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Prevalência da Síndrome Metabólica e Escore de Risco de Framingham em Homens Vegetarianos e Onívoros Aparentemente Saudáveis

Prevalência da Síndrome Metabólica e Escore de Risco de Framingham em Homens Vegetarianos e Onívoros Aparentemente Saudáveis

Autores:

Francisco Antonio Helfenstein Fonseca,
Maria Cristina de Oliveira Izar

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.110 no.5 São Paulo maio 2018

https://doi.org/10.5935/abc.20180083

The Life Style Heart Trial1 foi um marco no conhecimento. Publicado em 1990, o estudo mostrou que estilo de vida saudável associado à dieta vegetariana pode regredir lesões coronarianas, mesmo em pacientes que não façam uso de fármacos hipolipemiantes.

Vivemos hoje grande epidemia de doenças cardiovasculares, sendo sedentarismo, obesidade, diabetes e dislipidemias, condições frequentes que deflagram mecanismos de doenças cardiovasculares, como alterações da microbiota intestinal, aumento de biomarcadores inflamatórios, redução da resposta imune fisiológica e maiores concentrações de fatores pró-trombóticos.

Habitualmente, nossas diretrizes identificam pacientes de alto risco e estabelecem metas de tratamento em estágio avançado da doença cardiovascular, momento em que a simples mudança no estilo de vida parece insuficiente para uma efetiva e precoce redução do risco de eventos cardiovasculares.

Em 1988, Gerald Reaven realizou histórica Banting Lecture,2 mostrando elo entre resistência à insulina, obesidade, hiperglicemia, hipertensão arterial e dislipidemia (notadamente hipertrigliceridemia e baixos níveis de HDL-C). Reaven foi, de fato, pioneiro na descrição da Síndrome Metabólica, inicialmente descrita como Síndrome X e que constituiria situação de risco para a doença coronariana, mostrando que níveis elevados de colesterol não são o único mecanismo para esta enfermidade e que componentes da síndrome poderiam ser profundamente modificados por mudanças no estilo de vida.3-5

Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia,6 os autores mostram como a dieta vegetariana se associa de maneira marcante à menor prevalência da Síndrome Metabólica e menor risco cardiovascular pelo escore de Framingham em comparação à dieta de onívoros, definida por indivíduos que consumissem pelo menos quatro porções de carnes por semana.

O estudo incluiu amostra relativamente restrita, mas muito homogênea de adultos aparentemente saudáveis. Além disso, o total de homens estudados foi superior ao clássico estudo de Ornish (The Lifestyle Heart Trial). O estudo foi transversal, o que limita seus achados ao estabelecimento de hipóteses a serem confirmadas em estudos prospectivos. Entretanto, os critérios rigorosos de inclusão ao estudo (mínimo de quatro anos sob a dieta vegetariana ou onívora) e a qualidade dos dados obtidos destas populações bastante comparáveis, mostram quão importante é a nutrição e como são diferentes os aspectos metabólicos, clínicos e laboratoriais entre as duas populações estudadas.6

Recentemente, durante o congresso do American College of Cardiology (ACC18) em Orlando, o professor Valentin Fuster sugeriu para a prevenção primordial (primeiros 25 anos), primária (25-50 anos) ou secundária (após os 50 anos), diferentes estratégias para a redução da incidência e complicações da doença cardiovascular adequadas a cada nível de prevenção.

Os resultados do presente estudo sobre a dieta vegetariana nos mostram diferenças não apenas em marcadores individuais de risco cardiovascular, mas substanciais mudanças no escore global de risco e componentes da Síndrome Metabólica, em particular.6

Vivenciamos um período de transição epidemiológica, onde os maiores desafios não são reduções expressivas do colesterol, controle glicêmico ou pressórico, mas reduzirmos primordialmente a obesidade e os defeitos metabólicos progressivamente associados à hiperglicemia. Damos especial atenção ao paciente com desfechos coronarianos, cerebrovasculares, renais ou com doença vascular periférica avançada, mas são com medidas mais simples sobre estilo de vida, na prevenção primordial e primária, que atingiríamos maior parcela da população e obteríamos maior impacto em sua saúde.

REFERÊNCIAS

1 Ornish D, Brown SE, Scherwitz LW, Billings JH, Armstrong WT, Ports TA, et al. Can lifestyle changes reverse coronary heart disease? The Lifestyle Heart Trial. Lancet. 1990;336(8708):129-33.
2 Reaven GM. Banting lecture 1988. Role of insulin resistance in human disease. Diabetes. 1988;37(12):1595-607.
3 Reaven GM. Role of insulin resistance in human disease (syndrome X): an expanded definition. Annu Rev Med. 1993;44:121-31.
4 DeFronzo RA, Ferrannini E. Insulin resistance. A multifaceted syndrome responsible for NIDDM, obesity, hypertension, dyslipidemia, and atherosclerotic cardiovascular disease. Diabetes Care. 1991;14(3):173-94.
5 Reaven GM. Metabolic syndrome: pathophysiology and implications for management of cardiovascular disease. Circulation. 2002; 106(3):286-8.
6 Navarro JCA, Antoniazzi L, Oki AM, Bonfim MC, Hong V, Bortolotto LA, et al. Prevalência de síndrome metabólica e escore de Framingham em homens vegetarianos e onívaros aparentemente saudáveis. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):430-437