versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.111 no.6 São Paulo dez. 2018 Epub 21-Set-2018
https://doi.org/10.5935/abc.20180169
A educação é parte essencial do atendimento dos pacientes cardiovasculares, visando ao autocuidado, para reduzir os fatores de risco. Assim, uma ferramenta curta e confiável para avaliar o conhecimento dos pacientes no Brasil é necessária.
Traduzir, adaptar culturalmente e validar psicometricamente a versão em português do Coronary Artery Disease Education Questionnaire Short Version (CADE-Q SV).
CADE-Q SV português foi revisado por cinco especialistas em doenças cardiovasculares bilíngues e testado em 21 pacientes, avaliando clareza dos itens por uma escala tipo Likert variando de 1 = não clara a 10 = muito clara. Foi testada psicometricamente em 200 pacientes cardiovasculares (41% mulheres; média de idade = 58,4 ± 11,6 anos). Consistência interna foi avaliada usando o Kuder-Richardson-20 (KR-20) e o alfa de Cronbach; teste-reteste de confiabilidade por meio do coeficiente de correlação intraclasse (ICC); estrutura de fatores usando análise fatorial; e validade de construto em relação ao nível educacional, renda familiar e tempo de diagnóstico.
Todas as perguntas foram consideradas claras pelos pacientes (faixa de clareza: 7,8-9,6). O KR-20 foi de 0,70. Todos os valores ICC foram > 0,70. A análise dos fatores revelou 6 fatores, todos consistentes. A validade do construto foi sustentada por diferenças significativas nas pontuações totais por nível educacional e renda familiar (p < 0,001). A média geral foi de 13,08 ± 2,61. A área com maior conhecimento foi fatores de risco e menor risco psicossocial.
O CADE-SV português demonstrou ter boa validade e confiabilidade; podendo ser aplicado em contextos clínicos e de pesquisa, avaliando o conhecimento dos pacientes com doença cardiovascular.
Palavras-chave: Doenças Cardiovasculares; Doença da Artéria Coronariana; Inquéritos e Questionários; Educação de Paciente como Assunto; Conhecimento; Escolaridade
Patient education is an essential part of cardiovascular patients' care targeting self-management behavior to reduce risk factors and subsequent events. Herein, a short and reliable tool to assess patients' knowledge in Brazil is warranted.
To translate, culturally-adapt and psychometrically validate the Portuguese version of the Coronary Artery Disease Education Questionnaire Short Version (CADE-Q SV).
The Portuguese CADE-Q SV - translated and culturally-adapted - was reviewed by five bilingual experts in cardiovascular disease. This version was then pre-tested in 21 patients, and clarity of items was checked using a Likert-type scale ranging from 1 = not clear to 10 = very clear. It was then psychometrically tested in 200 cardiovascular patients (41%women; mean age = 58.4 ± 11.6 years old). The internal consistency was assessed using Kuder-Richardson-20 (KR-20) and Cronbach's alpha, test-retest reliability through intraclass correlation coefficient (ICC), factor structure using confirmatory factor analysis, and construct validity regarding educational level, family income, and time of diagnosis.
All questions were considered clear by patients (clarity range:7.8-9.6). KR-20 was 0.70. All ICC values were > 0.70. Factor analysis revealed 6 factors, all internally consistent. Construct validity was supported by significant differences in total scores by educational level and family income (p < 0.001). The overall mean was 13.08 ± 2.61. The area with the highest knowledge was risk factors and the lowest was psychosocial risk.
The Portuguese CADE-SV was demonstrated to have good validity and reliability. This tool can be applicable in clinical and research settings, assessing cardiovascular patients' knowledge as part of an education programming.
Keywords: Cardiovascular Diseases; Coronary Artery Disease; Surveys and Questionnaires; Patient Education as Topic; Knowledge; Educational Status
As doenças cardiovasculares (DCV) estão entre as principais cargas de doenças e incapacidades em todo o mundo,1particularmente em países de baixa e média renda (PBMR), como o Brasil.2 A reabilitação cardíaca (RC) é um modelo de cuidado ambulatorial de prevenção secundária projetado para atenuar essa carga.3 Na verdade, a participação na RC demonstrou reduzir a morbidade e a mortalidade em 20%, de uma maneira custo-efetiva.4-7 O melhor controle dos fatores de risco, bem-estar psicossocial e comportamentos de saúde também são mostrados em PBMR com participação em RC.8 No entanto, há incrivelmente poucos estudos nesse cenário que mostrem o sucesso de longo prazo da RC, que depende em parte da capacidade do paciente de manter comportamentos de saúde, como a participação em atividades físicas regulares após o término do programa.9,10
A educação do paciente é uma parte essencial da reabilitação de pacientes com DAC direcionados para o comportamento de autogerenciamento para reduzir fatores de risco e eventos cardíacos subsequentes.11 A American Cardiovascular Society e a Canadian Cardiovascular Society incluem a educação do paciente como um indicador de qualidade da RC12,13 e esse componente também é recomendado no fornecimento de RC em PBMR.14 Na verdade, as metanálises de educação para pacientes cardiovasculares sugerem que isso está associado a melhora dos comportamentos de autogestão,9-11,15 qualidade de vida relacionada à saúde,16 reduções nos custos de saúde,16e recorrência de eventos agudos.15
Nesse contexto, o Questionário de Educação para Doença Arterial Coronariana (CADE-Q) foi previamente desenvolvido e validado psicometricamente como uma ferramenta válida e confiável para informar os profissionais de saúde brasileiros sobre o conhecimento de seus pacientes cardiovasculares acerca da doença.17 Mais tarde, foi validado para a língua inglesa.18 Ele também tem sido usado em vários estudos, incluindo ensaios controlados randomizados.19 Embora ambas as versões tenham demonstrado boa confiabilidade e validade, o CADE-Q apresentou falta de avaliação detalhada de todos os componentes centrais da reabilitação cardíaca, como nutrição e risco psicossocial. Portanto, uma segunda versão (CADE-Q II) foi desenvolvida e validada em inglês.20 No entanto, ambas as ferramentas demoram cerca de 20 minutos para serem completadas, havendo a necessidade de um instrumento curto e rápido para avaliar mais facilmente o conhecimento dos pacientes de RC na prática clínica. Esta ferramenta foi validada em inglês e é denominada CADE-Q SV.21 O objetivo deste estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar psicometricamente uma versão do CADE-Q SV em português do Brasil.
O desenho deste estudo consistiu em uma série de estudos observacionais transversais. Os dados foram coletados entre setembro de 2017 e fevereiro de 2018.
Primeiro, a tradução e adaptação cultural foram realizadas. Este processo seguiu normas rigorosas aprovadas pelo autor e coautores e baseou-se no protocolo proposto por Guillemin et al.,22 (1) tradução inicial, (2) retrotradução, (3) revisão pelo comitê dessas traduções e retrotraduções, e (4) pré-teste de equivalência usando indivíduos bilíngues. A tradução inicial foi realizada por um tradutor independente, ciente dos objetivos e conceitos subjacentes ao estudo e buscou detectar ambiguidades e significados inesperados nos itens originais. A retrotradução foi realizada por um segundo tradutor, cegado para os objetivos iniciais do estudo e para a versão original. Todas as versões foram revisadas por um comitê de três especialistas bilíngues. Essa versão foi pré-testada em 20 pacientes e a clareza dos itens foi verificada. Para avaliar a clareza, solicitou-se aos pacientes que classificassem cada item em uma escala do tipo Likert que varia de 1 (não claro) a 10 (muito claro). Os resultados foram utilizados para refinar a versão em português do CADE-Q SV.
Em segundo lugar, foi realizada uma validação psicométrica. A ferramenta refinada foi administrada a uma amostra maior dos atuais pacientes ambulatoriais cardiovasculares de um hospital público de Belo Horizonte, Minas Gerais. O instrumento foi aplicado por meio de autoadministração monitorada (ou seja, os pesquisadores mantiveram uma postura neutra durante a administração, respondendo a perguntas sobre a pesquisa e incentivando os participantes a responder a todas as perguntas). O questionário foi readministrado um mês após a primeira aplicação em 21 participantes selecionados aleatoriamente para avaliar a confiabilidade do teste-reteste. Os dados foram coletados entre junho e novembro de 2017.
Para a validação psicométrica, uma amostra de conveniência de 200 pacientes ambulatoriais cardiovasculares foi recrutada. O cálculo do tamanho da amostra para essa análise foi baseado na recomendação de Hair & Anderson23 de 10 sujeitos por item. Como o CADE-Q SV possui 20 itens, um tamanho de amostra de 200 é considerado válido. Os critérios de inclusão foram os seguintes: diagnóstico cardíaco confirmado ou múltiplos fatores de risco cardiovascular. Os critérios de exclusão foram os seguintes: menores de 18 anos, analfabetos, algum comprometimento visual, cognitivo ou mental significativo que impossibilite a capacidade do participante de responder ao questionário.
Os participantes da RC foram caracterizados quanto ao sexo, idade, escolaridade, renda familiar, comorbidades, fatores clínicos de risco, história e duração da participação na RC. As características clínicas do participante foram obtidas do prontuário, e as características sociodemográficas foram autorrelatadas.
O CADE-Q SV avalia o conhecimento dos pacientes cardiovasculares sobre sua condição. Foi projetado para ser um questionário verdadeiro / falso / não sei, com 20 itens, quatro em cada domínio, como segue: condição clínica, fatores de risco, exercício, nutrição e risco psicossocial. Cada resposta correta é igual a um ponto; portanto, a pontuação máxima possível é 20 no total, quatro por domínio e uma por item. A ferramenta foi desenvolvida em inglês e testada psicometricamente em participantes canadenses de RC.21 Essa ferramenta pode ser usada para adaptar qualquer tipo de intervenção educacional dirigida a pacientes cardiovasculares, não apenas em programas de RC.
O SPSS versão 24.0 foi utilizado.24 O nível de significância para todos os testes foi estabelecido em 0,05. As propriedades psicométricas foram testadas de acordo com as Normas Baseadas no Consenso para a seleção da taxonomia dos Instrumentos de Medição em Saúde (COSMIN).25 Em primeiro lugar, a consistência interna foi avaliada pelo Kuder-Richardson-20 (KR-20) e pelo alfa de Cronbach de cada fator (com base na estrutura fatorial, descrita adiante). Para esta análise, valores iguais ou superiores a 0,70 foram considerados aceitáveis,23 refletindo a correlação interna entre itens da mesma área.
Em segundo lugar, a estrutura fatorial foi avaliada por meio da análise fatorial confirmatória. O método do componente principal para a extração de fatores foi usado levando em consideração apenas aqueles com valores próprios > 1,0. Após a seleção dos fatores, gerou-se uma matriz de correlação, na qual as associações entre itens e fatores foram observadas por meio de cargas fatoriais superiores a 0,40 em apenas um fator.23 O método varimax com normalização de Kaiser foi utilizado para interpretar a matriz.26
Terceiro, a confiabilidade do teste-reteste foi avaliada pelo coeficiente de correlação intraclasse (ICC). Valores de ICC inferiores a 0,7027 foram considerados itens ruins. Por fim, a validade do critério também foi avaliada comparando os escores totais do CADE-Q SV com o nível de escolaridade do participante, a renda mensal familiar e o tempo de diagnóstico, utilizando testes t para amostras independentes e correlação de Pearson. As velocidades de conclusão de itens também foram descritas.
Foi realizada uma análise descritiva do CADE-Q SV em português. Um escore médio total foi calculado para refletir o conhecimento total. Testes t de amostra independente, análise de variância unidirecional e testes do qui-quadrado foram usados como apropriado para avaliar diferenças no conhecimento total com base nas características sociodemográficas e clínicas do paciente. As variáveis contínuas foram todas distribuídas normalmente (confirmadas pelo teste de Kolmogorov-Smirnov) e foram relatadas com média e desvio padrão. As variáveis categóricas foram relatadas por números absolutos, porcentagens e, quando aplicável, intervalos de confiança.
As características dos participantes da validação psicométrica estão descritas na Tabela 1. No total, 200 pacientes ambulatoriais cardiovasculares completaram a versão em português do CADE-Q SV, dos quais 118 (59,0%) eram do sexo masculino e a idade média era de 58,4 ± 11,6 anos.
Tabela 1 Características Sociodemográficas/Clínicas dos Participantes e escores totais e diferenças entre subgrupos (n = 200)
Característica | Pontuação Total do CADE-Q SV | |||
---|---|---|---|---|
Sociodemográfica | (média ± DP) | p | ||
Idade, anos (média ± DP) | 58,4 ± 11,6 | - | - | |
Idade dicotômica n (%) | Menos de 65 anos | 132 (66,0) | 13,6 ± 2,4 | 0,001† |
65 anos ou mais | 68 (34,0) | 12,2 ± 2,8 | ||
Sexo n (%) | Masculino | 118 (59,0) | 13,3 ± 2,5 | 0,23 |
Feminino | 82 (41,0) | 12,8 ± 2,8 | ||
Nível educacional n (%) | Nunca fui à escola | 8 (4,0) | 12,0 ± 3,2 | < 0,001‡ |
Menos que o ensino médio | 128 (64,0) | 12,5 ± 2,5 | ||
Ensino Médio | 54 (27,0) | 14,1 ± 2,4 | ||
Universidade | 8 (4,0) | 15,5 ± 1,2 | ||
Pós-graduação | 2 (1,0) | 17,0 ± 0,0 | ||
Renda familiar mensal n (%) | Sem renda | 15 (7,5) | 12,6 ± 1,8 | 0,04* |
Menos de 1 salário mínimo | 98 (49,0) | 12,8 ± 2,7 | ||
Entre 1 e 3 salários mínimos | 69 (34,5) | 13,2 ± 2,6 | ||
Entre 4 e 5 salários mínimos | 12 (6,0) | 14,2 ± 2,0 | ||
6 ou mais salários mínimos | 4 (2,0) | 16,0 ± 2,0 | ||
Clínico | ||||
Evento Cardíaco Agudo n (%) | Infarto agudo do miocárdio | 113 (56,5) | 13,5 ± 2,5 | 0,03* |
Comorbidades n (%) | Hipertensão | 179 (89,5) | 13,1 ± 2,6 | 0,91 |
Dislipidemia | 138 (69,0) | 13,1 ± 2,5 | 0,81 | |
Estresse | 71 (35,5) | 13,1 ± 2,5 | 0,81 | |
Doença Arterial Obstrutiva Periférica | 54 (27,0) | 12,5 ± 3,0 | 0,06 | |
Diabetes Tipo II | 53 (26,5) | 13,4 ± 2,2 | 0,36 | |
Arritmia | 51 (25,5) | 12,4 ± 2,4 | 0,04* | |
Apneia Estável | 42 (21,0) | 12,9 ± 2,9 | 0,58 | |
Depressão | 41 (20,5) | 12,8 ± 2,4 | 0,37 | |
Obesidade | 40 (20,0) | 13,3 ± 2,6 | 0,65 | |
Angina instável | 37 (18,5) | 12,7 ± 2,2 | 0,55 | |
Tabagismo | 19 (9,5) | 14,4 ± 2,2 | 0,08 | |
Comportamento Alcoólico | 6 (3,0 | 14,5 ± 1,9 | 0,18 | |
Tempo a partir do diagnóstico | ||||
Tempo a partir do diagnóstico, anos (média ± DP) | 8,6 ± 9,1 | - | - | |
Tempo a partir do diagnóstico, n (%) | Menos de 1 ano | 50 (25,0) | 13,6 ± 2,4 | 0,23 |
Entre 1 e 5 anos | 44 (22,0) | 12,6 ± 2,8 | ||
Entre 6 e 10 anos | 23 (11,5) | 12,9 ± 2,6 | ||
Entre 11 e 15 anos | 25 (12,5) | 13,9 ± 2,2 | ||
Mais de 15 anos | 38 (19,0) | 12,6 ± 2,6 |
DP: desvio padrão; Diferenças significativas entre grupos:
*p < 0,05,
†p < 0,01,
‡p < 0,001.
Nota: Renda demonstrada nos salários mínimos brasileiros. Um salário mínimo corresponde a R $ 954,00 ou US $ 292,95.
Durante o processo de tradução e adaptação cultural, observou-se que um item precisava ser adaptado para ser utilizado no contexto brasileiro (item 11). Anteriormente, este item tinha nomes de medicamentos de estatina populares na América do Norte e, como a ferramenta era usada em diferentes países, foi adaptada para que se leia "Os medicamentos de ‘estatina' (como atorvastatina e sinvastatina) limitam a quantidade de colesterol que seu corpo absorve dos alimentos". Com base no feedback recebido dos especialistas, incluímos dois exemplos de medicamentos populares usados no Brasil. Não foi realizada nenhuma outra adaptação. A Tabela 2 exibe todos os itens da versão em português do CADE-Q SV.
Tabela 2 Clareza (n = 21), média e Desvio Padrão dos escores do CADE-Q SV por item, taxas de conclusão do item (n = 200), ICC (n = 20) e Escores Médios por área
Área | Item | Clareza*
(média ± DP) |
Escore (média ± DP) |
Taxas de conclusão de item (%) | ICC | Escore Médio Por área |
---|---|---|---|---|---|---|
1 - Clínico | 1. A doença cardíaca só acontece em pessoas idosas que fumam ou têm colesterol alto. | 8,5 ± 1,9 | 0,73 ± 0,45 | 98,5 | 0,75 | 2,38 ± 0,76 |
3. Angina é dor no peito ou desconforto no seu braço, costas ou pescoço. | 8,1 ± 3,0 | 0,75 ± 0,44 | 98,5 | 0,71 | ||
6. Medicamentos como ácido acetilsalicílico (AAS) ajudam a prevenir a formação de coágulos sanguíneos. | 8,5 ± 2,6 | 0,86 ± 0,35 | 98,5 | 0,70 | ||
11. Os medicamentos 'estatinas' (como atorvastatina e sinvastatina) limitam a quantidade de colesterol que seu corpo absorve dos alimentos.† | 8,8 ± 1,8 | 0,05 ± 0,21 | 98,5 | 0,72 | ||
2 - Fatores de Risco | 2. Mudanças no estilo de vida, como uma alimentação saudável, podem diminuir suas chances de desenvolver doenças cardíacas. | 9,1 ± 1,9 | 0,89 ± 0,32 | 98,0 | 0,80 | 2,95 ± 0,88 |
12. Para ajudar a controlar a pressão arterial, coma menos sal e faça exercícios regularmente. | 9,5 ± 0,8 | 0,97 ± 0,16 | 98,5 | 0,83 | ||
16. Para controlar o colesterol, torne-se vegetariano e evite comer ovos. | 8,7 ± 1,5 | 0,51 ± 0,50 | 98,5 | 0,77 | ||
18. Você não pode evitar o diabetes com exercícios e alimentação saudável. | 8,7 ± 2,1 | 0,58 ± 0,49 | 98,5 | 0,85 | ||
3 - Exercício | 4. O treinamento de resistência (levantar pesos ou usar bandas elásticas) pode fortalecer os músculos e ajudar a reduzir o açúcar no sangue. | 8,0 ± 2,5 | 0,63 ± 0,48 | 98,5 | 0,72 | 2,69 ± 1,01 |
8. Um aquecimento antes do exercício aumenta a frequência cardíaca e diminui sua chance de ter angina. | 8,8 ± 1,6 | 0,63 ± 0,48 | 98,5 | 0,70 | ||
13. Se sentir desconforto no peito durante a caminhada, acelere para ver se ele desaparece. | 9,0 ± 1,6 | 0,86 ± 0,35 | 98,5 | 0,79 | ||
17. Você está se exercitando no nível certo quando sua frequência cardíaca está na zona-alvo e você ainda pode conversar confortavelmente. | 8,4 ± 2,4 | 0,57 ± 0,50 | 98,5 | 0,80 | ||
4 - Dieta | 5. Comer mais carne e produtos lácteos é uma boa maneira de adicionar mais fibras à sua dieta. | 8,1 ± 2,2 | 0,47 ± 0,50 | 98,0 | 0,72 | 2,09 ± 0,84 |
9. Alimentos preparados ou processados, como sopa enlatada e bacon, geralmente têm muito sal (sódio). | 8,8 ± 2,1 | 0,90 ± 0,30 | 98,5 | 0,98 | ||
14. Gordura trans é um tipo de gordura não saudável que é frequentemente encontrado em alimentos cozidos ou fritos. | 7,8 ± 2,9 | 0,78 ± 0,41 | 98,5 | 0,74 | ||
20. Para ajudar a reduzir a pressão arterial, coma alimentos saudáveis com mais frequência, como legumes, frutas e grãos integrais. | 9,6 ± 0,9 | 0,94 ± 0,24 | 98,5 | 0,94 | ||
5 - Risco Psicossocial | 7. A única maneira eficaz de gerenciar o estresse é evitar pessoas que causem sentimentos desagradáveis. | 8,2 ± 3,0 | 0,35 ± 0,48 | 98,5 | 0,77 | 1,97 ± 0,70 |
10. Depressão é comum após um ataque cardíaco e aumenta a chance de ter outro ataque cardíaco. | 8,5 ± 2,2 | 0,63 ± 0,48 | 98,0 | 0,78 | ||
15. A apneia do sono (pausa na respiração durante o sono) pode aumentar sua chance de ter outro ataque cardíaco. | 8,1 ± 2,7 | 0,05 ± 0,21 | 98,5 | 0,77 | ||
19. O estresse aumenta sua chance de ter um ataque cardíaco, tanto quanto a pressão alta e diabetes. | 9,1 ± 1,4 | 0,94 ± 0,23 | 98,5 | 0,72 | ||
Total | 8,6 ± 3,2 | 13,08 ± 2,61 | - | - | - |
DP: desvio padrão; ICC: coeficiente de correlação intraclasse;
*A clareza foi avaliada usando uma escala do tipo Likert que varia de 1 = não claro a 10 = muito claro;
†item culturalmente adaptado. Nota: a pontuação máxima para o item é 1 e para as áreas é 5.
A Tabela 2 também apresenta a clareza dos itens classificados por 21 pacientes cardiovasculares como parte do pré-teste utilizando uma escala do tipo Likert que varia de 1 (não claro) a 10 (muito claro). A clareza dos itens variou de 7,8 a 9,6 e a clareza geral do instrumento foi de 8,6 ± 3,2, o que mostra que a versão em português do CADE-Q SV estava clara para os pacientes.
A consistência interna de toda a amostra foi avaliada pelo KR-20 (0,70). Quanto à análise fatorial, os resultados do índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO = 0,78) e dos testes de esfericidade de Bartlett (X² = 490,481, p < 0,001) indicaram que os dados foram adequados para análise fatorial. Seis fatores foram extraídos, representando 59,0% da variância total. Todos os fatores eram confiáveis (o alfa de Cronbach variou de 0,70 a 0,81). Esses fatores foram denominados: clínicos, fatores de risco, exercício, dieta, risco psicossocial e casos específicos. A Tabela 3 mostra as cargas fatoriais para cada item com base em cargas superiores a 0,30 em apenas um fator.
Tabela 3 Cargas fatoriais da análise fatorial confirmatória
Itens | Fator 1: casos específicos | Fator 2: Exercício | Fator 3: Dieta | Fator 4: Clínico | Fator 5: fatores de risco | Fator 6 Risco Psicossocial |
---|---|---|---|---|---|---|
10. Depressão é comum após um ataque cardíaco e aumenta a chance de ter outro ataque cardíaco. | 0,47 | |||||
11. Os medicamentos 'estatinas' (como atorvastatina e sinvastatina) limitam a quantidade de colesterol que seu corpo absorve dos alimentos.† | 0,39 | |||||
15. A apneia do sono (pausa na respiração durante o sono) pode aumentar sua chance de ter outro ataque cardíaco. | 0,39 | |||||
18. Você não pode evitar o diabetes com exercícios e alimentação saudável. | 0,31 | |||||
4. O treinamento de resistência (levantar pesos ou usar bandas elásticas) pode fortalecer os músculos e ajudar a reduzir o açúcar no sangue. | 0,33 | |||||
8. Um aquecimento antes do exercício aumenta a frequência cardíaca e diminui sua chance de ter angina. | 0,46 | |||||
13. Se sentir desconforto no peito durante a caminhada, acelere para ver se ele desaparece. | 0,48 | |||||
17. Você está se exercitando no nível certo quando sua frequência cardíaca está na zona-alvo e você ainda pode conversar confortavelmente. | 0,47 | |||||
5. Comer mais carne e produtos lácteos é uma boa maneira de adicionar mais fibras à sua dieta. | 0,45 | |||||
9. Alimentos preparados ou processados, como sopa enlatada e bacon, geralmente têm muito sal (sódio). | 0,46 | |||||
14. Gordura trans é um tipo de gordura não saudável que é frequentemente encontrado em alimentos cozidos ou fritos. | 0,56 | |||||
20. Para ajudar a reduzir a pressão arterial, coma alimentos saudáveis com mais frequência, como legumes, frutas e grãos integrais. | 0,38 | |||||
1. A doença cardíaca só acontece em pessoas idosas que fumam ou têm colesterol alto. | 0,52 | |||||
3. Angina é dor no peito ou desconforto no seu braço, costas ou pescoço. | 0,39 | |||||
6. Medicamentos como o ácido acetilsalicílico (AAS) ajudam a prevenir a formação de coágulos sanguíneos. | 0,44 | |||||
2. Mudanças no estilo de vida, como uma alimentação saudável, podem diminuir suas chances de desenvolver doenças cardíacas. | 0,30 | |||||
12. Para ajudar a controlar a pressão arterial, coma menos sal e faça exercícios regularmente. | 0,56 | |||||
16. Para controlar o colesterol, torne-se vegetariano e evite comer ovos. | 0,34 | |||||
7. A única maneira eficaz de gerenciar o estresse é evitar pessoas que causem sentimentos desagradáveis. | 0,52 | |||||
19. O estresse aumenta sua chance de ter um ataque cardíaco, tanto quanto a pressão alta e diabetes. | 0,32 | |||||
Variância | 17,3 | 11,1 | 9,4 | 8,2 | 6,9 | 6,6 |
Autovalores | 3,3 | 1,6 | 1,5 | 1,2 | 1,2 | 1,1 |
Alfa de Cronbach | 0,73 | 0,81 | 0,79 | 0,70 | 0,71 | 0,70 |
(*) item culturalmente adaptado.
A confiabilidade do teste-reteste foi avaliada através do ICC para cada item, e os ICC para todos os itens atendem ao padrão mínimo recomendado. Em relação à validade de construto, os escores totais do CADE-Q SV foram comparados pelo nível de escolaridade do participante, renda familiar mensal e tempo de diagnóstico. Como mostra a Tabela 1, os pacientes com menor nível educacional apresentaram necessidades significativamente maiores do que aqueles com ensino superior (p < 0,001), e os participantes sem renda ou com menos de 1 salário mínimo tinham menor conhecimento do que os participantes que recebem 4 salários mínimos por mês ou mais (p < 0,05). Não foram encontradas diferenças em relação ao tempo de diagnóstico.
A Tabela 2 exibe as médias e desvios-padrão de cada item do CADE-Q SV, bem como as pontuações totais por área. Itens com os maiores escores (ou seja, com a maior quantidade de respostas corretas) foram os seguintes: “para ajudar a controlar a pressão arterial, comer menos sal e se exercitar regularmente', “o estresse aumenta sua chance de ter um ataque cardíaco, tanto quanto a pressão alta e diabetes” e “para ajudar a reduzir a pressão arterial, comer alimentos saudáveis com mais frequência, como legumes, frutas e grãos integrais”. Itens com o menor conhecimento (ou seja, itens com as pontuações mais baixas) foram os seguintes: “as medicações com estatina (como atorvastatina e sinvastatina) limitam a quantidade de colesterol que seu corpo absorve da comida”, “apneia do sono (pausa na respiração durante o sono) pode aumentar sua chance de ter outro ataque cardíaco” e “a única maneira eficaz de controlar o estresse é evitar pessoas que causam sentimentos desagradáveis”. A área com maior conhecimento foi a de fatores de risco e a de menor conhecimento foi a de risco psicossocial. Os pacientes demoram cerca de 10 minutos para completar a ferramenta.
A Tabela 1 apresenta a pontuação total por características do participante. Como mostrado, os pacientes que tiveram um infarto do miocárdio ou arritmia tinham conhecimento significativamente maior do que seus colegas (p < 0,05). Além disso, os participantes mais jovens (ou seja, com menos de 65 anos) tinham conhecimento significativamente maior do que os participantes com 65 anos ou mais.
A educação é um componente central da RC e do atendimento cardíaco e é necessária para promover a compreensão do paciente sobre estratégias de prevenção secundária e adesão a essas estratégias. Aqui, uma ferramenta curta e confiável para avaliar o conhecimento de pacientes cardiovasculares - chamada CADE-Q SV - foi traduzida, adaptada culturalmente e validada psicometricamente por meio de um processo rigoroso. A consistência interna, a confiabilidade do teste-reteste, a validade do critério e a estrutura fatorial foram todas estabelecidas e demonstram a utilidade dessa ferramenta.
Os resultados deste estudo foram consistentes com os apresentados na validação original,21 particularmente em relação à validade de critério (correlação com nível educacional) e todas as áreas consideradas internamente consistentes (α > 0,70). Nesta validação, existem 6 fatores, embora a ferramenta tenha 5 áreas. O novo fator foi chamado de “casos específicos” e incluiu questões relacionadas a comorbidades e diagnóstico específico que pode não ser relevante para todos os pacientes cardiovasculares (por exemplo, diabetes e apneia do sono). Pacientes adultos aprendem com base em suas necessidades pessoais e, quando a informação não é relevante para eles, podem não ter interesse em aprender sobre o assunto.28,29 Portanto, esses itens foram combinados em um fator e, em estudos futuros com a ferramenta, os pesquisadores devem sinalizar esses itens e ver se pacientes cardiovasculares com ou sem essas comorbidades terão o mesmo conhecimento.
A média geral, assim como as médias das áreas, foram baixas, reforçando a necessidade de estratégias educativas para o ensino de pacientes cardiovasculares, o que tem sido reforçado em publicações sobre estratégias de tratamento desses pacientes em países de baixa e média renda.14 Assim, as áreas com maior conhecimento neste estudo (fatores de risco) foram diferentes das áreas identificadas na validação original (exercício e dieta).21 Esse resultado era esperado, uma vez que neste estudo administramos a pesquisa em pacientes ambulatoriais cardiovasculares, enquanto o estudo original foi com pacientes de RC.
Pesquisas futuras são necessárias para estabelecer ainda mais as propriedades psicométricas da versão em português do CADE-Q SV. Em primeiro lugar, em relação às estratégias potenciais para educar pacientes cardiovasculares, deve-se determinar se a escala é sensível a mudanças (ou seja, a capacidade de resposta), como após RC ou programas educacionais. Em segundo lugar, existem outras propriedades de medida da escala que exigem avaliação, como validade de critério. Além disso, a confiabilidade do teste-reteste foi realizada em 20 pacientes, e a literatura aponta que o número mínimo deve ser de 5027. Terceiro, o tipo de amostra e o fato de os participantes terem sido recrutados em apenas um local também limitam este estudo. Portanto, o CADE-Q em português deve ser administrado em outros programas de saúde e estados brasileiros, para garantir que é adequado e tem um bom desempenho em contextos mais gerais. Finalmente, pesquisas futuras são necessárias para avaliar se a escala é sensível a mudanças, como após a participação na RC, ou para testar a implementação de novos materiais educacionais. Segundo, se o CADE-Q SV for uma ferramenta valiosa e válida para identificar diferenças de conhecimento em pacientes de RC, isso deve ser explorado.30 Para este estudo, os pacientes não receberam nenhum feedback sobre seus conhecimentos; no entanto, encorajamos médicos e pesquisadores a fornecer isso aos pacientes.
Em conclusão, a versão em português do CADE-Q SV mostrou ter fortes propriedades psicométricas, fornecendo evidências preliminares de sua validade e confiabilidade para avaliar o conhecimento de pacientes cardiovasculares no Brasil. Espera-se que esta ferramenta possa apoiar os prestadores de cuidados de saúde e programas de RC para avaliar o conhecimento dos seus pacientes na prática clínica e promover uma maior oferta de estratégias educacionais.
O uso da versão em português do CADE-Q SV para fins clínicos e de pesquisa será gratuito e todas as informações - incluindo a ferramenta - estão disponíveis on-line em https://cadeq.wordpress.com/.