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Reflexões sobre a carreira do atleta paraolímpico brasileiro

Reflexões sobre a carreira do atleta paraolímpico brasileiro

Autores:

Marcelo de Castro Haiachi,
Vinícius Denardin Cardoso,
Alberto Reinaldo Reppold Filho,
Adroaldo Cezar Araújo Gaya

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.21 no.10 Rio de Janeiro out. 2016

http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152110.18512016

Introdução

O esporte paraolímpico brasileiro vive um momento de grandes resultados esportivos em virtude das suas recentes conquistas: sétimo lugar no quadro geral de medalhas nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012 e líder por três edições consecutivas no quadro geral dos Jogos Para-Panamericanos (2007, 2011, 2015), principal competição das Américas. Este cenário vitorioso credencia o país como uma potência no movimento paraolímpico internacional. O termo paralímpico foi adotado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro em 2011 para adequação aos padrões utilizados pelo International Paralympic Committee (IPC). No entanto, não faz parte do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e, assim, não deve ser adotado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom). O termo paralímpico pode ser usado quando fizer parte de nome próprio (Comitê Paralímpico Brasileiro ou Jogos Paralímpicos). Nos demais casos utiliza-se esporte paraolímpico e/ou atleta paraolímpico1.

Com os Jogos Paralímpicos Rio 2016 abriu-se a oportunidade de discussão sobre a possibilidade de fazer do esporte paraolímpico uma carreira. A atual política esportiva brasileira faz com que seja possível a dedicação exclusiva aos treinamentos por parte dos atletas paraolímpicos. Realidade que só é plausível devido à ampliação dos incentivos financeiros (públicos e privados), do desenvolvimento das estruturas de treinamento no país e, ainda, da crescente visibilidade que a mídia tem dado ao esporte paraolímpico. Dessa forma, o profissionalismo começa a fazer parte do esporte paraolímpico, o que faz com que a condição de atleta seja uma realidade para as pessoas com deficiência.

A transformação promovida na vida destes atletas, ao retratar as potencialidades e não as limitações2,3, amplia a discussão sobre a necessidade de resultados expressivos em competições nacionais e internacionais para ampliar a obtenção de recursos que darão suporte para seu desenvolvimento esportivo.

Nesse contexto, o objetivo deste ensaio é apresentar as características e os desafios presentes na carreira esportiva do atleta paraolímpico brasileiro. Para tanto estruturamos em três eixos norteadores: os diferentes momentos do esporte paraolímpico, as características da carreira do atleta paraolímpico e as consequências do resultado esportivo para sua carreira.

Diferentes momentos do movimento paraolímpico

O esporte apresenta características importantes para o desenvolvimento nos aspectos físicos, psicológicos e sociais dos indivíduos (melhora da autoestima, independência para desenvolver tarefas cotidianas, possibilidade de estabelecer novas relações, conhecer pessoas, desenvolver potencialidades e estimular novas habilidades)4,5.

É a partir deste momento que o esporte promove uma série de mudanças na vida dos atletas paraolímpicos. Estas mudanças serão descritas ao longo dos seguintes momentos: 1) terapêutico/educacional; 2) reabilitação; 3) social; 4) saúde; e 5) alto rendimento.

O primeiro momento está centrado nas questões terapêuticas e educacionais, relativas à preocupação com o movimento do corpo, fora do padrão de normalidade, e a necessidade de transformar as pessoas excluídas da sociedade em membros produtivos e ativos. Este fato pode ser ratificado com a criação das primeiras escolas para educação de surdos e cegos, que culminou com a criação do Sistema Braile e da Linguagem de Sinais. Além disso surge as primeiras modalidades a serem formalmente praticadas como o beisebol para surdos (1871) e a criação dos primeiros clubes esportivos para surdos (1888)6,7.

O segundo momento tem como foco a reabilitação, na perspectiva de amenizar os traumas causados aos ex-combatentes no período entre guerras (1914-1918 e 1939-1945). A prática esportiva surge como complemento no processo de reabilitação, utilizando modalidades como o golfe, o tiro esportivo, o tiro com arco e o basquete em cadeira de rodas. A implantação destes programas esportivos elevou a estimativa de vida dos pacientes recém-lesionados, que não conseguiam sobreviver por mais de três anos8,9.

O terceiro momento acompanha as manifestações sociais de luta pelos direitos das pessoas com deficiência, como a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência (1975), o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência (1981), a inclusão da pessoa com deficiência na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1985) e a comemoração do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (1992)10. Toda esta mobilização serviu para colocar a deficiência na agenda de prioridades da Organização das Nações Unidas (ONU). A exposição das necessidades e a luta pelos direitos colaboraram para a construção de ações mais efetivas e conscientes em relação à melhor participação do deficiente na sociedade. A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada em 2006 e colocada em prática em 2008, passa a ser empregada por grande parte dos países membros da ONU. A participação em programas esportivos passou a ser uma estratégia adotada para proporcionar melhorias na funcionalidade e no reconhecimento das suas capacidades e potencialidades. A inclusão através do esporte abre caminho para que clubes, universidades e projetos esportivos tenham a possibilidade de fornecer uma oportunidade de convivência entre atletas com e sem deficiência10,11.

O quarto momento surge a partir da preocupação mundial com os aspectos de saúde, sendo a prática esportiva um instrumento para o combate ao sedentarismo, a obesidade e os fatores de risco associados. O aspecto preventivo e o reconhecimento dos benefícios do esporte fazem com que a área médica reconheça seu verdadeiro papel na melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência12,13. A deficiência antes focada na lesão/limitação abre espaço para a funcionalidade, centrando sua atenção no que o deficiente consegue fazer e nas suas potencialidades. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde ratifica este entendimento sobre a deficiência, sendo aplicada no esporte e em diversas áreas da sociedade (setores de seguro, previdência social, trabalho, educação, economia, política social, desenvolvimento geral da legislação) como um instrumento apropriado para o desenvolvimento da legislação, nacional e internacional, sobre os Direitos Humanos14.

O quinto momento retrata o rendimento esportivo, onde são necessários a dedicação, o treinamento e a busca pela excelência para superar seus adversários e melhorar cada vez mais seus próprios resultados. A dedicação exclusiva ao treinamento aliada à constante inovação tecnológica, principalmente em relação aos materiais, equipamentos e estratégias de treino, influencia diretamente no desempenho esportivo do atleta paraolímpico15. Ao aumentar as chances de obtenção de recursos financeiros (públicos e privados), através do desempenho esportivo, abre-se espaço para o profissionalismo no esporte paraolímpico16. A carreira esportiva dos atletas paraolímpicos passa a estar diretamente relacionada com a obtenção e a manutenção de resultados, o que eleva as exigências e o nível técnico deles, ratificando o esporte paraolímpico como de alto rendimento esportivo.

Características da carreira do atleta paraolímpico

A visibilidade da carreira esportiva do atleta paraolímpico brasileiro aumentou com a proximidade dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. A profissionalização conquistada pelos atletas e a melhora no seu desenvolvimento enquanto indivíduo torna-se fonte de inspiração para uma nova geração de competidores. O esporte transcende seu papel inicial de apenas reabilitar para ser considerado uma atividade laboral. Esta realidade passa a ser almejada se transformando em um fator determinante para a melhora na condição de vida de atletas e de suas famílias.

Conforme Wheeler et al.17, este caminho esportivo é dividido em 3 fases, denominadas: 1) pré-transição; 2) transição; e 3) pós-transição.

A pré-transição se relaciona com a iniciação esportiva formal e informal, também com o desenvolvimento da sua experiência competitiva. É nesse primeiro momento da carreira que o atleta começa a ter o comprometimento com as práticas competitivas e começa a colher os benefícios em competências pessoais, como: identificação com o esporte, autoestima, imagem corporal e na ampliação das suas relações sociais. Esse processo ainda apresenta barreiras que necessitam de suportes para que o atleta possa se desenvolver.

Já a transição tem como ponto central o processo de retirada do ambiente competitivo e suas consequências para os aspectos emocionais. É nesse momento que o atleta precisa lidar com perdas em sua carreira. A dificuldade em manter seus resultados e a interferência das lesões crônicas são consideradas preocupações que causam impactos emocionais marcantes associadas a um sentimento de insegurança e incerteza sobre a continuidade da sua carreira esportiva.

E a pós-transição traz a preocupação com o seu novo papel fora do ambiente esportivo associada a novos desafios no seu curso de vida (nova atividade, família, etc.). É nesse momento que o atleta precisa lidar com uma nova situação, a de buscar uma nova ocupação. Muitos atletas tendem a ocupar posições de gestão dentro de instituições que trabalham com o esporte para pessoas com deficiência, a fim de manter sua ligação com o esporte.

Conforme a Figura 1, a carreira do atleta paraolímpico passa a ser vista como o caminho percorrido por ele, cercado de barreiras, sustentado pelos diferentes suportes obtidos ao longo da sua experiência competitiva de modo a facilitar a manutenção e a longevidade da trajetória esportiva.

Fonte: autores.

Figura 1 A estrutura da carreira do atleta paraolímpico. 

As barreiras encontradas ao longo da sua experiência esportiva estão associadas às condições ambientais (acessibilidade e mobilidade urbana), estruturais (local de treinamento, incentivo financeiro, equipe multidisciplinar) e emocionais (motivação, autoestima, relação com treinador, apoio familiar) que fazem um contraponto aos suportes obtidos durante este período, servindo de facilitadores para melhora no rendimento esportivo.

A busca por resultados expressivos parece ser a preocupação inicial de atletas e treinadores, aliados a isso, nesse momento inicial, surgem as principais barreiras para o ingresso e para a manutenção no esporte paraolímpico. Teodoro18 destaca os recursos financeiros e a estrutura de treinamento como as principais barreiras enfrentadas no início da carreira e que podem atrapalhar a obtenção de bons resultados nessa fase inicial.

A questão financeira é a porta de entrada para a construção de uma carreira esportiva19. A necessidade de marcos regulatórios que promovam o desenvolvimento do esporte, seja ele na esfera municipal, estadual ou federal, são determinantes para sua evolução a longo prazo.

A Lei Agnelo/Piva n° 10.264/2001 veio ao encontro desta necessidade, ao possibilitar que, através do repasse de percentuais da arrecadação bruta das loterias federais, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) desenvolvam ações nos esportes de alto rendimento, escolar e universitário20. Recentemente a lei sofreu uma alteração em seus percentuais de repasse (2% para 2,7%), assim como a distribuição entre o COB (85% para 62,96%) e CPB (15% para 37,04%). Esta alteração ocorreu com a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que permitirá ao CPB investimentos na ordem de R$130 milhões21.

Seguindo esta linha de aplicação de recursos financeiros no esporte, a implantação do Programa Bolsa Atleta, pelo Ministério do Esporte (2004), incentivou os atletas de alto rendimento, em âmbito municipal, estadual e federal, em diferentes níveis (Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Paraolímpico e Bolsa-Pódio), a dedicar um maior tempo aos treinamentos e melhorar suas condições para uma participação mais efetiva do calendário esportivo paraolímpico22.

Mas não somente os recursos financeiros são determinantes para a obtenção de resultados19. Ações centradas na melhora das condições de treinamento, seja em questões estruturais (locais de treinamento, recursos humanos e equipe multidisciplinar), de inovação tecnológica (cada vez mais presente no esporte paraolímpico), ou afetivas (apoio familiar e convívio com o treinador), são fundamentais para compreender o processo de estruturação do caminho a ser seguido.

Apesar da carreira esportiva do atleta ser um assunto discutido pela comunidade científica23-25, pouco se fala ainda do paraolímpico brasileiro. A dificuldade em retratar o esporte enquanto carreira faz com que as temáticas sociais, de inclusão e de superação através do esporte ganhem mais destaque. Brazuna e Castro26 retratam a trajetória esportiva de atletas paraolímpicos destacando seus benefícios para sua melhor qualidade de vida, o envolvimento dos aspectos pessoais e as limitações ocorridas neste processo, sem deixar de lado temas polêmicos como as lesões, o doping, o stress e os aspectos motivacionais negativos.

Uma alternativa para a ampliação da temática, de acordo com Marques et al.27, é uma maior divulgação do esporte paraolímpico. Esta se coloca como uma estratégia necessária para apresentar os valores paraolímpicos: coragem, determinação, inspiração e igualdade28. A maior exposição da imagem dos atletas aliada ao aumento da cobertura pela mídia são ações trabalhadas pelo CPB como parte do seu planejamento estratégico 2010-201629. Desde os Jogos de 2000, a entidade investe na comunicação como uma ferramenta para divulgar o movimento paraolímpico no país e proporcionar a consolidação da carreira de seus atletas.

Consequências do resultado esportivo para carreira

Ao se identificar com o esporte e assumir a identidade de atleta, novas portas se abrem e o sentimento de incapacidade cede espaço para o de pertencimento. A possibilidade de realização proporcionada pelo esporte traz um novo sentido para a limitação presente na deficiência. Mas o que fazer com aqueles que não conseguem obter os resultados necessários para transformar o esporte em atividade laboral? Afinal de contas, nem todas as pessoas com deficiência (aproximadamente 24% da população brasileira)30 apresentam altas habilidades, acesso a suportes e motivação para se dedicar ao esporte de rendimento.

Este é um desafio para o esporte paraolímpico brasileiro, a alta competitividade associada a resultados expressivos são determinantes para a escolha de quem avança ou não como beneficiário de programas de incentivos financeiros e melhores condições de treinamento. Este sistema baseado na meritocracia traz desdobramentos não só para sua carreira esportiva, mas também na sua vida fora do esporte31. Problemas com lesões, a pressão psicológica e os valores baseados apenas na obtenção dos resultados a qualquer preço, leva muitas vezes o atleta a buscar formas ilícitas (proibidas) para melhorar seu rendimento esportivo, recorrendo ao doping32.

Diferentes formas de doping começam a fazer parte das competições paraolímpicas. A manipulação de caráter bioquímico33, a tecnologia (equipamentos, próteses, materiais esportivos)34,35 e a genética36 evidenciam este cenário de busca por melhores resultados a qualquer preço31. Em alguns casos, a manipulação da própria condição de saúde37, para se tornar elegível ou melhorar seu desempenho no esporte, desvirtua todos os aspectos éticos e morais que deveriam ser cultuados. O fair play (jogo limpo) passa também a ser ameaçado no esporte paraolímpico.

A carreira do atleta paraolímpico sofre constantes oscilações, desde seu ingresso até a preparação para retirada do esporte, e a Figura 2 expressa os momentos vivenciados pelo atleta paraolímpico a partir da sua entrada no universo competitivo.

Fonte: autores.

Figura 2 Momentos da carreira do atleta paraolímpico. 

Os diferentes momentos da carreira estão assim enumerados: 1. Processo inicial para obtenção de resultados; 2. Resultados expressivos e suportes recebidos; 3. Perda de rendimento. Todos estes momentos têm como ponto central a busca pelos resultados. Estes resultados precisam ser expressivos, até a décima posição, dependendo da modalidade18,23.

A longevidade esportiva e o impacto na sua vida fora do ambiente esportivo ainda é um grande desafio. A carência de um programa que oriente o atleta no sentido de prepará-lo para percorrer todas as fases da carreira, reflete a insegurança sobre o futuro tanto no esporte como na sua vida pessoal. A descontinuidade de projetos e programas de formação de atletas forçam a constante migração para os grandes centros esportivos localizados na região Sudeste (eixo Rio de Janeiro e São Paulo). Este fato pode ser ratificado pela elevada concentração de atletas medalhistas nos Jogos Paralímpicos de Londres (2012), em que 64% dos atletas treinavam na cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro38.

A vida pós-atividade competitiva traz de volta o sentimento de limitação, presente no momento da aquisição da deficiência, que faz com que alguns pós-atletas busquem uma proximidade com atividades e funções relacionadas ao esporte, como uma forma de se manter ativo31. No entanto, estas funções (gestão, administração, treinamento) requerem uma formação mínima para seu exercício e podem ser positivas para sua subsistência no longo prazo.

Portanto, planejar este momento da carreira esportiva (pós-transição) é decisivo para sua inserção em uma nova atividade profissional. A oportunidade de capacitação e treinamento profissional de acordo com as exigências do mercado de trabalho, aliada à experiência esportiva acumulada (resiliência e foco) podem ser determinantes para uma melhor adaptação a esta nova fase da vida.

Considerações Finais

A meta ousada projetada pelo CPB de figurar entre as cinco maiores potências do esporte paraolímpico no quadro geral de medalhas nos Jogos Paralímpicos Rio 2016 traz uma enorme insegurança em relação à cobrança excessiva por resultados.

As características da carreira esportiva do atleta paraolímpico, juntamente com seus desafios, revelam um cenário ainda cercado de problemas estruturais, principalmente em relação à manutenção de políticas de incentivo em todas as suas fases pré-transição, transição e pós-transição. A necessidade de manter-se obtendo resultados expressivos passa a ser uma exigência que esbarra na estrutura esportiva deficiente existente no país. A construção do Centro Treinamento Esportivo Paralímpico em São Paulo cria expectativas para muitos atletas. Mas como potencializar as altas habilidades da outra parcela de atletas que não tem como usufruir desta excelente estrutura esportiva?

A maior sensibilização da iniciativa privada aliada a parceria com Instituições de Ensino Superior e Instituições Militares ampliam as perspectivas positivas para o futuro principalmente em relação as condições estruturais de treinamento em diferentes regiões do país, evitando o processo migratório dos atletas em busca de melhores condições de treinamento.

A realização de um Megaevento Esportivo apresenta um papel importante para ampliar a discussão sobre a deficiência no país. De acordo com Legg e Gilbert39, os legados produzidos pelos megaeventos levam a grandes reflexões a respeito de temas como: acessibilidade e facilidades para a prática esportiva; desenvolvimento de infraestruturas e entidades esportivas; mudança da atitude da população em relação à deficiência; ampliação das oportunidades para a população com deficiência e debates sobre problemas antes desconhecidos por parte da população.

Os Jogos Paralímpicos Rio 2016 trazem boas perspectivas para a consolidação da carreira esportiva do atleta com deficiência no país. Os contínuos investimentos em infraestrutura esportiva (aquisição de equipamentos e materiais), a criação de novos núcleos de formação de base esportiva, a manutenção e a ampliação dos programas de fomento a atletas de alto rendimento (público e privado) favorecem a carreira do atleta paraolímpico brasileiro e possibilitam manter o país como potência no cenário mundial.

Como preocupação é necessário que sejam elaboradas estratégias que viabilizem a construção de uma política nacional de esporte que seja estruturada a partir de uma representatividade nacional com a perspectiva de ampliar a base formativa do país. As 321 medalhas conquistadas ao longo dos 40 anos de participações brasileiras em Jogos Paralímpicos devem servir de referência para que cada vez mais atletas se inspirem nos resultados obtidos no passado visando ampliar suas perspectivas de futuro.

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