versão impressa ISSN 2176-9451versão On-line ISSN 2177-6709
Dental Press J. Orthod. vol.20 no.4 Maringá jul./ago. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/2176-9451.20.4.017-018.edt
Toda decisão acertada é proveniente da experiência. E a experiência é proveniente de decisões não acertadas. Albert Einstein
A extração de terceiros molares é um dos procedimentos mais comuns em cirurgia bucal. Dez milhões de dentes são extraídos de, aproximadamente, cinco milhões de indivíduos, todos os anos nos Estados Unidos1. Os motivos alegados para a remoção de terceiros molares incluem o risco de impacção, de cáries, pericoronite, problemas periodontais na face distal dos segundos molares, cistos odontogênicos e apinhamento. Um estudo prospectivo2 demonstrou que dentistas clínicos gerais recomendaram a extração de terceiros molares em 59% de seus pacientes, principalmente para prevenir problemas potenciais ou porque o posicionamento do terceiro molar era desfavorável ou a sua erupção era improvável. No entanto, a confiabilidade de se prever a erupção de um terceiro molar é baixa, e terceiros molares impactados que permanecem estáticos, sem apresentar alterações de posição ou angulação ao longo do tempo, são raros.
O momento ideal para se optar pela extração ou não dos terceiros molares também é controverso, uma vez que ainda não foi cientificamente comprovado um método para se prever a impacção desses dentes. Assim, prever essa condição biológica, com qualquer grau de confiabilidade, é um desafio. Revisões sistemáticas relatam que não há evidências que sustentem ou refutem a extração profilática de terceiros molares impactados assintomáticos, até mesmo em pacientes adultos3 , 4. Tais revisões sistemáticas contraindicam a remoção profilática de terceiros molares com o objetivo de evitar o apinhamento tardio na região anterior da mandíbula. Todavia, ao se comparar a opinião de ortodontistas e cirurgiões bucomaxilofaciais, fica evidente que os cirurgiões indicam mais do que os ortodontistas a remoção de terceiros molares para prevenir o apinhamento5.
Ao indicar a extração de terceiros molares, o dentista deve apresentar uma justificativa que considere a possibilidade de um plano de tratamento futuro com abordagem ortodôntica, cirúrgica e/ou protética. Além disso, deve-se fazer uma análise de custos/benefícios que justifique a remoção profilática dos terceiros molares, a qual estaria indicada apenas com o objetivo de prevenir casos que envolvam processos patológicos, como reabsorções radiculares, cáries de segundos molares, cistos ou pericoronite.
Ademais, dentistas e pacientes devem considerar que as complicações cirúrgicas provenientes da extração de terceiros molares são comuns. A prevalência de consultas de emergência após esse tipo de cirurgia é de cerca de 10%6 , 7. As razões são: dor intensa, edema e sangramento por hemorragia, osteíte alveolar, abscessos, deiscências, parestesia, hematoma e trismo. Embora dita incomum, há na literatura centenas de relatos de fratura de maxilar após a cirurgia de extração de terceiros molares8. Essas fraturas são mais prevalentes em pacientes com mais de 25 anos de idade. Assim, cirurgiões acreditam que adiar a extração de terceiros molares pode aumentar o risco de fratura dos maxilares.
Em contrapartida, os terceiros molares podem assumir a posição e função de um primeiro ou segundo molar anteriormente extraído. Além disso, como é possível obter células-tronco a partir de terceiros molares humanos sadios9 , 10, esses dentes são uma fonte de fácil acesso, o que proporciona uma variedade de novas possibilidades à medicina regenerativa.
Já para os pacientes ortodônticos, a decisão de se extrair ou não os terceiros molares pode ser adiada até o final do tratamento, com exceção de situações em que a remoção de um terceiro molar seja considerada obrigatória desde o começo do tratamento. O acompanhamento da posição dos terceiros molares durante o tratamento ortodôntico pode contribuir para uma decisão terapêutica mais realista. Se o tratamento ortodôntico for finalizado antes desses dentes atingirem a sua posição final, o paciente deve ser reavaliado regularmente, por meio de exames clínicos e radiográficos. No geral, não fazer nada é a melhor escolha nesses casos.