versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622
Epidemiol. Serv. Saúde vol.24 no.4 Brasília out./dez. 2015
http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742015000400001
A 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito: Tempo de Resultados foi realizada em Brasília, nos dias 18 e 19 de novembro de 2015. O evento contou com mais de 2.200 participantes, de 136 países, incluindo os Ministros e Chefes de Delegação dos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como representantes de organizações internacionais, da sociedade civil e do setor privado.
A conferência faz parte das atividades da Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, liderada pela ONU. O evento foi organizado por um comitê coordenado pelo Ministério da Saúde, com a participação de oito ministérios e em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o grupo de países Amigos da Década.
O balanço das iniciativas nacionais, regionais e internacionais apresentadas na conferência reforça que a ação global para a prevenção dos acidentes e da morbimortalidade relacionada a estes agravos tem sido insuficiente, apesar dos avanços logrados. Esta constatação contribuiu para a definição da meta de reduzir as mortes e lesões no trânsito em 50% até 2020, como parte da Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030.1
A OMS lançou, no evento, o 3º Relatório da Situação Global sobre Segurança Viária , que destaca a elevada carga de morbimortalidade vinculada aos acidentes de trânsito. Este relatório destaca que, a cada ano, ocorrem no mundo mais de 1,2 milhão de mortes por acidentes de trânsito, que representam a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.2 Artigo publicado neste número da RESS, que discute as tendências da mortalidade de jovens no Brasil, revela que esses acidentes foram a principal causa de morte entre jovens do sexo feminino e a segunda principal causa entre jovens do sexo masculino, no período de 2000 a 2012.3
Para que os acidentes de trânsito deixem de ser causa de tantas perdas, o país deverá enfrentar importantes desafios. Estes incluem, além da adoção de legislação adequada e medidas para garantir o cumprimento das leis, o investimento em infraestrutura segura nas estradas e vias urbanas, o controle do excesso de velocidade, o enfrentamento do consumo abusivo de álcool e a garantia do atendimento às vítimas. É preciso, ainda, estabelecer metas locais de redução dos acidentes, sendo essencial o monitoramento dos indicadores de morbimortalidade. A Declaração de Brasília sobre Segurança no Trânsito ,4 aprovada durante a conferência, reafirma e amplia o compromisso dos países para a redução da morbimortalidade. O documento foi inovador, ao propor a priorização dos modos sustentáveis de transporte e destacar a segurança de pedestres, ciclistas, motociclistas e usuários de transporte público - usuários vulneráveis, que correspondem a mais da metade das vítimas fatais no mundo.
Já em 2010, o governo brasileiro criou, por meio do Ministério da Saúde, o Projeto Vida no Trânsito (PVNT), objetivando reduzir lesões e óbitos no trânsito em cinco capitais brasileiras: Palmas-TO, Teresina-PI, Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR e Campo Grande-MS. O PVNT integra o conjunto de intervenções do Plano Nacional da Década de Ações pela Segurança no Trânsito. Entre as ações do programa, inclui-se a qualificação dos dados sobre morbimortalidade e sua análise, para retroalimentação do desenho das intervenções.5
Uma ferramenta importante para a qualificação das informações é o relacionamento de bases de dados, tema do artigo da série Aplicações da Epidemiologia que integra esta edição da RESS.6
O presente número da RESS traz, ainda, uma resenha7 da publicação completa Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas ,8 cuja versão curta, contendo os capítulos que tratam das causas externas e compõem a segunda parte desta publicação, foi lançada na conferência, em inglês e espanhol.9-10
A efetividade das ações voltadas à redução da morbimortalidade no trânsito depende do adequado planejamento destas atividades, o qual, por sua vez, deve ser baseado em análises robustas, a partir do registro dos dados sobre lesões e óbitos nos sistemas de informação em saúde, assim como nos inquéritos. Nesse contexto, informações de boa qualidade podem contribuir para o aprimoramento das ações de vigilância voltadas à prevenção da morbimortalidade no trânsito. A participação dos trabalhadores da saúde, especialmente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), assim como a mobilização de toda a sociedade, são fundamentais para a obtenção de avanços mais rápidos em relação à preocupante realidade nacional. Desse modo, será possível prevenir lesões e poupar vidas, alcançando-se as metas propostas para a redução da morbimortalidade no trânsito no país.