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Teratoma maduro de rinofaringe

Teratoma maduro de rinofaringe

Autores:

Claudiney Candido Costa,
Valeriana de Castro Guimarães,
Fabiano Santana Moura,
Maryana do Nascimento Chediack,
Edson de Melo Fernandes Júnior

ARTIGO ORIGINAL

Brazilian Journal of Otorhinolaryngology

versão impressa ISSN 1808-8694

Braz. j. otorhinolaryngol. vol.80 no.6 São Paulo set./dez. 2014

http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.05.026

Introdução

Os teratomas são neoplasias derivadas das células germinativas com componentes dos três folhetos embrionários: ectoderma, mesoderma e endoderma. Ocorrem em qualquer faixa etária, sendo mais prevalentes na infância, sem predileção por gênero.1,2 As lesões podem ser benignas (maturo, dermoide e cístico) ou malignas (imaturo e sólido) e afetam qualquer estrutura ao longo da linha média.13 As manifestações clínicas variam significativamente de acordo com a dimensão e a localização da lesão.1

Os exames de imagens são úteis para evidenciar a extensão da lesão e onde ela se encontra, auxiliando na conduta clínica. O diagnóstico e o tratamento precoce com exérese são necessários para um prognóstico favorável.1,4,5

No presente relato, os autores descrevem um caso de teratoma de rinofaringe, enfatizando os aspectos relacionados a diagnóstico e tratamento.

Apresentação do caso

Paciente S.A.R.B., 1 ano e 8 meses de idade, sexo feminino, chegou ao nosso serviço com quadro clínico de obstrução nasal, rinorreia purulenta bilateral e ronco, presentes desde seu nascimento. No momento da consulta, apresentava sinais vitais normais, sem alterações na orofaringoscopia e na otoscopia.

O exame de vídeo nasofibroscopia flexível evidenciou uma massa esbranquiçada, localizada na rinofaringe (fig. 1A), obstruindo totalmente a fossa nasal esquerda e parcialmente à direita.

Figura 1 A, Tumoração obstruindo a rinofaringe à esquerda; B, Tomografia computadorizada demonstrando lesão limitada à rinofaringe; C, Peça cirúrgica. 

A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética (RNM) revelaram lesão obstrutiva em rinofaringe, pouco vascularizada, sem sinais de infiltração ou continuidade com estruturas endocranianas (fig. 1B).

Foram realizadas abordagem cirúrgica por via endoscópica e ressecção da lesão com bisturi elétrico, sem intercorrências. A lesão estava fixada na região do tórus tubário à esquerda e apresentava aspecto macroscópico semelhante a uma língua (fig. 1C). Paciente evoluiu com melhora do quadro clínico no pós-operatório imediato.

O exame histopatológico identificou tecidos adiposo e cartilaginoso maduro, além de estroma fibroconjuntivo, constituído por pele e anexos, formando cisto de inclusão epitelial, compatível com teratoma maduro.

Discussão

A relevância do caso consiste na raridade de sua ocorrência e na importância do diagnóstico diferencial de obstrução nasal na infância, que deve ser avaliada levando-se em consideração a possibilidade de diagnósticos como: atresia de coána, glioma intranasal, encefalocele, rabdomiossarcoma, cisto dermoide, linfangioma, hemangioma e neurofibromatoses, entre outros.1,5

Os exames de imagens são úteis para determinar as diferenças entre tumorações sólidas e císticas, além de evidenciar a localização e a extensão das lesões, auxiliando na conduta clínica e na abordagem cirúrgica. Entretanto, não diferenciam as lesões benignas das malignas.2,3 No caso descrito, a TC e a RNM identificaram massa obstruindo a rinofaringe, sem sinais de infiltração ou continuidade com estruturas cranianas.

O conhecimento prévio das delimitações e dimensões do tumor é um aspecto importante a ser considerado no planejamento cirúrgico.1,2 No caso relatado, a exérese da massa tumoral foi realizada por via endoscópica com dissecção completa da lesão, sem danos às estruturas adjacentes. O exame histológico confirmou o diagnóstico de teratoma maduro, cuja incidência é de 1 para 4.000 nascimentos, sendo extremamente raro na região da cabeça e do pescoço (2% a 5% dos casos).25

Considerações finais

O teratoma deve ser lembrado no diagnóstico diferencial das lesões presentes na região da rinofaringe e da cavidade nasal, principalmente em recém-nascidos. A realização de exame endoscópico e de exames de imagem (TC e RNM) favorece o diagnóstico precoce e possibilita um melhor prognóstico.

REFERÊNCIAS

1. Barksdale EM, Obokhare I. Teratomas in infants and children. Curr Opin Pediatr. 2009;21:344-9.
2. Ibekwe TS, Kokong DD, Ngwu BA, Akinyemi OA, Nwaorgu OG, Akang EE. Nasal septal teratoma in a child. World J Surg Oncol. 2007;31:58.
3. Cukurova I, Gumussoy M, Yaz A, Bayol U, Yigitbasi OG. A benign teratoma presenting as an obstruction of the nasal cavity: a case report. J Med Case Rep. 2012;2:12.
4. Huth ME, Heimgartner S, Schnyder I, Caversaccio MD. Teratoma of the nasal septum in a neonate: an endoscopic approach. J Pediatr Surg. 2008;43:2102-8.
5. Patrocinio LG, Patrocinio TG, Coelho SR, Patrocinio JA. Teratoma benigno de nasofaringe em adulto. Braz J Otorhinolaryngol. 2008;8:74.