versão impressa ISSN 1806-3713versão On-line ISSN 1806-3756
J. bras. pneumol. vol.45 no.2 São Paulo 2019 Epub 25-Abr-2019
http://dx.doi.org/10.1590/1806-3713/e20180327
Primeiramente, gostaríamos de parabenizarmos Carvalho et al. pelo artigo publicado no JBP intitulado “Associação entre função pulmonar, força muscular respiratória e capacidade funcional de exercício em indivíduos obesos com síndrome da apneia obstrutiva do sono” (SAOS),1 assunto de extrema importância para os profissionais que atuam nessa área; essa situação clínica afeta um grande número de pessoas, com impacto direto na qualidade de vida desses.
Uma importante observação a ser feita sobre o estudo citado1 é que ele tem delineamento transversal, que não estabelece um fator causal, ou seja, não é possível saber se as alterações de função pulmonar e de força muscular respiratória são decorrentes da obesidade ou da SAOS isoladamente. Essa hipótese pode ser evidenciada no estudo de Melo et al.,2 que avaliaram uma população de obesos e observaram reduções da capacidade pulmonar total e da CVF, acompanhadas de redução do VEF1; tais achados foram os mais representativos dentre as amostras, sugerindo a presença de padrão respiratório restritivo associado à obesidade. O que se percebe é que a diminuição da capacidade pulmonar já é uma característica da obesidade, mesmo sem sua associação com a SAOS.2 O estudo de Tassinari et al.,3 citado no estudo em questão,1 relatou que não foram observados prejuízos à função pulmonar e à musculatura respiratória nos pacientes eutróficos com SAOS, havendo, inclusive, similaridades entre aquele grupo de pacientes e sujeitos saudáveis.
Outro fator também limitante da amostra são as patologias prévias, como, por exemplo, diabetes mellitus do tipo II; foi relatado no estudo de Punjabi et al.4 que, independentemente da adiposidade, os distúrbios relacionados ao sono estão associados a prejuízos na sensibilidade à insulina e que a utilização do índice de massa corpórea como variável de avaliação, ou seja, sem diferenciação entre massa muscular e tecido adiposo, pode interferir nos resultados encontrados quanto à comparação do grau de obesidade de cada indivíduo.
Um achado a ser comentado é a falta de correlação da função pulmonar com o teste de caminhada de seis minutos naquela população,1 uma vez que sua validade e reprodutibilidade já foram avaliadas em obesos, demonstrando que um aumento em 80 m na distância percorrida está relacionado à melhora clínica. Um possível fator para explicar tal achado foi demonstrado por Ucok et al.,5 que compararam indivíduos com SAOS e indivíduos saudáveis: indivíduos com menor consumo máximo de oxigênio apresentaram fadiga prematura dos membros inferiores. Esse distúrbio do metabolismo muscular está associado a níveis elevados de ácido lático no sangue e à diminuição da capacidade de reduzir esses níveis em pacientes com distúrbios do sono durante o exercício.5
Cabe-nos destacar que os resultados obtidos podem ser incrementados com um novo delineamento metodológico e redefinição da população estudada, incluindo indivíduos sem associações com outras patologias, evitando-se, assim, um possível viés de seleção.