versão impressa ISSN 1808-8694
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.80 no.4 São Paulo jul./ago. 2014
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.05.024
Os pólipos coanais tratam-se de uma forma de pólipos nasais que crescem em direção à coana com um pedículo único.1 O pólipo septocoanal é uma entidade rara, que se origina da mucosa do septo nasal, com extensão para a região da coana,2 tendo sido, até o momento, publicados três casos da doença.2 - 4 Neste artigo, é relatado um novo caso de pólipo septocoanal, juntamente com uma revisão da literatura sobre seu quadro clínico, patogênese e opções de tratamento, a fim de ampliar nossos conhecimentos sobre essa lesão coanal incomum.
Paciente de 59 anos de idade, do sexo feminino, procurou nosso departamento com queixa de obstrução nasal à esquerda, com dois meses de duração. O sintoma apresentava piora progressiva e, na consulta otorrinolaringológica foi detectado um tumor na coana esquerda. O exame endoscópico revelou um tumor unilateral com base na face superior da parte posterior do septo nasal, na cavidade nasal esquerda. O pólipo encontrava-se pendente e solto na coana, ligado à sua base através de um fino pedículo (figs. 1A e B). A tomografia computadorizada mostrou um tumor lobulado e pediculado com 1,7 x 0,9 x 1,2 cm de tamanho, originando-se no septo nasal esquerdo e fazendo protrusão na nasofaringe, sem envolvimento dos seios paranasais (figs. 1D e E).
A lesão tumoral foi completamente removida sob anestesia local utilizando-se instrumentação endoscópica, e a base da lesão, incluindo a mucosa saudável do septo posterior esquerdo, foi removida e cauterizada com um cautério-aspirador para prevenção de recorrência (fig. 1C). O exame histológico revelou pólipo inflamatório crônico. Não houve sinais de recorrência durante um período de controle de 12 meses.
Com base nos locais de origem, os pólipos coanais são classificados como antrocoanais, esfenocoanais e etmoidocoanais.2 Embora o sítio de ocorrência, seja variável, sabe-se que a sua origem a partir do septo nasal é muito rara.2 - 4 A primeira descrição de um pólipo coanal com origem no septo nasal foi publicada por Bailey em 19793 e, em 2009, H. Birkent usou o termo "pólipo septocoanal" para essa lesão rara.
Os pólipos septocoanais são benignos, unilaterais e invadem a cavidade nasal posterior através da nasofaringe. O local mais comum para sua origem foi, principalmente, a face superior da parte posterior do septo nasal.2 - 4
Em relação à sua fisiopatogenia, Mills et al. acreditam que os pólipos coanais possam se originar do processo de recuperação de uma sinusite, quando há expansão do cisto mucinoso decorrente da obstrução e rompimento da glândula mucosa.5 O quadro clínico dos pólipos septocoanais incluem obstrução nasal e roncos.2 - 4
A detecção pré-operatória da origem do pólipo por endoscopia nasal pode ser importante para o diagnóstico diferencial e o planejamento cirúrgico. Caracteristicamente, nos achados endoscópicos há um pedículo unindo o septo nasal com o tumor polipoide coanal principal.3 Embora a TC não seja essencial para seu diagnóstico, ela permite confirmação acurada do envolvimento sinusal e do local de origem.
No diagnóstico diferencial de tumores nasofaríngeos, é preciso descartar tumores benignos, como o angiofibroma juvenil, o teratoma, a meningoencefalocele, o cordoma, o paraganglioma, o papiloma invertido, a hipertrofia da adenoide e o angiofibroma.6
Se os pólipos coanais apresentam um pedículo a partir do septo nasal, comprovado endoscopicamente, sem envolvimento sinusal, o tratamento de escolha é a cirurgia endoscópica sob anestesia local. Como a taxa de recorrência de pólipos coanais após tratamento cirúrgico é estimada em 26,6%, para que a remoção dos pólipos septocoanais por cirurgia endoscópica seja completa, a ressecção de pequena quantidade de mucosa saudável em torno do ponto de origem do pedículo a fim de prevenir essa recorrência pode ser necessária.1
Embora se saiba que os pólipos coanais originados no septo nasal são muito raros, deve-se ter em mente que o pólipo septocoanal precisa ser incluído no diagnóstico diferencial de lesões tumorais de coana.