versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.109 no.4 São Paulo out. 2017
https://doi.org/10.5935/abc.20170133
Em um campo tão complexo e com rápidas mudanças como a cardiologia, as Diretrizes de Prática Clínica são ferramentas importantes para a aplicação de uma medicina baseada em evidências no atendimento ao paciente. Devemos, porém, ressaltar que a aderência às mesmas varia muito, e que, alguns médicos têm preocupações acerca de que estes instrumentos caracterizem uma prática rígida ou simplificada da medicina. Portanto, a implementação apropriada de diretrizes de atenção à saúde é de grande interesse para organizações nacionais, sociedades profissionais, prestadores de cuidados à saúde, responsáveis políticos, para o campo jurídico voltado à medicina, pacientes e o público em geral. Dada a importância do tema, várias ferramentas têm sido desenvolvidas para avaliar a credibilidade das diretrizes existentes,1 e orientações têm sido elaboradas passo a passo para a concretização de um documento prático e confiável.2
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) tem publicado, sistematicamente, desde 1992, diretrizes sobre os temas mais relevantes da especialidade.3 Todavia, foi registrada falta de discernimento no tocante a três conceitos importantes4 na intenção de realizar diretrizes por parte dos departamentos que compõem a SBC: a) “Diretriz” - termo que deve ser reservado para o documento que sumariza, formalmente, as evidências nas áreas de diagnóstico e terapêutica de patologias; b) “Comunicação” (ou “Normatização”- deve ser empregado para os manuscritos que informam a metodologia laboratorial e as definições de desfecho clínico e, c) “Orientação Clínica” (ou “Posicionamento”) - que deve ser utilizado para impressos oficiais que fornecem aconselhamento especializado sobre desafios na condução de pacientes.
Torna-se imperativo que os documentos emitidos pela SBC se apresentem com titulação e fundamentação adequadas para que seja evitada, por parte do leitor, confusão na diferenciação dos termos e, consequentemente, desinteresse na leitura dos mesmos.
Portanto, o objetivo principal desta publicação é o de estabelecer de forma simplificada e objetiva o significado destas terminologias, visando padronizar a emissão de Posicionamentos, Diretrizes e Normatizações por parte da SBC.
Estes documentos visam abordar um determinado tópico (diagnóstico, terapêutico ou laboratorial) de reconhecido interesse clínico, para o qual não existem (ou é improvável que venham a existir) evidências de qualidade substancial ou, notadamente aquelas surgidas de ensaios clínicos randomizados. Tais documentos são complementares às diretrizes e são elaborados por uma equipe de profissionais com experiência estabelecida no tema.
Como exemplo, poderíamos citar o uso dos anticoagulantes diretos em pacientes gestantes.5 Em geral, as orientações contidas nestes documentos permanecem ancoradas nas melhores evidências disponíveis; todavia, incorporam, frequentemente, a opinião pessoal dos especialistas.
A diretriz clínica está constituída por afirmações sistematicamente desenvolvidas para auxiliar profissionais de saúde e pacientes na tomada de decisão sobre a forma mais adequada de cuidado com a saúde em condições específicas.6 Ao contrário de um documento de orientação, uma diretriz aborda um tópico em que há evidências de moderada a alta qualidade, geralmente provenientes de ensaios randomizados com um número satisfatório de integrantes, para transmitir as práticas clínicas mais adequadas.
Na sua elaboração é utilizado um processo para resumir as evidências (ou seja, revisão sistemática) e fornecer um método padronizado para expressar os graus de recomendações com os seus respectivos níveis de evidências. Para produzir uma diretriz, recomenda-se que seja cumprida uma lista rigorosa de verificação, composta de 146 itens.2
Portanto, estes documentos raramente abordam prática médica onde as evidências são escassas. Eles são projetados para apoiar os processos de tomada de decisão na assistência ao paciente; o seu conteúdo é baseado em uma revisão sistemática da evidência clínica.
Estes dispositivos diferem dos acima relacionados uma vez que abordam tópicos primariamente direcionados para padronização de práticas clínicas, laboratoriais e de metodologias de pesquisa. Como exemplo, poderíamos citar a comunicação do Subcomitê de Controle de Anticoagulação da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia para medir a atividade anticoagulante dos inibidores do fator Xa.7 Portanto, trata-se de ferramenta útil à disposição dos departamentos da SBC.
O movimento em direção aos cuidados de saúde baseados em evidências vem ganhando terreno rapidamente nos últimos anos, motivado por clínicos, políticos e gestores preocupados com a qualidade, consistência e custos da assistência médica.
Assim, os documentos acima mencionados, baseados nas melhores práticas padronizadas, desde que redigidos de forma prática e objetiva, podem ser capazes de promover melhorias na qualidade e consistência dos cuidados com a saúde.