versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.22 no.5 Rio de Janeiro maio 2017
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017225.32962016
No Brasil, ao longo das últimas décadas, a área de recursos humanos em saúde (RHS) destaca-se como campo de enfrentamento de problemas do sistema. Em que pese o avanço do Sistema Único de Saúde (SUS), particularmente quanto à diretriz de descentralização e da ampliação da cobertura das ações e serviços de saúde, alguns desafios persistem. Em 2003, na reestruturação do Ministério da Saúde (MS), foi criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) como principal instrumento federal para mobilizar as ações gerenciais no campo do trabalho e da formação, visando valorizar e qualificar os trabalhadores da área1.
Seu maior propósito é equacionar os problemas existentes na área e definir políticas, articulando, por um lado, ações vinculadas ao Ministério da Educação e do Trabalho, o Legislativo e a Sociedade Civil e, de outro, as demandas das instâncias federativas gestoras do sistema. Mais ainda, de assumir, entre outros, um papel estratégico nas diretrizes intersetoriais que envolvam o desenvolvimento de uma Política Nacional de Recursos Humanos em Saúde (PNRHS) para o efetivo desempenho do SUS.
A construção da agenda positiva da SGTES2 constitui marco importante para a área de RHS, na medida em que incorpora temas acumulados e discutidos em década anteriores em conferências de saúde e relacionados nos Princípios e Diretrizes para a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos para o SUS (NOB-RH), a saber: diretrizes para a elaboração de plano de cargos, carreiras e salários (PCCS) da saúde; Programa Nacional de Desprecarização do Trabalho no SUS; Mesas de Negociação Permanente do SUS (MNP-SUS); qualificação da gestão do trabalho e da educação no SUS, entre outras.
A partir de evidências coletadas em pesquisas realizadas pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde3 e pela Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde (IMS/UERJ)4,5 concebeu-se, em 2006, o Programa de Qualificação e Estruturação da Gestão do Trabalho e da Educação no SUS (ProgeSUS)6. Ele nasce com objetivo de estruturar, qualificar e suprir as secretarias de saúde com ferramentas de gestão para a organização e a profissionalização da gestão do trabalho no SUS. É um programa de cooperação técnica e financeira com estados e municípios, visando à qualificação e ao fortalecimento das estruturas estaduais (SES) e municipais (SMS) de RH do SUS.
O programa combina quatro componentes: I) financiamento para estruturação da área de gestão do trabalho e educação nas SES e SMS, por meio da aquisição de mobiliário e de equipamentos de informática; II) disponibilização, pelo MS, de sistema de informação gerencial para a gestão do trabalho e da educação na saúde; III) capacitação de equipes que atuam no referido setor das SES e SMS; IV) participação, por parte das secretarias que aderirem ao ProgeSUS, no Sistema Nacional de Informações em Gestão do Trabalho do SUS.
Este estudo objetivou avaliar o estágio das políticas de gestão do trabalho e educação na saúde implantadas nas SES e SMS que aderiram ao projeto de reestruturação, considerando a necessidade de apresentar subsídios que colaborem com o redirecionamento e o avanço dessas políticas.
Trata-se de pesquisa descritiva, de abordagem quantitativa, desenvolvida em âmbito nacional, direcionada às SES e SMS que aderiram ao ProgeSUS até outubro de 2011, totalizando 644 estruturas. Os sujeitos do estudo foram os gestores responsáveis pela área de RH nas secretarias de saúde.
A coleta de dados se deu por meio de um survey composto por 56 questões, cujas variáveis observadas relacionam-se com a identificação da instituição e do responsável pelo órgão de RH; adesão ao ProgeSUS; plano de cargo, carreiras e salário; avaliação de desempenho (AD); Mesa de Negociação Permanente; desprecarização do trabalho; orçamento e financiamento; educação em saúde; e opinativas que incluíram temas como autonomia e instrumentos de gestão, avaliação de políticas implementadas pela SGTES entre outras.
O instrumento de coleta foi confeccionado e estruturado em formulário eletrônico e aplicado mediante entrevistas telefônicas assistidas por computador (ETAC), entre julho e setembro de 2012. Foram concluídas 519 (81% do universo) entrevistas, incluindo-se todas as SES (n = 27) e as SMS das capitais (n = 26), e 466 SMS.
Por não se atingir 100% da amostra inicialmente prevista, foi realizada avaliação para verificar a representatividade dos dados. Para tanto, utilizou-se, como fórmula de cálculo da representatividade da base de respostas, a amostra aleatória simples (AAS). Os resultados apontaram que o número de entrevistas realizadas representa o universo estudado, permitindo leituras diferenciadas que podem ser feitas com segurança. A estratificação por regiões (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste) e por porte populacional (até 50 mil, 50.001 a 100 mil, 100.001 a 500 mil, acima de 500 mil) indicou cobertura de respondentes superior a 70% em todos os estratos onde se localizam as secretarias.
As respostas foram processadas em banco informatizado em planilhas de Microsoft Office Excel® e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)®, e os dados tratados por estatística descritiva. Todos os resultados foram discutidos e validados em reuniões periódicas com o conjunto de atores da Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS.
Em acordo às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, o estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tendo sido aprovado. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi encaminhado a todos os respondentes por correio eletrônico, e lido antes do início da entrevista por telefone. Ao fim da leitura foi solicitado que o respondente confirmasse, sob gravação, o entendimento do termo e seu desejo em participar livremente da pesquisa.
Os responsáveis pela área de RH nas SES e SMS são, em sua maioria, mulheres (61%), com idades entre 30 e 49 anos (31%), e formação superior em áreas não relacionadas à saúde (33%), especialmente direito e administração. No que compete à denominação do cargo do responsável pela área de RH, o conjunto das denominações “gestor”, “diretor” e “coordenador” representou o maior percentual (29%), seguido pelos “secretários de saúde” (17%). A maior proporção dos entrevistados ocupava o cargo há até três anos (30%).
A caracterização em função da subordinação da área de gestão do trabalho e da educação na saúde indicou que a maioria dos órgãos está subordinada à secretaria de saúde (65,9%). Subordinam-se à central de RH da prefeitura 27% dos órgãos das SMS e 23% das SMS capitais. Nos municípios de menor porte (até 100 mil habitantes) o grau de descentralização ainda é pequeno, haja vista que pouco mais de 33% dos órgãos de RH estão subordinados diretamente à prefeitura. Em relação ao nível hierárquico da área no organograma da secretaria de saúde, os resultados indicam um predomínio relacionado ao segundo (26,4%) e terceiro níveis (20,2%).
As principais atividades desenvolvidas na área de gestão do trabalho e educação na saúde, segundo os respondentes, foram: “administração de pessoal” e “avaliação de desempenho”. Nas SMS capitais destacaram-se a “formação e desenvolvimento profissional para a área da saúde” e a “regulação” e a “negociação do trabalho”. Os menores percentuais para SES e SMS capitais foram encontrados, respectivamente, nas atividades de “planejamento e orçamento” e “sistemas de informação”. Nos municípios acima de 500 mil, por sua vez, a “integração entre os setores da educação e da saúde” e “promover a articulação com os órgãos educacionais, entidades sindicais e de fiscalização do exercício profissional e os movimentos sociais” foram as principais atividades citadas.
Para 50,7% dos respondentes a adesão ao ProgeSUS possibilitou mudanças na estruturação da área de gestão, especialmente no âmbito das SES e SMS capitais. Quando questionados sobre o grau de importância atribuído aos componentes do ProgeSUS, observou-se maior valorização para o financiamento para aquisição de equipamentos de informática e mobiliário, independentemente do tipo de secretaria, região ou porte do município de localização.
Os aspectos apontados como mais importantes para a qualificação e a estruturação do trabalho e da educação em saúde, a partir do ProgeSUS, foram: o curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde que contribuiu para a qualificação dos processos de gestão; e, o desenvolvimento e a oferta de ferramentas de informação.
A reestruturação da equipe e a criação da área de gestão do trabalho e educação, após a participação no curso de especialização, foram as principais mudanças mais indicadas.
Na maior parte das secretarias pesquisadas existe um plano de carreira geral para todos os trabalhadores do município/estado (37%); e em 26% há PCCS específico para o setor saúde, entre os quais 42% foram implantados após 2007.
A ausência de planos em 29% das secretarias (especialmente as localizadas em municípios de pequeno porte) foi justificada pela inexistência de uma política de gestão que contemple a implantação de PCCS e a falta de autonomia da secretaria para elaborar o plano.
Em se tratando dos planos específicos para os trabalhadores do SUS (n = 137), 44% incorporaram as Diretrizes Nacionais para a instituição de PCCS no âmbito do SUS aprovadas pela Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS (MNNP-SUS)7, segundo os respondentes; 39% não souberam informar. Dentre os que responderam não haver influência das diretrizes na confecção dos planos, os motivos mais referidos foram a falta de conhecimento da existência das diretrizes, a não compreensão das mesmas e a falta de interesse por elas.
Quanto aos aspectos contemplados nos PCCS específicos para a saúde, os mais citados como critérios para progressão na carreira profissional foram: oportunidades de desenvolvimento associadas à educação permanente e o tempo de serviço (79,9% e 73,5%, respectivamente).
A discussão de modelos de PCCS para a saúde diferenciados por categoria profissional e por nível de escolaridade foi referida por 31,6% e 18,3% dos gestores, respectivamente. Entre estas secretarias, 50,6% tratam dessa discussão no âmbito de uma comissão específica para esse fim, 8,1% discutem nas mesas de negociação e outros 16% em outros espaços de negociação.
Em 47% das secretarias (n = 242) há processos de AD para todos os trabalhadores públicos; em 24% há processos específicos para o setor saúde, entre os quais 67% são frutos de negociação entre trabalhadores e gestores.
Os principais aspectos contemplados em função dos resultados da AD específica para a saúde são as “oportunidades de desenvolvimento profissional” e a “progressão na carreira” (70,7% e 61,8%, respectivamente). Especificamente entre as SES e SMS capitais, o mais citado foi “o pagamento de gratificações”.
As mesas de negociação do trabalho não estão implantadas em 44% das secretarias (n = 226). Os principais motivos para a não implantação estão expostos no Gráfico 1.
Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2014.
Gráfico 1 Motivos para não instalação da Mesa de Negociação Permanente do Sistema Único de Saúde nos estados e municípios, segundo respondentes. Brasil, 2012 (n = 226).
Identificou-se a existência de 137 mesas (26%) implantadas, entre as quais, apenas 53 estão em funcionamento, e 76 possuem regimento interno aprovado. O maior número de mesas das SES e SMS capitais foi implantado entre 2003 e 2008, e entre as SMS, a partir de 2009. Em relação à abrangência, 45% das mesas são específicas para o setor saúde.
Após a implantação das mesas, 46,7% dos entrevistados afirmaram ter ocorrido mudanças nas relações de trabalho, especialmente no que se refere à realização de concursos e processos seletivos públicos, condições de trabalho, PCCS e salário.
O estudo investigou a existência de outros espaços de negociação do trabalho, sendo que os locais mais referidos pelos respondentes foram: reuniões dos conselhos de saúde e assembleias com os trabalhadores. Para 19,5% das secretarias, os conflitos não são resolvidos em nenhuma instância.
São inúmeras as modalidades de contratação utilizadas pelas secretarias. Os tipos mais referidos foram: estatutário (86,5%) e cargo comissionado (84,4%), conforme exposto na Tabela 1.
Tabela 1 Modalidades de contratação de recursos humanos praticadas pelas secretarias de saúde segundo tipo de secretaria. Brasil, 2012
Tipos de contratação | SES | SMS capitais | SMS | Total | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
| ||||||||
N = 27 | % | N = 26 | % | N = 466 | % | N = 519 | % | |
Estatutário | 25 | 92,6 | 25 | 96,2 | 399 | 85,6 | 449 | 86,5 |
Cargo Comissionado | 23 | 85,2 | 25 | 96,2 | 390 | 83,7 | 438 | 84,4 |
Contrato Temporário | 20 | 74,1 | 20 | 76,9 | 328 | 70,4 | 368 | 70,9 |
Contrato de prestação de serviço | 19 | 70,4 | 19 | 73,1 | 325 | 69,7 | 363 | 69,9 |
CLT | 14 | 51,9 | 16 | 61,5 | 247 | 53,0 | 277 | 53,4 |
Bolsas de estágios | 16 | 59,3 | 19 | 73,1 | 211 | 45,3 | 246 | 47,4 |
Cooperativas | 14 | 51,9 | 9 | 34,6 | 46 | 9,9 | 69 | 13,3 |
Fundação Pública | 7 | 25,9 | 6 | 23,1 | 46 | 9,9 | 59 | 11,4 |
Organização Social | 8 | 29,6 | 3 | 11,5 | 46 | 9,9 | 57 | 11,0 |
OSCIP | 7 | 25,9 | 2 | 7,7 | 34 | 7,3 | 43 | 8,3 |
ONG | 2 | 7,4 | 2 | 7,7 | 34 | 7,3 | 38 | 7,3 |
Contrato Verbal | 0 | 0,0 | 2 | 7,7 | 10 | 2,1 | 12 | 2,3 |
Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2014.
CLT: Consolidação das Leis do Trabalho; OSCIP: Organização da Sociedade Civil de Interesse Público; ONG: Organização não governamental.
Entre os gestores das secretarias pesquisadas, 72,3% mostraram desconhecer o Protocolo de Desprecarização do Trabalho da MNNP-SUS. Das secretarias que indicaram conhecer o protocolo (n = 144), 72% informaram tê-lo utilizado para orientar as políticas relativas; 20% referiram não ter interesse em utilizá-lo e outros 20% disseram não ter compreendido o conceito de trabalho precário.
Quanto ao orçamento e financiamento, 78% (n = 21) dos gestores das SES, 80,8% (n = 21) das SMS capitais e 65,7% (n = 306) das SMS referiram a existência de orçamento próprio para a área de gestão do trabalho e da educação na saúde. A incorporação da folha de pagamento nesse orçamento se dá em 66% das secretarias.
A ausência de autonomia financeira e orçamentária dos gestores foi referida por 63% dos gestores das SES, 84,6% das SMS capitais e 62,2% das SMS. A maior parte dos respondentes (62%, n = 321) não soube informar qual a faixa percentual de financiamento destinada à área. Entre os que souberam (38%, n = 198), 12% indicaram que o percentual de recursos é inferior a 5%.
O estudo, ao investigar a opinião do gestor em relação às fontes de financiamento da área, obteve uma indicação majoritária (71,5%) para a responsabilidade das três esferas governamentais (federal, estadual e municipal).
De acordo com os resultados deste estudo, 209 (41%) secretarias de saúde estão referenciadas à algum Polo de Educação Permanente (PEPS), das quais 14 são SES e seis SMS capitais.
Como principais dificuldades enfrentadas pelos PEPS, citam-se: poucos recursos orçamentário-financeiros para muitos projetos; liberação de recursos financeiros aquém das necessidades, e execução financeira por parte dos PEPS. Esse cenário não se altera quando da estratificação por tipo de secretaria.
Entre os aspectos positivos dos PEPS, os mais mencionados foram: a existência da Portaria nº 198/GM/MS de 2004, que instituiu a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS)8; a articulação de uma equipe local; e o diálogo com instituições de ensino. Já em relação aos principais aspectos positivos das formas de apoio do MS aos estados e municípios, as maiores indicações foram para a transferência de recursos financeiros.
Foi solicitado aos gestores que avaliassem as políticas implantadas pela SGTES. Os resultados estão expostos na Tabela 2.
Tabela 2 Opinião dos gestores de recursos humanos sobre as ações da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde segundo tipo de secretaria. Brasil, 2012
Ações | Avaliação | SES | SMS capitais | SMS | Total | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N = 27 | % | N = 26 | % | N = 466 | % | N = 519 | % | ||
Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-saúde) | Bom | 16 | 59,3 | 18 | 69,2 | 163 | 35,0 | 197 | 38,0 |
Regular | 0 | 0,0 | 3 | 11,5 | 64 | 13,7 | 67 | 12,9 | |
Insuficiente | 1 | 3,7 | 1 | 3,8 | 18 | 3,9 | 20 | 3,9 | |
Desconhece | 7 | 25,9 | 2 | 7,7 | 201 | 43,1 | 210 | 40,5 | |
NS/NR | 3 | 11,1 | 2 | 7,7 | 20 | 4,3 | 25 | 4,8 | |
Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) | Bom | 19 | 70,4 | 19 | 73,1 | 149 | 32,0 | 187 | 36,0 |
Regular | 1 | 3,7 | 3 | 11,5 | 48 | 10,3 | 52 | 10,0 | |
Insuficiente | 0 | 0,0 | 0 | 0,0 | 15 | 3,2 | 15 | 2,9 | |
Desconhece | 7 | 25,9 | 2 | 7,7 | 234 | 50,2 | 243 | 46,8 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 2 | 7,7 | 20 | 4,3 | 22 | 4,2 | |
Programa Nacional de Apoio à Formação de Médicos Especialistas em Áreas Estratégicas (Pró-residências) | Bom | 18 | 66,7 | 11 | 42,3 | 93 | 20,0 | 122 | 23,5 |
Regular | 0 | 0,0 | 4 | 15,4 | 32 | 6,9 | 36 | 6,9 | |
Insuficiente | 1 | 3,7 | 1 | 3,8 | 18 | 3,9 | 20 | 3,9 | |
Desconhece | 8 | 29,6 | 6 | 23,1 | 303 | 65,0 | 317 | 61,1 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 4 | 15,4 | 20 | 4,3 | 24 | 4,6 | |
Programa de Formação de Profissionais de Nível Médio para a Saúde (PROFAPS) | Bom | 20 | 74,1 | 6 | 23,1 | 70 | 15,0 | 96 | 18,5 |
Regular | 0 | 0,0 | 3 | 11,5 | 37 | 7,9 | 40 | 7,7 | |
Insuficiente | 1 | 3,7 | 3 | 11,5 | 14 | 3,0 | 18 | 3,5 | |
Desconhece | 6 | 22,2 | 10 | 38,5 | 325 | 69,7 | 341 | 65,7 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 4 | 15,4 | 20 | 4,3 | 24 | 4,6 | |
Programas de capacitação / especialização | Bom | 14 | 51,9 | 9 | 34,6 | 203 | 43,6 | 226 | 43,5 |
Regular | 6 | 22,2 | 6 | 23,1 | 69 | 14,8 | 81 | 15,6 | |
Insuficiente | 1 | 3,7 | 2 | 7,7 | 30 | 6,4 | 33 | 6,4 | |
Desconhece | 6 | 22,2 | 4 | 15,4 | 144 | 30,9 | 154 | 29,7 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 5 | 19,2 | 20 | 4,3 | 25 | 4,8 | |
Plano de cargos, carreira e salário | Bom | 16 | 59,3 | 13 | 50,0 | 182 | 39,1 | 211 | 40,7 |
Regular | 7 | 25,9 | 4 | 15,4 | 72 | 15,5 | 83 | 16,0 | |
Insuficiente | 2 | 7,4 | 2 | 7,7 | 50 | 10,7 | 54 | 10,4 | |
Desconhece | 2 | 7,4 | 3 | 11,5 | 144 | 30,9 | 149 | 28,7 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 4 | 15,4 | 18 | 3,9 | 22 | 4,2 | |
Mesa de Negociação do SUS | Bom | 15 | 55,6 | 19 | 73,1 | 160 | 34,3 | 194 | 37,4 |
Regular | 4 | 14,8 | 0 | 0,0 | 61 | 13,1 | 65 | 12,5 | |
Insuficiente | 3 | 11,1 | 2 | 7,7 | 49 | 10,5 | 54 | 10,4 | |
Desconhece | 4 | 14,8 | 1 | 3,8 | 173 | 37,1 | 178 | 34,3 | |
NS/NR | 1 | 3,7 | 4 | 15,4 | 23 | 4,9 | 28 | 5,4 | |
Prêmio InovaSUS | Bom | 20 | 74,1 | 18 | 69,2 | 154 | 33,0 | 192 | 37,0 |
Regular | 1 | 3,7 | 1 | 3,8 | 47 | 10,1 | 49 | 9,4 | |
Insuficiente | 1 | 3,7 | 1 | 3,8 | 17 | 3,6 | 19 | 3,7 | |
Desconhece | 5 | 18,5 | 2 | 7,7 | 226 | 48,5 | 233 | 44,9 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 4 | 15,4 | 22 | 4,7 | 26 | 5,0 | |
Programa de qualificação e estruturação da gestão do trabalho e da educação no SUS (ProgeSUS) | Bom | 21 | 77,8 | 17 | 65,4 | 240 | 51,5 | 278 | 53,6 |
Regular | 1 | 3,7 | 5 | 19,2 | 72 | 15,5 | 78 | 15,0 | |
Insuficiente | 3 | 11,1 | 0 | 0,0 | 23 | 4,9 | 26 | 5,0 | |
Desconhece | 2 | 7,4 | 1 | 3,8 | 111 | 23,8 | 114 | 22,0 | |
NS/NR | 0 | 0,0 | 3 | 11,5 | 20 | 4,3 | 23 | 4,4 |
Fonte: ObservaRH/IMS-UERJ. Avaliação de Políticas e Programas Nacionais da Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde no SUS. Brasil, 2014.
O ProgeSUS, seguido de programas de capacitação/especialização e PCCS foram os que obtiveram maiores percentuais de aprovação. Ressalta-se o alto percentual de desconhecimento das demais iniciativas e programas da SGTES.
Quanto ao grau de autonomia do dirigente da área de gestão do trabalho para realização de diferentes atividades da área, 77% e 72% dos respondentes disseram ter pouca ou nenhuma autonomia sobre a contratação de pessoal e a otimização de recursos financeiros, respectivamente. A maior autonomia foi creditada à capacitação de pessoal (35,6%).
Os instrumentos PCCS, AD e mesa de negociação foram considerados como facilitadores dos processos de gestão por 57%, 70% e 47%, respectivamente. A não utilização dessas ferramentas foi referida por 25%, 17% e 37%, nesta ordem.
Com a expansão do SUS, e sobretudo após a NOB de 1996, a descentralização para os municípios tornou-se oficial e prioritária, dotando-os de responsabilidade pela organização, coordenação e execução dos sistemas locais de saúde (SUS municipal). A municipalização se deu, sobretudo, no nível primário de atenção, ao passo que quando se trata do atendimento de terceiro nível, especializado e hospitalar, nota-se uma maior divisão de responsabilidade entre as esferas governamentais.
No entanto, ainda se argui acerca da capacidade gestora do município, até mesmo porque a regulamentação do processo de descentralização permanece incompleto, gerando ambiguidade e indefinições quanto às responsabilidades das instâncias federadas. E porque a municipalização per si não pressupõe a extrapolação de dificuldades de organização e gestão no âmbito local9.
Mais ainda, a expansão e a responsabilidade municipal crescente, especialmente nessa década, com relação à atenção primária em saúde, demanda a incorporação de inovações nem sempre capazes de superar antigos problemas existentes10. Assim, é consensual que a municipalização do SUS precisa estar atrelada a uma relação de cooperação entre as esferas, de modo a não permitir uma fragmentação do sistema de saúde.
Anterior e em paralelo a esse processo de descentralização, situam-se as transformações sociais e econômicas, principalmente no que compete ao campo do trabalho. Estas tornam-se mais evidentes a partir do processo de reestruturação produtiva, caracterizado sobretudo pela incorporação de tecnologias e outras inovações, almejando-se uma organização e gestão do trabalho mais flexível11,12.
No âmbito do SUS, a SGTES, além de reconfigurar esta área na política nacional, traz consigo acúmulo de poder para este campo de ação. Nesse sentido é que, entre outras iniciativas, surge o ProgeSUS, cuja proposta se articula intrinsecamente aos objetivos que pautaram a criação da SGTES, dentre eles, o de planejar e formular políticas de gestão e regulação do trabalho e educação na saúde, visando a melhor qualidade dos serviços e ações de saúde13.
Este estudo identificou que a indução provocada pelo projeto nas secretarias de saúde favoreceu a criação de órgãos de RHS, estruturou áreas físicas e qualificou equipes gestoras das SES e SMS, como parte do primeiro e terceiro componentes da proposta. Todos os estados e capitais aderiram ao programa, mesmo sendo escassos os recursos financeiros oferecidos a cada estrutura gerencial.
O sistema de informação gerencial para o setor de gestão do trabalho e da educação no SUS foi considerado o de menor impacto, uma vez que, à despeito do esforço empreendido pelo MS no desenvolvimento e na oferta de ferramentas de informação para apoio à gestão, este não conseguiu ser incorporado nos processos das secretarias de saúde, permanecendo ainda como um grande desafio para a área.
A comparação destes resultados com achados de estudo anterior14, publicados posteriormente15-17, sugere maior descentralização do órgão de RHS que, em sua maioria, mostra-se ligado diretamente às respectivas secretarias de saúde. Essa constatação também é corroborada pela posição hierárquica desses órgãos no organograma: segundo e terceiro níveis, majoritariamente. Aponta, ainda, para a expansão da política de negociação do trabalho, haja vista o aumento considerável de secretarias com implantação de PCCS específicos para a saúde e aumento do número de mesas de negociação instaladas.
Este movimento pode ser explicado, ao menos em parte, pela reinstalação da MNNP-SUS, em 2003, que, desde então, funciona ininterruptamente, e pela valorização desse instrumento por parte da Política de Gestão do Trabalho do MS18. Não obstante, manter o funcionamento efetivo das mesas já instaladas constitui-se em um dos grandes desafios postos para a manutenção do processo de negociação. E, nesse contexto, tomam-se como empecilhos a falta de mobilização e o desconhecimento dos atores envolvidos acerca dos processos de negociação e das ferramentas de gestão, o subfinanciamento do setor, a ausência de apoio técnico por parte das SES e a “falta de vontade política”.
A mudança de governo e de gestores da saúde é encarada como entrave para a negociação e a implantação de PCCS, posto que, geralmente, não se dá prosseguimento aos processos iniciados na gestão anterior. A baixa institucionalidade das ações no campo do trabalho e da educação na saúde facilita descontinuidades e mudanças experimentadas com alternância de gestores, apesar de o campo de RH apresentar uma rotatividade que pode superar um mandato eletivo, em alguns casos19.
O pareamento dos achados entre as duas pesquisas também não é favorável a esta quando se trata do conhecimento da Política e Protocolo de Desprecarização do Trabalho da MNNP-SUS20. Em 2008, o percentual daqueles que referiram não conhecer tal protocolo foi de 42,3% (n = 107). Nesta pesquisa, o desconhecimento foi de pouco mais de 72% (n = 373). De igual forma, observou-se um menor número de secretarias de saúde referenciadas a PEPS; como também não houve avanço expressivo em relação à autonomia financeira e orçamentária da área de gestão do trabalho e educação na saúde, quando se compara com estudos anteriores4,5,14-17.
Em geral, os órgãos de RH das SES e SMS, em especial os das capitais, vêm colocando em prática instrumentos da agenda positiva da SGTES, ainda que ocorra variações expressivas na amplitude e extensão dessa implementação. Confirmando tratar-se de um universo composto de unidades díspares, caracterizado por profundas desigualdades regionais e de um grande número de municípios fiscal e administrativamente frágeis, a pesquisa mostrou que os órgãos de RH das SES e, marcadamente das SMS capitais, imprimiram uma maior dinâmica e têm mais recursos para programar a gestão e o desenvolvimento do trabalho consoante às políticas definidas pelo MS.
Neste quadro, fica clara a cooperação das SES no cumprimento do seu papel de articulador e apoiador técnico dos municípios no processo de estruturação e desenvolvimento das políticas de gestão do trabalho e da educação, promovendo, desta forma, a capacidade regulatória e de planejamento da função RH pelo SUS municipal16.
Apesar dos avanços, não há dúvida quanto à interferência da variável “autonomia” do respectivo órgão de RH na institucionalização da sua capacidade técnica – financeira administrativa e organizacional – para garantir que as funções de gestão estejam sendo desempenhadas pela unidade de governo. Supõe-se que a delegação da função alocativa de recursos orçamentários e financeiros e de autonomia organizativa à sua estrutura de gestão tenha impacto positivo quanto ao alcance do exercício das funções de coordenação das condições de trabalho e estratégias de educação permanente.
Ante ao exposto, constata-se que o empenho da esfera federal em implementar políticas promotoras de mudanças na gestão do trabalho, como o ProgeSUS, é notável. Tais políticas têm se mostrado bastante relevantes e fundamentais para o fortalecimento da área de RH. Contudo, ainda há muito a se fazer para que os municípios e os estados incorporem as diretrizes estabelecidas nos processos de negociação e para que adquiram a capacidade gestora almejada.
A proposta deste estudo foi identificar se os processos gerenciais e a estrutura organizacional recomendados pelo MS para a área de RH vêm sendo incorporados pelas SES e SMS que aderiram a um programa de fortalecimento da gestão do trabalho e da educação. Os resultados apontam para mudanças que têm contribuído especialmente para a qualificação profissional, implantação de PCCS e processos de negociação.
As implicações apresentadas e os debates ampliados possibilitarão a elaboração e a construção coletiva de aspectos relativos à gestão do trabalho e da educação na saúde, na busca de soluções gerais e específicas, adequadas aos limites e às potencialidades dos municípios estudados. Ademais, o traço comum observado nos grupos analisados remonta à fragilidade das questões mais amplas como a autonomia da gestão financeira e dos processos que envolvem o trabalho (planejamento, contratação de pessoal, carreira, etc.).
Este estudo não esgota todas as possibilidades, mais ainda, as análises aqui apresentadas merecem ser discutidas e divulgadas com os diversos atores envolvidos no processo para apreciação, validação e construção de alternativas para a área, visando o fortalecimento do SUS.
Constata-se a necessidade do constante monitoramento e avaliação da operacionalização pelas instâncias federativas das políticas de gestão do trabalho e da educação na saúde, para dar conta das especificidades da área e das tendências de mudanças nessas realidades administrativas, contribuindo para o fortalecimento de estratégias de condução nacional das políticas do MS/SGTES.