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Polimorfismo I/D do Gene da ECA em Crianças com Histórico Familiar de Doença Arterial Coronariana Prematura

Polimorfismo I/D do Gene da ECA em Crianças com Histórico Familiar de Doença Arterial Coronariana Prematura

Autores:

Dilek Yý lmaz Çiftdoð an

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782X

Arq. Bras. Cardiol. vol.103 no.5 São Paulo nov. 2014

https://doi.org/10.5935/abc.20140182

Carta ao editor relativo ao artigo de Albuquerque et al.: Impacto do polimorfismo genético da enzima conversora da angiotensina no remodelamento cardíaco.

Li com interesse a revisão publicada recentemente nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia por Albuquerque e cols1. intitulada “Impacto do polimorfismo genético da enzima conversora da angiotensina no remodelamento cardíaco”. Nesta revisão, foi mostrado que o genótipo DD da enzima conversora da angiotensina (ECA) está associado de forma independente à pior evolução cardiográfica e o genótipo DI está associado ao melhor perfil cardiográfico1.

A arteriosclerose é a principal causa de doença arterial coronariana (DAC). Apesar de manifestar-se clinicamente na idade adulta, a DAC geralmente inicia-se na infância. Fatores genéticos e ambientais e efeitos da interação gene-ambiente influenciam o desenvolvimento da arteriosclerose, mas o histórico familiar é o fator de risco mais significante na incidência da DAC.

Em nosso estudo, 140 crianças foram avaliadas, dentre as quais 72 eram do sexo masculino e 68 do sexo feminino entre 4,9 e 15,7 anos de idade. Deste total, 73 crianças apresentaram histórico familiar de DAC prematura (pais foram diagnosticados com DAC através de angiografia coronária quando apresentaram idade inferior a 55 anos (homens) e 65 anos (mulheres)). As demais 67 crianças pertenciam ao grupo controle (pais com angiografia coronária normal). Os participantes foram avaliados quanto à presença do polimorfismo I/D no gene da ECA.

Os genótipos I/D da ECA foram significativamente diferentes entre os grupos experimental e controle (p = 0,01). A frequência do genótipo D/D foi significativamente superior no grupo experimental quando comparado ao grupo controle (20/73 vs. 3/67, respectivamente, p = 0,01) (Tabela 1). A frequência do alelo D foi ligeiramente superior no grupo experimental (0,52) quando comparado ao grupo controle (0,27) (p = 0,005).

Tabela 1 Frequência do polimorfismo I/D do gene de ECA nos grupos experimental e controle. IC = 95% 

Polimorfismo Genético Grupo experimental (Crianças cujos pais apresentaram DAC prematura) n (%) Grupo Controle (Crianças cujos pais não apresentaram DAC prematura) n (%) Valor de p Odds Ratio (IC 95%)
ECA        
D/D 20 (27,4%) 3 (4,4%) 0,01 2,98 (1,12 - 6,82)1
D/I 37 (50,6%) 30 (44,6%)
I/I 16 (21,9%) 34 (50,0%)

1: D/D versus I/D and I/I.

A ECA é um fator importante não só na produção de angiotensina II como também na degradação de bradicinina. A exposição crônica a altos níveis de ECA, tanto na circulação como nos tecidos, está relacionada à predisposição para redução do calibre das artérias e desenvolvimento de arteriosclerose. O polimorfismo I/D da ECA resulta da presença (inserção–I) ou ausência (deleção–D) de uma repetição Alu localizada no íntron 16 do gene da ECA. O alelo D está associado ao aumento das concentrações plasmáticas de ECA2. Vários estudos investigaram a associação entre o genótipo D/D e o desenvolvimento de DAC3,4 , mas tal associação não foi confirmada por outros grupos5. Neste estudo, no entanto, observamos que a frequência do genótipo D/D e do alelo D do gene da ECA foram consideravelmente superiores em crianças com histórico familiar de DAC prematura quando comparadas ao grupo controle.

Além disso, mostramos que as frequências do genótipo DD e do alelo D do gene da ECA foram maiores em crianças com histórico familiar de DAC prematura. Estes resultados indicam maior risco de arteriosclerose nestes indivíduos e podem contribuir para o diagnóstico de crianças com risco de desenvolver DAC. Assim, estudos envolvendo populações maiores devem ser conduzidos para confirmação destes resultados.

Este estudo obteve suporte financeiro da Universidade de Celal Bayar e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa local da Universidade. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Informação adicional:

Além do polimorfismo I/D do gene da ECA, os polimorfismos dos genes da glicoproteína IIIa, mutações G1691A e H1299R do Fator V, e mutação G20210A da protrombina e apolipoproteína E também foram investigados pelo nosso grupo. Estes resultados foram publicados em diversos periódicos.

* Ciftdoğan DY. Glycoprotein IIIa gene polymorphism in children with a family history of premature coronary artery disease. Acta Cardiol. 2010;65(6):695.

** Ciftdoğan DY, Coşkun S, Ulman C, Tikiz H. The factor V G1691A, factor V H1299R, prothrombin G20210A polymorphisms in children with family history of premature coronary artery disease. Coron Artery Dis. 2009;20(7):435-9.

*** Ciftdoğan DY, Coskun S, Ulman C, Tıkız H. The association of apolipoprotein E polymorphism and lipid levels in children with a family history of premature coronary artery disease. J Clin Lipidol. 2012;6(1):81-7.

REFERÊNCIAS

de Albuquerque FN, Brandão AA, da Silva DA, Mourilhe-Rocha R, Duque GS, Gondar AF, et al. Angiotensin-converting enzyme genetic polymorphism: its impact on cardiac remodeling. Arq Bras Cardiol. 2014;102(1):70-9.
Sobti RC, Maithil N, Thakur H, Sharma Y, Talwar KK. Association of ACE and Factor VII gene variability with the risk of coronary heart disease in north Indian population. Mol Cell Biochem. 2010;341(1-2):87-98.
Beohar N, Damaraju S, Prather A, Yu QT, Raizner A, Kleiman NS, et al. Angiotensin-I converting enzyme genotype DD is a risk factor for coronary artery disease. J Investig Med. 1995;43(3):275-80.
Cambien F, Poirier O, Lecerf L, Evans A, Cambou JP, Arveiler D, et al. Deletion polymorphism in the gene for angiotensin-converting enzyme is a potent risk factor for myocardial infarction. Nature. 1992;359(6396):641-4.
Shafiee SM, Firoozrai M, Salimi S, Zand H, Hesabi B, Mohebbi A. Angiotensin converting enzyme DD genotype not associated with increased risk of coronary artery disease in the Iranian population. Pathophysiology. 2010;17(3):163-7.