versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385
Einstein (São Paulo) vol.17 no.4 São Paulo 2019 Epub 10-Out-2019
http://dx.doi.org/10.31744/einstein_journal/2019ai4809
A varicela é uma doença viral, comum em idade pediátrica e habitualmente benigna, tendo como principal complicação a sobreinfecção bacteriana da pele.1 A administração de ibuprofeno, apesar de não ser interdita, parece aumentar o risco de complicações cutâneas graves.2 - 5
Apresenta-se o caso de uma criança com 21 meses de idade, sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes, que iniciou quadro de varicela associado a febre alta desde o segundo dia de doença, tendo sido medicada com paracetamol 15mg/kg a cada 8 horas e ibuprofeno 7mg/kg também a cada 8 horas. No sexto dia da doença, por agravamento das lesões cutâneas, e com dor à mobilização e ao toque, recorreu ao serviço de urgência. À observação, destacava-se exantema exuberante por todo o tegumento, incluindo couro cabeludo e mucosas, com lesões em vários estádios de evolução. No tronco e dorso, existiam múltiplas lesões endurecidas, de base ulcerada, circundadas por halo eritematoso − duas delas significativamente dolorosas ao toque ( Figuras 1 e 2 ). Ficou internado, tendo realizado ecografia de partes moles, que não demonstrou atingimento profundo. Cumpriu 14 dias de flucloxacilina, na dose de 150mg/kg/dia, e 10 dias de clindamicina, na dose de 25mg/kg/dia, com melhoria progressiva das queixas álgicas e sinais inflamatórios cutâneos.
Apesar de sua benignidade, as complicações da varicela são frequentes. Estudos têm demonstrado potencial aumento do risco de complicações cutâneas graves em associação ao uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs),2 , 3 sem, no entanto, relação comprovada com fasceíte necrotizante.1 , 6 Pensa-se que a exposição ao ibuprofeno compromete a função leucocitária e promove aumento de produção de citocinas inflamatórias,1 , 2 , 5 criando ambiente propício para crescimento bacteriano. Alguns autores defendem ainda que sua administração, ao mascarar os sintomas, possa levar a um atraso diagnóstico.4 Cabe aos profissionais de saúde providenciar aconselhamento aos pais sobre a utilização de AINEs, muitas vezes administrados sem indicação médica formal. Estes fármacos devem ser evitados durante o período de varicela, até o surgimento de estudos que comprovem sua segurança.7