versão impressa ISSN 1806-3713
J. bras. pneumol. vol.40 no.5 São Paulo set./out. 2014
http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132014000500015
A maioria das cirurgias pulmonares necessita da drenagem do espaço pleural para eliminar o líquido e o ar pleural no pós-operatório e possibilitar a expansão adequada do pulmão remanescente. A perda aérea prolongada é uma complicação esperada em aproximadamente 10% dos pacientes.( 1 ) A equipe precisa ser capacitada para o manejo adequado do sistema de drenagem. A medição ou a classificação dos vazamentos de ar ainda é subjetiva e depende da experiência do profissional para quantificá-los. Portanto, a interpretação da perda aérea está relacionada à variabilidade do observador.( 1 , 2 ) Por ser subjetiva, discordâncias entre observadores, mesmo que experientes, ocorrem. Quando persiste a duvida, o paciente permanece pelo menos mais um dia ou período internado.
Desde que os sistemas de drenagem torácica digitais surgiram, os pacientes têm a sua disposição algumas vantagens.( 2 , 3 ) É portátil, com autonomia para 12 h através de uma bateria recarregável. Dispõe de alarmes e alertas para diversas situações, como dreno obstruído, sistema desconectado, falha na aspiração, entre outras. Por ser um sistema completamente fechado, não existe contato do líquido com o meio externo, o que acrescenta uma enorme biossegurança à equipe e ao próprio paciente. Outra vantagem é justamente na perda aérea, pois o sistema minimiza as diferenças entre observadores. O vazamento de ar é medido de maneira objetiva, em mL/min, e também pode ser visto em forma de gráfico. A pressão de aspiração é regulada no próprio aparelho, independentemente da rede de vácuo do hospital. Quando houver uma perda aérea menor que 40 mL/min nas últimas 6 h, o que pode ser observado no gráfico no próprio aparelho, o dreno pode ser retirado. ( 2 - 4 ) O montante líquido é computado de forma tradicional através do recipiente graduado. O sistema digital é bem tolerado pelos pacientes, oferece mais segurança e mobilidade. Pode reduzir o período de internação e custos pois o dreno é retirado em menor tempo.( 2 , 4 , 5 ) Relatamos o uso de um sistema de drenagem digital em um paciente grave submetido à ressecção pulmonar.
O dispositivo foi utilizado em um paciente idoso grave, hipertenso, diabético e portador de arteriosclerose, DPOC e neoplasia pulmonar. Apresentava, na época, escarro hemóptico com alguns episódios de hemoptise e uma massa em lobo médio. Após a ressecção pulmonar, permaneceu em ventilação mecânica por cinco dias, em terapia intensiva. Também apresentou perda aérea pelo dreno e a partir do segundo dia pós-operatório foi monitorizado pelo sistema digital Thopaz(r) (Medela, Baar, Suíça; Figura 1).
Através do visor, podemos obter informações do que ocorre no momento, com a indicação da perda aérea e da pressão de aspiração utilizada. Pelo gráfico, temos as informações do que ocorreu nas últimas 24 h (Figura 2). Assim, durante as visitas médicas ou de enfermagem, podemos consultar essas informações e tomar decisões melhores. Além disso, as informações podem ser exportadas para um computador através do programa ThopEasy (Medela). Assim, obtemos mais parâmetros, como o tempo de drenagem, com a data e a hora inicial e final de uso do sistema, valor máximo e valor mínimo de aspiração e de perda aérea (Figura 2). A aspiração pode ser regulada em diversas unidades; nós optamos por cmH2O. A perda aérea também pode ser medida em uma escala, que varia de 100 a 2.000 mL. Nosso paciente, por exemplo, ficou com o dreno por sete dias, com uma perda aérea máxima de 637 mL/min (Figura 2).
O sistema utilizado apresenta funcionalidade e simplicidade e oferece novos padrões para a drenagem torácica. Possibilita a mobilização precoce do paciente mesmo em aspiração continua, o que é difícil com o sistema tradicional de selo d'água sob aspiração.( 5 , 6 ) Simplifica os cuidados de enfermagem com o aumento da segurança e fornece dados objetivos sobre a perda aérea. Como desvantagens, citamos ser necessário o treinamento dos profissionais de saúde para o manuseio do sistema e o "custo Brasil" para sua importação.
Apesar de o sistema ser utilizado na rotina em serviços no mundo,( 2 , 4 , 5 ) ainda restam dúvidas sobre quais pacientes seriam beneficiados por seu uso. Precisamos determinar onde o sistema digital faria a diferença e, portanto, acreditamos que também esse sistema deva ser avaliado e estudado em nosso meio.
Observação: Os autores declaram que não há conflito de interesse com o fabricante ou qualquer empresa relacionada ao produto.