versão impressa ISSN 1809-2950versão On-line ISSN 2316-9117
Fisioter. Pesqui. vol.25 no.3 São Paulo jul./set. 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1809-2950/17016725032018
En Brasil, la carrera callejera es el segundo deporte más practicado; mientras tanto, puede ocasionar lesiones musculo esqueléticas. Estudios sobre el tema son importantes para orientar estrategias de prevención e intervención. Así, el objetivo ha sido investigar la prevalencia de lesiones y los factores asociados en corredores callejeros de la ciudad de Juiz de Fora (MG). Se trata de un estudio observacional del tipo transversal. La muestra ha sido seleccionada por conveniencia. Han sido incluidos los corredores amadores, entre 18 y 60 años y que realizaban entrenos en distintos locales de la ciudad. Han sido excluidos los participantes con historial de fractura y osteosíntesis en miembros inferiores o que practicaran otro deporte que no fuera la musculación. Para analizar los datos, han sido utilizadas las pruebas t de Student, Mann-Whitney y X2 (α=0,05). Los participantes han sido asignados en grupo lesión (GL, n=37) y grupo sin lesión (GSL, n=113). La prevalencia de lesión ha sido del 24,7%. El GL practicaba la carrera hacía más tiempo (76,2 ± 9,1 × 36,7 ± 39,0 meses; P<.01), ha tenido menor incremento de la frecuencia semanal del entrenamiento (el 49,5% × el 54,2%; P=.04), ha realizado menos tiramiento previo (el 48,6% × el 75,2%; P=.02), ha presentado mayor porcentual de análisis de la marcha para escoja del calzado (el 62,1% × el 43,3%; P=.04) y uso de plantilla (el 35,1% × el 14,1%; P=<.01). La prevalencia de lesiones ha sido baja. Los que corren hace más tiempo tienen mayor riesgo de contusión aunque sin incremento en la frecuencia semanal. El tiramiento ha sido protector y la prescripción de calzado y plantilla indiscriminados no ha garantizado resultados satisfactorios.
Palabras clave Carrera/lesiones; Prevalencia
A prática regular da corrida aperfeiçoa a aptidão cardiorrespiratória de pessoas inativas, propiciando melhora na qualidade de vida, redução no percentual de gordura e na concentração de elementos sanguíneos1)- (3. A facilidade na execução e o baixo custo4 contribuem para torná-la o segundo esporte mais praticado no Brasil5. Contudo, quando praticada de forma inadequada ou sem orientação, pode causar lesões no sistema musculoesquelético2.
O aumento do número de lesões esportivas está intimamente relacionado a fatores intrínsecos e extrínsecos6), (7. Os intrínsecos são idade, gênero, experiência, aptidão e alterações anatômicas. Já os extrínsecos estão, direta ou indiretamente, ligados à preparação ou à prática da corrida, envolvendo tipo de atividade, calçado, superfície dos treinos etc8.
O comprometimento musculoesquelético pode representar um obstáculo à prática regular e o afastamento por períodos prolongados, além de custos elevados9. Um estudo de coorte prospectivo com 1.696 participantes investigou o ônus econômico das lesões em corredores. Em valores convertidos, os gastos com serviços de saúde e absenteísmo das atividades laborais foram de R$303,0010)- (12. No Brasil, não localizamos dados sobre o tema; portanto, não se pode inferir que o valor seja aproximado. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de lesões e fatores associados em corredores de rua na cidade de Juiz de Fora (MG).
Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) (Parecer nº 1.803.411/2016). Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A seleção da amostra foi realizada por conveniência. Seu tamanho foi calculado utilizando a fórmula n = Z*Z[P(1-P)]/(D*D) na qual:
Z=Valor da distribuição normal padrão correspondente ao nível de confiança desejado (Z=1,96 para intervalo de 95% de confiança), P=prevalência esperada e D=erro máximo aceitável na estimativa13. A prevalência esperada foi de 15% (P=0,15), com amplitude do intervalo de 95% de confiança de 12% (D=0,06), dessa forma: n =1,962 (0,15(1-0,15))/(0,062)=136 pessoas.
A coleta foi realizada nos locais de treinamento e nos dias de competições do Ranking de Corrida de Rua de Juiz de Fora/MG. Foram incluídos corredores amadores de ambos os sexos, com idade entre 18 e 60 anos e que treinavam em diferentes locais da cidade e excluídos aqueles com histórico prévio de fratura e osteossíntese em membros inferiores ou que praticassem outro esporte que não fosse a musculação. Para análise dos fatores associados, os participantes foram alocados em grupo lesão (GL) e sem lesão (GSL).
Para categorizar a amostra, foram coletadas informações referentes à idade, gênero, escolaridade, estatura e massa corporal dos corredores. Para análise da prevalência de lesão, considerou-se qualquer dor ou agravo que tenha limitado ou afastado por um ou mais dias o atleta de treinos e/ou competições nos últimos seis meses8.
Com relação aos fatores associados, foram coletados dados referentes às variáveis de treinamento. Foi investigado se houve aumento nos últimos seis meses em relação à frequência semanal, distância percorrida e a duração dos treinos diários, além do tempo de prática, frequência semanal, distância e duração média diária, utilização de calçado específico para corrida, tempo da utilização do calçado, se esse era correspondente ao tipo de pisada e se havia mais de um par, além da utilização de palmilha ortopédica. Também foi investigada a realização de alongamento e aquecimento antes dos treinos, desaquecimento após, se realizava, concomitantemente, musculação, e se apresentava assessoria para os treinos. Em caso afirmativo qual(is) profissional(is) envolvidos e se havia sido realizada avaliação para identificação dos fatores de risco de lesão na corrida.
Para categorização da amostra, foi utilizada a estatística descritiva. Para avaliar as diferenças entre os grupos foi empregado o teste t de Student, Mann-Whitney U e Qui quadrado para grupos independentes. Nas análises inferenciais foi considerado um nível de significância α=0,05. Todos os dados foram analisados através do software SPSS, versão 15.0.
A Figura 1 representa o recrutamento da amostra.
Participaram do estudo 150 indivíduos, sendo a maioria do sexo masculino (52%). Na Tabela 1 estão descritas as características demográficas e antropométricas. A prevalência de lesões foi de 24,7% (n=37).
Tabela 1 Teste Mann-Whitney U utilizado para verificar as características demográficas e antropométricas (n=150)
GL (n=37) | GSL (n=113) | Valor P | |
---|---|---|---|
Idade (anos) | 34 ± 11,1 | 35,8 ± 9,9 | 0,52 |
Escolaridade (anos) | 15,5 ± 4,8 | 14,7 ± 3,5 | 0,52 |
IMC (Kg/m²) | 23,8 ± 3,9 | 23,7 ± 3,4 | 0,49 |
Legenda: GL = grupo lesão; GSL = grupo sem lesão; IMC = índice de massa corporal
Na Tabela 2 estão expressas as diferenças das características de treinamento entre GL e GSL.
Tabela 2 Teste Mann-Whitney U utilizado para verificar as características de treinamento (n=150).
GL (n=37) | GSL (n=113) | Valor P | |
---|---|---|---|
Tempo de prática (meses) | 76,2 ± 99,1 | 36,7 ± 39,0 | 0,01* |
Frequência semanal (dias) | 3,5 ± 2,0 | 3,3 ± 1,3 | 0,51 |
Distância de treino (km) | 11,6 ± 14,8 | 9,0 ± 5,8 | 0,61 |
Tempo de treino (minutos) | 230,5 ± 98,7 | 56,6 ± 25,4 | 0,33 |
Legenda: GL = grupo lesão; GSL = grupo sem lesão; Km = quilômetros; * = diferença significativa
Na Tabela 3 estão demonstrados os fatores associados às lesões.
Tabela 3 Teste Qui quadrado para verificar os fatores associados às lesões (n=150)
GL (n=37) | GSL (n=113) | Valor P | ||||
---|---|---|---|---|---|---|
Sim | Não | Sim | Não | |||
Aumento do tempo de treino | 2054,1% | 1745,9% | 6961,1% | 4438,9% | 0,45 | |
Aumento da distância percorrida | 2156,8% | 1643,2% | 8171,7% | 3228,3% | 0,09 | |
Aumento da frequência semanal | 1549,5% | 2250,5% | 6754,2% | 4645,8% | 0,04* | |
Corre no mesmo local | 1643,2% | 2156,8% | 3430% | 7970% | 0,09 | |
Uso de calçado específico | 3697,3% | 12,7% | 10290,2% | 119,8% | 0,17 | |
Calçado avaliado para pisada | 2362,1% | 1437,9% | 4943,3% | 6456,7% | 0,04* | |
Utiliza mais de um calçado | 2875,6% | 924,4% | 8272,5% | 3127,5% | 0,71 | |
Alongamento prévio | 1848,6% | 1951,4% | 8575,2% | 2824,8% | 0,02* | |
Aquecimento prévio | 2670,3% | 1129,7% | 9382,3% | 2017,7% | 0,11 | |
Desaquecimento | 2567,6% | 1232,4% | 7566,4% | 3833,6% | 0,89 | |
Musculação | 2362,2% | 1437,8% | 7061,9% | 4338,1% | 0,98 | |
Palmilha | 1335,1% | 2464,9% | 1614,1% | 9785,9% | <0.01* | |
Assessoria profissional | 2464,8% | 1335,2% | 6254,8% | 5145,2% | 0,24 | |
Avaliação Fisioterapêutica | 2464,8% | 1335,2% | 6759,3% | 4640,7% | 0,48 |
Legenda: GL = grupo lesão; GSL = grupo sem lesão; * = diferença significativa
O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de lesões e os fatores associados em corredores de rua na cidade de Juiz de Fora (MG). A prevalência de lesões foi de 24,7%. Dentre os fatores associados, o GL praticava a corrida há mais tempo; teve menor aumento a frequência semanal do treinamento (49,5% × 54,2%); realizava menos alongamento prévio (48,6% × 75,2%); apresentou maior percentual de análise da marcha para escolha do calçado (62,1% × 43,3%) e uso de palmilha (35,1% × 14,1%).
A amostra foi composta por 150 voluntários de maioria homens. Este maior percentual foi observado em estudos prévios7), (14) e está relacionado à construção social, já que as mulheres apresentam dupla jornada de trabalho15.
A literatura específica apresenta uma variabilidade de prevalência de lesão de 24 a 65%16 - que corresponde com o resultado deste estudo -, explicado pelas características distintas das amostras e pela definição de lesão. Pode-se superestimar ou subestimar as taxas ao utilizar uma definição ampla. É necessário, portanto, uma padronização do termo17.
Com relação às características do treinamento, observou-se que o GL corre há mais tempo, o que corrobora com o estudo de Rangel et al. (18, que demostraram relação positiva entre o tempo de prática e a ocorrência de lesão. Há evidências de que correr a mais tempo é um importante fator preditivo de lesão, pois ela estão associadas a micro traumas repetidos que se sobrepõem2), (19.
Há relação diretamente proporcional entre aumento do treino semanal e risco de injúria musculoesquelética, consequência de um estado crônico de fadiga, causado pelo desequilíbrio entre tempo de regeneração e prática esportiva2), (19. Neste estudo, os participantes do GSL tiveram maior percentual de aumento da frequência semanal de treinamento. Os dados descritivos explicam o ocorrido, visto que, apesar de ter ampliado a frequência nos últimos seis meses, a média de treinamento do GSL foi de 3,3 dias na semana (tempo hábil para recuperação tecidual).
Neste estudo 62,1% do GL utilizava calçado prescrito conforme tipo de pisada. Revisões sistemáticas concluíram que a lesão não pode ser prevenida com uso de calçado específico20), (21. Os achados são contraditórios, posto que outros estudos concluíram que o uso de calçados específicos para os diferentes tipos de pisadas previne lesões graças ao amortecimento e absorção das forças de impacto do pé com o solo22. Um estudo de revisão com amostra de 423 indivíduos, concluiu que a utilização de calçado específico apresenta um efeito protetor apenas nos voluntários com os pés pronados, enquanto aqueles com pisadas neutras e supinadas não se beneficiaram. Conclui-se então que existem lacunas sobre o tema18.
Além disso, no GL, o percentual de uso de palmilha foi maior, apresentando-se como um fator associado à lesão. Tendo em vista que o objetivo da palmilha é gerar reflexos corretivos, ela nem sempre é prescrita de forma criteriosa e individual23.
Nesta pesquisa, o alongamento foi um fator protetor. Isso ocorre porque o alongamento sob uma musculatura retraída aumenta a capacidade de gerar torque e força, o que beneficia corredores amadores25. Nessa discussão ainda existem lacunas, uma vez que outros estudos indicaram que o alongamento feito imediatamente antes do treino predispõe a lesão por diminuir o desempenho muscular25)- (29.
Dentre as limitações do estudo, destaca-se a utilização de questionário estruturado que é susceptível a viés de memória e a erros de interpretação. Postula-se a condução de estudos prospectivos para evidenciar a relação de causalidade.
A prevalência de lesões em corredores amadores de Juiz de Fora (MG) foi baixa. Correr a mais tempo aumenta o risco mesmo quando não há incremento na frequência semanal. O alongamento foi protetor para a prevalência de contusões. Dentre fatores associados que influenciam o surgimento de lesões, estão o tempo de prática da corrida, o aumento na frequência semanal do treinamento, a prescrição indiscriminada de calçados e palmilhas.