versão impressa ISSN 1806-3713
J. bras. pneumol. vol.39 no.4 São Paulo jul./ago. 2013
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132013000400012
A tuberculose, doença considerada negligenciada, acomete expressivos contingentes populacionais, especialmente nos países em desenvolvimento, onde apresenta elevada magnitude e transcendência social; portanto, constitui-se em um importante problema de saúde pública. Aproximadamente 95% dos casos estimados dessa doença ocorrem em países com poucos recursos, e 82% concentram-se em 22 deles, dentre os quais o Brasil, que ocupa a 17ª posição.( 1 )
Estimativas indicam que, em 2010, cerca de 270 mil casos novos de tuberculose ocorreram nas Américas,( 2 ) o que corresponde a uma taxa de incidência de 28,9 por 100.000 habitantes. O Brasil, país considerado prioritário para essa doença nesse continente, situou-se entre aqueles que alcançaram a meta de detecção da Organização Mundial da Saúde (OMS), já que identificou 88% dos casos novos bacilíferos. Entretanto, só alcançou 72% de cura, valor abaixo da meta preconizada de 85% para êxito no tratamento.( 1 ) Em 2011, foram notificados no Brasil 71.337 casos novos de tuberculose, correspondentes a uma incidência de 37,1/100.000 habitantes, e foram registrados 4.600 óbitos em decorrência dessa doença. Os estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul, São Paulo, Ceará e Acre apresentaram valores superiores à média nacional, enquanto Tocantins (14,1/100.000), Goiás (13,6/100.000) e Distrito Federal (11,1/100.000), historicamente, têm registrado as menores taxas.( 3 )
Na Bahia, a tuberculose vem exibindo uma redução gradativa da sua incidência. Esse indicador decresceu em 29,6%, entre 2003 e 2011, quando passou de 51,0/100.000 para 35,9/100.000 habitantes.( 3 ) A melhoria das condições de vida da população e da efetividade do programa de controle da tuberculose nesse período pode ter contribuído para essa tendência. Apesar desse declínio, a doença ainda apresentava níveis iguais ou superiores a 30/100.000 habitantes em quase 45% das Regionais de Saúde em 2009. Na 16a Regional de Saúde, entre 2004 e 2009, a incidência foi, em média, de 25,3/100.000 habitantes, tendo sido registrados os níveis mais altos do período (em torno de 30,0/100.000) em 2005, 2006 e 2009.( 4 )
A associação entre tuberculose, má nutrição e pobreza já está estabelecida. Sabe-se, entretanto, que essa relação é bidirecional, pois o quadro clínico da doença leva a desnutrição secundária, e a desnutrição também é um fator de risco para a doença.( 5 ) Dependendo da gravidade e/ou da duração do desequilíbrio nutricional, pode haver comprometimento do estado nutricional do paciente.( 6 ) Outro aspecto que, igualmente, deve ser considerado é a interação entre fármacos e nutrientes. Na sua presença, a droga pode não atingir níveis eficientes no sangue, seus efeitos podem ser prolongados pela absorção lenta ou, ainda, os fármacos podem causar depleção de nutrientes, conduzindo a deficiências nutricionais.( 7 ) Apoiado nesse conhecimento, para o tratamento da tuberculose, as quatro drogas empregadas (pirazinamida, rifampicina, isoniazida e etambutol) são ministradas por via oral, diariamente, em uma única dose, antes do desjejum, visando aumentar a sua absorção.( 8 ) Por conseguinte, fica evidente a importância da avaliação do estado nutricional de pacientes com tuberculose.
Investigações realizadas no Brasil sobre o estado nutricional desses pacientes mostram resultados variados. Em uma avaliação de 31 mulheres com tuberculose, 61,3% apresentavam desnutrição energético-proteica,( 5 ) enquanto em outra investigação encontrou-se valores semelhantes (33,3% e 31,3%, respectivamente) para a prevalência de baixo peso entre homens e mulheres.( 9 )
O presente estudo teve como objetivo determinar a prevalência de deficiência nutricional em pacientes com tuberculose pulmonar, no propósito de produzir informações que possam contribuir para garantir um acompanhamento de qualidade e a recuperação dos pacientes em tratamento dessa doença.
Realizou-se um estudo transversal, descritivo, tendo como fontes de dados o Sistema de Informação de Agravos de Notificação da 16ª Regional de Saúde e os prontuários médicos de pacientes com diagnóstico confirmado de tuberculose pulmonar, de acordo com a orientação do Ministério da Saúde.( 10 ) Essa Regional de Saúde, cuja sede está situada no município de Jacobina (BA), abrange 19 municípios que compreendem a Chapada Norte do estado e possui 377.710 habitantes.( 11 ) Todos os 159 postos e unidades básicas de saúde, assim como 93,5% dos 957 leitos hospitalares integram a rede do Sistema Único de Saúde, na qual atuam mais de 90% dos profissionais de saúde da região.
A população de estudo foi constituída por indivíduos de 15-59 anos de idade, residentes nos municípios da 16ª Regional de Saúde. Foram considerados todos os casos notificados de tuberculose que, tendo recebido confirmação diagnóstica, iniciaram o tratamento em abril de 2008 e o concluíram até março de 2009. Os idosos não foram incluídos porque, em geral, apresentam peculiaridades relacionadas ao envelhecimento, como redução progressiva da altura e ganho progressivo de peso e do índice de massa corpórea (IMC) até os 65-70 anos, diminuindo a partir de então as alterações de composição corporal.( 12 )
Os dados levantados foram registrados em um formulário contendo questões fechadas relativas às variáveis, como idade, sexo, altura, peso no inicio do tratamento e durante os seis meses de tratamento, entre outras. Calculou-se o coeficiente de incidência dos casos confirmados de tuberculose e a prevalência de deficiência nutricional entre esses pacientes para a regional como um todo e para cada um de seus municípios. A deficiência nutricional foi definida por IMC < 18,5 kg/m2,( 13 ) sendo consideradas apenas informações consistentes e completas para o cálculo desse indicador. Realizou-se a distribuição das frequências das características demográficas, sociais e clínico-epidemiológicas dos pacientes e testes estatísticos das diferenças entre as proporções, admitindo-se um nível de significância de 0,05. Foram calculados ainda os coeficientes de mortalidade e de letalidade da tuberculose para a regional.
O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (CEP/ISC nº 47/2010).
Dos 19 municípios da 16a Regional de Saúde, 4 não registraram casos confirmados de tuberculose pulmonar no período do estudo. Nos demais, foram notificados 102 casos, dos quais 72 foram confirmados. Desses, a maioria era do sexo masculino (81,9%) e na faixa etária de 30 a 49 anos (57,0%; Tabela 1). A média da idade foi de 39,8 ± 10,8 anos, sendo de 40,8 ± 10,7 anos para homens e de 34,2 ± 9,8 anos para mulheres. Do total de casos, 75,5% possuíam até quatro anos de escolaridade, 64,7% eram de cor parda, e 20,6% eram pretos.
Tabela 1 Casos novos confirmados de tuberculose pulmonar em pacientes com idade entre 15 e 59 anos segundo sexo e faixa etária entre abril de 2008 e março de 2009 na 16ª Regional de Saúde do Estado da Bahia.
Faixa etária, anos |
Sexo | Total | ||||
Masculino | Feminino | |||||
n | % | n | % | n | % | |
15-19 | 2 | 3.4 | 1 | 7.7 | 3 | 4.2 |
20-29 | 7 | 11.9 | 3 | 23.1 | 10 | 13.9 |
30-39 | 14 | 23.7 | 6 | 46.2 | 20 | 27.8 |
40-49 | 19 | 32.2 | 2 | 15.4 | 21 | 29.2 |
50+ | 17 | 28.8 | 1 | 7.7 | 18 | 25.0 |
Total | 59 | 81.9 | 13 | 18.1 | 72 | 100.0 |
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – 16ª Diretoria Regional de Saúde-Bahia (16ª DIRES-BA)
Observa-se na Tabela 2 que 77,8% dos casos confirmados deram entrada nos serviços de tuberculose como casos novos, e 90,7% fizeram tratamento ambulatorial. As transferências para outros serviços e recidivas representaram 12,5% e 8,3%, respectivamente. Na primeira baciloscopia, 70,8% foram positivas, e 5,6% dos pacientes não realizaram esse exame. Na segunda amostra, havia essa informação de 54 pacientes, dos quais 22,2% não realizaram a baciloscopia e 61,1% apresentaram resultado positivo. Havia o registro de comorbidade associada em 29 casos (40,3%). Desses, 55,2% referiam-se ao uso de álcool, e 24,1%, diabetes. Foram investigados para HIV 44,4% dos casos, e os demais encerraram o tratamento sem registros do resultado do exame. No nono mês do acompanhamento, quando o caso é considerado encerrado, 75,0% dos pacientes estavam curados, 5,6% haviam abandonado o tratamento, 2,8% foram a óbito por tuberculose, e, em 6,8%, não havia registro da situação. Pacientes desnutridos e eutróficos diferiram, respectivamente, no que se refere à frequência do desfecho transferência (15,4% vs. 0,0%), baciloscopia positiva na primeira amostra (69,2% vs. 61,9%), baciloscopia positiva na segunda amostra (77,8% vs. 46,7%) e abandono de tratamento (15,4% vs. 9,4%). Na comparação entre desnutridos e eutróficos, o uso de álcool (50,0% vs. 66,7%) e o desfecho cura (76,9% vs. 81,0%) foram mais elevados nos pacientes eutróficos; entretanto, não houve diferenças estatisticamente significantes para nenhuma dessas variáveis.
Tabela 2 Casos novos confirmados de tuberculose pulmonar em pacientes com idade entre 15 e 59 anos segundo características selecionadas e o estado nutricional entre abril de 2008 e março de 2009 na 16ª Regional de Saúde do Estado da Bahia.a
Características | Estado Nutricional* | Total | |
Eutróficos | Desnutridos | ||
Tipo de entrada | (n = 21) | (n = 13) | (n = 72) |
Caso novo | 15 (71.4) | 10 (76.9) | 56 (77.8) |
Transferência | NI | 2 (15.4) | 9 (12.5) |
Recidiva | 5 (23.8) | 1 (7.7) | 6 (8.3) |
Reingresso após abandono | 1 (4.8) | NI | 1 (1.4) |
Institucionalização | (n = 16) | (n = 13) | (n = 54) |
Não institucionalizado | 14 (87.5) | 12 (92.3) | 49 (70.7) |
Presídio | NI | NI | 1 (1.9) |
Outros | 2 (12.5) | 1 (7.7) | 4 (7.4) |
Baciloscopia de diagnóstico: 1ª amostra | (n = 21) | (n = 13) | (n = 72) |
Positiva | 13 (61.9) | 9 (69.2) | 51 (90.7) |
Negativa | 7 (33.3) | 4 (30.8) | 17 (23.6) |
Não realizada | 1 (4.8) | NI | 4 (5.6) |
Baciloscopia de diagnóstico: 2ª amostra | (n = 15) | (n = 9) | (n = 54) |
Positiva | 7 (46.7) | 7 (77.8) | 33 (61.1) |
Negativa | 3 (20.0) | 1 (11.1) | 9 (16.7) |
Não realizada | 5 (33.3) | 1 (11.1) | 12 (22.2) |
Comorbidades | (n = 6) | (n = 6) | (n= 29) |
Alcoolismo | 4 (66.7) | 3 (50.0) | 16 (55.2) |
Diabetes | 2 (33.3) | 2 (33.3) | 7 (24.1) |
Doença mental | NI | 1 (16.7) | 1 (3.4) |
Outros (tabagismo, tumor pulmonar, etc.) | NI | NI | 5 (17.2) |
Sorologia HIV | (n = 21) | (n = 13) | (n = 63) |
Positiva | NI | NI | NI |
Negativa | 13 (61.9) | 7 (53.8) | 28 (44.4) |
Em andamento | 8 (38.1) | 6 (46.2) | 35 (55.6) |
Situação no nono mês | (n = 21) | (n = 13) | (n = 72) |
Cura | 17 (81.0) | 10 (76.9) | 54 (75.0) |
Abandono | 2 (9.4) | 2 (15.4) | 4 (5.6) |
Óbito por tuberculose | NI | NI | 2 (2.8) |
Óbito por outras causa | NI | NI | 1 (1.4) |
Transferência para mesmo município | NI | NI | 2 (2.8) |
Transferência para outro município | NI | NI | 1 (1.4) |
Transferência para outro Estado | NI | NI | 1 (1.4) |
Mudança de esquema por intolerância medicamentosa | NI | NI | 1 (1.4) |
Continua em tratamento | 1 (4.8) | NI | 1 (1.4) |
Não registrado | 1 (4.8) | NI | 5 (6.8) |
aFonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – 16ª Diretoria Regional de Saúde-Bahia (16ª DIRES-BA). NI: não informado. Valores expressos em n (%). *Não houve diferenças estatisticamente significativas das variáveis estudadas na comparação entre indivíduos desnutridos e eutróficos
Quanto à baciloscopia de acompanhamento durante o tratamento (Tabela 3), no segundo mês, dos 62 pacientes com registro dessa informação, 59,7% e 30,6%, respectivamente, apresentaram resultados negativos e não realizaram o exame. Já no quarto mês de tratamento, dos 53 pacientes com informação conhecida, 1,8%, 49,1% e 49,1%, respectivamente, apresentaram resultados positivos, apresentaram resultados negativos e não realizaram o exame. No sexto mês, dos 57 pacientes com essa informação, 3,5%, 80,7% e 15,8%, respectivamente, apresentaram resultados positivos, apresentaram resultados negativos e não realizaram o exame. As maiores diferenças entre desnutridos e eutróficos foram observadas, respectivamente, na proporção de baciloscopia positiva (8,3% vs. 5,6%) e baciloscopia negativa no segundo mês (72,7% vs. 87,5%). Embora não houvesse registros de baciloscopia positiva no quarto e sexto meses de tratamento, a proporção de casos que não realizou este exame foi alta nos dois grupos. As diferenças encontradas não foram estatisticamente significantes.
Tabela 3 Casos novos confirmados de tuberculose pulmonar em pacientes com idade entre 15 e 59 anos segundo o estado nutricional e resultados de baciloscopia de acompanhamento durante o tratamento entre abril de 2008 e março de 2009 na 16ª Regional de Saúde do Estado da Bahia.a
Resultados de baciloscopiab | Estado Nutricional* | Total | |
Eutróficos | Desnutridos | ||
SeguNIo mês | (n = 18) | (n = 12) | (n = 62) |
Positiva | 1 (5.6) | 1 (8.3) | 6 (9.7) |
Negativa | 13 (72.2) | 8 (66.7) | 37 (59.7) |
Não realizada | 4 (22.2) | 3 (25.0) | 19 (30.6) |
Quarto mês | (n = 17) | (n = 11) | (n = 53) |
Positiva | NI | NI | 1 (1.8) |
Negativa | 11 (64.8) | 7 (63.6) | 26 (49.1) |
Não realizada | 6 (35.2) | 4 (36.4) | 26 (49.1) |
Sexto mês | (n = 16) | (n = 11) | (n = 57) |
Positiva | NI | NI | 2 (3.5) |
Negativa | 14 (87.5) | 8 (72.7) | 46 (80.7) |
Não realizada | 2 (12.5) | 3 (27.3) | 9 (15.8) |
aFonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – 16ª Diretoria Regional de Saúde-Bahia (16ª DIRES-BA). NI: não informado. Valores expressos em n (%).
bNão havia registros sobre resultados de baciloscopia de acompanhamento nos 2º, 4º e 6º meses, respectivamente, em 10 (14,0%), 19 (26,4%) e 15 (20,8%) pacientes. *Não houve diferenças estatisticamente significativas das variáveis estudadas na comparação entre indivíduos desnutridos e eutróficos.
A incidência de tuberculose pulmonar para a 16a Regional de Saúde foi de 30,6/100.000 habitantes de 15-59 anos. Nos municípios de Caldeirão Grande, Capim Grosso e Jacobina, respectivamente, o valor desse indicador (por 100.000 habitantes) foi de 89,3, 123,3 e 40,6, enquanto os municípios de Mairi e Mirangaba foram os que apresentaram a menor incidência (8,7 e 9,3, respectivamente). A prevalência de desnutrição entre os casos de tuberculose pulmonar foi de 50,0% no inicio do tratamento, 60,0% no primeiro mês de acompanhamento e de 50,0% no sexto mês. Nesses mesmos períodos, as médias do IMC foram, respectivamente, de 17,7 ± 3,2 kg/m2, 17,3 ± 3,4 kg/m2 e 21,0 ± 3,3 kg/m2 entre os casos com registro da informação sobre peso e altura. Dos 15 municípios com registro de casos, 10 (66,7%) tinham informações sobre essas duas variáveis em algum mês de tratamento. Ao longo do período analisado, somente houve variação no IMC em 29 casos. A prevalência de deficiência nutricional no inicio do tratamento foi de 33,3% em Caldeirão Grande; 28,6% em Jacobina; e 100% em Ourolândia, Saúde e Serrolândia (Tabela 4).
Tabela 4 Taxa de incidência de tuberculose pulmonar (por 100.000 habitantes) e prevalência de desnutrição em pacientes de 15 a 59 anos, distribuídos segundo o município de residência, desde o início do tratamento até o sexto mês de tratamento, na 16ª Regional de Saúde do Estado da Bahia.
Municípios |
Taxa de Incidência |
Prevalência de desnutrição por mês de tratamentoa | ||||||
Início | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | ||
Caem | 34,0 | NI | NI | NI | NI | NI | NI | NI |
Caldeirão Grande | 89.3 | 2 (33.3) | 2 (33.3) | 2 (33.3) | 2 (33.3) | 2 (33.3) | 1 (16.7) | 1 (16.7) |
Capim Grosso | 123.3 | NI | 3 (0) | 1 (0) | 2 (0) | 2 (0) | 3 (0) | 0 (0) |
Jacobina | 40.6 | 2 (28.6) | 3 (42.8) | 2 (50.0) | 4 (50.0) | 2 (33.3) | 2 (33.3) | 1 (16.7) |
Mairi | 8.7 | NI | NI | NI | NI | NI | NI | NI |
Miguel Calmon | 17.8 | NI | NI | 1 (100) | 1 (100) | 1 (100) | 1 (100) | 1 (100) |
Mirangaba | 9.3 | NI | 1 (0) | NI | 1 (0) | 1 (0) | NI | 0 (0) |
Morro do Chapéu | 14.8 | NI | 1 (33.3) | 1 (33.3) | 1 (33.3) | 3 (0.0) | 2 (0.0) | 0 (0.0) |
Ourolândia | 29.1 | 3 (100.0) | 3 (100.0) | 2 (66.7) | 1 (33.3) | 2 (66.7) | 1 (33.3) | 2 (66.7) |
Saúde | 13.6 | 1 (100) | 1 (100) | NI | NI | NI | NI | NI |
Serrolândia | 25.9 | 1 (100) | NI | 1 (0) | 1 (50) | 1 (0) | 1 (0) | 1 (50) |
Umburanas | 19.5 | NI | 1 (0) | 1 (0) | 1 (0) | 1 (0) | 1 (0) | 0 (0) |
Várzea da Roça | 22.4 | NI | NI | NI | NI | NI | NI | NI |
Várzea do Poço | 18.1 | NI | NI | NI | NI | NI | NI | NI |
Várzea Nova | 11.5 | NI | NI | NI | NI | NI | NI | NI |
TOTAL | 30.6 | 9 (50.0) | 15 (60.0) | 11 (55.0) | 14 (60.9) | 15 (62.5) | 12 (52.1) | 6 (50.0) |
aFonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – 16ª Diretoria Regional de Saúde-Bahia (16ª DIRES-BA). e formulários com informações dos prontuários dos pacientes dos 15 municípios. NI: não informado. Valores expressos em n (%)
A letalidade por tuberculose pulmonar, no período do estudo, foi de 3%, enquanto o coeficiente de mortalidade foi de 0,84/100.000 habitantes. Não ocorreram óbitos por tuberculose entre os pacientes desnutridos.
Os achados do presente estudo são sugestivos da existência de uma elevada prevalência (50%) de desnutrição entre os portadores de tuberculose pulmonar na 16ª Regional de Saúde, inclusive superior à encontrada no Rio de Janeiro (32%)( 9 ) e em São Paulo (34,9%).( 14 ) Esse problema também se mostrou muito frequente em pacientes hospitalizados com tuberculose em São Paulo e no nordeste do Brasil.( 15 , 16 ) Do mesmo modo, o baixo peso estava presente em 49% de 49 indígenas menores de 15 anos com diagnóstico de tuberculose no Mato Grosso do Sul entre 2007 e 2010.( 17 )
Embora, talvez em função dos pequenos números, não tenham sido observadas diferenças significativas entre pacientes eutróficos e desnutridos no que se refere às características analisadas, chama a atenção a taxa de abandono do tratamento (15,4%), quase duas vezes superior entre os desnutridos, situando-se acima de 5%, que é o valor considerado aceitável.( 18 ) Isso pode estar relacionado à maior frequência de efeitos colaterais da quimioterapia entre os pacientes com essa condição,( 19 ) especialmente, intolerância gástrica por dificultar a continuidade do tratamento. De fato, o estado nutricional dos pacientes é referido como um dos fatores que pode estar relacionado aos efeitos colaterais do tratamento da tuberculose( 20 ) e como motivo para o seu abandono,( 21 ) ou seja, contribuindo para a não adesão ao mesmo. Ademais, pacientes desnutridos sofrem alteração nos mecanismos imunológicos,( 22 ) podendo essa ser uma possível hipótese para explicar a maior frequência de baciloscopia com resultados positivos entre esses.
A incidência de tuberculose pulmonar (30,6/100.000 habitantes) na população da regional de saúde investigada, em 2009, foi inferior à encontrada em Salvador (58,9/100.000), capital da Bahia, para esse mesmo ano,( 23 ) o que pode ser consequente à possível existência de uma maior subnotificação de tuberculose no interior desse estado. O predomínio da doença no sexo masculino e entre adultos é consistente com a literatura,( 24 , 25 ) assim como a menor escolaridade( 26 ) e a predominância de casos entre pardos e pretos.( 27 ) Também similar a resultados de outros autores,( 28 , 29 ) o uso de álcool foi muito frequente entre os pacientes com tuberculose. Fatores relacionados ao estilo e hábito de vida, assim como a condições socioeconômicas e culturais, são apontados como possíveis explicações. A taxa de abandono (5,6%) encontrada para o conjunto de pacientes com tuberculose pulmonar nessa regional correspondeu a um valor próximo ao considerado aceitável, o que representa um resultado positivo. Todavia, a taxa de cura (75%) está um pouco aquém dos 85% estabelecidos pela WHO,( 1 ) indicando a existência de alguma deficiência que necessita ser identificada e resolvida.
Salienta-se que, por se basear em dados secundários que podem apresentar problemas relativos à sua cobertura e qualidade, deve-se ter alguma cautela quando da interpretação dos achados do presente estudo. É possível que limitações, como a subnotificação de casos de tuberculose, sub-registro e preenchimento incorreto e/ou incompleto de alguns campos dos instrumentos para o registro de dados pelas unidades de saúde, tenham afetado os resultados apresentados. Em Belford Roxo, RJ, um estudo sobre a qualidade da informação sobre tuberculose encontrou sub-registros de 6,4%, no triênio 2006-2008.( 30 )
Entende-se que o reduzido número de casos de tuberculose para os quais se dispunha de informação sobre peso e altura representa a principal restrição da presente investigação, impossibilitando a obtenção de resultados conclusivos acerca da real prevalência de desnutrição entre os pacientes. Sem dúvida, o sub-registro dessas informações é algo preocupante, tanto por ser sugestivo da baixa qualidade da atenção à saúde que está sendo oferecida, como pela importância que tem a avaliação nutricional na análise do desempenho do tratamento dessa micobacteriose para a decisão sobre possíveis intervenções voltadas para esses pacientes.( 6 )
Diante da possibilidade da existência de uma elevada prevalência de deficiência nutricional entre pacientes com tuberculose pulmonar, e considerando evidências semelhantes apresentadas por outros estudos realizados no Brasil, sugere-se a inclusão de um campo específico no Boletim de Acompanhamento dos casos de tuberculose para o registro do peso, altura e IMC.