A tuberculose é a principal causa de morte por um único agente infeccioso, ficando na frente do HIV/AIDS. Estimam-se em 10,4 milhões o número de pessoas que adoeceram por tuberculose em 2016, sendo que foram notificados 6,3 milhões de novos casos de tuberculose. No mesmo ano, estima-se que tenha havido 1,3 milhão de mortes por tuberculose entre indivíduos não infectados pelo HIV e 374.000 mortes por tuberculose entre indivíduos infectados pelo HIV. A Estratégia End TB da Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu metas para o período 2016-2035, incluindo uma redução de 90% nas mortes por tuberculose e uma redução de 80% na incidência de tuberculose (novos casos por ano) até 2030. Globalmente, a incidência de tuberculose e as taxas de mortalidade por tuberculose estão caindo; no entanto, a doença continua sendo uma importante questão de saúde pública.1 Portanto, para a celebração do Dia Mundial da TB em 24 de março, este número do JBP apresenta seis artigos com foco na tuberculose, incluindo três editoriais e três artigos de revisão. Esta série tuberculose tem o objetivo de ressaltar os avanços em nossa compreensão de muitos temas relacionados à tuberculose.
Em 2017, o Ministério da Saúde emitiu um documento delineando um plano para a eliminação da tuberculose - o Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública - que foi concebido com o objetivo de alcançar a meta de reduzir, até 2035, a incidência de tuberculose para < 10 casos/100.000 habitantes e a mortalidade por tuberculose para < 1 morte/100.000 habitantes.2) Oportunamente, o primeiro editorial desta série é um panorama dos esforços para eliminar a tuberculose na América Latina. Foram desenvolvidas estratégias e abordagens para a implementação dos três pilares da Estratégia End TB da OMS, e os resultados iniciais são encorajadores.3-5
Sabe-se bem que o terceiro pilar da Estratégia End TB da OMS tem como foco a intensificação da pesquisa e inovação.1 A Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (REDE-TB) é uma organização não governamental sem fins lucrativos que se preocupa não apenas em auxiliar no desenvolvimento de novos fármacos, novas vacinas, novos testes diagnósticos e novas estratégias para o controle da tuberculose, mas também na validação dessas inovações tecnológicas, antes de sua comercialização no país ou sua incorporação ao Programa Nacional de Tuberculose. O segundo editorial fornece uma revisão geral do papel da REDE-TB na implementação da Estratégia End TB da OMS.6
O terceiro editorial nesta série tuberculose traz informações sobre revisões da literatura relacionadas ao diagnóstico e tratamento da tuberculose publicadas recentemente.7 Em um artigo de revisão, a série tuberculose também tratará de alguns dos fatores de risco associados à tuberculose, incluindo diabetes, tabagismo, uso de álcool e uso de drogas ilícitas. Essas condições estão associadas à infecção tuberculosa e à progressão para tuberculose ativa, bem como contribuem para resultados pouco satisfatórios do tratamento da tuberculose. Além disso, a tuberculose pode levar a complicações na evolução e manejo de algumas doenças, como o diabetes. Portanto, é importante identificar essas comorbidades em pacientes com tuberculose a fim de garantir um melhor manejo de ambas as condições.8-13
Outro artigo de revisão abordará a tuberculose em crianças. A tuberculose pediátrica requer atenção especial, sobretudo pelo fato de representar a transmissão recente do Mycobacterium tuberculosis e a falha do controle da doença na comunidade. A investigação de crianças com suspeita de tuberculose é difícil, e faltam ferramentas diagnósticas adequadas. O tratamento da tuberculose em crianças também é desafiador.14
O artigo final desta série tuberculose é uma revisão sobre novos fármacos e fármacos repropostos para o tratamento da tuberculose multirresistente e extensivamente resistente. A tuberculose resistente é uma crescente ameaça à saúde global. Em 2016, houve 600.000 novos casos de infecção por cepas resistentes à rifampicina, dos quais 490.000 eram casos de tuberculose multirresistente.1 A revisão resume o que se conseguiu até o momento, no que se refere a novos fármacos e fármacos repropostos, dando foco especial para delamanid, bedaquilina, pretomanida, clofazimina, carbapenêmicos e linezolida.15-22
Portanto, acreditamos que esta série tuberculose, dedicada à celebração do Dia Mundial da TB, oferece um valioso panorama dos diversos aspectos do controle da tuberculose. Esperamos que esta série dê origem a novas ideias para pesquisa.
REFERÊNCIAS
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2 Brasil. Ministério da Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: o Ministério; [cited 2017 Feb 16]. Brasil livre da tuberculose. Plano nacional pelo fim da tuberculose como problema de saúde pública. 1st ed; 2017 [Adobe Acrobat document, 40p.]. 2017. Available from:
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7 Mello FCQ, Silva DR, Dalcolmo MP. Tuberculosis: where are we? J Bras Pneumol. 2018;44(2):82.
8 Imtiaz S, Shield KD, Roerecke M, Samokhvalov AV, Lönnroth K, Rehm J. Alcohol consumption as a risk factor for tuberculosis: meta-analyses and burden of disease. Eur Respir J. 2017;50(1). pii: 1700216.
9 Muñoz-Torrico M, Caminero-Luna J, Migliori GB, D'Ambrosio L, Carrillo-Alduenda JL, Villareal-Velarde H, et al. Diabetes is Associated with Severe Adverse Events in Multidrug-Resistant Tuberculosis. Arch Bronconeumol. 2017;53(5):245-250.
10 Muñoz-Torrico M, Caminero Luna J, Migliori GB, D'Ambrosio L, Carrillo-Alduenda JL, Villareal-Velarde H, et al. Comparison of bacteriological conversion and treatment outcomes among MDR-TB patients with and without diabetes in Mexico: Preliminary data. Rev Port Pneumol (2006). 2017;23(1):27-30.
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22 Silva DR, Dalcomo M, Tiberi S, Arbex MA, Munoz-Torrico MM, Duarte R, et al. New and repurposed drugs to treat multidrug- and extensively drug-resistant tuberculosis. J Bras Pneumol. 2018;44(2):153-160.