versão impressa ISSN 2595-0118versão On-line ISSN 2595-3192
BrJP vol.1 no.1 São Paulo jan./mar. 2018
http://dx.doi.org/10.5935/2595-0118.20180018
A siringomielia é uma doença crônica degenerativa e progressiva idiopática da medula espinhal, sendo caracterizada por uma cavitação centromedular. A doença tem uma média de acometimento entre duas e 13 pessoas a cada 100.000 habitantes, dependendo do país e também do gênero homem e mulher (2:1)1,2.
O diagnóstico da siringomielia mais comumente é por meio da ressonância nuclear magnética e nos resultados do exame de imagem podem ser encontradas cavidades localizadas ou extensas. As localizadas são cavidades que afetam o espaço de até três vértebras e as extensas são cavidades que afetam o espaço maior que quatro vértebras1,2.
Destacam-se os sintomas comuns em alterações neurológicas como perda de sensibilidade, fraqueza e paralisia de membros, dores neuropáticas e dores musculares generalizadas, podendo evoluir para perda de massa muscular e para um quadro de deficiência física3.
A fisioterapia tem papel importante no tratamento da dor, possuindo técnicas e manuseios que promovem a ação inibitória da dor em níveis periféricos e centrais. Essas técnicas promovem inibição competitiva, remoção dos componentes irritantes mecânicos e químicos, liberação de opioides endógenos, reorganização cortical e homeostase do sistema simpático e parassimpático3.
Em indivíduos acometidos neurologicamente, a fisioterapia atua na melhora da qualidade de vida e funcionalidade. A orientação clínica para os fisioterapeutas é de executar a prática com bom embasamento teórico, visando aumentar as estratégias de movimento e criar um ambiente para o paciente atingir o maior nível de independência funcional possível4.
O objetivo deste estudo foi analisar a eficácia do tratamento fisioterapêutico para os sintomas da doença.
Paciente do sexo feminino, 32 anos de idade, ex-atleta de voleibol, com histórico de dor em região lombar e cervical diagnosticada com siringomielia na mesma época. Curiosamente, os sintomas comuns conhecidos (parestesia em membros, dissociação da sensibilidade e atrofia muscular) decorrentes da doença não se apresentaram. Após tentativas de tratamento com terapias complementares e fármacos, os sintomas persistiram, e a paciente iniciou a fisioterapia. Os exames de ressonância nuclear magnética (Figura 1) entre o início do diagnóstico e a data de início da fisioterapia mostraram que a siringomielia não evoluiu e o espaço em forma de cisto idiopático se manteve estável.
A dor foi referida pela paciente como oito em 10 na escala analógica visual (EAV), difusa em regiões lombar e cervical, causando limitação de movimento, limitação de funcionalidade no dia a dia e também nas funções esportivas. O questionário Roland-Morris para avaliação da incapacidade física foi aplicado, tendo como escore inicial 16 em 24, sugerindo incapacidade física moderada a intensa5.
O diagnóstico diferencial fisioterapêutico durante a avaliação, incluiu tensão muscular exacerbada nos músculos quadrado lombar bilateral, paravertebrais em região toracolombar e cervicotorácica, assimetria da ativação muscular entre glúteos e oblíquos, e hipomobilidades vertebrais específicas para flexão em L3-L4, rotação à direita em T12-L1 e em C2-C3.
Sem alterações ósseas a partir dos exames apresentados, o tratamento fisioterapêutico foi iniciado com agulhamento seco (AS) para inibição da tensão nos ventres musculares de quadrado lombar, bilateral, e paravertebrais e também AS intratissular visando a liberação de opioides endógenos de forma sistêmica com intuito de analgesia.
Após a liberação muscular foi realizada a manipulação quiroprática nas vertebras L3-L4, T12-L1 e C2-C3 que apresentavam hipomobilidade e restrição do movimento, restaurando assim a mobilidade e movimento completos.
Na terceira sessão, a paciente que já não apresentava dores e iniciou o fortalecimento muscular específico preventivo com estabilização da coluna cervical e lombar, fortalecimento de oblíquos e glúteos e exercícios para propriocepção corporal.
Na sexta e última sessão, a paciente foi novamente submetida à EAV e ao Questionário Roland-Morris, sendo seus resultados o escore zero em 10 e zero em 24, respectivamente, sugerindo a ausência de dor e incapacidade física5. Então, foi liberada para retornar as atividades de musculação, corrida e voleibol com acompanhamento profissional.
As tensões musculares associadas à pontos-gatilho (PG) causam dor, pseudo fraqueza muscular e limitação de movimento6. As tensões e dores apresentadas pela paciente, possivelmente causadas pela siringomielia, se tornaram um quadro crônico semelhante à síndrome dolorosa miofascial. A técnica de AS é relativamente nova e tem sido usada nos casos de dores miofasciais, com eficácia comprovada na literatura. Na técnica, a agulha é introduzida diretamente no ponto de tensão previamente avaliado e instantaneamente causa uma recuperação devido à ruptura mecânica das fibras musculares desorganizadas, liberação de opioides endógenos e normalização do ambiente químico local7.
O corpo realiza alterações biomecânicas para a própria proteção e elas levam ao quadro de hipomobilidade vertebral, caracterizado como um padrão patológico. A hipomobilidade, como diz o nome, é a falta de movimentação ou bloqueio para uma ou mais direções e causa diversas compensações biomecânicas que levam a quadros álgicos. Existem algumas técnicas que promovem o retorno da mobilidade vertebral, no caso, foi utilizada a quiropraxia que utiliza a manipulação articular de baixa amplitude e alta velocidade, promovendo a homeostase do movimento e retorno integral da função articular8.
Uma das maiores preocupações do fisioterapeuta é a prevenção, visando evitar a recidiva da lesão ou dos sintomas. Exercícios de estabilização, fortalecimento e propriocepção são amplamente utilizados com esse objetivo já que melhoram o alinhamento da coluna vertebral, dor nas costas e reduzem o risco de influências posturais externas9.
A fisioterapia demonstrou ser uma intervenção de boa resolução em uma paciente com siringomielia que apresentava sintomas relacionados à síndrome dolorosa miofascial.