Print version ISSN 0102-6720
ABCD, arq. bras. cir. dig. vol.27 no.4 São Paulo Nov./Dec. 2014
https://doi.org/10.1590/S0102-67202014000400021
As variações anatômicas da artéria hepática são comumente encontradas durante exames radiológicos e operações abdominais1 , 8. Estima-se que o índice de variação atinja até 45% da população8. Prevalência tão significativa confere a esse tipo de variação grande importância médica, e justifica o cirurgião conhecê-la para evitar lesões iatrogênicas.
O esquema arterial habitual é a artéria hepática comum ascender do tronco celíaco8; contudo, por variações embriológicas esse arranjo pode mudar. Essas variações, da mais para a menos prevalente, são: 1) a artéria hepática direita ascender da artéria mesentérica superior; 2) a artéria hepática esquerda ascender da artéria gástrica esquerda; 3) os dois fatos ocorrerem simultaneamente; e 4) a artéria hepática comum ascender da artéria mesentérica superior.
Neste artigo, é relatada ocorrência da última situação. De acordo com a literatura pesquisada, não há consenso quanto ao critério de designação dessa variação. Por isso, ela pode ser descrita de duas maneiras: considerar que se trata de um tronco hepatomesentérico - de onde se originam a artéria mesentérica superior e artéria hepática comum -, ou pode-se dizer que a artéria hepática comum surge como ramo da artéria mesentérica superior.
O objetivo deste trabalho é apresentar um caso e ressaltar as prevalências das posições anômalas das artérias hepáticas e suas possíveis implicações.
Foi observado em um cadáver masculino artéria hepática comum originando-se da artéria mesentérica superior, situada 3,5 cm inferolateralmente ao tronco celíaco, formando um tronco hepatomesentérico. Os demais ramos do tronco celíaco eram habituais e exibiam o trajeto típico (Figura 1).
Variações da artéria hepática têm base embriológica10. Durante o desenvolvimento intra-uterino, há a formação de quatro vasos esplâncnicos ventrais, conectados por uma anastomose ventral longitudinal. Com a maturação destes, as duas raízes centrais degeneram. Assim, a primeira e a quarta raízes, que formarão respectivamente o tronco celíaco e a artéria mesentérica superior, permanecem anastomosadas. Se a separação entre elas ocorre em nível diferente da normal, qualquer vaso do tronco celíaco pode ser deslocado para artéria mesentérica superior. Tal situação é exibida no relato de caso: com a separação anômala das raízes houve a formação de um tronco hepatomesentérico e outro gastroesplênico.
Vários trabalhos1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , 7 , 8 , 9 , 10 , 11 relatam diferentes variações. O mais representativo deles é o de Hiatt et al.5 com amostra de 1000 pessoas. A variação aqui apresentada (artéria hepática comum + artéria mesentérica superior) é pouco comum com ocorrência média de 2%. Tal valor está de acordo também com os valores achados em outros artigos que vão desde 1,6% a 3,5%.