versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.23 no.7 Rio de Janeiro jul. 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018237.00512018
O editorial1 último da Ciência & Saúde Coletiva e o artigo de Tuesta et al.2, publicados em janeiro de 2018, põem em perspectiva desafios ético-políticos à pesquisa em saúde, sobretudo, à qualitativa. Destacam o protagonismo social da pesquisa, ancorado em sua capacidade de revelar a complexidade de contextos de vida precarizados. Além disso, chamam a atenção para as estratégicas conexões que o mundo investigativo permite estabelecer com a gestão pública.
Estimulados pela pertinência argumentativa dos textos em apreço, esboçamos uma triangulação problematizadora também a partir do trabalho de Touso et al.3, tomado como representante simbólico de uma abordagem singular de pesquisa (imprescindível, mas ainda minoritária no campo sanitário) que prioriza perscrutar comunidades/territórios marginalizados, potencializando a escuta dos sujeitos neles tornados ‘invisíveis’. Em suas palavras, um modus operandi capaz de fornecer subsídios essenciais para a promoção da equidade [dos] grupos em desvantagem social3.
Interessa-nos, aqui, sublinhar a necessidade de se ampliar a visibilidade dos universos investigativos com tal perfil, na medida em que os resultados dessas pesquisas politizam temas socialmente relevantes, mas apequenados na agenda oficial. O reconhecimento da repercussão dessa ‘valise’ metodológica contra-hegemônica, e sua contundência politizadora, podem representar uma ‘janela de oportunidade’ para pressionar e reorientar os processos decisórios do poder governamental, tornando-os mais equânimes e convergentes aos problemas em questão1,2.
Tal como o photovoice3 – método de pesquisa-ação participativa que ‘deu voz’ a trabalhadores adoecidos/incapacitados a partir dos registros fotográficos e relatos produzidos pelos próprios sujeitos estudados – há outras estratégias investigativas4,5 robustas, que de forma similar, permitem desnudar tanto os contextos eivados de iniquidades nas quais pessoas/populações negligenciadas estão imersas, quanto as singularidades de seus modos de subjetivação produzidos para enfrentar tais cenários.
Nesse sentido, os achados do estudo canadense sobre trabalhadores imigrantes “indocumentados”, subsidiado pelo método do mapa corporal narrado4, e da pesquisa (financiada pela FAPESP)6 acerca dos trabalhadores rurais e assentados no contexto regional do Pontal do Paranapanema, SP, desenvolvida por meio da cartografia social5, são encorajadores. Além de confirmarem a existência de opções teórico-metodológicas diversificadas, viáveis e resolutivas no trato singularizado de problemas sociossanitários complexos, sinalizam uma luz no fim do túnel quanto às preocupações apontadas desde o título de nossa carta.