versão impressa ISSN 1808-8694
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.79 no.6 São Paulo nov./dez. 2013
http://dx.doi.org/10.5935/1808-8694.20130139
A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) se manifesta com sonolência diurna excessiva e os pacientes acometidos podem ser tratados com medicamentos ou cirurgia1. O tratamento por pressão positiva contínua de ar (CPAP) foi descrito pela primeira vez por Sullivan e colaboradores em 1981, como tratamento altamente eficaz para SAOS2. Embora a CPAP tenha elevada eficácia, sua eficiência é limitada, tal como demonstrado por 46%-83% dos pacientes que não aderem ao tratamento (definido como > 4 horas de utilização por noite)3. Os pacientes que não conseguem sucesso com o tratamento clínico, muitas vezes procuram opções de tratamento cirúrgico. A eficácia do tratamento cirúrgico para SAOS é controversa. O tratamento cirúrgico, com adequada seleção de pacientes, aconselhamento e expectativas realistas aumenta a probabilidade de sucesso e satisfação dos pacientes. O objetivo deste trabalho é analisar as abordagens cirúrgicas para o tratamento da SAOS.
Fizemos uma revisão da literatura com relação ao tratamento cirúrgico da síndrome da apneia obstrutiva do sono no adulto. Revisamos os títulos e resumos para identificar as modalidades de tratamento cirúrgico. Incluímos nesse trabalho os estudos originais descrevendo cada procedimento, e os estudos e revisões que contribuíram de forma significativa e sistemática. As técnicas cirúrgicas são descritas com base em sub-sítios e na ordem em que foram primeiro descritos na literatura, como tratamento para a apneia obstrutiva do sono. A busca foi realizada na base de dados MedLine, desde o início até junho de 2013. Apresentamos os artigos originais, com as descrições de cada procedimento, desde a mais precoce, sendo a uvulopalatofaringoplastia (UPFP) em 1964, à mais recente, que é a cirurgia robótica transoral (CRTO) para a redução da base da língua, em 2010.
Posteriormente, consultamos os artigos que descrevem os resultados para cada um dos procedimentos. Os artigos que contribuíram substancialmente foram revisados e incluídos. Como revisão da literatura, este estudo é isento da revisão pelo protocolo IRB de Stanford.
Os resultados da pesquisa na MedLine produziram as seguintes modalidades cirúrgicas: uvulopalatofaringoplastia, traqueostomia, amigdalectomia, avanço mandibular, avanço do músculo genioglosso, suspensão do hioide, uvuloplastia com cautério, avanço maxilomandibular (AMM), uvuloplastia a laser (LAUP), glossectomia da linha média, redução da aritenóide, epiglotectomia, epiglotopexia, epiglotoplastia, faringoplastia com avanço transpalatino (TPA), uvulopalatoplastia com cautério, cirurgia de endurecimento palatino com cautério (CAPSO), distração mandibular, radiofrequência em palato mole, expansão rápida da maxila (RME)/expansão rápida da maxila cirurgicamente assistida (SARPE), ablação da língua por radiofrequência, suspensão/estabilização da língua, estimulador/implante do nervo hipoglosso (HGNS), cirurgia nasal, faringoplastia lateral, implantes palatais, Z-palatoplastia (ZPP), ablação da base da língua por CO2, excisão lingual submucosa minimamente invasiva (SMILE), faringoplastia com expansão do esfíncter e cirurgia robótica transoral (TORS).
A Tabela 1 apresenta os procedimentos cronologicamente à medida que foram publicados na MedLine ou referências dos artigos procurados devido à descrição original. Além disso, também incluímos um total de 11 outros artigos que são revisões sistemáticas, meta-análises e resumos abrangentes1,4-14.
Tabela 1 Evolução das cirurgias para apneia do sono, listadas em ordem cronológica com base em uma pesquisa na MedLine e referências dessas buscas.
Modalidade cirúrgica para tratamento de SAOS em pacientes adultos | Ano descrito na Medline (ou referências) | Autores |
Uvulopalatofaringoplastia | 1964 (Ronco) | Ikematsu 15 |
1980 (SAOS-Resumo) | Conway, Fujita, Zorick 16 | |
1981 (SAOS-artigo) | Fujita, Conway, Zorick, Roth 17 | |
Traqueostomia/Traqueostomia | 1965 | Valero & Alroy 18 |
Amigdalectomia | 1975 | Sussman, Podoshin, Alroy 19 |
Avanço mandibular | 1979 | Kuo, West, Bloomquist 20 |
Avanço do genioglosso | 1984 | Riley, Guilleminault, Powell 21 |
Suspensão do hioide | 1984 | Riley, Guilleminault, Powell 21 |
Avanço maxilomandibular (MMA) | 1986 | Riley, Powell, Guilleminault, Nino-Murcia 22 |
Uvuloplastia a laser (LAUP) | 1990 (Ronco) | Ronco: 2 grupos: 1) Kamami, 23 e 2) Haraldsson e Carenfelt 24 |
1994 (SAOS) | ||
SAOS: Kamami 25 | ||
Glossectomia na linha média | 1991 | Fujita, Woodson, Clark, Wittig 26 |
Redução da prega ariepiglótica | 1991 | Fujita, Woodson, Clark, Wittig 26 |
Epiglotectomia | 1991 | Fujita, Woodson, Clark, Wittig 26 |
Cirurgia nasal | 1992 | Series, St. Pierre, Carrier 27 |
Faringoplastia com avanço transpalatino (TPA) | 1993 | Woodson, Toohill 28 |
Uvulopalatoplastia com cautério/Cirurgia de enrijeci- mento palatino com cautério (CAPSO) | 1995 (Ronco) | Ronco: Blythe, Henrich, Pillsbury 29 |
OSAS: 2 grupos: 1) Wassmuth, Mair, Loube, Leonard 30 e 2) Mair & Day 31 | ||
2000 (SAOS) | ||
Epiglotopexia/Epiglotoplastia | 1998 | Chabolle, Wagner, Sequert, Lachiver, Coquille, Fleury, Blumen 32 |
Ablação do palato mole por radiofrequência | 1998 | Powell, Riley, Troell, Li, Blumen, Guilleminault 33 |
Expansão maxilar rápida (RME)/Expansão palatina rápida com cirurgia (SARPE) | 1996 (Relato de caso) | Relato de caso: Palmisano, Wilcox, Sullivan, Cistulli 34 |
1998 (Casuística) | ||
Casuística: Cistulli & Palmisano 35 | ||
Ablação da língua por radiofrequência | 1999 | Powell, Riley, Guilleminault 36 |
Estabilização/Suspensão da língua | 2000 | DeRowe, Gunther, Fibbi, Lehtimaki, Vahatalo, Maurer, Ophir 37 Schwartz AR, Bennett ML, Smith PL, De Backer W, Hedner J, Boudewyns A, Van de |
Implante/estimulador do nervo hipoglosso (HGNS) | 2001 | Heyning P Ejnell H, Hochban W, Knaack L, Podszus T, Penzel T, Peter JH, Goding GS, Erickson DJ, Testerman R, Ottenhoff F, Eisele DW 38 |
Distração mandibular | 2002 | Li, Powell, Riley, Guilleminault 39 |
Faringoplastia lateral | 2003 | Cahali 40 |
Implante palatino | 2004 | Ho, Wei, Chung 41 |
Z-palatoplastia (ZPP) | 2004 | Friedman, Ibrahim, Vidasagar, Pomeranz,Joseph 42 |
Ablação da base da língua por CO2 | 2005 | He, Chen, Jin, He, Su, Fan, Yu 43 |
2006 (Com microlaringoscopia) | Robinson, Ettema, Brusky, Woodson 44 | |
2006 (Com endoscópios) | Maturo & Mair 45 | |
Excisão lingual submucosa minimamente invasiva (SMILE) | 2006 (Pediatria) | Maturo & Mair 46 |
2008 (Adultos) | Friedman, Soans, Gurpinar, Lin, Joseph 47 | |
Faringoplastia com expansão do esfíncter | 2007 | Pang, Woodson 48 |
Cirurgia robótica transoral (TORS) | 2010 | Vicini, Dallan, Canzi, Frassineti, La Pietra, Montevecchi 49 |
Em 1992, Series et al.27 descreveram 20 adultos submetidos a cirurgias nasais, com melhora significativa na resistência nasal, mas com melhoria mínima no índice de distúrbio respiratório (IDR) de 39,8 ± 6,1/h para 36,8 ± 5,9/h. Uma recente meta-análise de Li et al.10, analisou nove artigos com resultados agrupados de IAH, demonstrando uma redução de 35,2 ± 22,6/h para 33,5 ± 23,8/h, com uma taxa total de sucesso de 16,7%. Embora os procedimentos nasais não demonstrem melhora estatisticamente significativa como tratamento isolado para SAOS, eles melhoram a respiração nasal e podem ajudar a melhorar a adesão do paciente ao CPAP, e reduzir as pressões de CPAP a partir de uma média de 11,9 até 9,2 centímetros de água de pressão50.
Ikematsu et al. começaram a fazer cirurgias de uvulopalatofaringoplastia em 1952 e, posteriormente, publicaram os resultados do procedimento para tratamento do ronco em 196415,51. Ao longo dos anos, foram descritas várias modificações40,42,52. As técnicas iniciais descritas envolviam a remoção de grandes quantidades de tecido palatino e, posteriormente, aumentaram os riscos de sensação de corpo estranho, garganta seca, sensação de globus, frequência fundamental mais baixa para a fala, problemas com catarro, insuficiência velofaríngea e estenose nasofaríngea53-56. No entanto, descrições mais recentes discutem modificações nas técnicas de modo a reorganizar e preservar os tecidos52. As revisões sistemáticas de cirurgias UPFP demonstraram grande variabilidade entre os resultados de polissonografias. Caples et al.4 reuniram dados de 15 estudos que demonstram um IAH pré-operatório de 40,3/h, e IAH pós-operatório de 29,8/h com uma redução de 33 %. Elshaug et al.6 agruparam sete estudos e demonstraram uma taxa de sucesso de 51,5% ao atingirem uma redução de 50% no IAH e/ou < 20/h6. Franklin et al.7 avaliaram complicações e constataram 30 mortes em seis estudos, entre 1989 e 2004.
O enrijecimento do palato foi inicialmente descrito como um tratamento para o ronco, e o procedimento foi posteriormente aplicado como tratamento para apneia do sono23,25. Kamami23, depois Haraldsson & Carenfelt24, relataram suas experiências iniciais com LAUP em 1990 como uma modalidade de tratamento que é mais facilmente realizada sob anestesia local. Caples et al.4 avaliaram dois estudos randomizados controlados e seis estudos observacionais, com uma redução combinada de 32% no IAH. Elshaug et al.6 demonstraram uma taxa combinada de sucesso de 48,8% (intervalo de confiança (IC) de 37,6-60). Um problema com a LAUP é que os pacientes muitas vezes exigem vários tratamentos; Kamami23,25 descreveu que em média os pacientes foram tratados com quatro sessões cada um.
Uma vez que os resultados dos procedimentos UPFP estavam inconsistentes, Woodson & Toohill28 desenvolveram a TPA como uma forma de avançar o palato anteriormente de forma mais consistente. A técnica envolve uma incisão em arco gótico de posterior para o alvéolo, continuando à frente na dobra do palatoglosso, o hâmulo é exposto e fraturado, o palato duro posterior é removido, a mucosa redundante é retirada e retalhos laterais são avançados e suturados ao mucoperiósteo alveolar. Um estudo inicial com 6 pacientes descreveu uma redução média de 69,3 ± 32,1/h para 26,6 ± 25.3/h28. Shine & Lewis53 descreveram uma modificação da TPA, que utiliza uma "incisão em hélice", que traz menor incidência de fístula oronasal. Shine & Lewis54 compararam os pacientes que se submeteram à incisão tradicional em arco gótico com aqueles submetidos à mais recente incisão em hélice e descobriram melhora de 31% na taxa de sucesso com a incisão em hélice.
Inicialmente descrito como um procedimento clínico simples, barato e realizado em uma única sessão para o ronco, o procedimento foi posteriormente descrito como tratamento para a SAOS29-31,55. Quando realizado para tratamento de ronco, Blythe et al.29 descrevem que 83% dos cônjuges relataram ou resolução ou melhora significativa no ronco dos pacientes. Mair & Day31 relataram terem tratado 200 pacientes consecutivos, durante um período de 18 meses, com taxas de sucesso de 92%, inicialmente, e uma ligeira redução para 77% após 1 ano. Wassmuth et al.30 mostraram uma diminuição no IAH de 25 ± 12,9/h para 16,6 ± 15,0/h (p = 0,01). A modificação introduzida por Pang & Terris55 envolve a execução de uma uvulectomia, a retirada de uma tira horizontal de mucosa da porção anterior do palato mole e a criação de trincheiras verticais no palato mole bilateralmente. O CAPSO modificado relata uma melhoria no IAH de seus pacientes de 12,3/h para 5,2/h (p < 0,05).
ARF do palato mole foi descrita por Powell et al.33 em um grupo de 22 homens saudáveis, em 1998. Este estudo inicial demonstrou que o procedimento foi eficaz para o tratamento do ronco (escores de ronco diminuíram em 77 %), melhora no IAH e apenas desconforto discreto para o paciente. Caples et al.4 consultaram sete estudos observacionais e demonstraram variação média do IAH de 23,4/h para 14,2/h. Elshaug et al.6 demonstraram uma taxa de sucesso de 60% nos dois estudos avaliados (95% IC de 37,6-60).
Cahali40 descreveu o tratamento da SAOS realizando uma amigdalectomia bilateral, com a elevação do músculo constritor faríngeo superior dentro da fossa amigdalina, e tração ascendente sobre o músculo palatofaríngeo superior, um retalho palatino é criado lateralmente, uma ressecção subtotal do músculo palatofaríngeo é feita e os retalhos são fechados em forma de zetaplastia. Os resultados demonstraram uma melhoria no IAH de 41,2/h para 9,5/h (p = 0,009).
Houve um ensaio clínico duplo-cego, randomizado, controlado por placebo, que demonstrou uma redução modesta no IAH, de 23,8/h para 15,9/h para o grupo que recebeu o implante palatino vs. 20,1/h para 21,0/h para o grupo placebo, demonstrando uma diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos, p < 0,00156. Choi et al.57 estudaram dados agrupados de sete estudos e demonstraram uma redução estatisticamente significativa no IAH e uma diferença média padrão de -0,378; IC de 95% de 0,619 para -0,138; p = 0,02. Os dados da meta-análise também demonstraram uma taxa de extrusão de 9,3%.
A ZPP foi descrita por Friedman et al.42 para o tratamento de pacientes com SAOS, que foram submetidas à amigdalectomia. Nesta técnica, a mucosa ao longo do palato mole e úvula anterior são removidas, expondo o músculo subjacente, seguido de bissecção do palato mole inferior e da úvula com um bisturi. Os retalhos são então rodados lateralmente sobre o palato mole e suturados em posição. Este estudo demonstrou melhores resultados em comparação com o padrão UPFP (25 pacientes em cada braço), com a ZPP diminuindo o IAH de 41,8 ± 26,4/h para 20,9 ± 19,3/h.
Pang & Woodson48 descreveram uma técnica em que uma incisão horizontal é feita no músculo palatofaríngeo (após amigdalectomia), incisões súpero-laterais são feitas no palato mole, na face inferior do músculo palatofaríngeo, que é então suspenso supero-lateralmente. Os 45 pacientes tinham um IMC < 30 kg/m2, estavam na classificação de Friedman estágios 2 ou 3; tipo 1 de Fujita e apresentavam colabamento das paredes faríngeas laterais, com uma melhoria em IAH de 44,2 ± 10,2/h, para 12,0 ± 6,6/h (p < 0,005).
Enquanto em crianças há uma quantidade significativa de dados, em adultos, os estudos sobre amigdalectomia como tratamento para SAOS são limitados. Sussman et al.19 descreveram a realização de amigdalectomia em dois pacientes obesos que também tinham hipertrofia tonsilar significativa, e tiveram resolução da sonolência após a amigdalectomia. Um estudo realizado por Stow et al.58 envolvendo 13 pacientes que foram submetidos à amigdalectomia (11 com cirurgias nasais adicionais) como tratamento para a SAOS, encontrou uma redução significativa no IAH de 31,7/h para 5,5/h (p = 0,0002). A eficácia deste procedimento depende de vários fatores, incluindo: a anatomia dos pacientes, o IMC, circunferência do pescoço, o tamanho da língua, e a localização anatômica da obstrução apneica durante o sono.
Após a ablação por radiofrequência do palato produzir resultados bastante favoráveis, Powell et al.36 conduziram um estudo piloto em 18 pacientes com distúrbios respiratórios do sono para avaliar a eficácia da RFA da língua em 1999. Este estudo encontrou uma redução média do IAH de 39,6/h para 17,8/h, sem alteração na fala ou deglutição, e apenas um caso de infecção. Kezirian & Goldberg9 revisaram 11 estudos sobre os resultados da RFA da língua e demonstraram um amplo número de bons resultados no tocante ao IAH, variando de 20% a 83% de sucesso. A maioria dos estudos demonstrou diminuição da sonolência diurna, melhor qualidade de vida e melhoria na menor saturação de oxigênio.
DeRowe et al.37 descreveram o sistema Repose, no ano 2000, como um novo procedimento, minimamente invasivo, em que há suspensão da base da língua para reduzir seu colapso. Este estudo inicial com 16 pacientes, demonstrou uma melhora média no IDR de 35/h para 17/h (p = 0,001) e 14 de 16 companheiros (as) de quarto relataram melhora no ronco. Kezirian & Goldberg9 revisaram seis estudos e encontraram 20% a 57% de sucesso com o procedimento.
Pesquisas sobre a fisiologia do músculo genioglosso e estimulação eletrofisiológica começaram com Guilleminault et al.59, em 1978. Estudos de estimulação do nervo hipoglosso foram posteriormente conduzidos por alguns grupos, incluindo: 1) Fairbanks & Fairbanks60 em 1993, e 2) Eisele et al.61 em 1997. Em 2001, Schwartz et al.38 descreveram um estudo piloto para a colocação de um dispositivo implantável que estimulasse eletricamente o nervo hipoglosso como tratamento para a SAOS. Neste estudo, um total de oito pacientes com um IAH médio de 52 ± 20,4/h no sono NREM e 48,2 ± 0,5/h no sono REM, exibiram uma diminuição de 22,6 ± 12,1/h em sono NREM e 16,6 ± 17,1/h no sono REM (p < 0,001).38 o procedimento atual envolve a implantação de um gerador de impulsos, com um sensor de pressão respiratória e um eletrodo de estimulação, que estimula o nervo hipoglosso durante o sono62.
He et al.43 estudaram a UPFP com ablação da base da língua por CO2 em 112 pacientes com SAOS e aos 12 meses de pós-operatório, 24 pacientes estavam comprovadamente curados (21,4%), 52 pacientes tiveram melhora notável (46,4%), 16 tiveram alguma melhora (14,2 %), e 20 pacientes não tiveram nenhum efeito. Robinson et al.44 descreveram amigdalectomia lingual em 18 pacientes com hipertrofia tonsilar lingual extensa (N = 10) e moderada (N = 8), com dor moderada (7-10 dias), uma média de 20 mL de perda de sangue durante o procedimento e apenas dois pacientes que necessitam de revisão. Robinson et al.44 descreveram o uso da microlaringoscopia com microscópio cirúrgico durante o procedimento, enquanto Maturo & Mair45, em uma carta ao editor, descreveram a amigdalectomia lingual por ablação da base da língua por CO2 utilizando um bloco de mordida de borracha e um endoscópio sinusal de 70 graus inserido de forma transoral, que é técnica atualmente utilizada em muitas instituições.
Maturo & Mair46 descreveram esta técnica para uso em crianças com bons resultados. O primeiro estudo que avaliou sua eficácia em adultos foi aquele de Friedman et al.47, em 2008, em que demonstraram uma taxa de sucesso de 64,6% (p = 0,024); entretanto, houve necessidade maior de controle da dor com medicações opióides (3,8 ± 3,8 dias comparado a 2,4 ± 3,5 dias) e mais tempo para voltar a uma dieta normal (4,9 ± 4,5 dias comparado a 2,9 ± 4,1 dias) quando comparados aos pacientes que foram submetidos à ablação por radiofrequência da língua, respectivamente.
Em 2010, Vicini et al.48 descreveram seus resultados utilizando TORS para SAOS. O estudo relatou 10 pacientes com um IAH médio pré-operatório de 38,3/h que diminuiu para 20,6/h com a cirurgia da base da língua e epiglote usando a cirurgia robótica transoral63. Outros estudos têm demonstrado a eficácia da TORS para tratamento da SAOS, como os de Friedman et al.64 de 2012, que demonstraram uma redução do IAH de 54,6/h para 18,6/h (p < 0,001) com taxa de sucesso de 66,7% e taxa de cura de 18%.
A resistência ao fluxo de ar é diretamente proporcional ao comprimento da via respiratória, assim, uma redução do comprimento da via aérea reduzirá tal resistência. A redução no comprimento das vias aéreas pode ser realizada por meio de uma suspensão do hioide, que foi descrita em 1984 por Riley et al.21. Kezirian & Goldberg9 avaliaram dados de quatro estudos e descobriram que quando a suspensão do hioide é realizada ao mesmo tempo que outra cirurgia, os resultados são melhores, com uma taxa de sucesso de 71%; porém, quando realizada isoladamente após cirurgias prévias malsucedidas, a taxa de sucesso foi de 35%.
Uma vez que os eventos de apneia obstrutiva do sono ocorrem em vários locais das vias aéreas, o resultado do tratamento é melhor quando são abordadas as múltiplas áreas de obstrução, ao invés de realizar a cirurgia em um único sítio. Uma localização anatômica comum de obstrução é a região supraglótica da hipofaringe, e, portanto, remoção ou redução do tecido nesta área pode ajudar a reduzir os eventos obstrutivos. Fujita et al.26 descreveram a glossectomia na linha média em 12 pacientes os quais foram simultaneamente submetidos à amigdalectomia lingual a laser (N = 7), redução das dobras ariepiglóticas (N = 10), epiglotectomia parcial (N = 5) e todos foram submetidos à traqueostomia temporária. Fujita et al.26 publicaram resultados demonstrando uma diminuição de IDR de 60,6/h para 14,5/h naqueles que responderam ao tratamento (42%) e uma redução de 62,6/h para 48,4/h nos que não responderam (N = 7). Como parte dessa ampla revisão, não encontramos estudos que avaliassem a redução isolada da dobra ariepiglótica ou a epiglotectomia isolada como tratamento para a SAOS.
Kezirian & Goldberg9 revisaram cinco estudos em que múltiplos procedimentos foram realizados e demonstraram um intervalo de sucesso entre 25% e 83%.
Lin et al.11 reuniram 58 estudos nos quais múltiplos procedimentos foram realizados com 1.978 pacientes, com idade média de 46,2 anos, com um IAH pré-operatório de 48/h, e encontraram redução de 60,3% no IAH, correspondendo a 66,4% de sucesso.
Kuo et al.0 primeiro descreveram a cirurgia de avanço mandibular em 1979 como tratamento para a apneia do sono com hipersonolência diurna (HSA), que agora é chamada de síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS). Eles descreveram três casos de retrognatismo mandibular induzido por trauma, que causava apneia do sono com hipersonolência diurna, e cada um dos pacientes teve resolução do quadro após o avanço mandibular65. O avanço mandibular serviu de base para o futuro avanço do complexo maxilomandibular em pacientes sem retrognatismo, como tratamento para a SAOS.
Esta técnica é muitas vezes combinada com outros procedimentos, tais como suspensão do hioide, ou uvulopalatofaringoplastia. Inicialmente descrita por Riley et al21, em combinação com a suspensão do hioide como um novo tratamento para a SAOS em um homem de 24 anos com um IMC de 36,1 kg/m2, previamente submetido à cirurgia malsucedida de amigdalectomia e septoplastia. Kezirian & Goldberg9 relataram taxa combinada de sucesso do GTA > 60%, com o IAH passando de 60/h para 29/h. Dois fatores-chave que influenciam os resultados foram IMC pré-operatório e IAH; demonstrando que aqueles com IMC < 30 kg/m2 tiveram taxa de sucesso de 64% em comparação com aqueles com IMC > 30 kg/m2 com uma taxa de sucesso de 41%. O IAH pré-operatório < 50/h provou causar melhores resultados em 71% dos pacientes, enquanto que aqueles com um IAH > 50/h tiveram taxa de sucesso de 32%9.
O MMA envolve uma osteotomia Le Fort I na maxila e uma osteotomia bipartida sagital bilateral na mandíbula. Este procedimento foi primeiro descrito como realizado simultaneamente a uma suspensão do hioide para tratamento da SAOS por Riley et al.22 em 1986. Holty & Guilleminault8 realizaram uma meta-análise em 2012, demonstrando uma diminuição média do IAH de 63,9/h para 9,5/h, p < 0,001, com uma taxa de 86% de sucesso cirúrgico e taxa de cura de 43,2%. Percebemos que uma idade mais jovem (45 anos), peso pré-operatório e IAH, um aumento no espaço aéreo posterior > 11,6 milímetros, um avanço da maxila > 10 mm e um avanço mandibular maior que 11,3 milímetros aumentaram a probabilidade de sucesso. Pirklbauer et al.12 fizeram uma revisão sistemática e análise de dados e recomendam um grau de A para B em relação aos níveis de medicina baseada em evidências.
Uma publicação inicial de Palmisano & Cistulli34, seguida por uma série de casos publicados por Cistulli et al.35, foi realizada em adultos, e demonstrou uma melhoria no IAH de 19 ± 4/h a 7 ± 4/h. Neste estudo, os pacientes apresentavam insuficiência maxilar transversal e a taxa de sucesso foi de 90%, com taxa de cura de 70%35.
Há pouquíssimos dados sobre a distração osteogênica mandibular como tratamento para SAOS em adultos. Li et al.39 realizaram distrações mandibulares em cinco adultos saudáveis e após 12 meses encontraram uma melhora média do IAH de 49/h para 7/h. Neste estudo, a distração osteogênica avançou as mandíbulas entre 5,5 mm e 12,5 milímetros, com média de 8,1 mm.
Valero & Alroy18 demonstraram a eficácia da traqueostomia (traqueotomia) como tratamento para a apneia obstrutiva do sono em pacientes com micrognatia adquirida (1965). Holty & Guilleminault1 agruparam nove estudos e descobriram que o índice de apneia diminuiu de 88,4/h para 0,5/h (p < 0,001); o IAH durante o sono REM diminuiu de 63,8/h para 26,2/h (p < 0,001) e o AHI durante o sono NREM diminuiu de 98,9/h para 21,6/h (p < 0,001). Apesar da morbidade cirúrgica, os pacientes que tiveram traqueostomias de longa duração tiveram uma queda significativa na mortalidade66,67. Partinen et al.66 avaliaram 198 pacientes tratados com traqueostomia (N = 71) ou perda de peso (N = 127), e não teve mortes depois de cinco anos no grupo de traqueostomia, e 14 mortes entre aqueles no grupo de perda de peso. He et al.67 demonstraram que a traqueostomia é equivalente ao CPAP aos 8 anos, sem mortes nesses grupos durante o período de estudo.
Apesar dos vários tipos de cirurgias realizadas anualmente para tratar a síndrome da apneia obstrutiva do sono (aproximadamente 35 mil/ano), as cirurgias mais frequentemente realizadas nos Estados Unidos são cirurgias palatinas, em um número estimado de 33.000/ano68. Outros procedimentos aqui descritos são muito menos frequentes, mas incluem cirurgias na hipofaringe (aprox. 6500/ano), avanço do músculo genioglosso (aprox. 5100/ano), avanço maxilomandibular (aprox.1400/ano) e suspensão do hioide (aprox. 675/ano)68. A experiência da Universidade de Stanford tem envolvido o desenvolvimento ou aplicação de várias técnicas para o tratamento da SAOS, incluindo o avanço maxilomandibular, avanço do músculo genioglosso, suspensão do hioide e ablação por radiofrequência, cada uma das quais foram modificadas ou ampliadas por outros colegas de todo o país e ao redor do mundo21,22,36. Inovação e tecnologia também estão fornecendo melhores resultados, como demonstrado pela aplicação de radiofrequência, ablação da base da língua por CO2 e cirurgia robótica transoral33,36. Além dos desafios cirúrgicos de manter-se atualizado com a evidência e a tecnologia atual, haverá pacientes que não terão sucesso com a cirurgia do sono. A fim de maximizar o sucesso e as taxas de cura, frequentemente vários procedimentos são necessários. Alguns pacientes podem não ter sucesso com as cirurgias envolvendo as partes moles, e podem ser candidatos a avanços maxilomandibulares ou traqueostomias1,8.
Há grande variabilidade nos resultados de cirurgias do sono, no entanto, a fim de maximizar o sucesso e as taxas de cura, geralmente são necessários múltiplos procedimentos. A tecnologia está avançando, e os cirurgiões que trabalham com cirurgia do sono devem estar familiarizados com a literatura atual e participar em equipes multidisciplinares, a fim de maximizar os resultados para os pacientes.