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Ocorrência de Acidente Vascular Cerebral e Fração de Ejeção Reduzida em Pacientes com Doença de Chagas

Ocorrência de Acidente Vascular Cerebral e Fração de Ejeção Reduzida em Pacientes com Doença de Chagas

Autores:

Elieusa e Silva Sampaio,
Márcia Maria Carneiro Oliveira,
Roque Aras

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.110 no.3 São Paulo mar. 2018

https://doi.org/10.5935/abc.20180029

Ao Editor

A Doença de Chagas (DC) é um fator de risco bem definido para Acidente Vascular Cerebral (AVC).1 Mas o significado prognóstico da prevalência de AVC na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) reduzida em comparação com a FEVE preservada em pacientes com insuficiência cardíaca e com DC, ainda é pouco conhecido.2

Há estudos que demonstram associação do AVC com DC e com FEVE reduzida3 e há os que refutam esta associação.4 Em um estudo transversal, envolvendo 85 pacientes chagásicos com média de idade de 61,8 ± 9,3 anos, sendo 71,8% com insuficiência cardíaca e 96,5% da raça negra, os pacientes foram comparados com a FEVE ≤ 40% e FEVE > 40%, para avaliar a ocorrência de AVC em pacientes com DC e FEVE reduzida. Evidenciou-se que a FEVE ≤ 40% (OR 4,37: 1,65-11,63; p = 0,003) foi um preditor independente para AVC em comparação com pacientes com FEVE preservada. Observou-se ainda uma alta prevalência (50%) de AVC a qual obtida pela tomografia de crânio, número próximo a uma coorte de chagásicos de 41,6% na mesma localidade.5 Não houve AVCs hemorrágicos e também não houve relação significativa entre fibrilação atrial e AVC, este dado pode ser explicado pelo uso de anticoagulantes orais nestes pacientes. Além disso, foram detectados 54,8% de acidentes vasculares silenciosos em pacientes que não tinham história de AVC. A alta prevalência de AVC neste estudo com pacientes chagásicos, pode ter acontecido porque todos os pacientes foram avaliados com tomografia de crânio, ao contrário de outros estudos, que geralmente utilizam como critérios de diagnóstico de AVC os achados clínicos e/ou radiológicos1,4 e comumente não avaliam o infarto cerebral silencioso.4 Os dados sugerem que a FEVE reduzida está associada ao AVC, confirmado por meio de tomografia de crânio e pode ser um preditor independente de eventos embólicos nesta população.

REFERÊNCIAS

1 Carod-Artal FJ, Vargas AP, Horan TA, Nunes LG. Chagasic cardiomyopathy is independently associated with ischemic stroke in Chagas disease. Stroke. 2005;36(5):965-70. doi: 10.1161/01.STR.0000163104.92943.50.
2 Cardoso RN, Macedo FY, Garcia MN, Garcia DC, Benjo AM, Aguilar D, et al. Chagas cardiomyopathy is associated with higher incidence of stroke: a meta-analysis of observational studies. J Card Fail. 2014;20(12):931-8. doi: 10.1016/j.cardfail.2014.09.003.
3 Nunes MC, Barbosa MM, Ribeiro AL, Barbosa FB, Rocha MO. Ischemic cerebrovascular events in patients with Chagas cardiomyopathy: a prospective follow-up study. J Neurol Sci. 2009;278(1-2):96-101. doi: 10.1016/j.jns.2008.12.015.
4 Nunes MC, Kreuser LJ, Ribeiro AL, Sousa GR, Costa HS, Botoni FA, et al. Prevalence and risk factors of embolic cerebrovascular events associated with Chagas heart disease. Glob Heart. 2015;10(3):151-7. doi: 10.1016/j.gheart.2015.07.006.
5 da Matta JA, Aras R Jr, de Macedo CR, da Cruz CG, Netto EM. Stroke correlates in Chagasic and non-Chagasic cardiomyopathies. PLoS One. 2012;7(4):e35116. doi: 10.1371/journal.pone.0035116.