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Prevalência de Dislipidemia Segundo Estado Nutricional em Amostra Representativa de São Paulo

Prevalência de Dislipidemia Segundo Estado Nutricional em Amostra Representativa de São Paulo

Autores:

Marcela Riccioppo Garcez,
Jaqueline Lopes Pereira,
Mariane de Mello Fontanelli,
Dirce Maria Lobo Marchioni,
Regina Mara Fisberg

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782X

Arq. Bras. Cardiol. vol.103 no.6 São Paulo dez. 2014 Epub 14-Out-2014

https://doi.org/10.5935/abc.20140156

RESUMO

Fundamento:

O excesso de peso configura um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e está relacionado à dislipidemia, importante fator de risco para doenças cardiovasculares.

Objetivo:

Avaliar o perfil lipídico de residentes do município de São Paulo (SP) segundo o estado nutricional.

Métodos:

Foram utilizados dados provenientes do estudo transversal de base populacional ISA-Capital 2008, referentes à amostra de residentes do município. Os indivíduos foram categorizados em grupos, segundo o índice de massa corporal e a faixa etária. Foram avaliados níveis de colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol, triglicerídeos e colesterol não HDL. Investigou-se a associação entre o perfil lipídico e o estado nutricional e circunferência de cintura. Os dados foram processados no modo survey do programa Stata 11.0.

Resultados:

A prevalência de qualquer tipo de dislipidemia na população foi de 59,74%, sendo o HDL-colesterol baixo a dislipidemia mais prevalente. Indivíduos sem excesso de peso apresentaram maior concentração média de HDL-colesterol e menor concentração de LDL-colesterol, colesterol total, triglicerídeos e colesterol não HDL, quando comparados ao grupo com excesso de peso. A proporção de inadequação dessas variáveis foi maior nos indivíduos com excesso de peso, independentemente da faixa etária, exceto para o LDL-colesterol de adultos e idosos. Foi observada maior prevalência de hipertrigliceridemia isolada em indivíduos com maior circunferência de cintura entre os adultos e na população total.

Conclusão:

Os resultados encontrados confirmaram a associação entre dislipidemia e excesso de peso na população da cidade de São Paulo. Constatou-se que a dislipidemia mais prevalente nessa população é o HDL-colesterol baixo.

Palavras-Chave: Dislipidemias/epidemiologia; Prevalência; Análise Estatística; Estado Nutricional; Obesidade/complicações

ABSTRACT

Background:

Overweight is one of the major public health problems in Brazil; it is associated with dyslipidemia, which is an important risk factor for cardiovascular diseases.

Objective:

To evaluate the lipid profile of residents of the municipality of São Paulo, state of São Paulo, according to the nutritional status.

Methods:

Data from the population-based cross-sectional study ISA-Capital 2008 on a sample of residents of São Paulo were used. Participants were categorized into groups according to body mass index and age range. The levels of total cholesterol, HDL-cholesterol, LDL-cholesterol, triglycerides, and non-HDL cholesterol were measured. The association between lipid profile, nutricional status, and waist circumference was investigated. The data were processed using the survey mode of the Stata 11.0 software.

Results:

The prevalence of any type of dyslipidemia in the population was 59.74%, with low HDL-cholesterol dyslipidemia being the most common type. Not overweight individuals had higher mean levels of HDL-cholesterol and lower levels of LDL-cholesterol, total cholesterol, triglycerides, and non-HDL cholesterol when compared with the overweight group. The rate of inadequacy of these variables was higher in the overweight individuals, regardless of the age group, to the exception of LDL-cholesterol in the adults and elderly. A higher prevalence of isolated hypertriglyceridemia was observed in individuals with higher waist circumference among the adults and the total population.

Conclusion:

The results indicate an association between dyslipidemia and overweight in the population of the city of São Paulo. The most prevalent dyslipidemia in this population was low HDL-cholesterol.

Key words: Dyslipidemias/epidemiology; Prevalence; Statistical Analysis; Nutritional Status; Obesity/complications

Introdução

O sobrepeso e a obesidade, caracterizados pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo corpóreo, são problemas crescentes no cenário epidemiológico mundial e representam um grande desafio para a saúde pública de diversos países1. No Brasil, entre 1975 e 2009, o sobrepeso, caracterizado por Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 25 kg/m2 em homens e mulheres entre 20 e 59 anos, aumentou, respectivamente, de 18,5 para 50,1% e de 28,7 para 48%, enquanto a prevalência de obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2), na população adulta, aumentou de 2,8 para 12,4% nos homens e de 8,0 para 16,9% nas mulheres2. Esse crescimento é preocupante, pois o Excesso de Peso (EP) é fator de risco para diversos agravos à saúde dos indivíduos3,4, além de gerar aumento significativo nos gastos diretos e indiretos4,5.

Diversos estudos demonstram que há relação entre excesso de gordura corporal e o risco de doenças, que são importantes causas de morbimortalidade, inclusive doenças cardiovasculares, que estão entre as principais responsáveis por mortes no Brasil e no mundo1,4,6,7. Outra consequência relacionada ao EP é a dislipidemia6, definida pela presença de, no mínimo, uma alteração do perfil lipídico: elevada concentração sérica de Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL-c), Triglicerídeos (TG) e/ou reduzida de Lipoproteína de Alta Densidade (HDL-c).

O aumento do número dessas alterações apresenta correlação positiva com o desenvolvimento da aterosclerose, doença inflamatória crônica que está intimamente ligada à elevada concentração sérica de Colesterol Total (CT), e é responsável pelo espessamento da parede da camada média e íntima das artérias, e também pela elasticidade arterial reduzida8-10.

A avaliação epidemiológica do perfil lipídico é uma ferramenta importante para a promoção de políticas de saúde que visam prevenir e reduzir fatores de risco cardiovascular da população10,11. Tendo em vista os grandes problemas que a obesidade e suas consequências representam à saúde, o presente estudo teve como objetivo avaliar o perfil lipídico, segundo o estado nutricional de adolescentes, adultos e idosos da população do município de São Paulo (SP).

Métodos

Foram utilizados dados provenientes do estudo transversal de base populacional Inquérito de Saúde de São Paulo (ISA-Capital 2008), referentes à amostra representativa de residentes do município de São Paulo12. O projeto entrevistou, no total, 2.691 adolescentes (12 a 19 anos), adultos (20 a 59 anos) e idosos (60 anos ou mais) de ambos os sexos. Destes, 748 tiveram sangue coletado para análise de dados bioquímicos (158 adolescentes, 302 adultos e 288 idosos). Desse total de indivíduos, 719 apresentaram todas as informações necessárias para as análises propostas (dados socioeconômicos, antropométricos e bioquímicos), sendo 157 adolescentes, 299 adultos e 263 idosos. Verificou-se que a perda da amostra original do ISA-Capital 2008 ocorreu de forma aleatória em todos os estratos considerados para a amostragem, sem viés por perdas diferenciais, quanto a sexo, idade, renda e escolaridade da população13. Além disso, o peso amostral foi recalculado para a amostra com dados bioquímicos, a fim de que os resultados permanecessem representativos da população paulistana.

Os dados foram coletados por meio de visitas domiciliares no período de setembro de 2008 a março de 2009, utilizando questionários estruturados, contendo perguntas pré-codificadas, aplicados por entrevistadores treinados. Dentre vários itens, avaliou-se a renda familiar per capita, classificada em até um Salário Mínimo (SM) e mais de um SM, de acordo com o valor vigente no ano de 2008 (R$ 415,00), e a escolaridade do chefe de família, categorizada em até 9 anos de estudo e 10 anos ou mais.

Os dados antropométricos e bioquímicos dos indivíduos foram obtidos durante visita domiciliar realizada por um técnico de Enfermagem capacitado, de acordo com os procedimentos de aferição de peso, estatura3 e Circunferência de Cintura (CC)14 e coleta de amostras biológicas15. Para a coleta de sangue, os indivíduos foram orientados a estar em jejum de 12 horas, não ter consumido bebidas alcoólicas nos 3 dias anteriores ao exame e não ter realizado atividade ou esforços físicos no dia do exame. Avaliou-se o estado nutricional de acordo com os pontos de corte do IMC (IMC = peso (kg)/altura (m)2, propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)16 para adolescentes, pela OMS3para os adultos e pela Organização Panamericana da Saúde (OPAS)17 para os idosos. Para as análises, o estado nutricional foi subdivido nas categorias: sem EP, na qual foram agrupados indivíduos com baixo peso e eutrofia; e com EP, que incluiu indivíduos com sobrepeso e obesidade. O ponto de corte de CC utilizado foi de 102 cm para homens e de 88 cm para mulheres14.

As variáveis bioquímicas (CT, HDL-c, LDL-c e TG séricos) foram determinadas mediante método enzimático-colorimétrico. Os valores de colesterol não HDL foram obtidos por meio da subtração do HDL-c dos valores de CT. Para a categorização dos indivíduos, foram utilizados pontos de corte de inadequação, de acordo com a V Diretriz Brasileira de Dislipidemia18. Os adolescentes foram classificados com perfil lipídico inadequado quando apresentavam os seguintes níveis séricos de HDL-c: < 45 mg/dL; LDL-c: ≥ 130 mg/dL; CT: ≥ 170 mg/dL e TG: ≥ 130 mg/dL. Para adultos e idosos, os pontos de corte de inadequação foram: HDL-c: homens ≤ 40 mg/dL, mulheres ≤50 mg/dL; LDL-c: ≥ 160 mg/dL; CT: ≥ 200 mg/dL e TG: ≥ 150 mg/dL.

Para a análise dos valores médios das concentrações das variáveis lipídicas, segundo o estado nutricional da população do estudo, foi realizado o teste de comparação de médias de Wald. Utilizou-se o teste qui quadrado de Pearson para comparação da prevalência de dislipidemias entre indivíduos sem e com EP, e entre indivíduos com CC adequada e inadequada. As variáveis quantitativas foram expressas por média e erro padrão, enquanto as qualitativas foram expressas por número de indivíduos e seu percentual. As análises foram realizadas por meio de comandos surveyno programa estatístico Stata, versão 11.0, a fim de que os resultados obtidos fossem representativos da população total do município de São Paulo. Foi considerado o nível de significância de 5%.

Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (OF.COEP 056/13) e financiado pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo 503128/2010-4, e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), processos 2009/15831-0 e 2012/24743-0.

Resultados

A tabela 1 apresenta a descrição da população estudada, de acordo com sexo, fatores socioeconômicos (renda familiar per capita e escolaridade do chefe de família) e antropométricos (IMC e CC), segundo faixa etária. A maior parte da população era eutrófica (49,81%), porém 46,01% dos indivíduos apresentavam EP. Enquanto 84,04% dos adolescentes apresentavam estado nutricional adequado, os idosos apresentaram alta prevalência de obesidade (37,28%). Quanto à obesidade central, 48,33% da população total apresentou a medida da CC inadequada, sendo esse percentual bem maior entre os idosos (74,68%). A presença de algum tipo de dislipidemia foi verificada em 59,74% da população do município de São Paulo.

Tabela 1 Características da população de estudo segundo faixa etária, São Paulo (SP), 2008* 

  Adolescentes Adultos Idosos Total
  % IC95%* % IC95%* % IC95%* % IC95%*
Sexo                
Masculino 50,1 41,4-58,8 48,2 42,0-54,4 39,6 33,5-46,0 47,1 42,7-51,5
Feminino 49,9 41,2-58,6 51,8 45,6-58,0 60,4 54,0-66,5 52,9 48,5-57,3
Renda familiar per capita                
Até 1 SM 60,5 51,3-69,0 37,6 29,5-46,5 37,9 30,0-46,4 40,5 34,0-47,2
Mais de 1 SM 39,5‡ 31,0-48,7 62,4 53,6-70,5 62,2 53,7-70,0 59,5 52,8-66,0
Level of schooling of the family head                
Até 9 anos 41,2 33,8-48,9 43,4 33,1-54,3 64,3 55,4-72,3 46,3 38,4-54,5
10 anos ou mais 58,9 51,1-66,2 56,6 45,7-66,9 35,7 27,8-44,6 53,7 45,5-61,7
IMC                
Baixo peso 2,5 0,1-6,9 2,2 1,0-4,7 15,1 11,3-19,9 4,2 2,9-6,0
Eutrofia 84,0 76,6-89,5 46,8 41,1-52,6 36,6 30,9-42,7 49,8 45,6-54,1
Sobrepeso 11,0 6,7-17,5 31,1 25,6-37,1 11,1 7,2-16,6 25,6 21,2-30,5
Obesidade 2,4 1,0-6,0 20,0 15,1-25,9 37,3 32,5-42,3 20,5 16,9-24,5
Circunferência de cintura                
Adequado 80,0 70,7-86,8 52,4 46,2-58,6 25,3 20,1-31,4 51,7 47,1-56,2
Inadequado 20,1 13,2-29,3 47,6 41,4-53,8 74,7 68,6-79,9 48,3 43,8-52,9
Dislipidemia                
Ausência 44,3 35,6-53,3 39,7 33,5-46,2 39,7 32,9-46,9 40,3 35,8-44,8
Presença 55,7 46,7-64,4 60,3 53,8-66,5 60,3 53,1-67,1 59,7 55,2-64,2
Total 12,3 9,7-15,6 72,4 68,2-76,2 15,3 12,5-18,7 100,0  

*Valores ponderados conforme desenho amostral;

SM correspondia a R$ 415,00 na época do estudo;

diferença significante segundo IC95%, entre as categorias das variáveis dicotômicas, por faixa etária. Resultados expressos por porcentagem e IC95%. IC95%: intervalo de confiança de 95%; SM: salário mínimo; IMC: índice de massa corporal.

Foram avaliados os valores médios das variáveis bioquímicas (HDL-c, LDL-c, CT, TG e colesterol não HDL) em relação ao estado nutricional (sem e com EP), da população total e segundo faixa etária, para uma melhor descrição conforme as diferenças fisiológicas de cada idade (Tabela 2).

Tabela 2 Valores de média, erro padrão e valor de p das concentrações das variáveis lipídicas na população de estudo, segundo estado nutricional, São Paulo (SP), 2008 

Variáveis Sem EP Com EP Valor de p Total
Média Erro padrão Média Erro padrão Média Erro padrão
População total              
HDL-c 50 1 45 1 0,001 48 1
LDL-c 104 3 116 3 0,002 110 2
CT 175 3 194 3 0,000 184 2
TG 104 5 164 10 0,000 132 6
Non-HDL 125 3 148 3 0,000 135 2
Adolescentes              
HDL-c 47 1 41 1 0,002 47 1
LDL-c 74 2 83 5 0,105 76 2
CT 137 3 145 7 0,281 138 2
TG 75 3 105 10 0,006 79 3
Não- HDL 89 2 104 6 0,023 91 2
Adultos              
HDL-c 50 2 45 1 0,003 48 1
LDL-c 109 4 115 3 0,171 112 3
CT 181 5 192 4 0,034 187 3
TG 109 8 167 12 0,000 139 8
Não- HDL 130 4 148 4 0,001 139 3
Idosos              
HDL-c 55 1 49 1 0,001 52 1
LDL-c 124 4 129 4 0,338 126 3
CT 202 4 210 5 0,232 206 3
TG 121 4 162 11 0,000 141 6
Não-HDL 148 4 161 5 0,048 154 3

EP: excesso de peso; HDL-c: lipoproteína de alta densidade; LDL-c: lipoproteína de baixa densidade; CT: colesterol total; TG: triglicerídeo.

Quando os dados da população total foram analisados de maneira contínua, foi possível observar uma correlação positiva entre as variáveis lipídicas LDL-c, CT, TG e colesterol não HDL e o IMC, sendo que a correlação não foi significativa apenas para o HDL-c (Figura 1). A mesma relação foi observada entre as variáveis lipídicas LDL-c, CT, TG e colesterol não HDL e CC (Figura 2).

Figura 1 Gráficos de dispersão de lipoproteína de alta densidade (HDL) (A), lipoproteína de baixa densidade (LDL) (B), colesterol total (C), triglicerídeo (D) e colesterol não HDL (E) e índice de massa corporal na população total. São Paulo (SP), 2008. 

Figura 2 Gráficos de dispersão de lipoproteína de alta densidade (HDL-c) (A), lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) (B), colesterol total (C), triglicerídeo (D) e colesterol não HDL (E) e circunferência da cintura na população total. São Paulo (SP), 2008. 

Na tabela 3, observa-se maior prevalência de inadequação dos parâmetros recomendados para o perfil lipídico nos indivíduos com EP na população total. Houve maior proporção de dislipidemias em adultos e idosos, com EP em todas as categorias, não sendo significativa apenas para LDL-c (hipercolesterolemia isolada) em ambas as faixas etárias. A categoria de adolescentes não foi avaliada separadamente, devido à baixa prevalência de dislipidemias (1,02%) nessa parcela da população; entretanto, foi incluída no cálculo da população total.

Tabela 3 Prevalência de dislipidemias em indivíduos sem e com excesso de peso, São Paulo (SP), 2008 

  Adultos Idosos População total* Total
Variáveis lipídicas Sem EP Com EP Valor de p Sem EP Com EP Valor de p Sem EP Com EP Valor de p
  n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
HDL baixo 54 (31,8) 78 (47,3) 0,03 28 (20,1) 50 (41,1) 0,01 148 (33,4) 143 (46,9) 0,021 291 (39,6)
Hipercolesterolemia isolada 11 (6,8) 16 (9,7) 0,30 26 (19,2) 25 (22,3) 0,63 38 (7,4) 44 (11,8) 0,058 82 (9,4)
Hipertrigliceridemia isolada 17 (10,6) 64 (45,3) 0,00 38 (26,0) 58 (46,8) 0,00 60 (11,6) 128 (44,7) 0,000 188 (26,8)
Hiperlipidemia mista 5(3,2) 14 (10,6) 0,01 11 (6,9) 19 (18,1) 0,01 17 (3,2) 35 (11,7) 0,000 52 (7,1)
Qualquer dislipidemia 77 (47,0) 112 (73,1) 0,00 73 (51,4) 82 (69,9) 0,01 220 (48,4) 214 (73,0) 0,000 434 (59,7)

*População total inclui adolescentes, adultos e idosos; EP: excesso de peso; HDL: lipoproteína de alta densidade.

Na tabela 4, analisou-se a prevalência de dislipidemia, segundo a adequação da medida da CC na população total e por faixa etária. Observou-se maior prevalência de algum tipo de dislipidemia em indivíduos com CC inadequada, com significância estatística para o HDL-c baixo em adultos e idosos, hipertrigliceridemia isolada em adultos e na população total e para qualquer tipo de dislipidemia, tanto para a população total, como para adultos. Novamente, a categoria de adolescentes não foi avaliada separadamente, devido à baixa prevalência de dislipidemias (1,02%) nessa parcela da população; entretanto, foi incluída no cálculo da população total.

Tabela 4 Prevalência de dislipidemia segundo adequação da medida da circunferência da cintura (CC) por faixa etária, São Paulo (SP), 2008 

  Adultos Idosos Total* Total*
  CC adequada CC inadequada Valor de p CC adequada CC inadequada Valor de p CC adequada CC inadequada Valor de p
Variáveis de p lipídicas n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
HDL-c baixo 58 (33,6) 74 (46,4) 0,05 13 (19,0) 65 (34,0) 0,05 135 (35,8) 156 (43,6) 0,121 291 (39,6)
Hipercolesterolemia isolada 12 (7,5) 15 (9,1) 0,62 14 (19,1) 27 (21,2) 0,75 27(7,1) 55 (11,9) 0,102 82 (9,4)
Hipertrigliceridemia isolada 28 (19,3) 53 (38,2) 0,00 18 (27,1) 78 (39,1) 0,15 51 (17,0) 13,7 (37,4) 0,000 188 (26,8)
Hiperlipidemia mista 9(7,2) 10 (6,8) 0,92 7 (8,8) 23 (14,6) 0,36 17 (6,0) 35(8,3) 0,368 52 (7,1)
Qualquer dislipidemia 84 (51,2) 105 (70,4) 0,00 35 (48,8) 120 (64,2) 0,06 187 (51,6) 247 (68,5) 0,001 434 (59,7)

*População total inclui adolescentes, adultos e idosos;

CC adequada para homens ≤102 cm e para mulheres ≤ 88 cm;

CC inadequada para homens > 102 cm e para mulheres > 88 cm.

Discussão

Os resultados encontrados no presente estudo confirmaram a associação entre EP e dislipidemia na população da cidade de São Paulo. Constatou-se que a dislipidemia mais prevalente na cidade de São Paulo foi o HDL-c baixo.

Diversos estudos no Brasil reportaram que a condição de sobrepeso e obesidade se relaciona às dislipidemias6,10,19,20. No presente estudo, ao se considerar a população total, as médias das concentrações lipídicas estão de acordo com recomendações da V Diretriz Brasileira de Dislipidemia18, exceto para TG em indivíduos com EP e para HDL-c, quando o ponto de corte para mulheres é levado em consideração. Estudos demonstram que, embora indivíduos com EP possam apresentar níveis de CT mais elevados do que os eutróficos, a principal dislipidemia associada ao acúmulo de tecido adiposo é caracterizada por elevação dos TG e diminuição do HDL-c19,21-24.

Há uma tendência de elevação nas mortes por doenças cardiovasculares no Brasil e esse panorama se relaciona, principalmente, ao IMC elevado9, afirmação ilustrada pela figura 1. Estudo realizado com adolescentes em Campina Grande (PB) observou associação do IMC com CT e sua fração LDL6. Santos e cols.25 e Liberato e cols.26 verificaram correlação negativa entre HDL-c e IMC.

Outra condição associada com as dislipidemias foi a obesidade abdominal27-29. Resultados do presente estudo estão de acordo com os estudos de Rezende e cols.30 e Alvarez e cols.31, que demonstraram associação da medida da CC com fatores de risco cardiovascular.

Estudos internacionais apontam a dislipidemia como um problema global. Dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) mostram que 12,9% dos adultos norte-americanos apresentam CT elevado (≥ 240 mg/dL) e 17,4% HDL-c baixo (< 40 mg/dL)32. Em estudo de base populacional com 14.385 adultos de ambos os sexos em Shangai, na China, 36,5% da população apresentou dislipidemia, com prevalências de hiperlipidemia mista, hipertrigliceridemia isolada, hipercolesterolemia isolada e HDL-c baixo de 3,8%, 24,9%, 3,2% e 4,7% respectivamente33. Assim como o presente estudo, observou-se que a dislipidemia está associada ao IMC e à CC, bem como à idade e ao gênero.

Verificou-se que a prevalência de qualquer tipo de dislipidemia na população total paulistana (indivíduos com e sem EP) foi de 59,74% (Tabela 1), sendo que 39,58% apresentavam HDL-c baixo, 9,39% LDL-c elevado (hipercolesterolemia isolada), 26,82% TG elevados (hipertrigliceridemia isolada) e 7,13% hiperlipidemia mista. Essa população foi caracterizada por valores aumentados de LDL-c e TG, sendo que, nos casos em que os valores de TG foram ≥ 400 mg/dL, considerou-se hiperlipidemia mista quando o CT ≥ 200 mg/dL. Outro estudo transversal de base populacional na cidade de São Paulo realizado em 2001-2002 demonstrou que as prevalências totais de dislipidemias, ajustadas por idade, na faixa etária de 15 a 59 anos, foram de 8,1% para CT (≥ 240 mg/dL), 27,1% para HDL-c (< 40 mg/dL) e 14,4% para TG (≥ 200 mg/dL)34. Estudo que avaliou a população do Rio de Janeiro constatou prevalência de qualquer tipo de dislipidemias de 24,2%, sendo as prevalências encontradas para HDL-c baixo (< 40 mg/dL) de 18,3%, LDL-c elevado (≥ 160 mg/dL) de 3,5%, hipercolesterolemia isolada (≥ 240 mg/dL) de 4,2% e hipertrigliceridemia isolada (≥ 200 mg/dL) de 17,1%10. Os estudos citados apresentaram prevalências menores do que as encontradas neste trabalho, porém em nenhum deles foi feita a relação dessas variáveis com o estado nutricional da população. A diferença de prevalências entre este e os demais estudos pode ser justificada pelos pontos de corte utilizados para determinação das dislipidemias, menos rigorosos para CT, TG e HDL-c para mulheres nesses estudos, que seguiam as recomendações da época em que foram realizados. No presente trabalho, foram utilizados os critérios mais atuais, propostos na V Diretriz Brasileira e Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia18, que levam em consideração as diferenças de cada faixa etária e, no caso dos adultos e idosos, o sexo. Além disso, esse resultado pode também ser reflexo de uma mudança no estilo de vida nos últimos anos. O padrão dietético atual, denominado "dieta ocidental", com alto consumo de gorduras totais, colesterol, açúcar refinado e baixo teor de fibra alimentar35, e o estilo de vida sedentário36 são exemplos de fatores que podem contribuir para o aumento das dislipidemias.

De acordo com os resultados apresentados, constata-se que a concentração do HDL-c responde por grande parte da prevalência de dislipidemia observada nessa população. Mudanças alimentares e no estilo de vida, como a redução de peso e da ingestão de ácidos graxos saturados e trans, a prática de atividade física e a cessação do tabagismo, apresentam importante impacto nos níveis de HDL-c18. Em relação ao risco cardiovascular, a meta terapêutica primária, nos casos de dislipidemia, é direcionada à concentração do LDL-c, sendo que essa dislipidemia apresentou prevalência de apenas 9,39% da população total, enquanto a de HDL-c baixo foi de 39,58%.

Embora a ciência demonstre os graves prejuízos decorrentes do uso do tabaco, seu uso permanece aumentando globalmente. Mesmo sendo o segundo maior produtor mundial de tabaco e o maior exportador de tabaco em folhas, o Brasil tem conseguido resistir a essa tendência37. A prevalência do uso do tabaco na população de 18 anos e mais da cidade de São Paulo, em 2008, foi 21,5%, sendo maior entre os homens (23,8%). Não foi observada diferença significativa na prevalência de tabagismo em 2008 (21,5%) em comparação a 2003 (21,2%), tanto para a população geral quanto para os sexos masculino e feminino38.

Em contrapartida, um estudo epidemiológico realizado na cidade de São Paulo revelou que apenas um terço da população realiza algum tipo de atividade física, revelando alta prevalência de sedentarismo36. Análise ecológica formativa de fatores ambientais locais, associados com o sobrepeso em adultos moradores de São Paulo, observou correlação inversa entre a prevalência de EP e a densidade de parques e instalações desportivas públicas. A maior concentração dos parques está na área central e mais rica da cidade, que apresenta a menor taxa de obesidade e prevalência de atividade física39. Esse cenário torna-se preocupante, já que a atividade física constitui fator decisivo para aumento dos níveis de HDL-c.

Uma limitação do presente estudo foi a não exclusão dos indivíduos que afirmaram fazer uso de medicamentos para controle de dislipidemia ou outras drogas que pudessem interferir no perfil lipídico, para determinação da prevalência da doença. Entretanto, a prevalência de indivíduos que afirmaram fazer uso de medicamentos para controle da dislipidemia foi de apenas 7,13%.

É essencial investigar a prevalência de dislipidemias e da obesidade na população, a fim de subsidiar medidas preventivas e curativas das doenças cardiovasculares. Por São Paulo ser a capital mais populosa do país40, os resultados deste estudo são uma importante ferramenta de análise para a criação ou remodelação dos programas de saúde pública, a fim de melhorar a saúde dessa população, em todas as faixas etárias.

Conclusão

Sabe-se do grande problema que é a obesidade e suas consequências para a saúde da população brasileira. Os resultados encontrados no presente estudo confirmaram a associação entre a dislipidemia e o excesso de peso na população da cidade de São Paulo, sendo que a dislipidemia mais prevalente nessa população é o HDL-c baixo.

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