versão On-line ISSN 2317-1782
CoDAS vol.27 no.2 São Paulo mar./abr. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20152014235
Prezadas editoras,
De acordo com revisão sistemática publicada recentemente na CoDAS( 1 ), o screening, que, em Português Brasileiro, significa "rastreamento"( 2 ), possui delineamento metodológico insuficiente nos estudos sobre disfagia orofaríngea (DO). É necessário compreender a DO como um sintoma caracterizado pela combinação de sinais e outros sintomas que colocam o indivíduo em risco nutricional, hídrico e pulmonar, sendo o screening direcionado a identificar indivíduos que reúnem fatores preditivos para esse desfecho e que necessitam de diagnóstico confirmatório( 3 ).
O instrumento de screening para DO deve ser rápido, de baixo custo, minimamente invasivo e de fácil administração por qualquer profissional de saúde( 4 ). Na avaliação clínica, um profissional especializado deverá ser capaz de confirmar o diagnóstico, indicar encaminhamentos e definir o planejamento terapêutico a partir de análise da biomecânica da deglutição orofaríngea.
A incompreensão sobre a distinção entre rastreamento e avaliação clínica é evidente quando se observa nos instrumentos de screening a frequente inserção de condutas que só poderiam ser interpretadas adequadamente por profissional habilitado, que, no Brasil, é o fonoaudiólogo. O instrumento de rastreamento para DO deve contemplar itens passíveis de administração e interpretação multidisciplinar. Quem executa o rastreamento deve evitar qualquer decisão terapêutica baseada apenas no resultado do teste e deve adotar como conduta imediata o encaminhamento do indivíduo que falhou para confirmação diagnóstica.
Para evitar interpretações equivocadas dos resultados, recomendamos aos pesquisadores que sempre esclareçam previamente a definição do construto a ser identificado pelo screening. Dessa forma, minimiza-se o risco de propor um instrumento cujo desfecho seria DO, mas que, na verdade, identifica, por exemplo, um distúrbio miofuncional orofacial.
Salientamos também que traduzir e adaptar um instrumento de screeningnão significa que ele produz interpretações válidas e confiáveis sobre o desfecho( 5 ). Isso só será possível após a obtenção de evidências de validade e confiabilidade, além das medidas de acurácia, a saber: sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo e razão de verossimilhança do resultado do teste positivo ou negativo( 3 , 6 ). Essas medidas são calculadas ao comparar os resultados do teste com um procedimento padrão-ouro. Na ausência deste, compara-se com a condição clínica do indivíduo no momento da administração do teste (consistência clínica), substituindo as medidas de sensibilidade e especificidade pela copositividade e conegatividade, respectivamente( 3 ).
Verificamos que há evidências da contribuição do rastreamento para a identificação precoce de indivíduos com DO; entretanto, chamamos a atenção para a necessidade de melhor apropriação dos conceitos teóricos e metodológicos inerentes à elaboração dos protocolos e obtenção de suas propriedades psicométricas.