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Perspectivas e Evolução da Pesquisa em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares na América Latina

Perspectivas e Evolução da Pesquisa em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares na América Latina

Autores:

Luiz Felipe P. Moreira

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782X

Arq. Bras. Cardiol. vol.104 no.1 São Paulo jan. 2015

https://doi.org/10.5935/abc.20150008

As publicações sobre pesquisa cardiovascular apresentaram crescimento expressivo no Brasil e na maioria dos países da América Latina na última década. De acordo com o estudo bibliométrico de Colantonio e cols.1, publicado como artigo especial nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, este aumento ocorreu em um percentual médio de 12,9% ao ano, no período de 1999 a 20081. Nos últimos cinco anos, a elevação do número de publicações em Ciências Cardiovasculares continuou a ocorrer de forma importante nos mesmos países, atingindo cerca de 1500 publicações nesta área do conhecimento no ano de 2013, segundo dados dos principais indexadores internacionais, como o Web of Science da empresa Thompson-Reuters e o Scopus-Scimago da empresa Elsevier. Estes números, no entanto, ainda representam menos de 3% das publicações realizadas em periódicos internacionais indexados na área de Cardiologia e Ciências Cardiovasculares.

A análise bibliométrica a respeito das publicações sobre pesquisa cardiovascular na América Latina demonstra ainda a existência de uma estreita relação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e do Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos países analisados com o número total de trabalhos publicados no período estudado1. Esta relação foi bem significativa, com exceção apenas do Brasil, que apresentou uma participação muito mais expressiva no número de publicações científicas realizadas do que o esperado pelo seu grau de desenvolvimento1, sendo responsável por mais de 60% de todas as publicações analisadas. A crescente elevação do número e da qualidade das publicações em Cardiologia em nosso país se explica pela melhor qualificação dos pesquisadores brasileiros a partir da formação proporcionada pelos programas de pós-graduação Stricto sensu e por programas de incentivo à formação e à produção científica patrocinados pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ) e pelas sociedades médicas nacionais2.

Além da expressiva elevação no número de publicações realizadas no âmbito das Ciências Cardiovasculares, também são relevantes as modificações observadas no perfil destas publicações e nos principais temas abordados por elas durante as últimas décadas. Neste sentido, o trabalho de Évora e cols. traz uma excelente visão a respeito da evolução da prevalência das principais afecções cardíacas, com base nas publicações realizadas pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia nos 60 anos durante os quais o periódico esteve indexado em nível internacional3. Ao longo do período analisado, foi observada a progressiva elevação do percentual de publicações a respeito da doença arterial coronária, do infarto do miocárdio, da hipertensão arterial e da insuficiência cardíaca congestiva − afecções cuja prevalência e ações de prevenção e tratamento tornaram-se cada vez mais frequentes, com grande impacto em relação à elevação dos índices de sobrevivência da população4.

Embora as publicações brasileiras e da América Latina em geral se concentrem em periódicos internacionais com índices de impacto muitas vezes elevados, o trabalho de Colantonio e cols.1 demonstrou, por outro lado, que estas publicações apresentam índices de citação menores do que as publicações oriundas de países de alta renda e IDH mais elevado1. Com relação aos índices de citação avaliados nos cinco anos que se seguiram às publicações realizadas, o mesmo trabalho não observou relação significativa deste dado com o IDH ou com o PIB per capita dos países analisados, ao contrário do observado com relação ao número total de trabalhos publicados.

Apesar da constante elevação dos números de publicações realizadas, os diversos aspectos relacionados à produção científica em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares oriunda de países latino-americanos demonstram claramente que ainda temos que evoluir muito para alcançar índices relevantes de impacto em nível internacional nesta área do conhecimento. Colaboram com esta situação a existência de grandes diferenças culturais e econômicas entre os diversos países que compõem o continente e a falta de políticas governamentais efetivas de incentivo à produção científica de qualidade nestes países. Neste sentido, além da elevação dos subsídios governamentais e privados aplicados à pesquisa científica, a implementação de programas de treinamento em pesquisa clínica e laboratorial, bem como a ampliação da formação em nível de pós-graduação Stricto sensu, são essenciais para o adequado desenvolvimento científico. Paralelamente, a implementação de ensaios clínicos e de registros multicêntricos ou multinacionais a respeito das principais afecções cardiovasculares devem ser apoiadas com o objetivo de ampliar a relevância e o impacto das informações obtidas, bem como o adequado conhecimento das realidades nacionais.

REFERÊNCIAS

Colantonio LD, Baldridge AS, Huffman MD, Bloomfield GS, Prabhakaran D. Publicações de pesquisas cardiovasculares da América Latina entre 1999 e 2008. Um estudo bibliométrico. Arq Bras Cardiol. 2015;104(1):5-15.
Moreira LF. Impacto da produção científica nacional em cardiologia na qualificação dos periódicos publicados no Brasil. Arq Bras Cardiol. 2013;101(4):286-7.
Evora PR, Nather JC, Rodrigues AJ. Prevalência das doenças cardíacas ilustrada em 60 anos dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2014;102(1):3-9.
Gaui EM, Oliveira GMM, Klein CH. Mortalidade por insuficiência cardíaca e doença isquêmica do coração no Brasil de 1996 a 2011. Arq Bras Cardiol. 2014;102(6):557-65.