versão impressa ISSN 0102-311Xversão On-line ISSN 1678-4464
Cad. Saúde Pública vol.31 supl.1 Rio de Janeiro nov. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311XED01S115
À medida que nos aproximamos do segundo decênio deste século, emerge uma questão para pesquisadores de saúde urbana: “ Como temos avançado no tema? ”. Dez anos atrás, em um fórum publicado por Cadernos de Saúde Pública 1, nossa pergunta era: “ O que é saúde urbana? ”.
Saúde urbana é a área do conhecimento aninhado na saúde pública que nos permite repensar o impacto na saúde das intervenções do setor público nas cidades, incluindo aquelas que não necessariamente têm origem no setor saúde. A saúde das populações que vivem em ambientes urbanos é função de influências globais, nacionais e locais e de uma rede de determinantes interligados. O cerne fundamental dessa proposição é que os ambientes sociais e físicos definem o contexto urbano e são modulados por fatores (proximal e distal) e atores em vários níveis. Assim, as tendências globais, os governos nacionais e locais, sociedade civil, setor privado e mercados modulam as configurações em que tais fatores locais operam.
Nesse sentido, a saúde urbana é um campo próspero para tradução do conhecimento, com fortes laços sociais e políticos, guiado por métricas inovadoras (ou seja, indicadores e análises válidos, confiáveis, robustos e bem construídos para avaliar intervenções na cidade que podem impactar a saúde) e estreita associação com a administração pública e as suas relações intersetoriais, incluindo a governança.
Este número temático sobre saúde urbana se concentra nos marcos, dilemas, perspectivas e desafios, com destaque para conceitos inovadores e métricas orientados para aferir determinantes urbanos e sociais, bem como políticas públicas, originárias tanto do setor saúde quanto fora dele.
A maioria dos artigos neste fascículo considera a interligação dos determinantes urbanos e saúde. Além de abordagens teóricas que envolvem um debate interessante sobre sistemas complexos, considerando que potencialmente podem abranger desde a epigenética até as iniquidades da saúde no ambiente urbano, este volume compreende estudos empíricos com conceitos e métodos inovadores, incluindo aqueles projetados para a avaliação das políticas públicas urbanas construídas sobre um enfoque intersetorial. Além disso, este volume destaca, em um fórum de alto nível, o trabalho dos observatórios em que estão sendo desenvolvidas e testadas as soluções possíveis de saúde urbana para atender às necessidades locais, com base em experiências em todo o mundo e na inteligência de saúde.
Manter a atenção voltada para a exposição representada por condições de vida urbana representa um forte argumento sustentado por um crescente corpo de evidências de que as causas subjacentes à doença no contexto urbano podem ser encontradas nos ambientes físicos e socioeconômicos. Grandes avanços têm sido realizados em discernir a pobreza como um veneno, o ambiente construído como um dos principais determinantes da saúde e o ambiente social como o apoio benéfico ou maléfico capaz de modular nossa capacidade de permanecer saudáveis.
Tendo em conta que a urbanização é global, o global é universal e o universo diz respeito ao nosso planeta 2, está posto o gigante e complexo quebra-cabeça, entrelaçando os determinantes urbanos. O reconhecimento e a compreensão compartilhada são peças essenciais para melhorar a saúde daqueles que vivem nas cidades e para reduzir a terrível disparidade social presente na maioria dos contextos urbanos. Como colocado por Vlahov (p. S7) “ ...há momentos na história que são cruciais. Agora, (...) , é um desses momentos ”. Fique sintonizado e tenha uma boa leitura.