Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.31 no.3 São Paulo May/June 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800043
Explorar y comprender las experiencias sexuales de gestantes durante el embarazo.
Estudio realizado en dos centros de salud del Distrito Sanitario de Almería, Sur de España. Dentro de los participantes se incluyó a gestantes que recibieron atención prenatal y/o educación para la maternidad. Los criterios de inclusión fueron: estar embarazada, mantener actividad sexual y aceptar participar del estudio. Los criterios de exclusión fueron tener limitaciones de actividad sexual por prescripción médica. Muestra compuesta por 15 embarazadas seleccionadas mediante muestra de conveniencia, cinco de las cuales participaron del grupo focal (GF) y 10 de entrevistas en profundidad (EP). Datos recolectados entre junio y diciembre de 2016. Las participantes fueron contactadas por el investigador principal, realizando una consulta para incluirlas en el GF o en el EP.
Surgieron tres categorías principales: Falsas creencias y un abordaje holístico de la sexualidad durante el embarazo, relacionada al concepto de sexualidad; falsas creencias y asesoramiento sexual limitado durante el embarazo. Limitaciones: Del miedo inicial a la dificultad física al final, refiriéndose a las fluctuaciones en el deseo sexual, así como a los cambios físicos limitantes de la actividad sexual. Adaptación a los cambios: prácticas seguras y satisfacción con la imagen corporal, que incluye preocupaciones con los riesgos y la relación entre imagen corporal y autoestima.
La falta de asesoramiento sexual durante el embarazo lleva a crear falsas creencias, que, conjuntamente con los cambios físicos, preocupaciones por riesgos y fluctuaciones del deseo e interés sexual, provocan una disminución de la actividad sexual. Pero la sexualidad continúa siendo un aspecto importante del embarazo, respecto del cual los participantes deben adoptar un abordaje más amplio y no limitado al acto sexual, además de adoptar prácticas adecuadas a los cambios físicos y emocionales típicos del período.
Palabras-clave: Embarazo; Sexualidad; Educación sexual; Conducta sexual; Investigación cualitativa
A gestação é o período entre a fertilização e o parto que causa alterações físicas, hormonais, emocionais, psicológicas, sociais e sexuais na mulher.(1,2) Como resultado, a gravidez gera expectativas e dúvidas sobre a capacidade de lidar com essas mudanças e responder a essa nova situação.(3) Além disso, a gravidez gera sentimentos positivos como a alegria, mas ao mesmo tempo, sentimentos negativos como depressão,(4) medo e ansiedade,(5) que podem repercutir negativamente na vida sexual da mulher grávida e de seus parceiros.(6) Além da diminuição do desejo sexual, as informações sobre sexo ou limitações (7) e o medo de machucar fisicamente o feto,(8) podem tornar a gravidez um período de baixa atividade sexual. Gestantes têm necessidades, dúvidas e preocupações sobre sua sexualidade,(8) que devem ser abordados durante o pré-natal e através da educação.(9)
Flutuações no desejo e nas práticas sexuais são normais durante toda a gravidez (2,10) e pós-parto.(11) No primeiro trimestre, mudanças físicas e emocionais levam à uma diminuição na frequência das relações sexuais e do desejo sexual.(12) No segundo trimestre, o desejo sexual tende a voltar,(13) associado a uma melhora no bem-estar físico da gestante,(14) menos medo de perder o feto,(15) melhor lubrificação vaginal e facilidade do ato sexual.(3) No terceiro trimestre, limitações físicas pelo tamanho e forma do corpo e a pressão sobre o útero limitam a atividade sexual.(10,12) Embora muitos estudos se concentrem em temas como saúde reprodutiva, aborto espontâneo,(16) educação sexual preventiva(17,18) e os aspectos biológicos da sexualidade durante a gravidez,(3) faltam pesquisas sobre as dimensões subjetiva, emocional e experiencial das mulheres durante este período.(11)
O objetivo deste estudo é explorar e compreender as experiências sexuais de mulheres grávidas durante a gravidez.
Este é um estudo qualitativo baseado na fenomenologia hermenêutica de Gadamer. Gadamer nos diz que a compreensão de um fenômeno é condicionada pelo presente, pelas tradições e pela história.(19) Nossa própria experiência cria preconceitos que ajudam os sujeitos a se entenderem em seu próprio contexto. Portanto, compreender e interpretar a narração da experiência dos participantes envolve a fusão dos horizontes do intérprete com os horizontes dos participantes.
O estudo foi realizado em dois centros de saúde no Distrito Sanitário de Almería, sul da Espanha. As participantes foram gestantes que receberam atendimento pré-natal e/ou educação para maternidade. Os critérios de inclusão foram estar grávida, manter atividade sexual e concordar em participar do estudo. Os critérios de exclusão foram ter limitações na atividade sexual por prescrição médica.
A amostra incluiu 15 gestantes selecionadas por meio de amostra de conveniência, das quais cinco participaram de grupo focal (GF) e dez de entrevistas em profundidade (EP). Na tabela 1 estão os dados sociodemográficos das participantes.
Tabela 1 Dados sociodemográficos das participantes (n=15)
Participante | Idade | Semanas de gravidez | Profissão | Nível educacional |
---|---|---|---|---|
GF-1 | 30 | 26 | Assessora contábil | Faculdade |
GF-2 | 28 | 32 | Estudante | Formação profissional |
GF-3 | 31 | 36 | Professora | Faculdade |
GF-4 | 35 | 32 | Médica | Universidade |
GF-5 | 27 | 24 | Dona de casa | Ensino médio |
EP-1 | 38 | 34 | Psicóloga clínica | Mestrado |
EP-2 | 38 | 30 | Economista | Faculdade |
EP-3 | 30 | 23 | Professora | Universidade |
EP-4 | 31 | 30 | Executiva | Faculdade |
EP-5 | 30 | 39 | Professora | Faculdade |
EP-6 | 34 | 40 | Bióloga | Faculdade |
EP-7 | 31 | 36 | Garçonete | Ensino médio |
EP-8 | 28 | 37 | Psicóloga | Faculdade |
EP-9 | 31 | 20 | Estudante | Formação profissional |
EP-10 | 34 | 28 | Dona de casa | Formação profissional |
GF – Participante de Grupo Focal; EP – Entrevista em profundidade
Os dados foram coletados entre os meses de junho e dezembro de 2016. Os participantes foram contatados pelo pesquisador principal e foi realizada uma reunião para realizar os GFs ou as EPs. Antes de iniciar a conversa, o pesquisador reiterou os objetivos do estudo, informou os participantes sobre questões éticas e solicitou permissão para gravar a reunião. O GF durou 70 minutos e foi realizado em uma sala do centro de saúde que os pacientes frequentavam para a educação sobre maternidade. O roteiro de entrevista do moderador começava com a pergunta: “Digam como está indo a sua gravidez” e depois eram feitas perguntas sobre as experiências sexuais das participantes.
As EP foram realizadas nas residências das participantes. O roteiro da entrevista foi modificado de forma a aprofundar os assuntos mais pessoais que apareceram superficialmente nos GFs. Quando a entrevistadora notou que as entrevistadas estavam confortáveis com as perguntas feitas, ela elaborou questões relacionadas à atividades sexuais mais íntimas, como: “Fale sobre as posições mais confortáveis para você”.
As gravações foram transcritas pelos entrevistadores imediatamente após o término dos GFs e EP. Quando os pesquisadores consideraram ter alcançado a saturação dos dados e não surgiram mais novos tópicos, decidiram concluir a coleta de dados. Para a análise, foram seguidos os seguintes passos utilizados em pesquisas fenomenológicas.(20)
Estágio 1. Verificar a coerência entre a questão e o método de pesquisa. A sexualidade durante a gravidez é um fenômeno do mundo/da vida em que é possível ter experiência.
Estágio 2. Identificar o pré-entendimento dos pesquisadores derivado de suas experiências clínicas ou de pesquisa.
Estágio 3. Obter entendimento através do diálogo com os participantes. Durante as entrevistas, houve entendimento espontâneo através do que foi compartilhado pelos participantes. Foram feitas anotações e questões de esclarecimento também foram formuladas.
Estágio 4. Obter entendimento através de diálogo com o texto (análise). Os pesquisadores leram as transcrições atentamente e desenvolveram uma impressão geral das experiências. Neste estágio da análise, foi utilizado o software ATLAS-Ti (Versão 8.0, Thomas Muhr, Berlim, Alemanha).
O significado de cada sentença foi analisado e codificado através de análise indutiva. Esse processo revelou unidades de significado, subcategorias e categorias.
Como consequência da transição do texto como um todo para suas partes individuais e de cada parte para o todo (círculo hermenêutico), surgiram novas questões ao longo da interpretação dos dados.
Com o objetivo de ir além de meras descrições, foi estabelecida uma relação entre temas e subtemas (nível pragmático).
Estágio 5. A credibilidade foi obtida ao garantir que os pontos de vista de todos os participantes fossem refletidos. Para alcançar confirmabilidade, as transcrições e a lista final de categorias e citações foram confirmadas pelos participantes.
A participação foi voluntária, anônima e permitida após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Os participantes foram informados da opção de não responder certas perguntas, que poderiam interromper a entrevista a qualquer momento, e que suas conversas seriam gravadas para posterior transcrição. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do distrito de saúde onde ocorreu a coleta de dados (2015-01/08).
Durante o processo de análise, emergiram 48 unidades de significado, seis subcategorias e três categorias. Elas refletiram as percepções das gestantes sobre sua experiência sexual durante a gravidez (Quadro 1).
Quadro 1 Categorias, subcategorias e unidades de significado resultantes da análise
Categorias | Subcategorias | Unidade de significado |
---|---|---|
Falsas crenças e uma abordagem holística da sexualidade durante a gravidez | Falsas crenças e aconselhamento durante a gravidez | Segurança, informação sobre posições durante a gravidez, autorrelato, risco de aborto espontâneo, medo de perder o feto, ceder à pressão, limitações morais, incerteza com o parceiro, sexo prejudicial. |
Em direção a um conceito mais amplo de sexualidade | Iniciando o ato sexual, conceito amplo, masturbação, outros atos além da penetração, a importância da sexualidade, relação com o sexo, intimidade com o parceiro, jogos eróticos. | |
Limitações: do medo no início à dificuldade física no final. | Flutuações no interesse e desejo sexual | Bem-estar fetal, abstinência, estresse, sinais, ser gentil, desconforto, trabalho, intensidade, tempo, filhos. |
Mudanças físicas que limitam a atividade sexual tradicional | Posições desconfortáveis, falta de independência em certos movimentos, tamanho do corpo. | |
Adaptação às mudanças: práticas seguras e satisfação com a imagem corporal. | Preocupações sobre o risco e a busca de posições confortáveis | Relação sexual, orgasmo, posição andrômaca, posição confortável, sexo oral, “69”, relação sexual por trás, penetração por trás, posição lateral, carícias intensas, ternura. |
A relação entre imagem corporal e autoestima. Sentindo-se atraente e mimada | Sentindo-se atraente, marido protetor, imagem corporal, autoimagem, carinho/mimos, marido atencioso, amoroso, lubrificação vaginal, pele macia. |
As participantes têm falsas crenças sobre a sexualidade durante a gravidez. Tais crenças resultam da ausência de educação sexual recebida durante este período e as torna incapazes de desfrutar plenamente de sua sexualidade durante esse período. Ao mesmo tempo, elas assumem uma abordagem ampla e holística da sexualidade, o que facilita a adaptação às novas limitações da situação.
Esta subcategoria refere-se às ideias equivocadas sobre os riscos trazidos pelas relações sexuais durante a gravidez. Guiadas por tais crenças, as participantes adotam atitudes temerosas ou superprotetoras, que resultam na diminuição da quantidade e qualidade de suas relações sexuais. Por exemplo, algumas participantes relataram que seus parceiros estavam com medo e inseguros de fazer sexo com penetração total por medo de ferir a futura mãe e/ou o feto.
[…] meu marido estava hesitante, porque achava que afetaria o bebê (EP-6).
[…] meu parceiro…, tenho a sensação de que ele tem medo de me machucar e machucar o bebê (GF).
Esse sentimento também era comum entre as mulheres, que expressaram medo do aborto espontâneo por falsas crenças generalizadas, que são compartilhadas através de conselhos de amigas e conhecidos.
[…] eles dizem que você tem que ter mais cuidado com tudo, porque você pode ter um aborto espontâneo nos primeiros meses. Naquela época, eu estava mais assustada, então evitei fazer (EP-2).
Essas falsas crenças também geram um comportamento superprotetor no parceiro masculino, que pode ser interpretado como uma demonstração de amor ou afeição, ou um comportamento excessivamente zeloso que invalida a mulher grávida como pessoa.
[…] quando eu estou limpando, ele diz que eu deveria parar, que ele vai fazer […] Eu digo a ele que não estou doente, não sou inválida; às vezes até me faz sentir inútil (EP-8).
Essas falsas crenças podem estar relacionadas à falta de aconselhamento sexual nas sessões de educação para maternidade. Para nossas participantes, a orientação sexual recebida foi escassa e elas se sentiam constrangidas de fazer perguntas sobre isso, portanto, buscaram informações na internet:
[…] Eu li sobre isso na internet, o que todos sabemos que às vezes não é… (confiável). Mas o médico não me disse nada sobre isso (GF).
Algumas participantes alegaram não mencionar o assunto sexual por motivos morais. Mesmo hoje em dia, muitas pessoas consideram controverso falar abertamente sobre a sexualidade, razão pela qual nem os pacientes, nem os profissionais de saúde a mencionam:
Sim, provavelmente teria sido necessário, mas, mesmo hoje, na sociedade em que vivemos, falar sobre isso não é socialmente aceitável (GF).
Apesar das falsas crenças propagadas, a sexualidade é considerada muito valiosa pelas participantes, e elas priorizam uma abordagem ampla e compreensão holística da palavra, que vá além do mero coito, mas também não o exclua.
[Sexualidade] é algo muito abrangente, não tem a ver apenas com a penetração. Eu não sei…, jogos eróticos, penetração também, claro (GF).
A intimidade, o autoerotismo (autoestimulação), a masturbação e os jogos eróticos não são vistos como um meio intermediário para um fim, mas como atividades prazerosas em si mesmas, que não necessariamente precisam levar à relação sexual.
Eu entendo sexualidade como…, sedução, flertar desde o começo, sacanagens que você diz ao seu marido, […] (GF).
Os participantes apontaram certas limitações nas relações sexuais durante a gravidez. Estas estão relacionadas a flutuações no interesse e desejo sexual ao longo dos diferentes estágios da gravidez, e às limitações físicas que vão desde sintomas típicos dos primeiros trimestre (náuseas, vômitos) até o aumento do tamanho do corpo no final.
Conforme a gravidez progride, é possível observar casos de abstinência e diminuição do interesse sexual, o que é demonstrado pela maioria das participantes no primeiro trimestre.
[…] Nos primeiros três meses, nunca me senti bem, mas ele queria (GF).
Por outro lado, algumas mulheres explicaram que, no segundo trimestre, após a diminuição do medo inicial, mas antes que as limitações físicas tornassem as relações mais difíceis, perceberam um aumento em seu impulso sexual:
[...] no segundo trimestre eu queria fazer muitas vezes ... Chega um momento em que tenho vontade de começar mais vezes do que o normal (EP-3).
Assim que alcançam seu terceiro trimestre, as participantes experimentam sentimentos de dor e tensão, fatores que podem levar à diminuição do desejo sexual.
Neste momento, com 39 semanas…, não tenho relações sexuais com penetração porque machuca, dói embaixo (EP-10).
Dentre as mudanças físicas pelas quais as mulheres passam, estão as alterações no corpo feminino. Estas não permitem que elas e seus parceiros encontrem uma posição confortável no terceiro trimestre. Além disso, há outros sintomas como náuseas e vômitos durante o primeiro trimestre, que também limitam ou dificultam as relações sexuais durante a gravidez.
[…] agora eu só posso fazer certas posições, não me sinto mais confortável em determinadas posições, estou realmente limitada com minha barriga tão grande (EP-1).
No começo, só me sentia enjoada e como se estivesse prestes a vomitar, e fiquei com náuseas o tempo todo, (...). Então, você pode imaginar, nada, você só vai levando (GF).
Manter uma vida sexual ativa apesar das mudanças físicas e limitações, fez com que as participantes passassem por um processo de adaptação baseado na busca por práticas seguras e posições confortáveis. Além disso, as mudanças em seus corpos trouxeram maior satisfação com a própria imagem corporal.
Nossos participantes explicaram que conforme suas barrigas cresciam, elas buscavam adaptação ao tentar posições sexuais diferentes (novas) e mais propícias para o ato sexual (mulher no topo, por trás e deitada de lado). Desta forma, o aumento do tamanho da barriga não impediu que aproveitassem a relação sexual:
Com ele deitado e eu em cima, porque tenho medo dele me pressionar, (...) e se estou por cima, posso controlar mais para não pressionar a minha barriga (EP-7).
O sexo oral foi considerado uma prática sexual de risco por algumas das participantes, que o associaram à possibilidade de contrair infecções bucais e ao consequente risco de aborto espontâneo. Por causa disso, evitaram esta prática:
[…] ultimamente, evitamos sexo oral por causa do risco ... de infecção ou algo assim, certo? (…) apesar de eu gostar, posso viver sem isso, não quero que nada aconteça apenas por causa de uma pequena ferida na boca dele ou algo assim…, não quero me arriscar (EP-9).
O toque, o beijo e o afeto regular tornaram-se as práticas sexuais preferidas de muitas mulheres, acima de qualquer prática sexual mais focada na genitália:
Agora buscamos mais por isso, (...) nos abraçamos, beijamos, ouvimos elogios e falamos como somos lindos, não procuramos apenas por isso (penetração) (GF).
As mudanças físicas que ocorrem durante a gravidez também contribuem maior satisfação da mulher com sua imagem corporal, pois ela se sente atraente e mimada pelo parceiro, o que aumenta a autoestima:
Eu gosto de me ver com a barriga, vestindo roupas de maternidade (...). Eu me sinto bem na minha própria pele e me sinto bem com a minha gravidez (EP-3).
Eu o acho mais amoroso, e posso dizer que com certas coisas ele é mais cuidadoso, quer dizer, antes, ele não prestava muita atenção nas tarefas e nas minhas coisas, mas agora ele presta (EP-5).
A partir da análise das relações entre as diferentes categorias (nível pragmático de análise) foi criado um mapa conceitual (Figura 1). Ele representa como as falsas crenças contribuem para o aparecimento de fatores limitantes que inibem a atividade sexual nos estágios iniciais da gravidez. Nos estágios mais avançados, as mudanças físicas contribuem para essas limitações. Um conceito amplo de sexualidade, satisfação com a imagem corporal e a busca por posições confortáveis que facilitem o ato sexual fazem parte da adaptação a essas mudanças, de forma que uma atividade sexual segura e satisfatória possa ser mantida durante a gravidez.
As principais limitações deste estudo estão relacionadas à amostra, pois a maioria das participantes possui nível superior e gestações planejadas. Todas são adultas jovens e nossa amostra não incluiu adolescentes nem mulheres com mais de 40 anos em. Uma amostra mais variada poderia produzir resultados diferentes.
A inclusão da saúde sexual na avaliação clínica de gestantes e de educação sexual na educação para a maternidade (e paternidade) contribuiria para relações sexuais mais satisfatórias, plenas e sem preconceitos durante a gravidez. Parteiras e enfermeiras que trabalham com mulheres grávidas e seus parceiros devem fornecer informações sobre a atividade sexual durante a gravidez.
Neste estudo, surgiram dificuldades sexuais e questões relacionadas à gravidez. Estes têm base na educação sexual limitada, falsas crenças e mitos que podem ter efeitos adversos na relação entre os futuros pais.(9) Assim como em outros estudos,(21,22) crenças aceitas social e culturalmente resultam em medos que impactam negativamente sobre a sexualidade da gestante. Embora alguns estudos sugiram que a conexão entre um casal não muda durante a gravidez,(23) nossos participantes confirmaram que seus parceiros expressaram preocupação com as relações sexuais. Eles temiam ferir o feto, o que denota uma atitude protetora.(24)
Nossas participantes relataram que a educação sexual recebida dos profissionais de saúde era limitada, e que muitas só obtinham tais informações se pedissem especificamente. Também notaram a falta de detalhes na informação. A sexualidade não costuma ser incluída no escopo dos profissionais de saúde(20,25) nem em programas de educação pré-natal.(25) Em linha com outros estudos, nossos participantes recorreram a amigos ou à internet para obter informações.(24) Alguns autores sugerem que os profissionais de saúde deveriam ser os conselheiros das gestantes sobre as mudanças psicossexuais ocorridas durante a gravidez.(11) Outros enfatizaram a importância de ensinar competências para entrevista em saúde sexual na graduação e educação continuada de profissionais de saúde.(25,26)
A gravidez reduz significativamente a atividade sexual da mulher, especialmente no primeiro e terceiro trimestres.(12,27,28) Em nosso estudo, também foi observada acentuada diminuição da atividade sexual, especialmente da relação sexual, durante esses períodos, por causa do medo e das dificuldades físicas. Por outro lado, as participantes expressaram aumento da autoestima no segundo trimestre, vinculado à satisfação com as mudanças em seus corpos, o que fez com que se sentissem atraentes e desejadas. Isso reflete os achados de outros estudos, onde foi encontrada uma correlação positiva entre autoestima e satisfação nas relações sexuais durante e após a transição para a maternidade.(29) No entanto, outros estudos mostraram que quanto maior a massa corporal, menor a satisfação da mulher com sua imagem corporal, independentemente de estar grávida ou acima do peso por outras razões.(30) Isto sugere que não é a gravidez em si, mas o excesso de peso no terceiro trimestre que tem um efeito negativo sobre a função sexual.(31)
A ausência de aconselhamento sexual durante a gravidez dá origem a falsas crenças, que, juntamente com mudanças físicas, preocupações sobre os riscos e flutuações no interesse sexual, resultam em menor atividade sexual. No entanto, a sexualidade permanece um aspecto importante da gravidez, com o qual as participantes devem adotar uma abordagem mais ampla e não limitada à relação sexual, optando por práticas sexuais adaptadas às mudanças físicas e emocionais que ocorrem durante esse período.