versão impressa ISSN 1809-2950versão On-line ISSN 2316-9117
Fisioter. Pesqui. vol.25 no.3 São Paulo jul./set. 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1809-2950/17014525032018
Se verificó el riesgo de sarcopenia en ancianas comunitarias con queja de dolor lumbar agudo y se comparó el índice de dolor y movilidad/equilibrio entre aquellas en riesgo de sarcopenia y las no sarcopénicas. Investigación transversal, subproyecto del estudio epidemiológico y multicéntrico Back Complaints in the Elders (Bace). Participaron ancianas con al menos un episodio de dolor lumbar agudo hasta seis semanas antes de la recolección de datos. Se evaluó la velocidad de marcha (4,6m), la fuerza de asimiento palmar (dinamómetro Jamar), el índice de dolor (escala analógica de dolor) y movilidad/equilibrio (Timed Up and Go test). El riesgo de sarcopenia fue estimado por medida porcentual y las comparaciones por la prueba t para muestras independientes; el nivel de significancia adoptado fue del 5%. El estudio incluyó a 322 ancianas: el riesgo de sarcopenia fue del 54%, o sea, 173 ancianas (71,8 ± 5,2 años) estaban en riesgo de sarcopenia, y 149 (46%) fueron sarcopénicas (71,5 ± 5,1 años). Se observó una diferencia en cuanto a la intensidad del dolor (p=0,02) y a la movilidad/al equilibrio (p=0,01), siendo que aquellas en riesgo de sarcopenia estaban en peores condiciones. Los resultados demostraron el riesgo de sarcopenia entre ancianas con dolor lumbar agudo. Estas presentaban mayor índice de dolor y peor movilidad/equilibrio, sugiriendo que la sarcopenia, si está presente en ancianas con ese dolor, puede influenciar negativamente en la funcionalidad.
Palabras clave Sarcopenia; Dolor Lumbar; Anciano; Limitación de la Movilidad
A mudança da estrutura etária brasileira contribuiu para a alteração do perfil epidemiológico da população, ocorrendo transição da prevalência de doenças infectocontagiosas para as crônico-degenerativas, como as osteomusculares e articulares, e consequente maior ocorrência de dor1)-(3. A dor é uma experiência multidimensional, subjetiva, desagradável, individual e em geral recorrente que pode ser influenciada por fatores sociais, emocionais e culturais, que contribuem para o surgimento de incapacidades e dependência, gerando impactos negativos na funcionalidade e na qualidade de vida dos indivíduos4), (5.
A dor lombar (DL) é um sintoma altamente prevalente e incapacitante em todo o mundo, caracterizada por uma tensão ou rigidez localizada na região compreendida entre as últimas costelas e as pregas glúteas inferiores, com ou sem irradiação para membros inferiores4. Estima-se que 70 a 80% da população mundial apresenta algum episódio de DL durante a vida, com recorrência em cerca de 30 a 60% dos casos4), (6. No Brasil, a DL se manifesta em 63% da população geral, com destaque no idoso: 57,7% da população de 60 anos ou mais relata essa condição6. Em relação à prevalência por sexo, a DL acomete mais nas mulheres, principalmente na pós-menopausa, devido à redução nos níveis do hormônio estrógeno, sendo associada também à diminuição de massa óssea e muscular. Além disso, fatores como a fragilidade articular e a própria carga ergonômica imposta pela realização de trabalhos domésticos e repetitivos podem contribuir para a maior prevalência nesse grupo populacional6. No entanto, apesar dessa alta prevalência, os estudos específicos para essa população ainda são escassos, apesar de os idosos conviverem um tempo maior com as limitações funcionais e incapacidades advindas dessa condição6)- (8.
Devido ao seu caráter multifatorial e à sua complexidade, a DL pode ser classificada como específica quando se conhece a causa desencadeante e não específica quando não há causa definida, sendo esta a mais prevalente, ocorrendo em 90% dos casos4), (7. Além disso, a DL pode ser classificada em relação à duração dos seus sintomas: a aguda é caracterizada como autolimitada, com duração de até seis semanas; a subaguda dura entre seis e doze semanas; e a crônica tem duração superior a doze semanas4), (9.
Outro fenômeno relevante no envelhecimento é a sarcopenia. Sarcopenia é definida pelo European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) como uma síndrome caracterizada pela perda progressiva e generalizada de massa e função muscular (força ou desempenho dos músculos), mesmo sem a presença de doenças10), (11. A sarcopenia tem sido relacionada com a diminuição na funcionalidade e na qualidade de vida e com maior risco de morte12. Sua etiologia é multifatorial e são apontados diversos fatores associados à sua gênese, como a perda de motoneurônios, o aumento dos níveis plasmáticos de citocinas pró-inflamatórias e o sedentarismo10)- (12. Essas associações sugerem inter-relação com a perda do equilíbrio e sobreposição do catabolismo em relação ao anabolismo muscular10), (12.
A perda de fibras musculares decorrente da sarcopenia ocorre de forma generalizada, comprometendo também os músculos responsáveis pela estabilização e manutenção da postura, assim como os músculos transversos do abdômen, o multifídio, os paravertebrais e os posturais profundos13)- (17. Dessa forma, pode ocorrer desequilíbrio no funcionamento biomecânico normal da coluna espinhal gerando disfunções e compensações que podem desencadear processos álgicos na região da coluna lombar15)- (17. Da mesma forma, a própria DL pode levar a uma inibição muscular devido à diminuição dos estímulos eferentes aos músculos comprometidos, podendo assim contribuir para o surgimento da sarcopenia15)- (17. Nesse caso, tanto o processo álgico quanto a sarcopenia podem levar à diminuição do nível de atividade física - processo essencial para a estimulação da síntese muscular - pelo idoso, culminando em um ciclo de progressão da sarcopenia e da dor pela inatividade. Além disso, esse quadro pode contribuir para a diminuição da funcionalidade e da qualidade de vida do idoso15)- (17.
Assim, considerando a relevância da sarcopenia e da DL na saúde dos idosos, os altos custos financeiros para a saúde pública e a necessidade de maior entendimento dessas duas condições, o objetivo deste estudo foi (1) verificar o risco de sarcopenia, de acordo com o algoritmo do EWGSOP, em idosas com queixa de DL aguda não específica e (2) comparar a intensidade de dor e mobilidade/equilíbrio entre idosas com DL aguda não específica, classificadas como “não sarcopênicas” e “em risco de sarcopenia”.
Trata-se de um estudo observacional transversal que avaliou 322 idosas da comunidade do município de Belo Horizonte. Esta pesquisa é subprojeto do estudo epidemiológico, multicêntrico e longitudinal entre Brasil, Holanda e Austrália denominado Back Complaints in the Elders (Bace). O estudo Bace-Brasil foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil, Protocolo nº ETIC 0100.0.203.000-11. As participantes foram selecionadas por meio de busca ativa em diferentes hospitais e Centros de Referência do Idoso da região metropolitana da cidade. Aquelas elegíveis para o estudo responderam um questionário para levantamento de dados sociodemográficos e foram avaliadas de acordo com o protocolo do estudo-mãe. Os pesquisadores envolvidos receberam treinamento prévio e seguiram a padronização necessária para a coleta de dados com os instrumentos.
Os critérios de inclusão foram; idosas residentes na comunidade, com 65 anos ou mais, encaminhadas para avaliação pelos serviços de saúde e com novo episódio de DL aguda não específica. A DL aguda foi definida como um episódio de dor na região entre as últimas costelas e a linha glútea que ocorreu no prazo de seis semanas antes da coleta de dados, não tendo a participante procurado cuidados e/ou tratamento devido à dor, não devendo ter nenhuma causa determinada18. Esses critérios estão de acordo com o estudo Bace19. As idosas foram informadas sobre os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, e aquelas que concordaram em participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG.
Os critérios de exclusão foram aqueles que apresentavam comprometimento visual, auditivo e/ou motor grave, que impedisse a realização dos testes, além de alterações cognitivas detectadas pelo miniexame do estado mental20. Da mesma forma, esses critérios seguiram os determinados no Bace. Para esta análise, ainda foram excluídos aqueles com idade menor que 65 anos, homens e que não apresentavam dados referente à velocidade de marcha (VM) e força de preensão palmar (FPP).
Para a identificação das idosas em risco de sarcopenia (IRS), foi utilizado o algoritmo do EWGSOP (Figura 1). Ele é baseado na mensuração da VM e da FPP. Para esses testes, foi realizada uma familiarização e, na sequência, a coleta dos dados.
Dessa forma, inicialmente, foi realizado o teste de VM em 4,6 metros10), (21. Esse teste consistiu em caminhar na velocidade de marcha habitual em uma distância de 8,6 metros, sendo cronometrado o tempo percorrido, desconsiderando para registro os dois metros iniciais e finais, correspondentes ao tempo de aceleração e desaceleração na marcha, respectivamente. O teste foi realizado com o calçado habitual e foi permitido o uso de dispositivo de auxílio à marcha ou órtese. Para a análise, utilizou-se a velocidade em metros por segundo (m/s) (21. O ponto de corte considerado foi de 0,8m/s10. As participantes foram instruídas a permanecer erguidas com os dois pés atrás da linha de início e começaram a marcha logo após um comando verbal específico. Esse teste foi aplicado duas vezes, com intervalo de um minuto entre as repetições, e a média dos dois testes foi utilizada para as análises. O teste de VM apresenta boa confiabilidade e tem sido indicado como um preditor de diversas condições de saúde em idosos, incluindo a fragilidade e a sarcopenia10), (21.
A FPP foi mensurada por meio do dinamômetro Jamar (modelo Sh5001 da Saehan Corporation), que fornece uma leitura válida, rápida e direta da força isométrica de preensão palmar22. Esse instrumento apresenta excelente confiabilidade (CCI=0,98) e validade22. Assim, essa medida foi feita na mão dominante (considerada aquela utilizada para assinar o nome). As participantes permaneceram sentadas em uma cadeira com encosto, com a coluna ereta, os pés apoiados no chão e o quadril e os joelhos flexionados em 90º; o ombro ficou em adução e rotação neutra, com o braço posicionado ao lado do corpo, o cotovelo fletido a 90º e o punho em neutro, sem apoio do braço na cadeira. Ao sinal do examinador, a participante realizou o máximo de FPP durante seis segundos22. Houve incentivo por meio de palmas e da palavra “Força!”. Foram realizadas três medidas, com intervalo de um minuto entre elas, e a média foi utilizada para a análise. O ponto de corte considerado foi de 20kg/f10.
Para classificação das idosas não sarcopênicas (INS) e das IRS, utilizou-se o seguinte critério: aquelas com VM abaixo de 0,8m/s foram diretamente classificadas como “em risco de sarcopenia”. As participantes que obtiveram VM acima de 0,8m/s realizaram a medida da FPP. Aquelas que tiveram mensuração média abaixo do ponto de corte da FPP (20kg/f) também foram classificadas como “em risco de sarcopenia”. As idosas que estiveram acima desse ponto de corte foram classificadas como INS (Figura 2) (10.
A caracterização da DL foi feita por meio da escala visual analógica de dor (EVA). Essa escala possui graduação de 0 a 10, na qual 0 é considerada nenhuma dor e 10 a pior dor, ou seja, dor extrema23. Estudos prévios indicaram excelente confiabilidade dessa medida (CCI=0,90) (23. Utilizou-se como referência o quanto de dor foi sentida na última semana.
O teste Timed Up and Go (TUG) foi utilizado para a avaliação da mobilidade/do equilíbrio. No TUG, é solicitado que a participante levante, sem ajuda dos braços, de uma cadeira padronizada, caminhe por três metros à frente, na velocidade habitual de caminhada, gire e retorne, para se sentar novamente. O tempo despendido para realizar a tarefa foi cronometrado, sendo iniciado no momento em que o tronco se deslocou do encosto da cadeira e desligado quando o tronco encostou novamente nele24. Esse teste é válido, amplamente utilizado na geriatria e apresenta boa confiabilidade (CCI=0,90). Foram realizadas duas medidas, sendo a primeira um treinamento (familiarização), com um minuto de descanso entre ele e a outra mensuração.
Para caracterizar as idosas participantes, utilizou-se questionário padronizado, criado para o estudo-mãe (Bace) (19 e para este estudo. Além da média de idade, analisou-se ainda sintomas depressivos por meio do Center for Epidemiological Studies-Depression (CES-D) (25, o nível de atividade física por meio do Active Australia Questionnaire (AAQ) (26) e o desempenho funcional por meio do Roland Morris Disability Questionnaire (RMDQ) (27.
O cálculo da amostra encontra-se publicado em estudos anteriores18), (19. A caracterização da amostra foi realizada por meio de estatística descritiva. Foram usadas medidas de tendência central (média e desvio-padrão) para as variáveis contínuas e medidas de frequência absoluta (n) e relativa (%) para as variáveis categóricas. Para verificar o risco de idosas sarcopênicas e não sarcopênicas, foram utilizadas medidas percentuais, após estratificação conforme o algoritmo proposto pelo EWGSOP10. Testes de hipótese da normalidade de distribuição dos dados foram realizados para todas as variáveis de desfecho por meio do teste de Kolmogorov-Smirnoff. As comparações entre grupos ocorreram por meio do teste t para amostras independentes. As análises foram realizadas no programa Statistical Package for the Social Sciences (IBM SPSS Data Collection), versão 17.0, com nível de significância de 5%.
Participaram do estudo 322 idosas, com média de idade total de 71,7 (5,2) anos. Um fluxograma demonstrando as características da amostra encontra-se na Figura 1. A maioria das participantes (35,6%) informou ser viúva, com média de 6,8 (4,7) anos estudados e média de dor na última semana antes dos testes de 4,75 (3,14) pontos na EVA. Foram classificadas como em risco de sarcopenia 173 idosas (54%) e, como não sarcopênicas, 149 (46%). As INS apresentavam média de idade de 71,5 (±5,1) anos, índice de massa corpórea de 28,6 (±4,4) kg/m2 e altura de 154,9 (±6,0) metros. As IRS apresentavam média de idade de 71,8 (±5,2) anos, índice de massa corpórea de 29,6 (±5,9) Kg/m2 e altura de 153,0 (±6,1) metros. Não houve diferença entre os grupos quanto aos sintomas depressivos, nível de atividade física e desempenho funcional (p>0,05).
Em relação às variáveis clínicas utilizadas neste estudo, a média de dor no grupo das IRS foi maior; da mesma forma, elas apresentaram pior tempo na VM, no desempenho no teste TUG e na média da FPP (Tabela 1). Quando comparados os grupos IRS e INS, verificou-se diferença quanto à intensidade da dor e a mobilidade/ao equilíbrio (Tabela 1), indicando que as IRS estavam em piores condições (p<0,01).
Tabela 1 Característica dos grupos e valor da diferença nas comparações entre idosas não sarcopênicas e em risco de sarcopenia
Variável | IRS | INS | Valor p | Erro | IC |
---|---|---|---|---|---|
Velocidade de marcha (segundos), média (DP) | 0,9 (0,2) | 1,1 (0,2) | 0,01* | 0,02 | -0,24 - -0,14 |
Força de preensão palmar (kg/f), média (DP) | 18,0 (4,5) | 24,0 (3,5) | 0,01* | 0,34 | -6,88 - -5,12 |
Dor (escore EVA), média (DP) | 5,1 (3,2) | 4,4 (3,0) | 0,02* | 0,24 | 0,07 - 1,44 |
TUG (segundos), média (DP) | 12,8 (4,6) | 10,6 (2,6) | 0,01* | 0,35 | 1,41 - 3,06 |
IRS: idosas em risco de sarcopenia; INS: idosas não sarcopênicas; IC: intervalo de confiança; DP: desvio padrão; EVA: escala visual análoga; TUG: teste Timed Up and Go; *: diferença significativa.
Este estudo teve como objetivo verificar o risco de sarcopenia em idosas com queixa de DL aguda e comparar a intensidade de dor e a mobilidade/o equilíbrio entre INS e IRS. Os resultados demonstraram que houve maior porcentagem de IRS (54%) e que elas apresentaram pior mobilidade/equilíbrio e maior intensidade de dor quando comparadas às INS.
A sarcopenia tem sido indicada como síndrome caracterizada pela perda de força e função muscular no envelhecimento, podendo estar relacionada com diversos eventos adversos de saúde10), (11. O algoritmo proposto pelo EWGSOP possibilita identificar, precocemente e em grandes populações aqueles idosos que estão em risco de sarcopenia. (10 Dessa forma, idosos identificados em risco devem ser encaminhados para realizar o exame de composição corporal para a confirmação de diagnóstico e sua gravidade e consequente prevenção. Este estudo demonstrou que a maioria das idosas participantes estava em risco de sarcopenia e, como tal, os profissionais de saúde deveriam explorar melhor a condição nessa população. Esse é um importante indicativo para os serviços básicos de saúde, no intuito de prevenir agravos de saúde.
Além disso, a literatura atual é escassa de estudos que associam sarcopenia à presença de DL e aos seus desfechos funcionais. Um estudo recente avaliou o risco de sarcopenia em 155 idosas da comunidade com DL aguda e encontrou uma proporção de 52,26% IRS, sendo que estas apresentavam maiores incapacidades e maior severidade e intensidade da DL aguda, além de diferenças em relação aos mediadores inflamatórios16. Os achados deste trabalho corroboram esses resultados. Pelo nosso conhecimento, esses são os únicos estudos, até o momento, que abordaram a relação entre DL aguda e sarcopenia, demonstrando, embora inicialmente, uma possível relação que pode ter impacto na funcionalidade. Por outro lado, sugere-se que a presença de dor pode contribuir de alguma forma para o comprometimento da musculatura16. No contexto da dor, Scott et al. (28), após avaliarem 709 idosos e realizarem um seguimento de 2,6 anos, concluíram que a dor no joelho e no quadril poderia ser fator preditivo para a perda de força muscular. Assim, isso poderia ocorrer também em relação à DL, contribuindo para um agravamento da perda muscular e da funcionalidade.
Nesse caso, essa afirmativa poderia se basear no fato de haver redução principalmente de fibras musculares do tipo 2, algo que ocorre na sarcopenia, comprometendo a resistência muscular e o limiar de fadiga dos músculos posturais29. Considerando o mecanismo de estabilização muscular, existem evidências de que - quando ocorre diminuição das fibras musculares e redução da área de secção transversa da musculatura estabilizadora e consequente incapacidade de suportar a demanda imposta - outros músculos tendem a compensar sua função. Essas compensações gerariam um desequilíbrio postural com respostas biomecânicas não fisiológicas que iriam desencadear um processo álgico14)- (17. Isso justificaria os resultados encontrados neste estudo, que demonstraram que IRS apresentavam maior intensidade de dor.
Além disso, estudos têm demonstrado que a perda da força e função muscular parecem preceder a perda de massa muscular30. Por outro lado, a perda da massa muscular, de forma isolada, pode não ser suficiente para desencadear disfunções30), (31. Essa falta de linearidade reforça a complexidade da sarcopenia. Em particular por meio dos resultados deste estudo, demonstrou-se que a maioria das idosas com DL aguda estava em risco de sarcopenia e que elas apresentaram pior desempenho no teste de mobilidade/equilíbrio, confirmando a possibilidade de haver um comprometimento da musculatura, seja na força ou na função dos músculos, que pode estar ocorrendo mesmo antes da diminuição de massa muscular. Essas alterações poderiam contribuir e estar associadas a algumas disfunções biomecânicas que agravariam a DL, principalmente relacionadas aos mecanismos de estabilização da coluna16), (30), (31. No entanto, esse é um tema a ser analisado em estudos futuros, com desenho metodológico adequado para tal.
Por outro lado, o fato das IRS apresentarem maior intensidade de dor poderia também ser um fator para maior inibição dos estímulos neurais desencadeados pelos neurônios motores aos músculos posturais16. Assim, as idosas ficariam progressivamente mais inativas e com isso gerariam maior perda de massa, força e função muscular, estabelecendo-se um ciclo16), (32. Entretanto, apesar da relevância clínica dos resultados demonstrados aqui, não é possível estabelecer relação causal devido ao desenho metodológico deste estudo, o que se torna uma limitação, sendo necessárias investigações futuras.
As participantes com DL aguda em risco de sarcopenia também apresentaram pior desempenho no teste de mobilidade/equilíbrio. Leveille et al. estudaram 1.002 idosas e constataram que aquelas com intensidade alta de DL (7-10 na EVA) apresentaram maior limitação em atividades funcionais, como a marcha e o sentar e levantar da cadeira, além de redução na força de extensão de joelho e flexão de quadril quando comparadas com idosas com DL moderada e leve33. Nesse caso, pode-se pensar que a presença da dor nas idosas participantes possa ter sido fator limitante na mobilidade/no equilíbrio, além da possibilidade de influência muscular, devido à ausência de resposta adequada para a força muscular. Vale ainda ressaltar que a diminuição da funcionalidade devido à dor é um processo complexo e multifatorial, no qual devem ser considerados diversos outros aspectos16), (33 - a serem investigados em estudos futuros.
Há limitações a serem consideradas neste estudo. Ele avaliou o risco de sarcopenia, mas não foi realizada a avaliação da composição corporal para confirmação de diagnóstico. No entanto, destaca-se a relevância do uso do algoritmo do EWGSOP por ser uma medida rápida e de baixo custo, ideal para rastreamento inicial da sarcopenia, principalmente em contexto no qual há grandes populações, como na atenção primária de saúde, sendo esta a maior aplicabilidade clínica. Além disso, a DL é uma condição subjetiva, multidimensional e complexa, na qual devem ser considerados diversos aspectos como os individuais, os culturais, os sociais e os educacionais. Assim, destacamos a relevância em realizar estudos longitudinais que avaliem a progressão da DL, da sarcopenia e dos seus impactos funcionais. Da mesma forma, sarcopenia pode ser um preditor de fragilidade no idoso, assim como a presença de dor. Não ter analisado a presença da síndrome de fragilidade nessa população também pode ter sido uma limitação, indicando cautela na interpretação dos dados. No entanto, este é um tema a ser explorado no futuro.
A maioria das idosas com dor lombar aguda se apresentou em risco de sarcopenia, além de maiores índices de dor e pior desempenho no teste de mobilidade/equilíbrio. Esses resultados sugerem que a presença de sarcopenia pode estar relacionada a um pior prognóstico para a funcionalidade e dor para idosas com DL.