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Promoting professional safety in addition to patient safety

Promoting professional safety in addition to patient safety

Autores:

Elena Bohomol

ARTIGO ORIGINAL

Acta Paulista de Enfermagem

Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194

Acta paul. enferm. vol.32 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2019 Epub Oct 10, 2019

http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201900066

Pode parecer um paradoxo pensar que aqueles que trabalham pela vida podem promover um dano ou a morte a um próximo. Falamos dos profissionais que exercem suas atividades na área da saúde e têm como valores o cuidado ao ser humano de forma integral e individual, com qualidade e segurança. A eles cabe promover a assistência livre de danos, respeitando os princípios bioéticos da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, cuidando daqueles que se encontram em diferentes momentos de vulnerabilidade.1 São aqueles formados para exercer suas atividades com prudência e responsabilidade, advogando em nome do paciente e seus familiares, auxiliando-os a participar das decisões que envolvem sua saúde e educando aqueles que desconhecem os rumos de sua doença ou impacto do tratamento.

Todavia, esses mesmos profissionais que trabalham para o aprimoramento da ciência e da arte no cuidado trazendo melhorias na saúde e no bem estar, são capazes de cometer erros durante a prestação da assistência, os quais podem trazer consequências danosas aos pacientes, embora sua intenção seja sempre agir corretamente.2

As consequências desses eventos adversos não são poucas. Em primeiro lugar elas recaem sobre os pacientes, precisamente aqueles que deveriam se beneficiar do cuidado com qualidade e que sofrem diversos danos. Esses, quando não fatais, sujeita-os a um maior número de intervenções, o que gera elevação nos custos da assistência, instala sentimentos de desconfiança e leva à deterioração das relações com os profissionais.3

São consequências também, as preocupações com os processos legais, cada vez mais frequentes e que culminam em altas indenizações como medida compensatória às vitimas ou seus parentes. Esses processos envolvem diretamente as instituições, e mais comumente o profissional médico, que passam a praticar a medicina defensiva induzida pela ameaça de processos, expondo o paciente a mais procedimentos e novos riscos. Frente a isto, estima-se que 30% de todos os exames de laboratório são desnecessários e outros 30% são subutilizados sem contar as solicitações excessivas de exames radiológicos aos quais os pacientes são submetidos. Com o objetivo de reduzir o desperdício no sistema de saúde e promover a segurança do paciente, a American Board of Internal Foundation, lançou em 2011 a campanha Choosing Wisely (Escolha com discernimento), e no Brasil desde 2015, no sentido de se avaliar o que é necessário ou não para proporcionar um cuidado mais seguro e eficaz, engajando as sociedades médicas nessa discussão.4

No entanto, como alerta do Dr. Mira no editorial que antecede a este, as consequências nos profissionais diretamente envolvidos com os eventos adversos, geram enorme sofrimento, que vão desde sentir-se o pior profissional do mundo; não conseguir viver com a culpa de ferir alguém; vontade de chorar; vontade de morrer; dores; insónia; fraqueza, pequenez, solidão; vontade de desistir da profissão e a própria desistência.2 Esses profissionais, geralmente, são tratados como os únicos culpados e pouco ou nada é feito em relação a eles. São as “segundas vítimas” e, infelizmente, no Brasil desconhecem-se programas de apoio como os citados, pouco se estuda ou se valoriza essa situação dentro da área da segurança do paciente, expondo, uma cultura punitiva na gestão das instituições. A prevalência dos profissionais na condição de “segunda vítima” é alarmante, e a depender dos estudos, é estimada em torno de 50% a 70%, trazendo urgência para essa discussão.5

Ao se analisar os estudos sobre os eventos adversos que atingem o paciente, as principais causas mencionadas são a falta de condições estruturais no ambiente de trabalho, materiais e equipamentos inadequados, dimensionamento insuficiente de pessoal, sobrecarga de trabalho, cansaço e estresse do profissional, erro de planejamento, falhas de processo, problemas na comunicação, todas elas preveníveis e evitáveis e que colocam em risco os profissionais fragilizando a assistência que precisa ser dada.6

Portanto, faz-se necessário que as organizações se comprometam com a segurança, aprendam com os erros e analisem seus processos de trabalho, cuidando desta forma do paciente e seus familiares em primeiro lugar e, também dos profissionais que nelas atuam.

REFERÊNCIAS

1. Coli RC, Anjos MF, Pereira LL. Postura dos enfermeiros de uma unidade de terapia intensiva frente ao erro: uma abordagem à luz dos referenciais bioéticos. Rev Lat Am Enfermagem. 2010;18(3):324–30.
2. Bohomol E. Nurses as second victims: A Brazilian perspective. Nurs Health Sci. 2019 Jul 1. doi: 10.1111/nhs.12630
3. Pazinatto MM. A relação médico-paciente na perspectiva da Recomendação CFM 1/2016. Rev Bioet. 2019;27(2):234–43.
4. Laguardia J, Martins MS, Castro IRS, Barcellos GB. Qualidade do cuidado em saúde e a iniciativa “Choosing Wisely”. 2016;10(1).
5. Mira JJ, Carrillo I, Lorenzo S, Ferrús L, Silvestre C, Pérez-Pérez P, et al.; Research Group on Second and Third Victims. The aftermath of adverse events in Spanish primary care and hospital health professionals. BMC Health Serv Res. 2015;15(1):151.
6. De Freitas GF, Hoga LA, Fernandes MF, González JS, Ruiz MC, Bonini BB. Brazilian registered nurses’ perceptions and attitudes towards adverse events in nursing care: a phenomenological study. J Nurs Manag. 2011;19(3):331–8.