de uma boa política de saúde em qualquer parte do mundo. Ao invés de apenas teorizar sobre o que poderia ser eficaz ou funcionar, ou de utilizar métodos empíricos ou políticos, os pesquisadores fazem estudos que dão às instituições e à sociedade dados concretos, que facilitarão suas decisões, gerando programas eficazes de saúde institucional e mesmo global.

Até poucos anos atrás, pacientes com hiperidrose eram tratados o mais rapidamente possível por meio de simpatectomia torácica, mas com um efeito colateral constante − a hiperidrose compensatória, que, muitas vezes, gerava mais sofrimento aos doentes do que a doença inicial.(3,4) Hoje, pacientes portadores dessa doença tão frequente, independentemente da idade, são inicialmente tratados com uma medicação de baixo custo, o cloridrato de oxibutinina, e aqueles que melhoram, permanecem recebendo essa medicação, com registro de melhora importante de sua Qualidade de Vida; apenas os que não melhoram são operados.(5,6) Com isso, houve uma grande diminuição do número de pacientes operados, com redução de custo para as fontes pagadoras e diminuição de complicações irreversíveis e desnecessárias.

Hoje, o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) encontra-se na liderança no campo assistencial, graças ao aproveitamento de profissionais e aos conhecimentos advindos especialmente de instituições universitárias nacionais de boa qualidade.

Há mais de 30 anos, foi criado o Centro de Estudos do HIAE, com o intuito de reunir os médicos da instituição apenas para discussões de casos e atualização médica. Naquela época não se cogitava realizar pesquisa médica na instituição. Os líderes acreditavam, então, que a pesquisa deveria ser realizada na universidade, e não num hospital de cunho assistencial. Eles não imaginavam que, em um ambiente privado, os pacientes consentiriam fazer parte de pesquisa científica.

Com o passar dos anos, o HIAE cresceu e evoluiu. Como a maioria das grandes instituições mundiais, a pesquisa passou a ser naturalmente realizada, cada vez com maior frequência, além de ser cada vez mais estimulada. Sabemos que, nos Estados Unidos, as principais instituições médicas, como a Cleveland Clinic, a Mayo Clinic e outras, têm atividades assistenciais e de pesquisa balanceadas, sendo a combinação de ambas em alto nível o motivo de sua excelente reputação mundial. Baseados nisso, na década de 2000, criamos o Instituto de Ensino e Pesquisa, para estimular o progresso da pesquisa científica no HIAE, gerando crescimento exponencial em nossas atividades de pesquisa.

O evento final de uma pesquisa científica consiste em sua divulgação por meio da publicação de trabalhos em periódicos e da eventual criação de patentes. Ambas as ações tornam as instituições conhecidas e respeitadas na comunidade global de forma direta. Com nossa nova postura, investimos grande energia em pesquisa, o que nos levou, em 2013, a publicar 198 artigos originais em revistas indexadas de impacto maior que 1 e a receber 593 citações. Isso ocorreu após o recebimento, em 2012, do Prêmio SciVal, da editora Elsevier, em colaboração com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por ter sido o instituto de pesquisa no Brasil com a melhor média de citações por artigo do Brasil no triênio anterior.

De forma indireta, mas não menos importante, a atividade de pesquisa resulta na criação de postos de trabalho diferenciados. Em nosso caso, parte dos pesquisadores já se encontram trabalhando em diferentes áreas assistenciais de nossa instituição e, sem sombra de dúvida, gostariam de participar de forma mais intensa de atividades de pesquisa. Aumentando sua atividade de pesquisa, os jovens podem se desenvolver e ser mais e melhor aproveitados, além de aumentarem sua credibilidade no mercado.

A pesquisa requer estrutura, grande planejamento, treinamento e trabalho em equipe. Dessa forma, trata-se de um processo baseado na interação de pessoas e na avaliação contínua de questões relativas a objetivos, métodos e dados, o que leva a novas ideias, revisões e melhoria de processos.

Havendo uma boa conexão entre os pesquisadores e dirigentes institucionais, os resultados tornam-se de grande importância prática, melhorando as atividades em todos os nichos estratégicos.

Uma alternativa simplista ao movimento no qual nos encontramos poderia ser a manutenção de um status quo, no qual continuaríamos a nos aproveitar da contratação de profissionais oriundos de outras instituições e do conhecimento produzido por outros serviços. Isso nos colocaria numa situação segura e estável a curto e médio prazos; entretanto, a longo prazo, correríamos o risco de involução.

Portanto, não temos dúvida de nossos objetivos: fazemos e continuaremos a fazer um grande investimento em pesquisa científica de boa qualidade, para nos tornamos uma entidade ainda maior e gerar benefícios a toda sociedade brasileira. Nesse sentido, iniciaremos, este ano, nosso programa de mestrado e doutorado em Ciências da Saúde, aprovado pela CAPES com o nível 4. Voltado para a formação completa de um pesquisador, inovamos na grade de disciplinas, na atribuição de metas e responsabilidades, e na integração entre grupos de pesquisa e entre cursos de pós-graduação e graduação. Será mais um desafio em direção à consolidação da pesquisa científica como parte integrante e essencial de nossas atividades.

REFERÊNCIAS

. Norgren L, Hiatt WR, Dormandy JA, Nehler MR, Harris KA, Fowkes FG, Rutherford RB; TASC II Working Group. Inter-society consensus for the management of peripheral arterial disease. Int Angiol. 2007;26(2):81-157. Review.
. Wolosker N, Nakano L, Anacleto MM, Puech-Leão P. Primary utilization of stents in angioplasty of superficial femoral artery. Vasc Endovascular Surg. 2003;37(4):271-7.
. Ishy A, de Campos JR, Wolosker N, Kauffman P, Tedde ML, Chiavoni CR, et al. Objective evaluation of patients with palmar hyperhidrosis submitted to two levels of sympathectomy: T3 and T4. Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2011;12(4):545-8.
. Wolosker N, Munia MA, Kauffman P, Campos JR, Yazbek G, Puech-Leão P. Is gender a predictive factor for satisfaction among patients undergoing sympathectomy to treat palmar hyperhidrosis? Clinics (Sao Paulo). 2010;65(6):583-6.
. Wolosker N, Schvartsman C, Krutman M, Campbell TP, Kauffman P, de Campos JR, et al. Efficacy and quality of life outcomes of oxybutynin for treating palmar hyperhidrosis in children younger than 14 years old. Pediatr Dermatol. 2014;31(1):48-53.
. Wolosker N, de Campos JR, Kauffman P, Puech-Leão P. A randomized placebo-controlled trial of oxybutynin for the initial treatment of palmar and axillary hyperhidrosis. J Vasc Surg. 2012;55(6):1696-700.