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Resultados perinatais em gestantes acima de 40 anos comparados aos das demais gestações

Resultados perinatais em gestantes acima de 40 anos comparados aos das demais gestações

Autores:

Evandro Eduardo Canhaço,
Angela Mendes Bergamo,
Umberto Gazi Lippi,
Reginaldo Guedes Coelho Lopes

ARTIGO ORIGINAL

Einstein (São Paulo)

versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385

Einstein (São Paulo) vol.13 no.1 São Paulo jan./mar. 2015

http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082015AO3204

INTRODUÇÃO

A idade materna avançada desperta preocupação do ponto de vista obstétrico. Os extremos da vida reprodutiva estão ligados à maior presença de complicações perinatais.(1) A idade ideal para procriação tem sido considerada, pela literatura, entre 20 e 29 anos, pois, nesta fase, são observados os melhores resultados maternos e perinatais. É também nesse período que ocorre o maior número de gestações em populações sem controle de fertilidade.(2)

Dessa forma, há maior risco materno e perinatal naquelas mulheres que engravidam tardiamente. Para alguns autores, independentemente da paridade, as complicações se elevam.(3,4) Ultimamente, o número de primigestas com mais de 30 anos dobrou e houve aumento de 80% dos casos de gestações naquelas com mais de 40 anos. No ano 2000, aproximadamente 10% de todos os nascimentos ocorreram em mulheres com 35 anos ou mais.(5)

Nos últimos anos, as mulheres modificaram seus perfis de vida, com importantes mudanças socioculturais. O aumento da participação feminina no mercado de trabalho tem ocasionado a diminuição progressiva dos índices de natalidade e o adiamento da gravidez. Avanços recentes nas técnicas de reprodução assistida contribuíram para o aumento de bons resultados nas gestações em mulheres com idade avançada.(4)

Não há consenso, entre os autores, sobre a idade materna a partir da qual se eleva significantemente o risco perinatal. Embora a maioria deles utilize a idade de corte de 40 anos como limite inferior,(3,6) outros citam idades de 35.(7,4)

A gestação em mulheres com 35 anos ou mais está associada a complicações maternas, como excesso de ganho de peso, obesidade, diabetes mellitus, hipertensão arterial, pré-eclâmpsia, miomas, além de maior incidência de mortalidade materna.(8) Também aumentam as complicações fetais e do recém-nascido: anormalidades cromossômicas, abortamentos espontâneos, mecônio intraparto, baixo peso ao nascer, restrição do crescimento fetal, macrossomia, sofrimento fetal, internação em unidade de terapia intensiva e óbito neonatal. Do ponto de vista da gestação e parto, as afecções mais referidas são: trabalho de parto prematuro, hemorragia anteparto, trabalho de parto prolongado, gestação múltipla, apresentações anômalas, distócias, placenta prévia, pós-datismo, oligo e polidrâmnio, rotura prematura de membranas e parto por cesárea.(9,10)

A maior prevalência de intercorrências clínicas e obstétricas no ciclo gravídico puerperal da mulher acima de 40 anos impõe uma assistência pré-natal especializada, na qual o caráter preventivo é fundamental para seus resultados.(1,11)

Segundo alguns estudos, a história pregressa de doenças clínicas, os antecedentes cirúrgicos, o tratamento de infertilidade, o trabalho de parto prematuro, o baixo peso ao nascer, as apresentações anômalas e as complicações obstétricas são mais frequentes nas primíparas com idade avançada do que nas multíparas. Isso justifica o maior número de cesáreas, a necessidade de cuidados intensivos neonatais e o menor índice de Apgar de primeiro minuto em tais pacientes.(10,12,13)

A mortalidade materna aumenta nas pacientes com gestação tardia, principalmente em decorrência de pré-eclâmpsia, placenta prévia, hemorragia pós-parto, embolia pulmonar, embolia por líquido amniótico e outras complicações puerperais.(14) No Brasil, dados de 2012 do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) mostram aumento na proporção de nascimentos de gestantes acima de 40 anos, sendo 1,75% em 1996, 1,95% em 2002 e 2,35% em 2012.(15)

Atualmente, a mulher que opta por engravidar após os 40 anos deve estar ciente do maior risco materno e perinatal, de modo que possa buscar assistência médica adequada e especializada.(11) Segundo o que se discute, mais importante do que a idade da gestante, seriam suas condições de vida e saúde, bem como a qualidade da assistência no pré-natal e no parto.(16)

Poucos estudos nacionais abordam as gestações após os 35 anos de idade. Laurenti e Buchalla demonstraram aumento da mortalidade perinatal em recém-nascidos de baixo peso de mães nos extremos da idade reprodutiva, assim como nas usuárias de mais de 10 cigarros por dia.(17) Azevedo et al. verificaram aumento de prematuridade e de baixo peso ao nascer em gestantes adolescentes e mulheres em idade avançada.(18) Andrade et al. relataram maior número de cesáreas, assim como de partos prematuros, nas gestações de mulheres com mais de 35 anos.(10) Schupp encontrou maior frequência de óbito fetal e de índices de Apgar de 1º e 5º minuto baixos em gestantes com idade igual ou superior a 45 anos.(11)

OBJETIVO

Esclarecer se as gestantes em idade avançada estiveram mais propensas a terem resultados perinatais adversos quando comparadas àquelas em idade reprodutiva ideal.

MÉTODOS

Foram coletados os dados das gestantes que tiveram parto no Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato Oliveira”, em São Paulo (SP), no período de 1o de janeiro a 31 de dezembro de 2008. Os dados foram armazenados em uma planilha eletrônica (Excel – Microsoft Office 2003) e analisados por meio do software Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 15.0.

Para elaboração deste estudo, foram excluídas gestações gemelares e gestantes que não tinham no prontuário informações principais, como idade e idade gestacional.

Os grupos foram divididos segundo grupos etários: idade menor que 20 anos; idade maior ou igual a 20 anos e menor que 40 anos; e idade maior ou igual a 40 anos. Para a realização desta análise, foram utilizadas as frequências absolutas e relativas para as variáveis qualitativas, e foi verificada a existência de associação das características com os grupos etários com uso do teste χ2 ou da razão de verossimilhanças.(19) As medidas de pressão arterial foram descritas segundo grupos, com uso de média e desvio padrão, e comparadas entre os grupos etários, com uso de Análises de Variâncias (ANOVA).(19)

Foram avaliadas variáveis antropométricas, antecedente gestacional, características dos partos e dos recém-nascidos. Primeiramente, foram descritas as características qualitativas, com uso de frequências relativas e absolutas, e as características quantitativas, com uso de média e desvio padrão. As variáveis maternas estudadas foram: idade materna, pressão arterial na admissão, paridade, idade gestacional ao parto e tipo de parto. As variáveis neonatais estudadas foram: índice de Apgar de 1º e 5º minuto, peso do recém-nascido ao nascimento e adequação de peso por idade gestacional. A idade muito avançada foi considerada como igual ou superior a 45 anos.

Além disso, todas as pacientes com idade menor que 40 anos foram reunidas em um único grupo e novamente comparadas àquelas com idade superior a 40 anos. As associações foram verificadas com uso de testes χ2 ou exato de Fisher, e as comparações das pressões arteriais entre os grupos etários com uso de testes t Student.(19)

Foi considerado pré-termo todo aquele recém-nascido com menos de 37 semanas de gestação. Para a avaliação do peso fetal ao nascimento, utilizou-se a curva de crescimento fetal intrauterino de Alexander et al.(20) O recém-nascido com peso abaixo do 10º percentil foi considerado pequeno para a idade gestacional (PIG) e, quando acima do 90º percentil, grande para a idade gestacional (GIG). Os testes foram realizados com nível de significância de 5%.

O estudo teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa sob o número 299.691, CAAE: 00879513.5.0000.5463. Por tratar-se de um trabalho de pesquisa, cujos dados foram obtidos a partir da consulta de prontuários, não houve a necessidade de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tendo sido este dispensado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

No período compreendido entre 1º de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2008, ocorreram 920 partos no Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato Oliveira”. Durante este período, ocorreram 76 partos de pacientes com idade menor que 20 anos e 91 partos de pacientes com idade maior ou igual a 40 anos. Para a formação de um terceiro grupo de faixa etária intermediária, foram coletados os dados de 92 pacientes com idade maior ou igual a 20 anos e menor que 40 anos, totalizando 259 pacientes. O critério para a escolha das pacientes de faixa etária intermediária foi coletar os dados demarcados no banco de dados do Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato Oliveira” imediatamente na sequência das pacientes com idade maior ou igual a 40 anos e acrescentar mais uma paciente. Após exclusão de quatro pacientes por gestação gemelar e falta de dados (sendo uma paciente com idade maior ou igual a 20 anos e menor que 40 anos e três pacientes com idade maior ou igual a 40 anos), foram considerados aptos para análise os dados de 255 pacientes.

A tabela 1 mostra que a maioria das gestantes da amostra apresentou bolsa íntegra (70%) e batimentos cardiofetais presentes (99%). A maioria das apresentações fetais era cefálica (95%). O tipo de parto mais comumente realizado foi a cesárea (53%). Aproximadamente 17% dos recém-nascidos apresentaram alteração (PIG ou GIG) pela classificação de Alexander. A maioria das gestantes tinha entre 20 e 40 anos (36%), sendo a idade média materna de 30,6 anos (desvio padrão − DP de 9,9 anos). Quase 90% dos partos foram a termo; aproximadamente 10% dos recém-nascidos apresentaram escore de Apgar com 1° minuto abaixo de 5 e 2% apresentaram escore de Apgar com 5 minutos abaixo de 7.

Tabela 1 Descrição das características de todas as gestantes e recém-nascidos incluídos no estudo 

Variável n=255
Bolsa, n (%)  
 Íntegra 178 (69,8)
 Rota 77 (30,2)
BCF, n (%)  
 Presente 253 (99,2)
 Ausente 2 (0,8)
Apresentação, n (%)  
 Cefálica 243 (95,3)
 Pélvica 12 (4,7)
Parto, n (%)  
 Normal 103 (40,4)
 Cesárea 136 (53,3)
 Fórcipe 16 (6,3)
Anestesia, n (%)  
 Local 78 (30,6)
 Raquianestesia 177 (69,4)
Períneo, n (%)  
 Íntegro 10 (3,9)
 EMLD 106 (41,6)
 Rotura 3 (1,2)
 Cesárea 136 (53,3)
Sexo, n (%)  
 Feminino 125 (49,0)
 Masculino 130 (51,0)
Crescimento fetal, n (%)
 PIG 27 (10,6)
 AIG 212 (83,1)
 GIG 16 (6,3)
Idade (anos), n (%)  
 ≤20 76 (29,8)
 >20 e <40 91 (35,7)
 ≥40 e <45 85 (33,3)
 ≥45 3 (1,2)
Primigesta, n (%)  
Não 122 (47,8)
Sim 133 (52,2)
IG − semanas, n (%)  
 24-27 3 (1,2)
 28-32 7 (2,7)
 33-36 17 (6,7)
 ≥37 228 (89,4)
Apgar 1o minuto, n (%)**  
 >5 228 (89,8)
 ≤5 26 (10,2)
Apgar 5o minuto, n (%)**  
 ≥7 249 (98,0)
 <7 5 (2,0)
Peso − g, n (%)  
 <2.500 25 (9,8)
 2.500-4.000 218 (85,5)
 >4.000 12 (4,7)
Idade materna −anos, média (DP) 30,6 (9,9)
IG − semanas, média (DP) 38,4 (2,6)
Paridade − média (DP) 1,1 (1,5)
PAS − média (DP) 121,1 (14,5)
PAD − média (DP) 77,9 (10,7)
Peso − g, média (DP) 3.144,2 (632,4)

** uma informação não foi coletada; BCF: batimento cardiofetal; EMLD: episiotomia médio-lateral direita; PIG: pequeno para idade gestacional; AIG: adequado para idade gestacional; GIG: grande para idade gestacional; IG: idade gestacional; DP: desvio padrão; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica.

A tabela 2 mostra que as pacientes com 40 anos ou mais apresentaram estatisticamente maior quantidade de partos cesárea e menos partos a fórcipe ou normais (p<0,001). A aplicação de raquianestesia foi estatisticamente maior nas gestantes com 40 anos ou mais (p<0,001). A frequência de recém-nascido do sexo masculino foi estatisticamente maior nas pacientes mais velhas, que também foram estatisticamente menos primigestas (p<0,001); a frequência de recém-nascido pré-termo foi estatisticamente maior em pacientes com 40 anos ou mais (p=0,004).

Tabela 2 Descrição das variáveis de interesse, segundo faixa etária da mãe, considerando três grupos etários e resultados dos testes de associação 

Variável Idade (anos) Valor de p
<20 20-40 >40 Total
(n=76) (n=91) (n=88) (n=255)
n (%) n (%) n (%) n (%)
Bolsa         0,907
 Íntegra 54 (71,1) 62 (68,1) 62 (70,5) 178 (69,8)  
 Rota 22 (28,9) 29 (31,9) 26 (29,5) 77 (30,2)  
BCF         0,491*
 Presente 76 (100,0) 90 (98,9) 87 (98,9) 253 (99,2)  
 Ausente 0 1 (1,1) 1 (1,1) 2 (0,8)  
Apresentação         0,963*
 Cefálica 72 (94,7) 87 (95,6) 84 (95,5) 243 (95,3)  
 Pélvica 4 (5,3) 4 (4,4) 4 (4,5) 12 (4,7)  
Parto         <0,001*
 Normal 46 (60,5) 32 (35,2) 25 (28,4) 103 (40,4)  
 Cesárea 24 (31,6) 51 (56,0) 61 (69,3) 136 (53,3)  
 Fórcipe 6 (7,9) 8 (8,8) 2 (2,3) 16 (6,3)  
Anestesia         <0,001
 Local 37 (48,7) 25 (27,5) 16 (18,2) 78 (30,6)  
 Raquianestesia 39 (51,3) 66 (72,5) 72 (81,8) 177 (69,4)  
Períneo         <0,001*
 Íntegro 25 (32,9) 3 (3,3) 5 (5,7) 10 (3,9)  
 EMLD 51 (67,1) 34 (37,4) 21 (23,9) 106 (41,6)  
 Rotura 0 2 (2,2) 1 (1,1) 3 (1,2)  
 Cesárea 0 52 (57,1) 61 (69,3) 136 (53,3)  
Sexo         0,050
 Feminino 40 (52,6) 51 (56,0) 34 (38,6) 125 (49,0)  
 Masculino 36 (47,4) 40 (44,0) 54 (61,4) 130 (51,0)  
Crescimento fetal         0,145*
 PIG 8 (10,5) 9 (9,9) 10 (11,4) 27 (10,6)  
 AIG 67 (88,2) 76 (83,5) 69 (78,4) 212 (83,1)  
 GIG 1 (1,3) 6 (6,6) 9 (10,2) 16 (6,3)  
Primigesta         <0,001
 Não 11 (14,5) 49 (53,8) 62 (70,5) 122 (47,8)  
 Sim 65 (85,5) 42 (46,2) 26 (29,5) 133 (52,2)  
IG (semanas)         0,004
 <37 5 (6,6) 5 (5,5) 17 (19,3) 27 (10,6)  
 ≥37 71 (93,4) 86 (94,5) 71 (80,7) 228 (89,4)  
Apgar 1o minuto**         0,338
 >5 66 (86,8) 85 (93,4) 77 (88,5) 228 (89,8)  
 ≤5 10 (13,2) 6 (6,6) 10 (11,5) 26 (10,2)  
Apgar 5o minuto**         0,057*
 ≥7 76 (100,0) 90 (98,9) 83 (95,4) 249 (98,0)  
 <7 0 1 (1,1) 4 (4,6) 5 (2,0)  
Peso (g)         0,198*
<2.500 6 (7,9) 7 (7,7) 12 (13,6) 25 (9,8)  
2.500-4.000 69 (90,8) 79 (86,8) 70 (79,5) 218 (85,5)  
>4.000 1 (1,3) 5 (5,5) 6 (6,8) 12 (4,7)  
PAS, média (DP) 121,1 (15,3) 120,6 (13,1) 121,7 (15,2) 121,1 (14,5) 0,870#
PAD, média (DP) 76,7 (9,6) 78,7 (10,8) 78,1 (11,6) 77,9 (10,7) 0,489#

Resultado do teste χ2; * resultado do teste exato de Fisher; # resultado do teste t Student; ** uma informação não foi coletada. BCF: batimento cardiofetal; EMLD: episiotomia médio-lateral direita; PIG: pequeno para idade gestacional; AIG: adequado para idade gestacional; GIG: grande para idade gestacional; IG: idade gestacional; PAS: pressão arterial sistólica; DP: desvio padrão; PAD: pressão arterial diastólica.

Pela tabela 3, tem-se que os resultados apresentados com dois grupos etários de gestantes foram os mesmos resultados de quando considerados três grupos etários maternos, porém evidenciou-se também que recém-nascidos de pacientes com 40 anos ou mais apresentaram estatisticamente mais Apgar com 5 minutos <7 que os recém-nascidos das demais gestantes (p=0,048).

Tabela 3 Descrição das variáveis de interesse, segundo faixa etária da paciente, considerando dois grupos etários e resultados dos testes de associação 

Variável Idade Valor de p
<40 ≥40 Total
(n=167) (n=88) (n=255)
n (%) n (%) n (%)
Bolsa       0,870
 Íntegra 116 (69,5) 62 (70,5) 178 (69,8)  
 Rota 51 (30,5) 26 (29,5) 77 (30,2)  
BCF       >0,999*
 Presente 166 (99,4) 87 (98,9) 253 (99,2)  
 Ausente 1 (0,6) 1 (1,1) 2 (0,8)  
Apresentação       >0,999*
 Cefálica 159 (95,2) 84 (95,5) 243 (95,3)  
 Pélvica 8 (4,8) 4 (4,5) 12 (4,7)  
Parto       0,001
 Normal 78 (46,7) 25 (28,4) 103 (40,4)  
 Cesárea 75 (44,9) 61 (69,3) 136 (53,3)  
 Fórcipe 14 (8,4) 2 (2,3) 16 (6,3)  
Anestesia       0,002
 Local 62 (37,1) 16 (18,2) 78 (30,6)  
 Raquianestesia 105 (62,9) 72 (81,8) 177 (69,4)  
Períneo       <0,001*
 Íntegro 28 (16,8) 5 (5,7) 10 (3,9)  
 EMLD 85 (50,9) 21 (23,9) 106 (41,6)  
 Rotura 2 (1,2) 1 (1,1) 3 (1,2)  
 Cesárea 52 (31,1) 61 (69,3) 136 (53,3)  
Sexo       0,016
 Feminino 91 (54,5) 34 (38,6) 125 (49,0)  
 Masculino 76 (45,5) 54 (61,4) 130 (51,0)  
Crescimento fetal       0,151
 PIG 17 (10,2) 10 (11,4) 27 (10,6)  
 AIG 143 (85,6) 69 (78,4) 212 (83,1)  
 GIG 7 (4,2) 9 (10,2) 16 (6,3)  
Primigesta       <0,001
Não 60 (35,9) 62 (70,5) 122 (47,8)  
Sim 107 (64,1) 26 (29,5) 133 (52,2)  
IG (semanas)       0,001
 <37 10 (6,0) 17 (19,3) 27 (10,6)  
 ≥37 157 (94,0) 71 (80,7) 228 (89,4)  
Apgar 1o minuto**       0,633
 >5 151 (90,4) 77 (88,5) 228 (89,8)  
 ≤5 16 (9,6) 10 (11,5) 26 (10,2)  
Apgar 5o minuto**       0,048*
 ≥7 166 (99,4) 83 (95,4) 249 (98,0)  
 <7 1 (0,6) 4 (4,6) 5 (2,0)  
Peso (g)       0,158*
 <2.500 13 (7,8) 12 (13,6) 25 (9,8)  
 2.500-4.000 148 (88,6) 70 (79,5) 218 (85,5)  
 >4.000 6 (3,6) 6 (6,8) 12 (4,7)  
PAS, média (DP) 120,8 (14,1) 121,7 (15,2) 121,1 (14,5) 0,630#
PAD, média (DP) 77,8 (10,3) 78,1 (11,6) 77,9 (10,7) 0,841#

Resultado do teste χ2. * resultado do teste da razão de verossimilhanças. # resultado da ANOVA. **: uma informação não foi coletada. BCF: batimento cardiofetal; EMLD: episiotomia médio-lateral direita; PIG: pequeno para idade gestacional; AIG: adequado para idade gestacional; GIG: grande para idade gestacional; IG: idade gestacional; PAS: pressão arterial sistólica; DP: desvio padrão; PAD: pressão arterial diastólica.

DISCUSSÃO

Para avaliar o grupo de gestantes com risco de resultados materno-fetais adversos, foi considerada como idade materna avançada a gestante com idade igual ou superior a 40 anos, como referido em diversos estudos da literatura.(11,21) O termo idade materna muito avançada passou a ser mais utilizado atualmente e engloba aquelas com idade igual ou superior a 45 anos.(22) Neste levantamento, a idade média das parturientes do grupo com idade maior ou igual a 40 anos foi 41,3 anos, sendo que, destas, 3,2% apresentaram idade muito avançada. Schupp encontrou média da idade das gestantes de 41,7 anos, semelhante a este estudo, e 9% das gestantes foram consideradas com idade muito avançada, dado este pouco superior ao aqui encontrado.(11)

A frequência de 9,89% de pacientes com idade maior ou igual a 40 anos encontrada no período analisado foi semelhante à da literatura, na qual os valores não ultrapassam 10%.(23)

A hipertensão arterial crônica é a afecção mais comumente encontrada em gestantes com idade avançada.(24) Neste estudo, os valores da pressão arterial média foram semelhantes entre os grupos, não sendo analisados, no entanto, fatores como de hipertensão arterial prévia ou uso de hipotensores.

As pacientes com idade maior ou igual a 40 anos apresentaram média de paridade superior às demais, dado esse verificado por meio do número de primigestas, sendo 29,5% para o grupo estudado e 64,1% para as demais, com diferença estatisticamente significativa. Isso era esperado, pois mulheres com idade mais elevada têm maior chance de já terem tido outras gestações, fato esse que ocorre mesmo com um grande número de mulheres adiando suas gestações para a quarta ou quinta décadas de vida.(25)

Evidenciou-se que recém-nascidos de mães com 40 anos ou mais apresentam estatisticamente mais Apgar com 5 minutos menor que 7 que os recém-nascidos das demais gestantes (p=0,048), o que comprova-se no trabalhado de Schupp.(11)

A média da idade gestacional dos grupos demonstrou diferença estatisticamente significante, o que indica um parto mais precoce para as gestações tardias. Astolfi e Zonta relataram que o principal fator relacionado à prematuridade é a idade materna.(26) Estudo semelhante foi realizado por Andrade et al. também no Hospital do Servidor Público Estadual, entre 2000 e 2003, e foram encontradas 16,5% parturientes com partos prematuros para aquele período.(10) Neste estudo, a incidência de partos prematuros foi de 19,3% para gestantes em idade avançada, o que demonstra aumento da frequência dessa intercorrência, comprovada também em outros estudos.(27-29) Esse fato requer que se dê maior atenção a esse grupo especial de gestantes e que se disponha de medidas preventivas para evitar a prematuridade e todo o ônus que ela possa acarretar.

A menor incidência de pós-datismo no grupo das gestantes com idade maior ou igual a 40 anos pode ser devido a maior preocupação dos obstetras com a gestação tardia, impedindo, desse modo, o prolongamento das gestações. Edge e Laros mostraram que a ansiedade dos médicos em relação às gestantes em fase de decréscimo de fertilidade, frequentemente após uso de técnicas de reprodução assistida, induz à escolha da cesárea sem indicação obstétrica.(9)

Andrade et al. e Azevedo et al. descreveram uma maior incidência de baixo peso ao nascer em gestações tardias, assim como neonatos PIG, o que não foi evidenciado neste estudo, sendo a média de peso dos recém-nascidos semelhante entre os grupos.(10,18)

Dado particular e curioso encontrado foi a ocorrência estatisticamente significante de recém-nascidos do sexo masculino no grupo da gestação tardia.

Quanto à via de parto, evidenciou-se estatisticamente maior quantidade de partos cesárea e menos partos fórcipe ou normais, tendo como consequência a aplicação de raquianestesia estatisticamente maior nas gestantes com 40 anos ou mais. Isso também foi referido em outros estudos, dentre os quais um estudo brasileiro realizado no município de Sarandi (PR).(9,30) Algumas condições maternas associadas a um possível comprometimento fetal costumam ser mais frequentes e mais graves em mulheres em idade avançada, contribuindo para o aumento do número de cesáreas, principalmente por indicação fetal.(10) É possível que a idade materna acabe por deixar muitos médicos ansiosos quanto ao bem-estar fetal.(10)

O estudo de Andrade et al. realizado em nosso meio mostrou uma incidência de óbito fetal nas gestantes acima de 40 anos de 5,5%. Nosso levantamento detectou 1,1% de óbito fetal neste grupo e 0,6% nas demais gestantes, sem diferença significativa entre eles, o que sugere melhora no atendimento a esse grupo de pacientes.(10)

CONCLUSÃO

A idade avançada como dado isolado eleva os riscos gestacionais, principalmente em mulheres acima de 40 anos. Esse dado, por si só, influencia na realização demasiada de cesáreas, evidenciando a preocupação extrema com esse grupo.

A prematuridade significativa encontrada neste estudo, assim como o índice de Apgar mais baixo, ressaltam a necessidade de um acompanhamento pré-natal voltado especificamente para elas, atuando na prevenção e no diagnóstico precoce de intercorrências.

A priorização no atendimento dessas mulheres e a organização de uma rede de referência ao atendimento da gestante de alto risco são imprescindíveis para que o pré-natal seja realizado com segurança, minimizando as complicações maternas e melhorando os resultados perinatais desse grupo tão particular.

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