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Preschool Language Assessment Instrument, segunda edição, em crianças falantes do Português Brasileiro

Preschool Language Assessment Instrument, segunda edição, em crianças falantes do Português Brasileiro

Autores:

Tâmara Andrade Lindau,
Natalia Freitas Rossi,
Célia Maria Giacheti

ARTIGO ORIGINAL

CoDAS

versão On-line ISSN 2317-1782

CoDAS vol.26 no.4 São Paulo jul./ago. 2014

http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201420130067

INTRODUÇÃO

O uso de instrumentos sistemáticos ou formais de avaliação de habilidades específicas, como as intelectuais e as de linguagem, representa a possibilidade de caracterizar desempenhos e compará-los com os de um grupo de referência, e, assim, tomar decisões quanto à necessidade - ou não - de intervenção( 1 ). Iniciativas de adaptação e validação de instrumentos para avaliação da linguagem que possam ser utilizados no Brasil, principalmente falada e na faixa de três a cinco anos de idade, são uma necessidade atual, tanto para o contexto clínico quanto para o científico( 2 , 3 ).

O Preschool Language Assessment Instrument - Segunda edição (PLAI-2) é um instrumento norte-americano publicado em 2003, porém utilizado desde 1978 em sua primeira versão. O PLAI-2 permite avaliar a habilidade comunicativa em crianças na fase de três a cinco anos de idade e proporciona informações de como uma criança integra os componentes cognitivos, linguísticos e pragmáticos de acordo com duas classificações de respostas: linguagem receptiva e linguagem expressiva. Além disso, fornece informações extralinguísticas relevantes no processo de comunicação( 4 ).

Neste contexto, apresentamos um breve relato com os primeiros resultados do uso do procedimento adaptado para o Português Brasileiro (PB) em crianças com desenvolvimento típico da linguagem falada.

MÉTODOS

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual de São Paulo "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP) de Marília (Parecer nº 0595/2012), e todos os participantes tiveram autorização dos pais, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

O processo de tradução e adaptação deste instrumento foi realizado mediante autorização da editora Norte-Americana e precedeu as demais fases da pesquisa, contando com as etapas: (1) tradução da versão original (inglês) para o PB por dois tradutores juramentados; (2) comparação das duas versões traduzidas e síntese de uma única versão em PB; (3) retrotradução para verificar a equivalência com a versão original; e (4) revisão e adaptação da versão traduzida realizada por profissionais (fonoaudiólogos)( 5 , 6 ).

Participaram deste estudo 300 crianças, divididas em três grupos de 100, de ambos os gêneros e idade entre três anos a três anos e 11 meses (GI), quatro anos a quatro anos e 11 meses (GII), e cinco anos a cinco anos e 11 meses (GIII). Foram aplicados os 70 estímulos distribuídos para abranger, proporcionalmente, os itens de linguagem receptiva e expressiva da versão previamente traduzida e adaptada do PLAI-2. Atribuiu-se, então, seguindo a versão original do teste, um ponto para cada item correto e zero para cada incorreto, obtendo-se o escore bruto, o qual foi convertido em pontuações padronizadas, utilizando-se para isto as tabelas normativas da versão original. Ressalta-se que o tempo de aplicação médio foi de 40 minutos por criança.

Para as comparações entre as médias dos três grupos foi realizada a análise de variância (ANOVA), seguida pela aplicação do Teste de Tukey.

RESULTADOS

Observou-se diferença significativa entre as médias dos escores brutos dos grupos, tanto para o item "linguagem receptiva" quanto para o "expressiva". Portanto, os três grupos apresentaram desempenhos diferentes em ambas as habilidades.

A análise subsequente, com o Teste de Tukey, permitiu confirmar a presença de diferença significativa quando o desempenho dos grupos foi comparado, observando-se ainda tendência crescente dos escores em função da idade (Tabela 1).

Tabela 1 Estatística descritiva dos três grupos em relação às habilidades receptivas e expressivas do Preschool Language Assessment Instrument, segunda edição 

Habilidade Grupos n Média Desvio-padrão Mínimo Máximo Valor de p
Receptiva GI 100 14,11 3,05 6,00 23,00 <0,001*
GII 100 19,36 3,04 10,00 27,00
GIII 100 23,43 3,22 12,00 29,00
Expressiva GI 100 12,68 3,86 3,00 27,00 <0,001*
GII 100 20,40 4,54 7,00 34,00
GIII 100 25,50 4,30 10,00 34,00

*p<0,005 = estatisticamente significante

Legenda: GI = três anos a três anos e 11 meses; GII = quatro anos a quatro anos e 11 meses; GIII = cinco anos a cinco anos e 11 meses

O desempenho das três faixas etárias no item "linguagem receptiva" (Figura 1) e no item "linguagem expressiva" (Figura 2), está representado graficamente a seguir.

Figura 1 Representação do escore bruto (receptivo) em função da idade dos participantes dos três grupos 

Figura 2 Representação do escore bruto (expressivo) em função da idade dos participantes dos três grupos  

DISCUSSÃO

Os resultados preliminares deste estudo demostraram que a versão brasileira do PLAI-2 pode ser considerada uma versão potencial para identificar diferenças no desenvolvimento dos aspectos relativos à linguagem de crianças com desenvolvimento típico de linguagem com idades entre três e cinco anos e 11 meses, devido ao fato de ter discriminado o desempenho destes sujeitos nas habilidades avaliadas. Este pressuposto é confirmado a partir da diferença significativa encontrada no escore bruto obtido pelos participantes nas habilidades expressiva e receptiva, os quais apresentaram tendência crescente em função da idade, ou seja, o desempenho do grupo de cinco anos é maior que o de quatro anos, e este, consequentemente, maior que o de três anos (Figuras 1 e 2).

A tradução e a adaptação de instrumentos internacionais são práticas frequentes realizadas por psicólogos e neuropsicólogos brasileiros( 7 ). Apesar de serem recentes na área fonoaudiológica, representam uma alternativa na busca por procedimentos sistemáticos e formais de avaliação da linguagem, pois possibilitam comparar os resultados com grupos de referência( 2 , 3 , 8 ).

Estudos internacionais que utilizam o PLAI-2, com os objetivos de identificar alterações nas habilidades receptivas e expressivas da linguagem e definir ações de intervenção e acompanhamento, demonstraram que o instrumento foi capaz de medir o desempenho de crianças nas três faixas etárias propostas pela versão original do teste( 9 - 12 ). Pesquisas complementares de validação poderão ampliar as investigações com o PLAI-2.

CONCLUSÃO

Os primeiros resultados com a versão brasileira do PLAI-2, como propõe sua versão original norte-americana, permitiram diferenciar o desempenho na linguagem expressiva e receptiva de cada um dos três diferentes grupos estudados, uma vez que o GI apresentou, em ambas as habilidades, desempenho inferior ao GII e este, consequentemente, inferior ao GIII.

REFERÊNCIAS

1. Pasquali L. Taxonomia dos instrumentos psicológicos. In: Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed; 2010.
2. Giusti E, Befi-Lopes DM. Tradução e adaptação transcultural de instrumentos estrangeiros para o Português Brasileiro (PB). Pró-Fono R Atual Cient. 2008;20(3):207-10.
3. Fortunato-Tavares T, Befi-Lopes D, Bento RF, Andrade CR. Children with cochlear implants: communication skills and quality of life. Braz J Otorhinolaryngol. 2012;78(1):15-25.
4. Blank M, Rose SA, Berlin LJ. Preschool Language Assessment Instrument. 2nd ed. Austin: PRO-ED; 2003.
5. Pasquali L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Vozes; 2004.
6. Reichenheim ME, Moraes CL. Operationalizing the cross-cultural adaptation of epidemiological measurement instruments. Rev Saude Publica. 2007;41(4):665-73.
7. Duarte CS, Bordin IAS. Instrumentos de avaliação. Rev Bras Psiquiatr. 2000;22(2):55-8.
8. Goulart BNG, Chiari BM. Testes de rastreamento x testes de diagnóstico: atualidades no contexto da atuação fonoaudiológica. Pró-Fono;2007;19(2):223-32.
9. Neufeld RE, Clark BG, Robertson CMT, Moddemann DM, Dinu IA, Joffe AR, et al. Five-year neurocognitive and health outcomes after neonatal arterial switch operation. The Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2008;136(6):1413-21.
10. Newell S, Graham A. Goonellabah Transition Program 'Walking Together, Learning Together: interim evaluation report. Canberra: Southern Cross University; 2007.
11. Hay I, Elias G, Fielding-Barnsley R, Homel R, Freiberg K. Language delays, reading delays, and learning difficulties: interactive elements requiring multidimensional programming. J Learn Disabil. 2007;40(5):400-9.
12. Boit RJ. A comparison study on the effects of the standardized and a teacher modified dialogic reading programs on early literacy outcomes of preschool children from low income communities [dissertação]. Amherst: University of Massachusetts; 2010.