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Sistema sensorio motor integrado em recem-nascidos prematuros

Sistema sensorio motor integrado em recem-nascidos prematuros

Autores:

Andréa Monteiro Correia  Medeiros,
Graysianne Alves de  Jesus,
Leylane Fonseca  Almeida,
Oscar Felipe Falcão  Raposo

ARTIGO ORIGINAL

CoDAS

versão On-line ISSN 2317-1782

CoDAS vol.25 no.5 São Paulo set./out. 2013

http://dx.doi.org/10.1590/S2317-17822013000500008

INTRODUÇÃO

Em todo o mundo, nascem anualmente 20 milhões de crianças prematuras e com baixo peso, o que pode indicar maior possibilidade de comprometimentos do desenvolvimento neurocomportamental nessa população( 1 ).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)( 2 ), o recém-nascido (RN) será denominado prematuro quando apresentar idade gestacional (IG) inferior a 37 semanas. O grau de prematuridade é considerado limítrofe quando IG estiver entre 35 e 37 semanas; moderado, entre 31 e 34 semanas; e extremo se inferior a 30 semanas( 3 ). Quanto ao peso, é classificado como: adequado ao nascimento (>2.500 g), baixo (BP - entre 1.500 e 2.500 g), muito baixo (MBP - entre 1.000 e 1.500 g)( 4 ).

Os avanços tecnológicos das Unidades de Terapia Intensiva Neonatais (UTIN), incluindo a sofisticação de equipamentos, formação humanizada da equipe multidisciplinar e inclusão da família no cuidado com os RNs, têm permitido maior sobrevida dos prematuros, disparando maior interesse dos pesquisadores em investigar o desenvolvimento neuropsicomotor deles( 5 - 7 ).

Neste contexto, inclui-se também o trabalho fonoaudiológico, que objetiva detectar alterações do sistema sensório-motor-oral, mais especificamente quanto às funções de sucção, deglutição e respiração( 8 ), e possibilitar a assistência à alimentação dessa população.

O estudo do desenvolvimento motor relacionado ao sistema de alimentação do ser humano tem sido contemplado em pesquisas envolvendo pressupostos de Neurociências e Comportamento, com trabalhos que tratam do controle orofaríngeo e da coordenação dos movimentos mãos-boca em recém-nascidos humanos( 9 - 11 ).

A organização e a formação do sistema nervoso refletem a qualidade dos movimentos motores da criança, visto que o desenvolvimento motor é resultado do desenvolvimento neurológico( 12 ). As mudanças nas habilidades motoras ao longo da vida têm sido vistas como resultado da interação entre processos biológicos geneticamente determinados e fatores ambientais( 13 ).

O desenvolvimento motor é entendido como um processo sequencial, contínuo e relacionado à idade cronológica, pelo qual o ser humano adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, as quais progridem de movimentos simples e desorganizados para a execução de habilidades motoras altamente organizadas e complexas( 14 ).

Embora ainda possa existir na literatura a visão de que o desenvolvimento motor se dá de forma hierarquizada( 15 ) e que ao nascer ainda não está maduro, dificultando a interação entre o RN e o ambiente( 16 ), a incidência dos comportamentos específicos mãos na boca e sucção de mãos, a partir da estimulação gustativa, tem constituído forte evidência da existência de integração sensório motora precoce, relacionada a sistemas funcionais distintos( 11 , 17 ).

Episódios de sugar a mão ou o polegar são universais em fetos, indicando que no ambiente intrauterino o transporte da mão à boca já existe e permanece presente nas primeiras horas depois do nascimento, ocorrendo em 20% do tempo no qual os neonatos permanecem conscientes( 18 - 20 ).

O comportamento de levar as mãos à boca também pode ser entendido como evidente sinal de prontidão de mamada. A substância sacarose PA é utilizada em pesquisas( 10 , 11 , 17 ) como estímulo eliciador de respostas motoras dos recém-nascidos, correlacionada à ativação de um sistema de alimentação. Recém-nascidos estimulados com sacarose a 12% permaneceram mais ativos, evidenciando comportamentos de prontidão para mamada, tais como protrusão de língua, movimentos de sucção, mãos na boca e sucção das mãos( 11 ).

A estimulação pode afetar o desenvolvimento motor-oral, modificando-se de acordo com o aumento da idade gestacional corrigida do RN( 21 ). Assim, mesmo quando a sucção é considerada um comportamento reflexo, que constitui função necessária para a alimentação eficiente por via oral e adequado desenvolvimento motor-oral( 21 ), pode ser modificada de acordo com as experiências obtidas, surgindo entre as 18ª e 24ª semanas gestacionais( 22 , 23 ). Entretanto, o recém-nascido pré-termo (RNPT) pode apresentar dificuldades na realização deste comportamento devido à imaturidade( 24 ).

Por outro lado, a tendência para a preferência manual direita, típica da população adulta, parece já estar presente no início da vida, sendo que apesar da preferência manual ficar mais evidente com o começo da escolaridade, podem ser observadas tendências desta preferência mesmo antes do nascimento( 25 ).

Neste sentido, a observação dos comportamentos específicos (mãos na boca e sucção das mãos) subjacentes à preferência do controle manual, a partir da estimulação gustativa, pode contribuir para o entendimento das habilidades sensoriais e motoras dos recém-nascidos prematuros.

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi descrever e analisar os comportamentos específicos mão na boca e sucção das mãos nos recém-nascidos prematuros submetidos à estimulação gustativa (água e sacarose para análise (PA) 12%) e verificar se há sinergismo entre o sistema manual (membros superiores) e o sistema sensorial (gustativo) nesta população.

MÉTODOS

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe, inserido na pesquisa "Desenvolvimento da função da alimentação em recém-nascidos prematuros" , sob protocolo nº 0027.0.107.000-11. Todos os responsáveis assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, sendo garantido a esses o sigilo dos dados fornecidos.

Trata-se de um estudo experimental, analítico e duplo-cego. Participaram da amostra 90 RNs prematuros, de ambos os gêneros, nascidos na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, situada no município de Aracaju (SE).

Como critérios de inclusão foram selecionados recém-nascidos com condições estáveis no momento do teste, idade gestacional corrigida (IGC) de até 36 semanas e um dia de vida, e curva de crescimento intrauterino adequado para a idade gestacional (AIG). Como critérios de exclusão não participaram recém-nascidos com intercorrências neurológicas e cardíacas, portadores de síndromes e malformações, risco para hiperglicemia e que faziam uso de suporte respiratório no momento do procedimento.

Os RNs foram divididos em dois grupos aleatoriamente, de acordo com a substância administrada: água (46 sujeitos) e sacarose PA a 12% (44 sujeitos).

Inicialmente foi realizado um estudo piloto a fim de estabelecer as etapas do teste propriamente dito e reconhecer o ambiente do alojamento conjunto. Também foi realizada a calibração das características dos estados comportamentais e dos comportamentos específicos estudados, com treinamento dos juízes que analisariam os vídeos dos RNs.

Para o procedimento com os 90 recém-nascidos da pesquisa propriamente dita, houve o levantamento dos prontuários e foram registrados os dados de caracterização (idade gestacional ao nascimento e corrigida, peso e avaliação sobre condições gerais do recém-nascido (Apgar) realizada no primeiro e quinto minutos).

Após satisfazerem os critérios de inclusão, os sujeitos apresentaram a seguinte caracterização: média de idade gestacional ao nascimento (IGN - exame físico) de 34,14 semanas (desvio padrão de ±1,8 dia), sendo a IGN mínima 28,00 e a máxima 36,14 semanas; IGC média de 34,91 semanas (desvio padrão de ±1,05 dia), sendo a IGC mínima 30,14 e a IGC máxima 36,14 semanas. Quanto ao peso ao nascer, a média foi 2,110 gramas (desvio padrão de ±0,451 g), sendo o peso mínimo de 1,080 e máximo de 3,345 g.

Os sujeitos foram alocados em dois grupos de substâncias, água e sacarose, administradas mediante procedimento duplo-cego (pesquisador e sujeito não tinham conhecimento do conteúdo).

O teste propriamente dito teve duração de 15 minutos, dividido em três períodos de cinco minutos, que corresponderam a sete momentos sem intervalos entre si. Por meio de uma câmera digital foi monitorado o período de tempo da gravação. O RN era posto no berço de transporte em posição decúbito supino, com a câmera estabilizada por um tripé, a fim de evidenciar a face e os membros superiores durante todo o experimento.

Nos cinco minutos iniciais, que corresponderam à linha de base inicial (LB1), nenhuma estimulação foi aplicada. No segundo momento houve estimulação gustativa (sacarose PA a 12% ou água), administrada por via oral por seringa descartável. Foi ofertada a cada RN 1,0 mL desta solução (fragmentada em cinco doses de 0,2 mL, ministradas em intervalos de um em um minuto, totalizando cinco minutos). O último período, linha de base final (LB2), com cinco minutos, teve novamente a observação do RN sem a presença de qualquer estímulo.

Os comportamentos específicos e estados comportamentais estudados foram mão na boca, direita (MBD) e esquerda (MBE), sucção da mão, direita (SMD) e esquerda (SME), sono profundo (1), sono leve (2), sonolento (3), alerta (4), agitado/irritado (5) e choro (6)( 11 ).

A descrição e a análise dos comportamentos relacionados às respostas diferenciadas a determinados estímulos gustativos (água ou sacarose) foram registrados pela frequência e duração dos eventos por meio do banco de dados do software Statistical Package for Social Science (SPSS, versão 18, 2008, Chicago, Ilinois, EUA), e analisados por três juízes de forma independente, sendo considerado concordância quando no mínimo dois deles registraram o comportamento específico e o estado comportamental exatamente no mesmo instante. Assim, estimaram-se os eventos que coincidiram tanto em relação à frequência quanto ao momento de sua ocorrência.

No tratamento estatístico, a partir dos dados registrados no SPSS( 26 ), foram utilizadas medidas de tendência central (média), variabilidade (desvio-padrão) e prevalências (absoluta e relativa). Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. Devido à ausência de normalidade, usou-se o teste não paramétrico Mann-Whitney para comparação de médias. O teste de correlação de Spearman foi empregado para constatar a correlação entre estados comportamentais e comportamentos específicos em cada momento do procedimento. De acordo com a distribuição das variáveis estudadas, considerou-se correlação fraca os valores entre 0,1 e 0,3; moderada entre 0,4 e 0,6; forte acima de 0,7; e ideal para o valor 1,0, sendo aceito como significativo valor de p<0,05.

RESULTADOS

Foram estudados 90 RNs prematuros, sendo 48,9% do gênero masculino e 51,1% do feminino, com média de peso ao nascer de 2,110 gramas (mínimo: 1,080 g; máximo: 3,345 g). A média de idade gestacional ao nascimento (exame físico) foi de 34,14 semanas (mínimo: 28,00; máximo: 36,14) e a de IGC foi 34,91 semanas (mínimo: 30,14; máximo: 36,14). Quanto aos tipos de estímulos, foram obtidos aleatoriamente, sendo 46 sujeitos estimulados com o grupo água e 44 com o grupo sacarose.

A seguir serão evidenciados os resultados dos comportamentos específicos (MBD, MBE, SMD e SME) em cada estado comportamental, observados nos grupos água e sacarose separadamente, bem como na totalidade (independente do estímulo recebido), quando houve correlações significantes.

No comportamento MBD, registrou-se aumento na correlação de moderada na LB1 para forte na LB2, quando considerados os RNs na totalidade, tal como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 Correlação do comportamento mão direita na boca com ambos os estímulos (água e sacarose) e nos grupos água ou sacarose separadamente 

Estímulo E.C. LB1 Gota 1 Gota 2 Gota 3 Gota 4 Gota 5 LB2
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,622* 0,532* 0,375* 0,376* 0,393* 0,317* 0,790*
3 0,698* 0,449* 0,542* 0,319* 0,419* 0,499* 0,850*
Todos 4 0,618* 0,566* 0,486* 0,488* 0,500* 0,557* 0,778*
5 0,708* 0,323* 0,294* 0,419* 0,399* 0,384* 0,851*
6 0,584* 0,584* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,802*
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,598* 0,721* 0,598* 0,464* 0,382* 0,499* 0,886*
3 0,517* 0,000 0,000 0,000 0,494* 0,000 0,657*
Água 4 0,692* 0,514* 0,365* 0,444* 0,559* 0,492* 0,827*
5 0,740* 0,337* 0,388* 0,546* 0,499* 0,460* 0,904*
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000*
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,638* 0,336* 0,000 0,329* 0,394* 0,000 0,716*
3 0,783* 0,567* 0,675* 0,406* 0,406* 0,605* 0,935*
Sacarose 4 0,567* 0,635* 0,611* 0,533* 0,420* 0,619* 0,737*
5 0,690* 0,.313* 0,000 0,160 0,000 0,271 0,758*
6 0,000 1,000* 1,000* 0,000 0,000 0,000 0,000

*Valor de p<0,05

Legenda: E.C. = estados comportamentais; LB1 = linha de base inicial; LB2 = linha de base final; 1 = sono profundo; 2 = sono leve; 3 = sonolento; 4 = alerta; 5 = agitado/irritado; 6 = choro

Nos estados comportamentais sono leve (2), alerta (4) e agitado/irritado (5), foi verificado aumento na correlação do comportamento MBD de moderado na LB1 para forte na LB2, no grupo sacarose.

No grupo água, somente no estado sonolento (3) não teve correlação forte na LB2 para MBD, o contrário do que ocorreu no grupo sacarose, que já apresentava correlação forte na LB1, persistindo na LB2 no estado sonolento (3).

No comportamento MBE, registrou-se aumento de correlação moderada da LB1 para forte na LB2, independente do estímulo administrado, nos estados sono leve (2) e agitado/irritado (5). No estado choro (6) ocorreu o inverso, indo de correlação forte na LB1 para moderada na LB2, tal como pode ser observado na Tabela 2.

Tabela 2 Correlação para o comportamento mão esquerda na boca com ambos os estímulos (água e sacarose) e nos grupos água ou sacarose separadamente 

Estímulo E.C. LB1 Gota 1 Gota 2 Gota 3 Gota 4 Gota 5 LB2
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,690* 0,341* 0,487* 0,395* 0,528* 0,519* 0,764*
3 0,661* 0,000 0,000 0,230* 0,385* 0,399* 0,661*
Todos 4 0,581* 0,448* 0,530* 0,691* 0,593* 0,540* 0,695*
5 0,694* 0,350* 0,378* 0,403* 0,318* 0,484* 0,802*
6 0,715* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,683*
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,626* 0,349* 0,617* 0,499* 0,510* 0,568* 0,662*
3 0,699* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,664*
Água 4 0,528* 0,437* 0,524* 0,693* 0,570* 0,463* 0,626*
5 0,726* 0,426* 0,449* 0,472* 0,437* 0,633* 0,812*
6 0,590* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,788*
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,752* 0,332* 0,332* 0,264 0,531* 0,464* 0,842*
3 0,627* 0,000 0,000 0,302* 0,514* 0,540* 0,675*
Sacarose 4 1.000 0,525* 0,379* 0,487* 0,516* 0,391* 0,260*
5 0,646* 0,222 0,276 0,276 0,000 0,222 0,782*
6 1,000* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

*Valor de p<0,05

Legenda: E.C. = estados comportamentais; LB1 = linha de base inicial; LB2 = linha de base final; 1 = sono profundo; 2 = sono leve; 3 = sonolento; 4 = alerta; 5 = agitado/irritado; 6 = choro

No grupo água, a correlação forte do comportamento MBE aconteceu no estado agitado/irritado (5) tanto na LB1 quanto na LB2. Ainda neste grupo, observa-se que apenas no estado choro (6) houve correlação moderada na LB1, passando para forte na LB2. Nos estados sono leve (2), sonolento (3) e alerta (4), a correlação manteve-se moderada na LB1 e na LB2.

No grupo sacarose, a correlação forte do comportamento MBE ocorreu apenas no estado sono leve (2) e choro (6) na LB1, e nos estados sono leve (2) e agitado/irritado (5) da LB2. O estado (5) foi o único em que houve correlação moderada na LB1, passando para forte na LB2.

No comportamento SMD, independente do estímulo, observou-se na LB1 correlação forte no estado comportamental sonolento (3) e correlação fraca no estado alerta (4); enquanto na LB2 houve correlação forte nos estados sono leve (2) e agitado/irritado (5) e moderada nos estados (3) e (4). De acordo com a Tabela 3, em geral, observaram-se mais ocorrências de correlação fraca na LB1 do que na LB2. No grupo água, houve correlação fraca para o comportamento SMD na LB1, mas na LB2 foi forte nos estados comportamentais alerta (4) e agitado/irritado (5). E no grupo sacarose já havia correlação forte na LB1 no estado comportamental sonolento (3), mas fraca no estado alerta (4), porém na LB2 houve correlação moderada para ambos os estados.

Tabela 3 Correlação para o comportamento sucção de mão direita em ambos os estímulos (água e sacarose) e nos grupos água ou sacarose separadamente 

Estímulo E.C. LB1 Gota 1 Gota 2 Gota 3 Gota 4 Gota 5 LB2
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,000 0,000 0.703* 0,000 0,000 0,000 0.703*
3 0.747* 0,000 0,000 0.643* 0.783* 0.437* 0.457*
Todos 4 0.294* 0.530* 0.561* 0.386* 0.414* 0.393* 0.695*
5 0,000 0,000 0,000 0,000 0,571* 0,584* 0,812*
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,000 0,000 0,699* 0,000 0,000 0,000 0,000
3 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Água 4 0,365* 0,534* 0,382* 0,535* 0,464* 0,395* 0,783*
5 0,000 0,000 0,000 0,000 0,564* 0.590* 0,807*
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
3 0,716* 0,000 0,000 0,655* 0,793* 0,425* 0,468*
Sacarose 4 0,216* 0,533* 0,649* 0,238 0,379* 0,389* 0,652*
5 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

*Valor de p<0,05

Legenda: E.C. = estados comportamentais; LB1 = linha de base inicial; LB2 = linha de base final; 1 = sono profundo; 2 = sono leve; 3 = sonolento; 4 = alerta; 5 = agitado/irritado; 6 = choro

Na Tabela 4 observa-se que no comportamento de SME ocorreu correlação mais fraca na LB1 do que na LB2. Observou-se ainda correlação forte apenas no estado comportamental agitado/irritado (5) e moderada apenas no alerta (4), na LB1. Entretanto, na LB2 houve correlação forte nos estados sono leve (2) e sonolento (3), persistindo o estado alerta (4) com correlação moderada.

Tabela 4 Correlação para o comportamento sucção de mão esquerda em ambos os estímulos (água e sacarose) e nos grupos água ou sacarose separadamente 

Estímulo E.C. LB1 Gota 1 Gota 2 Gota 3 Gota 3 Gota 5 LB2
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,000 0,000 0,584* 0,584* 0,000 0,584* 0,802*
3 0,000 0,000 0,000 0,000 0,711* 0,711* 1,000*
Todos 4 0,663* 0,344* 0,478* 0,633* 0,736* 0,478* 0,607*
5 1,000* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,000 0,000 1,000* 1,000* 0,000 1,000* 0,000
3 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Água 4 0,535* 0,000 0,659* 0,462* 0,491* 0,493* 0,340*
5 1,000* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
1 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
2 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 1,000*
3 0,000 0,000 0,000 0,000 0,715* 0,715* 1,000*
Sacarose 4 0,741* 0,438* 0,315* 0,752* 0,882* 0,488* 0,759*
5 1.000* 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
6 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

*Valor de p<0,05

Legenda: E.C. = estados comportamentais; LB1 = linha de base inicial; LB2 = linha de base final; 1 = sono profundo; 2 = sono leve; 3 = sonolento; 4 = alerta; 5 = agitado/irritado; 6 = choro

No grupo sacarose, encontrou-se correlação forte nos estados comportamentais alerta (4) e agitado/irritado (5) na LB1, e nos estados sono leve (2), sonolento (3) e agitado/irritado (4) na LB2. No grupo água, na LB1 houve correlação moderada no estado alerta (4) e forte em agitado/irritado (5) e na LB2 houve correlação fraca no estado alerta (4).

DISCUSSÃO

Os comportamentos específicos analisados, relacionados a cada estado comportamental, serão discutidos à luz da investigação da existência de um sistema sensório motor integrado em RNs.

Os trabalhos já realizados sobre a utilização de sacarose com seres humanos( 9 - 11 ) evidenciaram que o RN reage de formas diferentes à estimulação, respondendo de modo positivo a um estímulo que lhe seja apropriado ou apresentando movimentos de repulsa/proteção diante de estímulos considerados nocivos ou invasivos ao seu organismo( 17 ). Entretanto, os dados obtidos neste estudo indicam que não parece existir tanta capacidade de discriminação gustativa nos RNs prematuros quanto à apresentada por RNs termos( 11 , 17 ), visto que nestes o comportamento de levar as mãos à região oral sugeriu maior integração sensório motora na presença do estímulo doce, evidenciando preferência para estímulos considerados prazerosos( 17 ).

Os resultados apontaram que os RNs prematuros apresentaram no comportamento MBD predominância de correlação moderada na LB1 e correlação forte na LB2, independente do estímulo recebido. O mesmo ocorreu quando os grupos foram considerados separadamente (água e sacarose).

A ocorrência dos resultados semelhantes na população de prematuros, em ambos os grupos, faz inferir que apenas o fato dos recém-nascidos terem sido estimulados, independente do tipo de estímulo gustativo, contribuiu para o desencadeamento de respostas motoras( 9 ).

Entretanto, pesquisas realizadas com RNs termos( 11 , 17 ) apresentaram respostas distintas, evidenciando diferença estatisticamente significativa entre os grupos, com maior preferência para o estímulo de sacarose.

Vale ressaltar, porém, que uma enorme variedade de fatores, internos e/ou externos, pode colaborar para o aparecimento de comportamentos específicos( 8 ). Portanto, a estimulação oral, ao favorecer o transporte das mãos à boca possivelmente está evidenciando a expressão precoce de uma ação direcionada a uma meta, existindo nesse comportamento inclusive alguns elementos de intencionalidade( 10 , 17 ). Nos RNs prematuros deste estudo, embora não tenham ocorrido resultados significativos de preferência a determinado estímulo gustativo, foi possível observar aumento das correlações para o sinergismo manual após estimulação oral.

Os dados obtidos da MBE destacaram predominância de correlação forte ou moderada na LB1 e na LB2, isto quando os RNs foram analisados na totalidade ou nos grupos (água e sacarose) separadamente. Entretanto, a estimulação oral não favoreceu o comportamento de MBE tanto quanto o MBD, indicando correlações mais fortes nos comportamentos específicos do lado direito do corpo, independente do tipo de estímulo gustativo recebido.

Os resultados desta pesquisa são condizentes com os achados na literatura(11,17) sobre a influência do estímulo gustativo no controle motor, que evidenciam um sistema sensório motor integrado mais efetivo quando relacionado ao membro superior direito.

Com relação à SMD, a estimulação gustativa possibilitou aumento da correlação em ambos os grupos de estímulos. Entretanto quanto ao comportamento de SME, houve correlação forte em sacarose e moderada na água, no estado de alerta, na LB1 e LB2. Assim, em relação ao lado esquerdo do corpo, vale salientar que os achados corroboram os estudos nos quais a sacarose elicia respostas motoras dos RNs também para o lado esquerdo do corpo, ativando sinergismo entre o sistema manual (membros superiores) e o sensorial (gustativo) nesses RNs prematuros( 10 , 11 , 17 ).

Pesquisas( 10 , 11 ) referem que no nascimento a coordenação mão-boca aparece sendo controlada pela estimulação oral, evidenciando um sistema de alimentação no RN, visto que o comportamento de sugar as mãos está vinculado à coordenação do padrão sucção, deglutição e respiração, que cumpre a função de nutrição no ser humano, logo nos primeiros momentos de vida( 17 ).

É importante considerar que em estudo realizado com RNs termos( 11 , 17 ) houve diferença significante entre os grupos água e sacarose no comportamento SMD, com maior obtenção de respostas significativas no estímulo sacarose, evidenciando sistema sensório motor integrado mais efetivo quando relacionado ao lado direito do corpo, que estaria relacionado à capacidade do RN discriminar e preferir determinado estímulo gustativo. No entanto, nos RNs desta pesquisa não foram levantadas diferenças significativas entre os grupos de estímulos, sendo esse aspecto entendido como possivelmente relacionado à prematuridade.

A partir da população aqui estudada, é possível compreender que existe um sistema sensório motor integrado em RNs prematuros, observado pela incidência de comportamentos específicos mão na boca e sucção das mãos( 11 , 17 , 27 , 28 ) na presença da estimulação oral; porém as capacidades sensoriais do RN para discriminar diferentes paladares, demonstrando preferências a estímulos gustativos, não sucedeu da mesma forma como nos estudos realizados com RNs termos( 11 , 17 ).

Em suma, estímulos gustativos, ao favorecerem a coordenação mão-boca, apontam para a existência de integração sensório motora ainda em idade correspondente ao período fetal, considerando que a média de 34,91 semanas de vida refere aos RNs classificados moderados quanto ao grau de prematuridade, e com média de 2,11 g aos recém-nascidos baixo peso, descritos pela OMS( 2 ). Isto estaria supostamente demonstrado pelas respostas obtidas pelos RNs prematuros, inclusive apontando para a existência de um "sistema de alimentação" evidenciado pelo aumento da correlação do comportamento da mão na região oral quando submetido à estimulação gustativa.

Vale salientar, entretanto, que na população de prematuros com média de IGC de 34,91 semanas não houve evidência de discriminação e/ou preferência gustativa, apontando para a necessidade de serem realizados novos estudos sobre este aspecto, a fim de investigar se o uso do estímulo gustativo pode ser utilizado nas práticas fonoaudiológicas para estimulação na oferta da alimentação.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa evidenciou maior correlação de comportamentos de levar as mãos à região oral e/ou sugá-las após estimulação gustativa, independente do tipo de estímulos administrados (água ou sacarose) em RNs prematuros. A estimulação gustativa, ao influenciar a coordenação mão-boca, explicita a existência de integração precoce dos sistemas sensório e motor em um período correspondente à média da IGC de 34,91 semanas.

Em geral, os RNs prematuros apresentaram correlações mais fortes quando estimulados nos comportamentos específicos do lado direito do corpo, independente do tipo de estímulo gustativo recebido, porém não foram obtidos resultados tão evidentes quanto a discriminação e preferência gustativa, como os encontrados com RNs termos. Tal fato foi discutido levando em conta a idade gestacional.

Deste modo, a presente pesquisa vislumbra a possibilidade da estimulação oral precoce ser empregada como eliciadora de respostas motoras nos RNs prematuros, contribuindo para a integração sensória motora precoce e possível ativação de um sistema de alimentação. Novos estudos possam ser realizados para melhor elucidar a questão da preferência gustativa nesta população.

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