Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.31 no.3 São Paulo May/June 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800044
Describir el estado del arte de la formación del enfermero en instituciones públicas de enseñanza superior brasileñas en lo atinente al cuidado del anciano.
Investigación documental, descriptiva, de abordaje cualitativo, con datos del Ministerio de Educación de julio de 2017. Fue relevada información de los cursos de grado presenciales en enfermería de las universidades públicas, continuando con tres fases de acceso y recolección de los datos: identificación, selección y elegibilidad. Se realizó análisis descriptivo de caracterización y Análisis Temático Inductivo cualitativo, utilizando la Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ). Proyecto respetando normativas éticas vigentes, Resolución 510/2016 del Consejo Nacional de Salud.
Las 87 universidades seleccionadas ofrecían 154 cursos de grado en enfermería, mayoritariamente en Región Noreste. Del total de cursos, 69 (44,8%) presentaban disciplinas mixtas (abordando cuidado del anciano) y 53 (34,4%) específicas de salud del anciano. En los contenidos de los sumarios, los términos más utilizados en la construcción de la nube de palabras fueron: salud (162), anciano (154), enfermería (113), adulto (81), asistencia (72), proceso (69) y atención (52). El análisis de similitud verificó tres ejes organizadores principales de las disciplinas orientadas a dicha temática: salud, enfermedad y anciano.
La enseñanza de enfermería debe alinearse a las políticas públicas vigentes y ser coherente con el modelo de atención de salud propuesto. Consecuentemente, es fundamental que la formación ofrecida se condiga con las actuales demandas del mercado laboral.
Palabras-clave: Anciano; Enfermería geriátrica; Educación en enfermería; Enseñanza; Instituciones de enseñanza superior
O aumento da expectativa de vida mundial somado à acentuada queda nas taxas de fertilidade tem influenciado diretamente o envelhecimento populacional.(1,2) Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),(3) em breve, no ano de 2020, teremos aproximadamente 200 milhões de idosos e, em 2050, cerca de 310 milhões.
Considerando a transição demográfica com foco no processo de envelhecimento, diversos ajustes são necessários para que esta população tenha as suas necessidades atendidas em uma perspectiva que também favoreça a sua autonomia e cidadania. Esta responsabilidade inclui a garantia dos direitos humanos fundamentais, tais como: segurança, educação, trabalho e saúde.(4,5)
Com relação à saúde, o processo para garantir este direito é complexo e abrangente. Os princípios e as diretrizes que fundamentam a construção de um modelo de atenção devem assegurar o atendimento das demandas coletivas e individuais desde o acesso, durante o processo e até o desfecho, com vistas a prevenir doenças, recuperar e promover saúde. (6) Dessa forma, essas ações contribuirão para a preservação da autonomia e manutenção da capacidade funcional do idoso.(7)
Nesse contexto, a enfermagem assume o protagonismo na organização dos serviços de saúde, tanto por sua representatividade quantitativa quanto pelas funções a ela atribuídas em seu cotidiano, uma vez que, além de participar ativamente do processo de cuidar, também tem-lhe sido designada a função de gerenciar processos e serviços.(8)
Diante do exposto, questiona-se: como o enfermeiro tem sido preparado pelas Instituições Públicas de Ensino Superior para cuidar do idoso? A formação está alinhada com as demandas específicas da transição demográfica brasileira? Essas instituições têm considerado o perfil epidemiológico regional e global dos idosos na formação do enfermeiro?
A Instituição Pública de Ensino Superior tem papel fundamental na formação do perfil do enfermeiro, uma vez que no ambiente acadêmico ele tem a oportunidade de desenvolver e aperfeiçoar suas competências, habilidades e atitudes para o exercício profissional. Este perfil é decisivo para que o enfermeiro atue tanto em situações que envolvam questões globais da atenção à saúde quanto em outras específicas do idoso diante da acentuada transição epidemiológica, característica da sociedade brasileira.(9)
Nesse sentido, no artigo 5º da Resolução n.º 3 do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior, de 7 de novembro de 2001, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem estabelecem a necessidade de formar enfermeiros dotados de conhecimentos e habilidades específicas para “atuar profissionalmente, compreendendo a natureza humana em suas dimensões, em suas expressões e fases evolutivas”.(9)
A formação do enfermeiro também deve estar alinhada à Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa que, nas suas diretrizes, valoriza a qualificação permanente na área da saúde da pessoa idosa, de modo a incentivar o desenvolvimento de pesquisas e ensino sobre o processo do envelhecimento.(7) A Política Nacional do Idoso, além de reiterar esses aspectos, acrescenta a necessidade da inclusão da Gerontologia e Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos superiores em todas as áreas da saúde.(10)
Mesmo com os avanços nas políticas públicas voltadas para ao idoso, ainda há muitos desafios na formação acadêmica na área da Enfermagem Gerontológica e Geriátrica. Ao identificar o tema na literatura nacional e internacional, verifica-se ainda que há uma discreta produção acadêmica nesta área, o que justifica a presente pesquisa diante das mudanças demográficas no mundo e no Brasil. É imprescindível que os cursos de graduação em saúde, com destaque para a Enfermagem, insiram conteúdos relacionados à Gerontologia e Geriatria, seguindo a perspectiva do aumento da população idosa, de maior expectativa de vida, demanda nos serviços de saúde e em conformidade com as políticas voltadas a essa população. Nessa direção, o presente estudo tem como questão norteadora: Qual é o panorama brasileiro de ensino de enfermagem no cuidado ao idoso em Instituições Públicas de Ensino Superior?
Para responder a tal questionamento, definiu-se o seguinte objetivo: Descrever o estado da arte da formação do enfermeiro em instituições públicas brasileiras de ensino superior no que se refere ao cuidado ao idoso
Trata-se de uma pesquisa documental, descritiva, de abordagem qualitativa. Os dados foram coletados na plataforma do Ministério da Educação em julho de 2017.
A amostra foi composta pelos cursos graduação em enfermagem ativos e na modalidade presencial, na área das Ciências da Saúde, das Instituições Públicas de Ensino Superior do Brasil. Foram incluídos os cursos de Bacharelado e Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem.
A coleta de dados contemplou as fases de identificação, seleção e elegibilidade. Na primeira, foram identificadas as Instituições Públicas de Ensino Superior que ofertavam o referido curso, mediante acesso ao portal de instituições e cursos de educação superior do Ministério da Educação (e-MEC).(11) O acesso às páginas oficiais das Instituições Públicas de Ensino Superior permitiu realizar a segunda fase e selecionar os cursos elegíveis para este estudo. Na terceira fase, por meio do acesso on-line aos cursos de enfermagem, foram identificados os componentes curriculares voltados para o cuidado ao idoso e selecionados aqueles que traziam, em suas ementas, elementos relacionados a essa temática, como cuidado gerontológico, geriatria, gerontologia e assistência/cuidado de enfermagem ao idoso.
Para a organização dos dados, criou-se uma matriz de análise utilizando o software Excel com as seguintes informações: “Estado”; “Instituições Públicas de Ensino Superior”; “Cursos”; “Tipo de Currículo”, “Em atividade”, “Disponibilidade de dados on-line”, “Disciplina mista”, “Disciplina específica sobre o cuidado ao idoso” e “Ementa da disciplina”.
Os dados numéricos foram dispostos em tabelas, de acordo com frequência simples e relativa, e agrupados por região. Quanto aos dados qualitativos, foram analisados pela técnica de Análise Temática Indutiva(12) mediante auxílio do software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires) 0.6 alpha 3, versão brasileira, que desenvolve análises estatísticas sobre segmentos de textos, quadros de indivíduos e palavras.(13,14)
Para a construção das figuras, empregou-se a análise de similitude, a qual se baseia na teoria dos grafos, um modelo matemático ideal, capaz de identificar coocorrências entre as palavras e o seu resultado. Este modelo apresenta as indicações de conexidade entre as palavras, auxiliando na identificação da estrutura de um corpus textual e apontando partes comuns e especificidades em função das variáveis descritivas identificadas na análise. Nesta fase, utilizou-se também a nuvem de palavras, uma análise lexical mais simples que as agrupa e organiza graficamente conforme a frequência com que são empregadas.(14) Em ambas as análises, optou-se por uma frequência maior e igual a cinco, por gerar figuras mais compreensíveis.
Como este estudo utilizou informações de acesso público e gratuito disponíveis no portal do Ministério da Educação, não houve necessidade de tramitação no Comitê de Ética em Pesquisa, no Sistema Comitê de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, conforme a Resolução CNS nº 510/2016.
Foram identificadas no sistema e-MEC, em 2017, 87 instituições públicas de ensino superior que disponibilizavam 154 cursos ativos de graduação em enfermagem distribuídos da seguinte forma: 144 (93,5 %) de Bacharelado e 10 (6,5 %) de Bacharelado e Licenciatura. Os cursos eram ofertados predominantemente nas Regiões Nordeste e Sudeste. Menor número de instituições foi encontrado no Centro-Oeste e Norte (Tabela 1).
Tabela 1 Distribuição dos cursos de enfermagem e das disciplinas relacionadas ao cuidado ao idoso. Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, Brasil
Variáveis | Norte n(%) | Nordeste n(%) | Centro-oeste n(%) | Sudeste n(%) | Sul n(%) | Total n(%) |
---|---|---|---|---|---|---|
Cursos de Enfermagem | 18(11,7) | 62(40,3) | 20(13,0) | 33(21,4) | 21(13,6) | 154(100,0) |
Disciplinas que abordam o cuidado ao Idoso | 4(5,0) | 22(27,2) | 9(11,1) | 33(40,7) | 13(16,0) | 81(100,0) |
Disciplina específica de Saúde do Idoso | 6(11,3) | 23(43,4) | 5(9,4) | 14(25,5) | 5(9,4) | 53(100,0) |
Do total de cursos, 90 (58,4%) 69 (44,8%) disciplinas foram consideradas mistas (que abordam o cuidado ao idoso) e 53 (34,4%) disciplinas específicas de saúde do idoso (Tabela 1).
Sobre o conteúdo das ementas analisados, verificou-se que os termos mais citados e, portanto, mais utilizados na construção da nuvem de palavras foram: saúde (162), idoso (154), enfermagem (113), adulto (81), assistência (72), processo (69) e atenção (52). A seguir, na figura 1, também pode ser observado predomínio de palavras como cuidado (50), envelhecimento (45), doença (40), cirúrgico (40), aspecto (37), prático (31) e político (33).
Figura 1 Nuvem construída com palavras extraídas das ementas das disciplinas que abordam o cuidado ao idoso e também daquelas específicas de saúde do idoso
A análise de similitude permitiu visualizar a relação entre as palavras. Nesta etapa, de um total de 259 palavras analisadas, optou-se por selecionar aquelas com frequência maior ou igual a cinco: 147. Com essa análise, foi possível observar de que forma as ementas relacionaram as diversas palavras para descrever conteúdos voltados para o cuidado ao idoso.
A a figura 2 permite identificar a estrutura, o núcleo central e o sistema periférico dos conteúdos das ementas analisadas. Nela, verificam-se também os três principais eixos organizadores das disciplinas voltadas ao cuidado ao idoso: saúde, enfermagem e idoso.
O aumento da oferta de cursos de enfermagem em diversas regiões brasileiras resulta de incentivos e programas do governo federal. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUni, por exemplo, favoreceu a aprovação de novas universidades e a ampliação das existentes mediante inauguração de campus fora de sedes e oferta de novos cursos.(15,16)
Esse crescimento teve como uma de suas diretrizes a proposta de interiorização das instituições de ensino, de modo que regiões com baixa oferta de vagas fossem contempladas com novos cursos capazes de amenizar, sobretudo, carências sociais e do mercado de trabalho. Dessa forma, novas universidades, campus e cursos passaram a fazer parte de uma governança estratégica de cunho político, social e econômico.(16)
Tal tendência no aumento de vagas nos cursos de graduação em enfermagem tem sido identificada inclusive em outros países, mediante a implementação de políticas de desenvolvimento na área da educação. Além do aspecto quantitativo, a dimensão qualitativa do ensino em enfermagem também tem sido modificada para se adequar tanto aos avanços tecnológicos na área da saúde quanto às mudanças no perfil epidemiológico populacional decorrentes do processo de globalização.(17,18)
Todo este movimento tem o apoio da Organização Mundial da Saúde, que busca estratégias globais para a valorização da enfermagem, além de propor diretrizes locais para a América Latina e o Caribe com o intuito de aprimorar os programas de estudo nos cursos de formação em enfermagem e qualificar a mão de obra profissional.(19,20)
A seguir, a tabela 1 apresenta a distribuição dos cursos de enfermagem em universidades públicas em cada região brasileira após as políticas expansionistas. Esse processo proporcionou equilíbrio na oferta dos cursos pelo país, exceto no Nordeste, que ainda apresenta elevado número de cursos na comparação com as demais regiões. Entretanto, se consideradas também as instituições privadas, o aumento de vagas em cursos de enfermagem apresenta relação direta com o grau de desenvolvimento econômico e social da região em que está inserida.(21)
Este notável equilíbrio na distribuição de vagas públicas para o curso de enfermagem foi possível, pois, paralelamente ao processo de expansão e interiorização do ensino superior, houve maior investimento de recursos para garantir o acesso e a permanência do aluno ao longo do curso. Assim, além da criação de mecanismos para acesso de alunos de baixa renda na universidade pública, também foi oportunizado auxílio para que concluíssem o curso. Considera-se que os recursos destinados ao Programa Nacional de Assistência Estudantil atenderam a este propósito na medida em que garantiram moradia estudantil, alimentação, transporte, saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico.(22,23)
Com relação às disciplinas, a de atenção à saúde do idoso esteve presente em todos os cursos de enfermagem analisados, seja por uma descrição em tópicos, quando se tratava de um currículo integrado, ou associada com outra área, como a saúde do adulto, ou de forma específica, como saúde do idoso. Tais achados apontam para um período de transição, evidenciado também por meio de mudanças nas metodologias de ensino, adoção de metodologias ativas ou alterações na abordagem do tema. Tais mudanças constituem um indicativo da necessidade de um olhar atento e abrangente às especificidades do processo de envelhecimento e de seu consequente cuidado.(24,25)
Metodologias ativas, como jogos de simulação do envelhecimento, são capazes de favorecer empatia e boas atitudes dos estudantes de enfermagem em relação aos idosos e, portanto, podem ser imprescindíveis no preparo do aluno para o primeiro contato com a enfermagem gerontológica e, mais futuramente, em prol da qualidade do atendimento prestado.(26)
Além da simulação, o programa “Aprendizado facilitado para o avanço da geriatria” (Facilitated Learning to Advance Geriatrics - FLAG) objetiva ampliar o conhecimento geriátrico entre enfermeiros docentes para que possam ensinar aos alunos as especificidades de cada fase do envelhecimento. Após tal programa ter sido implementado, verificou-se que o conteúdo geriátrico deixou de ser limitado ou ausente no currículo, e isso motivou o aprendizado sobre o processo de senescência e senilidade e os processos que permeiam essa trajetória.(27)
A frequência com que determinadas palavras foram utilizadas nas ementas das disciplinas indica preocupação e zelo para que o idoso seja, de fato, objeto do cuidado, e sua saúde, uma consequência do cuidar, tendo a enfermagem como protagonista deste processo. Assim, os núcleos de sentido identificados com maior frequência permitem não só estabelecer uma diretriz para a composição de disciplinas voltadas ao processo de envelhecimento como inferir valores que serão incorporados à identidade profissional dos acadêmicos em Enfermagem. Este achado corrobora com as orientações das diretrizes curriculares para os cursos de graduação em enfermagem ao estabelecer o idoso como um pilar na formação do enfermeiro.(9)
A palavra “adulto” também emergiu em destaque, talvez porque, historicamente nos cursos de enfermagem, o tema de saúde do idoso muitas vezes tenha sido abordado na disciplina Saúde do Adulto. Dessa forma, elas se apresentam com uma frequência bem próxima.
As outras palavras citadas com maior frequência expressam a abrangência das disciplinas e a contextualização dos diversos ambientes em que a assistência ao idoso acontece. Assim, esse cuidado tem sido discutido desde a atenção primária até os espaços institucionalizados. Também foi identificado o protagonismo desse assistir, que inclui o autocuidado, os cuidadores familiares ou não familiares e as abordagens multiprofissionais.(25)
A nuvem de palavras também revelou que estavam incluídos no processo ensino-aprendizagem assuntos específicos da enfermagem, como a elaboração de protocolos de cuidados, sistematização, organização dos serviços de saúde e formulação das políticas públicas voltadas ao idoso. A representatividade identificada na nuvem sugere uma construção proativa do conhecimento produzido nos cursos de graduação de enfermagem em instituições públicas no Brasil, com indicativos de fortalecimento da atuação específica do enfermeiro, mas, também, a possibilidade de ações transdisciplinares, além da formação da consciência política.(21)
Nesse sentido, a árvore máxima confirma tal possibilidade, uma vez que, pela análise de similitude, nota-se uma classificação hierárquica que situa no maior nível o idoso, a saúde e a enfermagem. Nela, esses três elementos com maior representatividade também estabelecem uma correlação entre si, formando a estrutura central da árvore. Tal percepção confirma-se ao identificar-se na árvore máxima de similitude, através do índice de contingência baseado no número de co-ocorrências observadas,(28) pode ser constatado que o elemento saúde, idoso e enfermagem, por seu valor simbólico, constitui-se cada elemento como o centro de uma formação estrelar, possibilitando uma compreensão das relações entre os diversos elementos e, em consequência, os conjuntos que dão os sentidos na formulação das ementas das disciplinas.
Fundamentadas nesses três elementos básicos das ementas, as discussões sobre os dados encontrados contribuem para correlacionar o ensino com a prática do enfermeiro. O processo ensino-aprendizagem sugere uma estrutura para a composição do processo de trabalho no cuidado ao idoso na qual a enfermagem atua como agente do cuidado, a saúde caracteriza-se como a finalidade e o idoso estabelece-se como o objeto do cuidado. Esta relação entre o ensino e o trabalho, de forma objetiva ou subjetiva, torna-se importante na formação acadêmica, pois contribui sobremaneira para a construção de uma identidade profissional adequada, além de assegurar o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais aos futuros profissionais.(29)
Investigação realizada na Arábia Saudita confirmou a importância dos programas de estudos na formação de atitudes e conhecimentos fundamentais para a prática da enfermagem, mas os autores acrescentaram a necessidade de estimular nos estudantes o desejo de cuidar e se dedicar à pessoa idosa, de modo que sejam exemplos a serem seguidos. Assim, além da inserção de conteúdos curriculares a respeito do tema, a dedicação e o entusiasmo do corpo docente são essenciais para a formação da enfermagem gerontológica.(30)
Todavia, observou-se neste estudo que tópicos como disciplinas exclusivas de geriatria e gerontologia, metodologias ativas, conteúdos norteados pelas políticas de atenção ao idoso e alinhados ao modelo de atenção vigente estão presentes apenas de forma esporádica e aleatória em diferentes núcleos de ensino. Fica evidente, portanto, a necessidade de uma diretriz curricular para os cursos de enfermagem que estabeleça uma articulação sólida entre a formação acadêmica e as políticas que direcionam a assistência ao idoso.
A operacionalização deste estudo encontrou barreiras que, no decorrer da análise, apresentaram-se como limitadores, por exemplo a abrangência limitada à análise de dados disponibilizados on-line, tendo em vista que alguns cursos de graduação em enfermagem não informaram seus respectivos projetos pedagógicos nos sites das universidades. Outro fator limitador foi a não padronização dos dados encontrados, o que conduziu os pesquisadores a uma busca minuciosa por informações em links adicionais das Instituições Públicas de Ensino Superior, como Pró-Reitora de Graduação, Pró-Reitoria de Ensino, Resoluções de Conselhos Universitários, entre outros.
Ao considerar que o envelhecimento se contextualiza em um movimento de transição demográfica e epidemiológica, o ensino da gerontologia e geriatria nos cursos de graduação em enfermagem torna-se um grande desafio para coordenadores e docentes. Neste estudo, tal ensino foi identificado em modelos associados a metodologias ativas em currículos integrados, como também em modelos tradicionais, sem um espaço exclusivo de aprendizagem, caracterizando-se como tópicos em disciplinas mistas. Apesar da abrangência de conteúdos teóricos importantes, ainda urge maior aprofundamento sobre as intervenções de enfermagem, bem como faz-se necessário disponibilizar atividades práticas relacionadas ao cuidado direto ao idoso. Os cursos de enfermagem, nas diferentes regiões do Brasil, apresentam perfis distintos de ensino. Ainda que essas diferenças não reflitam características demográficas e epidemiológicas regionais, elas demonstram diferenças nas metodologias de aprendizagem e na complexidade com que o tema é tratado.