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Prevalence of common mental disorders in primary health care

Prevalence of common mental disorders in primary health care

Autores:

Roselma Lucchese,
Kamilla de Sousa,
Sarah do Prado Bonfin,
Ivânia Vera,
Fabiana Ribeiro Santana

ARTIGO ORIGINAL

Acta Paulista de Enfermagem

On-line version ISSN 1982-0194

Acta paul. enferm. vol.27 no.3 São Paulo May/June 2014

http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201400035

Introdução

Há estimativas de que 14% da carga global de desordem mental não psicótica advêm de transtornos neuropsiquiátricos.(1,2) Associada a essa estimativa está a sua natureza crônica e incapacitante, despertando a atenção para a importância dos transtornos mentais para a Saúde Pública. Tal situação que se agrava quando é considerada a relação da doença mental com outras morbidades, como o aumento do risco para as doenças transmissíveis e não transmissíveis, além de contribuir para a lesão não intencional e intencional.(1)

Nesse sentido, a doença mental é seguida de desdobramentos nas dimensões biológicas, culturais, sociais, econômicas e políticas.(3) E, dentre os transtornos mentais, este estudo analisou o Transtorno Mental Comum, por representar o sofrimento mais prevalente na população mundial.(2,4)

O Transtorno Mental Comum, também classificado como transtorno mental não psicótico, é designado às pessoas que sofrem mentalmente e apresentam sintomas somáticos como irritação, cansaço, esquecimento, redução da capacidade de concentração, ansiedade e depressão.(2,5) As projeções mundiais para 2030 são no sentido de incluírem estas perturbações entres as mais incapacitantes do ser humano.(2) No Brasil, a prevalência oscila entre 28,7% a 50% e é considerada alta por estudiosos na área, em especial entre o gênero feminino e idosos.(5-8) Esse dado justifica a relevância de ações de rastreamento de casos possíveis de Transtorno Mental Comum na comunidade, sobretudo, no âmbito da Atenção Primária e Saúde da Família.(7) Dentre os instrumentos utilizados para identificação, destaca-se o Self Report Questionnaire 20 (SRQ-20), devido suas características psicométricas na discriminação de possíveis casos de Transtorno Mental Comum na comunidade, além da habilidade em identificar transtornos emocionais e necessidades em saúde mental.(5,9)

O SRQ-20 foi validado no Brasil, em 1986, e readequado como ponto de corte para rastreamento do Transtorno Mental Comum na comunidade em 2008. Desde então, o instrumento vem sendo utilizado na população geral, em idosos e pessoas que convivem com diabetes.(5,7-11)

No entanto, a estimativa de Transtorno Mental Comum na atenção primária ainda merece maior investigação, tendo em vista que este nível de atenção à saúde tem como um dos desafios a constituição de práticas de saúde mental e que esta conquista se consolidará mediante a identificação da análise da realidade.

O objetivo do estudo é estimar a prevalência de transtorno mental comum e seus fatores associados em serviço de atenção primária.

Métodos

Estudo seccional, observacional e analítico realizado em um município de médio porte na região Centro-Oeste do Brasil com significativa representatividade econômico-social regional.

Neste serviço há 1.440 famílias cadastradas, com cerca de 4.810 pessoas. Foi utilizada amostragem por conveniência. Foram excluídos os indivíduos com diagnóstico médico de transtorno mental grave e persistente, déficit cognitivo ou sobre efeito de álcool e outras drogas, incompatibilidade de endereço e indivíduos não localizados.

A coleta de dados foi realizada de julho de 2011 a fevereiro de 2012. O instrumento de coleta de dados foi o Self Report Questionnaire, o SQR-20, que é composto por 20 questões relacionadas à condição de saúde mental nos últimos 30 dias. As respostas são do tipo SIM ou NÃO, em que cada resposta sim equivale a um ponto. O resultado pode variar de 0 (nenhuma probabilidade para Transtorno Mental Comum) a 20 (extrema probabilidade para Transtorno Mental Comum). O ponto de corte considerado neste estudo foi ≥ sete para ambos os sexos.(5)

Os indivíduos que apresentaram escore ≥ sete foram encaminhados e agendados para atendimento psicológico em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), integrada à rede de Atenção Primária no município ou atendimento de acolhimento no Centro de Atenção Psicossocial

Os dados foram digitados no programa Excel for Windows® 2003-2007 após dupla conferência. A análise dos dados foi obtida por medidas de frequência absoluta e relativa, média e desvio padrão no Software for Windows®Statistical Package for Social Science for Windows (SPSS) versão 15.0.(12) Para análise de associação univariada, considerou-se como desfecho a pontuação obtida pelo escore ≥ sete (maior probabilidade de ter Transtorno Mental Comum), tendo como variáveis preditoras e o perfil sociodemográfico. Para análise de associação univariada entre a probabilidade de Transtorno Mental Comum e variáveis preditoras, utilizou-se o teste Qui Quadrado (c)2 ou Fischer e nível de significância de 5%. A medida de efeito utilizada foi a Razão de Prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%). Foram considerados fatores associados à variável desfecho o valor de p menor a 0,05.(13)

O desenvolvimento do estudo atendeu às normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

Participaram do estudo 607 indivíduos dos quais 31,47% apresentaram maior probabilidade para Transtorno Mental Comum. A pontuação mínima do SRQ 20 foi zero e máximo de 19 (SIM), com média de 5,35 e mediana de 4,00 (±4,177) respostas “SIM”, respectivamente. Seguindo a caracterização da amostra, apresenta-se a tabela 1.

Tabela 1 Caracterização socioeconômica e demográfica 

Variáveis n(%) ≥7 SRQ 20 <7 SRQ 20 RP IC95% p-value
n(%) n(%)
Sexo            
 Masculino 150(24,7) 18(12) 132(88,0) 0,32 (0,20-0,50) 0,000*
 Feminino 457(75,3) 173(37,9) 284(62,1)   1,00  
Situação conjugal            
 Com companheiro 417(68,7) 137(32,9) 280(67,1) 1,16 (0,89-1,51) 0,275
 Solteiro 102(16,8) 22(21,6) 80(78,4) 0,64 (0,44-0,95) 0,018*
 Viúvo 49(8,1) 15(30,6) 34(69,4) 0,97 (0,63-1,51) 0,893
 Divorciado/Separado 39(6,4) 17(43,6) 22(56,4)   1,00  
Cor de pele            
 Branco 310(51,1) 96(31,0) 214(69,0) 0,97 (0,77-1,22) 0,787
 Negro 48(7,9) 15(31,3) 33(68,8) 0,99 (0,64-1,54) 0,973
 Pardo 228(37,6) 71(31,1) 157(68,9) 0,98 (0,77-1,25) 0,893
 Amarelo 21(3,5) 9(42,9) 12(57,1)   1,00  
Idade            
 18 a 59 anos 510(84,0) 163(32,0) 347(68,0) 1,11 (0,79-1,55) 0,547
 ≥60 anos 97(16,0) 28(28,9) 69(71,1)   1,00  
Ocupação            
 Estudante 40(6,6) 6(15,0) 34(85,0) 0,46 (0,22-0,97) 0,020*
 Carteira assinada 118(19,4) 22(18,6) 96(81,4) 0,57 (0,38-0,85) 0,002*
 Autônomo 132(21,7) 52(39,4) 80(60,6) 1,35 (1,04-1,73) 0,026*
 Do lar 187(30,8) 77(41,2) 110(58,8) 1,52 (1,20-1,91) 0,000*
 Desempregado/ Aposentado/pensionista 130(21,5) 34(26,2) 96(73,8)   1,00  
Tem filhos            
 Sim 525(86,5) 178(33,9) 347(66,1) 2,14 (1,28-3,57) 0,001*
 Não 82(13,5) 13(15,9) 69(84,1)   1,00  
Anos de estudo            
 Nenhum 33(5,4) 8(24,2) 25(75,8)   1,00  
 1-3 anos 58(9,6) 18(31,0) 40(69,0) 1,01 (0,68-1,51) 0,954
 4-7 anos 159(26,2) 66(41,5) 93(58,5) 1,49 (1,17-1,81) 0,001*
 8-11 anos 275(45,3) 87(31,6) 188(68,4) 1,01 (0,80-1,28) 0,934
 ≥12 anos 82(13,5) 12(14,6) 70(85,4) 0,43 (0,25-0,73) 0,000*
Residentes na casa            
 Um residente 37(6,1) 14(37,8) 23(62,2)   1,00  
 2-3 pessoas 107(17,6) 30(28,0) 77(72,0) 0,87 (0,63-1,21) 0,400
 4 ou mais 463(76,3) 147(31,7) 316(68,3) 1,04 (0,79-1,37) 0,787
Renda            
 Até 1 SM 69(11,4) 31(44,9) 38(55,1) 1,51 (1,13-2,02) 0,010*
 1-3 SM 401(66,1) 132(32,9) 269(67,1) 1,14 (0,88-1,48) 0,299
 4-6 SM 121(19,9) 28(23,1) 93(76,9) 0,69 (0,49-0,98) 0,026*
 ≥7 SM 15(2,5) - 15(100,0) 0,00 (0,00-0,72) 0,003*
Moradia            
 Própria 424(69,9) 125(29,5) 299(70,5) 0,86 (0,67-1,10) 0,240
 Alugada 162(26,7) 57(35,2) 105(64,8) 1,17 (0,91-1,50) 0,233
 Emprestada/doada 21(3,5) 9(42,9) 12(57,1)   1,00  

Após a análise univariada, houve associação com o desfecho nas seguintes variáveis preditoras: sexo p=0,000 (RP:0,32 [IC 95%: 0,20- 0,50]); situação conjugal solteiro p=0,018 (RP:0,64 [IC 95%: 0,44- 0,95]); ocupação estudante p=0,020 (RP:0,46 [IC 95%: 0,22- 0,97]); carteira assinada p=0,002 (RP:0,57 [IC 95%: 0,38- 0,85]); ocupação autônomo p=0,026 (RP:1,35 [IC 95%: 1,04- 1,73]); do lar p=0,000 (RP:1,52 [IC 95%: 1,20- 1,91]); com filhos p=0,001 (RP:2,14 [IC 95%: 1,28- 3,57]); anos de estudo de 4 a 7 anos p=0,001 (RP:1,49 [IC 95%: 1,17- 1,81]); anos de estudo ≥12 anos p=0,000 (RP:0,43 [IC 95%: 0,25- 0,73]); renda de até 1 salário mínimo p=0,010 (RP:1,51 [IC 95%: 1,13- 2,02]); renda de 4 a 6 salários mínimos p=0,026 (RP:0,69 [IC 95%: 0,49- 0,98]) e renda ≥7 salários mínimos p=0,003 (RP:0,00 [IC 95%: 0,00- 0,72]).

Quanto às questões investigadas pelo instrumento SRQ 20, a figura 1 descreve as respostas positivas e negativas entre os 191 indivíduos que apresentaram escore ≥ sete. Das respostas obtidas por meio do instrumento de rastreamento de Transtorno Mental Comum prevaleceram às respostas SIM para: sentir-se nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a) (65,7 %), sentir-se triste ultimamente (41,4%) e dores de cabeça frequentes (39,4 %). Por outro lado, a maior prevalência para respostas NÃO foi para: ter ideia de acabarem com vida (94,9%), dificuldades no serviço (92,9%) e sentir-se uma pessoa inútil, sem préstimo (88,9%).

Figura 1 Respostas positivas e negativas entre os 191 indivíduos que apresentaram escore ≥ 7 

Discussão

Neste estudo recenhece-se como limitação dos resultados o fato de o desenho metodológico do estudo seccional não permitir inferir causalidade, uma vez que descreve o fenômeno em um dado momento e em local específico. Uma outra limitação refere-se à técnica de amostragem ser por conveniência.

Contudo, os resultados da pesquisa estimou a prevalência de Transtorno Mental Comum e descreveu características relevantes das pessoas que apresentaram escore ≥ a 7 para o instrumento SRQ-20, como sintomas referentes à depressão, ansiedade e somatotrópicos, indicando assim as necessidades de melhor organização da atenção primária e saúde da família no desenvolvimento de ações de promoção à saúde mental da população. Estes aspectos contribuem na construção de práticas do enfermeiro, uma vez em que foi empregado um instrumento de baixo custo, fácil interpretação e, que pode ser amplamente aplicado pela equipe de saúde, sobretudo da enfermagem no rastreamento de transtorno mental não psicótico na atenção primária, com vistas a reversão da subnotificação desta morbidade apontada por alguns autores.(5,7)

Como resultados, esta pesquisa revelou que a prevalência dos casos suspeitos de Transtorno Mental Comum na população estudada foi de 31,47%, o que corrobora com outros estudos efetivados em distintos territórios brasileiros com uso do teste SRQ-20.(5,7,11)

Nesses estudos, o predomínio dos transtornos não psicóticos variou de 28,7%,em uma comunidade de Santa Cruz do Sul, região sul; 29,9%, em Feira de Santana, região nordeste; 39,44%, em Blumenau, região sul.(5,10,11) A maior percentagem foi desvelada no município de São João Del- Rei, região sudeste, com 43,70%.(7)

Ao se considerar as peculiaridades sociodemográficas, observou-se que o gênero está associado à menor prevalência masculina com as morbidades psíquicas do tipo não psicótico quando comparadas ao gênero oposto, fato este também revelado em outras pesquisas.(2,5,7,10-13)

Considerando a forte relação que os homens têm com o trabalho, entende-se que qualquer falha ou insucesso pode afetar seu contexto social e pessoal gerando problemas emocionais/psicológicos. No entanto, uma associação maior do gênero feminino ao Transtorno Mental Comum pode ser feita diante do trabalho e o encargo familiar, visto que comumente implicam em renúncia ao próprio cuidado para dedicar-se ao próximo, culminando em quadros de consternação, ansiedade, frustração, angústia, adoecimento e, sobretudo, ocorrência de transtornos mentais.(13,14)

O conhecimento sistematizado quanto às desigualdades de gênero e Transtorno Mental Comum revelou, por meio de uma revisão bibliográfica da literatura, índices elevados de transtornos em mulheres devido à desvalorização da mesma na sociedade, à presença de desgaste pela sobrecarga na jornada de trabalho, tanto no lar como no emprego, e à violência sofrida pela mulher principalmente por parceiros afetivo-sexuais. Além do mais, as mulheres percebem facilmente o adoecimento, expressam prontamente seus sintomas e procuram com maior frequência, em relação aos homens, os serviços de saúde.(3)

Ponderando sobre a situação conjugal, a associação do Transtorno Mental Comum ao estar solteiro revelou um fato inédito nesta pesquisa quando comparado às outras preexistentes, que revelaram associação do Transtorno Mental Comum com indivíduos, divorciados ou separados, judicialmente ou não, e viúvos.(11,12) Há uma contradição quanto à associação estatística significante da situação conjugal ao Transtorno Mental Comum quando se discute que o convívio familiar é algo imperioso para apreensão do ser humano como elemento social, pois é no ambiente familiar que ele delineia sua constituição individual, a organização de sua identidade, o desenvolvimento psicológico e sua personalidade.(12)

A partir dos derivados referentes à ocupação, neste estudo, a associação do Transtorno Mental Comum às variáveis preditoras ser ‘do lar’ e autônomos corresponde às categorias mais predisponentes à ocorrência de Transtorno Mental Comum. Neste sentido, as mulheres ‘do lar’ comumente cumprem atividades domésticas e apresentam-se intimamente relacionadas às variantes de risco para depressão e ansiedade. Tal risco se explica pelo fato de estas mulheres, ao se isolarem em casa, serem “forçadas” a abdicar da própria satisfação profissional e consequente socialização.(15)

Por outro lado, os trabalhadores autônomos, que podem ser classificados como trabalhadores informais por não possuírem carteira assinada, vivenciam, em sua maioria, situações como incerteza sobre a situação de trabalho, precarização salarial, ausência de benefícios sociais e proteção da legislação trabalhista; consistindo em fatores desencadeadores de ansiedade e depressão.(3) Sendo assim, na vertente da variável preditora ocupação, ostentar estabilidade com carteira assinada e estudantes, os indivíduos pesquisados exibiram menor probabilidade ao aparecimento de transtornos mental comum.

Outra associação estatística significativa com o Transtorno Mental Comum nesta pesquisa foi a variável preditora ter filhos. As desordens decorrentes da dualidade de papéis exercidos, que abrange tanto a criação dos filhos quanto as responsabilidades referentes à profissão, foram corroboradas com os resultados de pesquisa prévia, ao revelar que ter filhos é um possível fator de risco para a ocorrência de Transtorno Mental Comum entre as trabalhadoras e não com as donas-de-casa.(16)

Em relação aos anos de estudo, constatou-se a prevalência da condição de interesse no grupo com Transtorno Mental Comum em relação ao grupo não exposto, ou seja, que não apresentou Transtorno Mental Comum em dois períodos de escolaridade. Os entrevistados que referiram quatro a sete anos de estudo apresentaram menor probabilidade de apresentarem Transtorno Mental Comum. Esse achado não difere substancialmente dos descritos em outro estudo com indivíduos assistidos em serviço de atenção primário. com mesmo nível de escolaridade.(7)

Maior número de anos de estudo também conferiu menor probabilidade de apresentar Transtorno Mental Comum, ou seja, aqueles quem dispõe de ensino superior detém menor perspectiva de desenvolvimento de transtornos leves. Em geral, essa correlação linear inversa entre chances de apresentar transtorno e nível de escolaridade é revelada também por outros pesquisadores.(17)

Por outro lado, poucos anos de estudo é um fator que se encontra intimamente ligado à presença de transtorno não psicótico. Esse fato implica em dificuldade de inserção no mercado de trabalho, baixa remuneração, pouca valorização e em condições de vida incertas; podendo ser considerada raiz de outros problemas sociais, que induzem a má qualidade de vida e, consequentemente, problemas psicológicos futuros.(17)

Na atual conjuntura social, várias crianças advindas de famílias com baixa renda geralmente abandonam os estudos devido à necessidade de trabalhar para ajudar na renda familiar. E o fato de essas famílias serem de baixa renda deve-se, em grande maioria dos casos, aos pais que também não tiveram uma inserção laboral de maior nível. Por consequente, este problema se torna um ciclo, refletindo nas condições gerais de saúde e, essencialmente, na saúde mental.(17)

Quanto à renda mensal, neste estudo, averiguou-se que os sujeitos que relataram renda baixa de até um salário mínimo, apresentaram maior probabilidade de desenvolverem Transtorno Mental Comum. Fato este revelado em outra pesquisa em que sujeitos com renda menor ou igual a um salário mínimo tenderam a um quadro de transtornos não psicóticos.(11)

Uma relação inversa às pessoas com melhor poder aquisitivo, acima de quatro salários mínimos, também foi observada e corroborada com pesquisa prévia em que foi constatado que a baixa renda familiar dos partícipes indicavam transtornos mentais.(7)

Tal relação também fora destacada quando se demonstrou que a detecção de Transtorno Mental Comum entre pessoas que sobrevivem com menos de um salário mínimo constituiu-se quatro vezes maior, no confronto com aqueles que recebem mais de três salários mínimos.(16) Deste modo, a baixa renda relaciona-se a um elevado índice de problemas psicológicos, que surgem em decorrência da redução do poder, insegurança, cumprimento penoso de papéis sociais, acontecimentos estressantes diários que culminam em baixa autoestima, acendendo, portanto, maior probabilismo de transtornos mentais.(3,7)

Quanto ao questionário, das respostas obtidas por meio do instrumento de avaliação SRQ-20 para indicativo de Transtorno Mental Comum, destacam-se com predominância os sintomas de humor depressivo-ansioso caracterizado por sentirem-se nervosos(as), tensos(as) ou preocupados(as), acompanhados por sintomas somáticos e as dores de cabeça frequentes. Este conjunto de sintomas também se apresenta com maior prevalência em outro estudo.(15)

Indivíduos com propensão ao Transtorno Mental Comum apresentam em graus variáveis as síndromes ansiosas, depressivas ou somatoformes.(2) Diante dessa situação é que se indica a sistematização das buscas de Transtorno Mental Comum na atenção básica à saúde e o estabelecimento de cuidados específicos de saúde mental neste nível de atenção.(17)

Por conseguinte, na população estudada, observou-se uma menor prevalência de pensamentos como ideia de dar finitude à vida e de não se sentirem inúteis e/ou sem préstimo. A partir desta análise, sobressalta-se um perfil de indivíduos que são mais acometidos por humor depressivo-ansioso e menos por pensamentos suicidas.

Observou-se também um maior índice de respostas NÃO para os sintomas de decréscimo de energia vital em “dificuldades no serviço, ou seja, seu trabalho lhe causa sofrimento”. Apesar das ocupações do lar e autônomos apresentarem associação com Transtorno Mental Comum por meio da análise univariada, a ocupação laboral não foi considerado um fator para o decréscimo de energia vital.

Deste modo, entende-se que o trabalho intervém no processo saúde-doença proporcionalmente ao grau de exigência ao qual o trabalhador é submetido. Fatores como sobrecarga, subcarga, falta de controle sobre o trabalho, distanciamento entre grupos de comandos e de submissos, afastamento social no espaço de trabalho, conflitos de papéis, desordens interpessoais e ausência de apoio social podem ocasionar sofrimento físico e mental.(18)

Conclusão

A prevalencia de Transtorno Mental Comum foi maior no gênero feminino, divorciado ou separado, cor da pele amarela, idade de 18 a 59 anos, ocupação do lar, com filhos, com quatro a sete anos de estudo, renda de até um salário mínimo e residindo em moradia emprestada ou doada.

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