versão impressa ISSN 1808-8694versão On-line ISSN 1808-8686
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.83 no.2 São Paulo mar./abr. 2017
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2016.08.007
Cara Editora,
O recente artigo sobre perda auditiva na infecção congênita por zika vírus’ é muito interessante.1 Leal et al. relataram um caso curioso de perda auditiva neurossensorial em um caso de infecção congênita pelo zika vírus.1 Na verdade, não há dúvidas de que o zika vírus pode induzir efeitos teratogênicos e a o principal acometimento é sobre o sistema neurológico fetal. No entanto, o mito é o mecanismo exato subjacente à perda de audição no presente caso. Na verdade, acredita-se que a invasão viral direta seja a patogenia principal do defeito neurológico na infecção congênita por zika vírus.2 No presente relato, a preocupação é com o envolvimento cerebral não fatal, mas com defeito no sistema neuroauditivo. Geralmente, o comprometimento cerebral na infecção congênita por zika vírus está no córtex3 e não é comum no tronco cerebral; portanto, raramente envolve o sistema neuroauditivo. Na verdade, existem muitas infecções virais que podem resultar em perda auditiva neurossensorial congênita, como a infecção pelo citomegalovírus (CMV).3 Existem muitas explicações possíveis para o presente caso. Como não há evidência clara de quando a mãe adquiriu a infecção, a infecção intrauterina pelo zika vírus pode ter ocorrido após o desenvolvimento do cérebro. Também pode ter havido infecção concomitante anterior silenciosa, que poderia já ter envolvido o sistema auditivo e induzido à perda auditiva neurossensorial (como a infecção por CMV, que pode ficar em silêncio na gestante).4