versão impressa ISSN 1808-8694
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.79 no.6 São Paulo nov./dez. 2013
http://dx.doi.org/10.5935/1808-8694.20130140
Schwannomas são tumores benignos que acometem a bainha neural dos nervos mielinizados. O sítio mais frequentemente acometido na região da cabeça e pescoço é o oitavo par craniano. Outros sítios incluem couro cabeludo, face, cavidade oral, faringe, laringe, traqueia, parótida, ouvido médio e canal auditivo externo. Schwannomas quase sempre ocorrem como lesões solitárias1. Tumores da parte membranosa do septo nasal são muito raros. Uma busca no PubMed (até junho de 2013) com as palavras-chave schwannomas, neurilemoma e septo membranoso revelou apenas um relato2. O presente relato descreve um caso de schwannoma da parte membranosa do septo nasal com apresentação de edema cístico.
Uma paciente de 35 anos de idade se apresentou com histórico de 10 anos de edema de crescimento lento na cavidade nasal esquerda. A paciente queixava-se de dor e obstrução nasal unilateral esquerda. Ela não tinha histórico de epistaxe, dormência facial, anosmia ou edema facial. Seu histórico passado era irrelevante.
A paciente estava normal ao exame físico. O exame otorrinolaringológico da cavidade nasal revelou um edema cístico liso de aproximadamente 1,5 x 1,0 cm no lado esquerdo do septo nasal membranoso. À palpação o mesmo era macio, indolor e ligeiramente móvel (Figura 1).
Investigações radiológicas e exames de sangue de rotina produziram resultados normais. Após avaliação de risco cirúrgico, a paciente foi submetida a anestesia local. O edema foi removido. A peça retirada tinha coloração amarelada e consistência macia. Suas medidas eram 1,5 x 1,0 x 1,0 cm. O exame histopatológico demonstrou padrão Antoni A com paliçadas nucleares, confirmando o diagnóstico de schwannoma. O pós-operatório ocorreu sem intercorrências e após seis meses de seguimento a paciente não havia apresentado recidiva.
Schwannomas envolvem a bainha neural de nervos periféricos, do sistema nervoso autônomo e dos pares cranianos. Tumores da bainha neural na região de cabeça e pescoço acometem principalmente o oitavo par craniano. Apenas 4% dos casos ocorrem nos seios paranasais. Os sítios preferenciais de acometimento são os seios etmoidais, seguidos dos seios maxilares, das fossas nasais e dos seios esfenoidais3 , 4. Acometimento da parte membranosa do septo nasal é raro2.
Schwannomas nasais ocorrem em sua maioria entre os 20 e 60 anos de idade, sem predileção por gênero ou etnia. No vestíbulo nasal estas lesões se apresentam normalmente com obstrução nasal unilateral, epistaxe, dor e, ocasionalmente, dormência facial localizada. São tumores de crescimento lento, podendo chegar a tamanho considerável. Contudo, os schwannomas nasais vestibulares tendem a produzir sintomas precocemente e são, comparativamente, menores à apresentação. Assim, normalmente são extirpados sem a necessidade de exames radiológicos4 , 5.
Macroscopicamente, os schwannomas podem ser massas gelatinosas ou císticas bem encapsuladas. Microscopicamente, são classificados em dois tipos. Antoni A é caracterizado por áreas de alta celularidade com células fusiformes, frequentemente arranjadas em feixes, paliçadas ou ninhos. Grupos compactos de núcleos em paralelo chamados de corpos de Verocay também são observados. O tipo Antoni B é caracterizado por estroma mixoide frouxo com células fusiformes aleatoriamente dispostas4.
O diagnóstico diferencial de tumor nasal inclui uma ampla gama de afecções, tais como pólipos inflamatórios, angiofibroma juvenil, papiloma invertido, meningioma, neurofibroma, melanoma e neuroblastoma olfativo6.
O tratamento é cirúrgico, e a abordagem excisional é determinada em função da extensão e da localização da lesão. Recidivas são raras.
Schwannomas que aparecem como massas císticas no septo nasal membranoso são muito raros. O presente relato acrescenta o schwannoma nasal ao diagnóstico diferencial das lesões císticas que acometem esta área.