Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.31 no.5 São Paulo 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800071
Validar el contenido y la apariencia de los protocolos gráficos para evaluar la estructura, proceso y resultado del cuidado seguro de enfermería al paciente politraumatizado en situación de emergencia.
Estudio metodológico y cuantitativo. Para la recolección de datos, se aplicó la técnica de Delphi en dos rondas (Delphi I y Delphi II). La muestra del Delphi I estuvo conformada por 15 jueces y el Delphi II contó con 13 jueces. Se consideraron válidos aquellos ítems de los protocolos con Índice de Validación de Contenido (IVC) mayor a 0.78 y consenso de más del 70,0% en la técnica de Delphi. Los datos fueron analizados por medio de estadística descriptiva e inferencial (Prueba de Wilcoxon y Binomial). Se adoptó ρ-valor ≤ 0,05 para la significancia estadística. Además, se aplicó el Alfa de Cronbach (α) para evaluar la consistencia interna de los protocolos. Se consideró confiable aquel ítem que presentara un α ≥ 0,7.
Todos los requisitos de evaluación de los protocolos alcanzaron concordancia superior al 80,0% entre los jueces, así como todos los ítems alcanzaron niveles de evaluación estadísticamente significativos. Al final del Delphi II, los tres protocolos se presentaron expresamente válidos (estructura [IVC = 0,92], proceso [IVC = 0,96], y, resultado [IVC = 0,96]) y confiables (estructura [α = 0,95], proceso [α = 0,95], y, resultado [α = 0,89
Se alcanzó la validación integral de contenido y de apariencia de los protocolos, así como la validación interna con experto.
Descriptores Seguridad del paciente; Traumatismo múltiple; Protocolos; Evaluación en salud
As lesões traumáticas, cujas causas de destaque são acidentes de trânsito e violência, consistem em um grave problema de saúde pública, as quais são responsáveis pela mortalidade de aproximadamente 5,8 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo, representando em torno de 10% das causas de óbitos. Essa realidade tem maior representatividade quantitativa que o número de vítimas fatais por malária, tuberculose e HIV/AIDS combinados.(1)
Esse alto índice de óbito decorrente das lesões relacionadas ao trauma demanda uma crescente premência em fornecer a assistência adequada e organizada, a fim de reduzir ao mínimo possível às chances de sequelas pós-tratamento e morte.(2)
Além disso, atrasos no tratamento das lesões traumáticas e das doenças agudas são conhecidos por causar aumento na morbimortalidade no atendimento de emergência.(3) Logo, faz-se necessário que o serviço de saúde disponha de quantitativo de pessoal adequado e capacitado para que o cuidado prestado seja seguro e de qualidade.
O cuidado seguro refere-se a evitar, prevenir ou melhorar os resultados adversos ou lesões decorrentes do processo de assistência à saúde. Nesse sentido, a segurança do paciente é uma importante dimensão da qualidade em saúde, definida como a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado à atenção à saúde,(4,5) em relação aos indivíduos com múltiplos traumas na unidade de emergência, uma vez que são já em risco iminente de morte.
Essa qualidade consiste em um produto de dois fatores, a saber: 1) A ciência (conhecimento científico) e a tecnologia de saúde disponível; e 2) Sua aplicação no cuidado ao paciente. Nessa concepção, a qualidade do cuidado pode ser caracterizada por sete pilares: eficácia, efetividade, eficiência, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade.(6-8)
Entretanto, constata-se que a qualidade dos serviços de saúde, tecnologia e processos de verificação para apoiar a segurança do paciente na prática pode ser variável, inseguro e não efetivo. À vista disso, alguns fatores podem contribuir substancialmente para a insegurança do cuidado e, ineficácia e não efetividade da assistência prestada, como: altas cargas de trabalho dos profissionais, superlotação e deficiência na distribuição dos recursos financeiros.(9,10)
Diante dessa realidade, insta considerar que a avaliação em saúde é um potencial contribuinte para que o cuidado dispensado ao paciente seja o mais seguro e efetivo possível, assim como os aspectos que caracterizam a ótima qualidade do atendimento sejam aplicados.
Nessa perspectiva, Avedis Donabedian formulou um modelo de avaliação da qualidade em saúde fundamentada em três elementos: estrutura, processo e resultado. A estrutura diz respeito aos recursos físicos, humanos, materiais e financeiros necessários para a assistência à saúde; o processo abrange às relações entre profissionais de saúde e pacientes, desde a busca pelo diagnóstico, terapêutica e atendimento adequados; e por fim, o resultado compreende o produto final do cuidado oferecido, o qual é representado pela efetividade e eficiência das ações e pelo nível de satisfação dos pacientes, profissionais e gestores.(11)
Diante do exposto, depreende-se que a avaliação dos serviços de saúde pode contribuir significativamente para a prestação do cuidado de qualidade e livre de danos, de maneira a subsidiar a elaboração e aplicação de novas intervenções, com o objetivo de promover melhorias na qualidade e na segurança da assistência e colaborar para o bom prognóstico do paciente politraumatizado.
Em face dessa ótica, compreende-se que é possível fazer uso de protocolos como instrumentos para apoiar a avaliação da qualidade e da segurança do paciente nos serviços de saúde, os quais envolvem um conjunto de ações e decisões com foco em resultados. Para representar esses processos de forma clara e concisa, pode-se lançar mão de representações gráficas ou protocolos gráficos. Estes devem apresentar boa qualidade formal, leitura compreensível, validade, confiabilidade, conteúdo baseado em evidências científicas e efetividade comprovada.(12)
Nessa lógica, constata-se que os protocolos são instrumentos legais, que devem ser construídos dentro dos princípios da prática baseada em evidências. Logo, a utilização desse tipo de dispositivo como guia visual, em sua forma gráfica, para avaliar os serviços de saúde tem como principais vantagens: apresenta uma visão global do processo avaliativo; uso de simbologia simples com padronização da comunicação; definição clara das ações a serem avaliadas; as representações gráficas devem ser inteligíveis, de compreensão rápida e todos os passos devem estar conectados, com início e fim bem delineados e definidos; as instruções não podem ser redundantes nem subjetivas, levando a interpretações diversas; e contribuem para o desenvolvimento de indicadores de estrutura, processo e resultados.(12)
Nesse ínterim, esse estudo foi norteado pela seguinte questão de pesquisa: Qual é a validade de conteúdo e a aparência de três protocolos gráficos para a avaliação do cuidado seguro ao paciente politraumatizado em situação de emergência? Para responder tal questionamento, objetivou-se validar o conteúdo e a aparência dos protocolos gráficos para avaliação da estrutura, processo e resultado do cuidado seguro de enfermagem ao paciente politraumatizado em situação de emergência.
Trata-se de um estudo do tipo metodológico, com abordagem quantitativa de tratamento e análise de dados, realizado no período de maio a junho de 2016. Este tipo de estudo é adequado para verificar os métodos de obtenção, organização e análise de dados, com vista a elaborar, validar e avaliar instrumentos e técnicas para o âmbito da pesquisa. Além disso, tem a finalidade de construir um instrumento confiável, preciso e utilizável para que possa ser aplicado por outros pesquisadores.(13)
Para a coleta de dados, aplicou-se a técnica Delphi, de modo que se procedeu a busca ativa dos juízes pela pesquisa avançada na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (http://lattes.cnpq.br/), por assunto, a fim de identificar profissionais de saúde do Brasil aptos a atuarem como juízes do instrumento.
Estes foram selecionados a partir do uso de descritores relacionados à temática do estudo (“Emergência” e “Trauma”). Ademais, aplicou-se aos resultados o filtro “área de atuação”. Os currículos foram analisados a partir da titulação, experiência profissional, participação em projetos de pesquisa e publicação de trabalhos científicos em periódicos relacionados à temática do presente estudo.
O processo de validação dos protocolos gráficos aconteceu em duas rodadas de Delphi (Delphi I e Delphi II). A população do Delphi I foi composta por 156 juízes cadastrados na Plataforma Lattes e a amostra inicial foi constituída pelos 40 primeiros pesquisadores enquadrados nos critérios preestabelecidos. Os juízes que não responderam ou não aceitaram participar da pesquisa foram automaticamente excluídos do estudo. Com isso, a amostra final do Delphi I consistiu em 15 juízes. No Delphi II, contatou-se inicialmente os 15 juízes que participaram até o final do Delphi I, dos quais, 13 enviaram o formulário respondido no período pré-determinado, compreendendo assim a amostra da segunda rodada de Delphi. Ademais, ratifica-se que foram seguidas as recomendações sobre o número aceitável de juízes para o processo de validação, que deve ser entre sete e trinta.(14) Para a seleção amostral, estabeleceram-se alguns critérios que deveriam somar no mínimo quatro pontos para que o profissional fosse incluído na pesquisa, a saber: doutorado em enfermagem (2 pontos), mestrado em enfermagem (1 ponto), experiência na área de emergência por no mínimo três anos (2 pontos), participação em projetos de pesquisa que envolvessem o âmbito da emergência (1 ponto), autoria em pelo menos dois trabalhos, nos últimos três anos, publicados em periódicos em temáticas que envolvam a emergência (1 ponto) e tese ou dissertação na área de emergência (1 ponto).(15)
Foram excluídos os profissionais de enfermagem afastados da assistência as pessoas em situação de emergência há mais de cinco anos e/ou não tivessem pesquisa na temática há mais de dois anos, menos de dois trabalhos publicados em periódicos sobre o assunto e os juízes que não seguiram todas as etapas para a validação de conteúdo e aparência dos protocolos no prazo pré-estabelecido.
O contato com os juízes ocorreu em quatro etapas distintas, a saber: 1) Contato via endereço eletrônico, com o propósito de explanar a finalidade e a importância da participação dos juízes na pesquisa e questionar sobre a possibilidade da sua colaboração para a validação dos protocolos gráficos, por meio de uma carta-convite. O tempo pré-determinado para o retorno da resposta dos juízes ao pesquisador foi de dez dias; 2) Para os juízes que manifestaram interesse, foi enviado, eletronicamente, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Neste momento, estabeleceu-se o prazo de sete dias para que o especialista encaminhasse o TCLE assinado ao pesquisador; 3) Ao receber o TCLE assinado, deu-se início ao processo de validação de conteúdo e aparência dos protocolos gráficos, os quais foram disponibilizados na íntegra para avaliação em formulário eletrônico via Google Forms. Esta fase consistiu no Delphi I e assentou-se o período de 20 dias para o retorno da avaliação dos juízes; e 4) Após análise dos dados do Delphi I e reformulação dos protocolos, conforme recomendação dos juízes, estes foram contatados e enviado um novo formulário eletrônico com instrumentos adaptados para nova avaliação – Delphi II. Determinou-se o prazo de 20 dias para o envio da avaliação ao pesquisador.
A validação de conteúdo e aparência dos protocolos gráficos seguiu as recomendações do modelo psicométrico proposto por Pasquali, o qual aborda doze critérios de avaliação para que um determinado constructo seja considerado válido. Entretanto, três destes não são aplicáveis ao tipo de instrumento construído e validado na pesquisa em tela, a saber: variedade, modalidade e equilíbrio. Nesse contexto, os critérios de Pasquali aplicados ao processo de validação e utilizados como parâmetro para a avaliação dos juízes foram: 1) Utilidade / Pertinência (os protocolos são relevantes e atendem a finalidade proposta); 2) Consistência / Amplitude (o conteúdo apresenta profundidade suficiente para a compreensão dos protocolos); 3) Clareza (os protocolos estão explicitados de forma clara, simples e inequívoca); 4) Objetividade (os protocolos permitem resposta pontual); 5) Simplicidade (os itens expressam uma única ideia); 6) Exequibilidade (os protocolos são aplicáveis); 7) Atualização (os itens seguem as práticas baseadas em evidência mais atuais); 8) Precisão (cada item de avaliação é distinto dos demais, não se confundem); e 9) Comportamento (os protocolos não apresentam itens abstratos).(16)
Para a validação dos protocolos, as avaliações dos juízes foram inseridas no banco de dados do Microsoft Excel 2010® e tabuladas e analisadas no SPSS versão 22.0, onde se verificou as pontuações atribuídas a cada item. A relevância dos itens foi obtida pela aplicação do Índice de Validação de Conteúdo (IVC), o qual foi alcançado por meio do seguinte cálculo:(13)
Considerou-se válido aqueles itens com IVC maior que 0.78 e consenso de mais de 70,0% na técnica de Delphi.(13)
Ademais, foi realizada a análise descritiva (frequências absolutas e relativas, mínimo, máximo, média, mediana e desvio padrão) e inferencial (teste não paramétrico de Wilcoxon e teste binomial), com a finalidade de comparar as medianas, o consenso entre os juízes e os escores do IVC alcançados nas rodadas de Delphi. Para tanto, adotou-se o ρ-valor ≤ 0,05 como parâmetro para a significância estatística. A fim de avaliar a consistência interna dos protocolos utilizou-se o Alfa de Cronbach (α). Conforme preconizado por autores,(17) considerou-se confiável aquele item que apresentasse o α ≥ 0,7.
Evidencia-se que para a construção dos protocolos gráficos seguiu-se as diretrizes nacionais e internacionais de órgãos de pesquisa que trabalham na perspectiva da cultura de segurança do paciente, bem como o arcabouço legal brasileiro, como portarias e resoluções, e dos dados obtidos através da realização de uma Scoping Review, a qual foi fundamentada em evidências contidas na literatura científica (Apêndice 1). A fase de elaboração dos protocolos gráficos também envolveu a execução de um grupo focal com profissionais de enfermagem que atuam diariamente no atendimento ao paciente politraumatizado no serviço de emergência, a fim de identificar os elementos necessários a compor os protocolos gráficos de avaliação do cuidado seguro ao paciente politraumatizado relacionados à estrutura, o processo e o resultado do atendimento de emergência.
O estudo obedeceu aos aspectos éticos que envolvem pesquisas com seres humanos, de maneira que todos os participantes foram comunicados sobre a necessidade de manipulação e divulgação dos dados e a garantia do anonimato dos mesmos. Além disso, o estudo obteve aprovação pelo comitê de ética em pesquisa, com Parecer Consubstanciado de n° 1.053.690, de 24 de abril de 2015, e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n° 42951415.6.0000.5537.
Contou-se com a participação de 15 juízes no processo de avaliação na primeira rodada de Delphi, com idade mínima de 30 anos e máxima de 55 anos (média = 40,4 e desvio padrão = 9,1), cujo tempo mínimo de formação foi oito anos e máximo 32 anos (média = 17,3 e desvio padrão = 9,5) e o tempo mínimo de atuação no setor de emergência foi quatro anos e o máximo 24 anos (média = 13,0 e desvio padrão = 5,9).
No Delphi II, 13 juízes colaboraram com a validação dos protocolos gráficos, os quais tinham idade mínima de 31 anos e máxima de 55 anos (média = 41,9 e desvio padrão = 9,2), tempo mínimo de formação de nove anos e máximo de 33 anos (média = 18,6 e desvio padrão = 9,7) e tempo mínimo de atuação no setor de emergência de quatro anos e o máximo de 21 anos (média = 12,9 e desvio padrão = 6,1).
A tabela 1 descreve a caracterização dos juízes participantes das duas rodadas de Delphi na presente pesquisa.
Tabela 1 Caracterização dos juízes participantes das fases Delphi I e Delphi II
Caracterização dos juízes | Delphi I (n=15) n(%) | Delphi II (n=13) n(%) |
---|---|---|
Sexo | ||
Masculino | 5(33,3) | 5(38,5) |
Feminino | 10(66,7) | 8(61,5) |
Qualificação profissional | ||
Mestrado acadêmico | 4(26,7) | 2(15,4) |
Doutorado | 11(73,3) | 11(84,6) |
Área que trabalha atualmente | ||
Ensino | 4(26,7) | 4(30,8) |
Urgência e emergência | 5(33,3) | 7(53,8) |
Terapia intensiva | 1(6,7) | 1(7,7) |
Urgência e emergência e ensino | 4(26,7) | 1(7,7) |
Urgência e emergência e centro cirúrgico | 1(6,7) | 0(0,0) |
Áreas de atuação | ||
Docência | 3(20,0) | 3(23,1) |
Assistência | 1(6,7) | 2(15,4) |
Assistência e Gestão | 1(6,7) | 1(7,7) |
Docência e Gestão | 2(13,3) | 2(15,4) |
Docência e Assistência | 5(33,3) | 3(23,1) |
Docência, Assistência e Gestão | 3(20,0) | 2(15,4) |
Tempo de formado | ||
Até 10 anos | 6(40,0) | 4(30,8) |
Mais de 10 anos | 9(60,0) | 9(69,2) |
Tempo de atuação na área de emergência | ||
Até 10 anos | 9(60,0) | 7(53,8) |
Mais de 10 anos | 6(40,0) | 6(46,2) |
Região em que atua | ||
Nordeste | 4(26,7) | 2(15,4) |
Sul | 5(33,3) | 5(38,5) |
Sudeste | 5(33,3) | 5(38,5) |
Centro-oeste | 1(6,7) | 1(7,7) |
Assim como o apresentado na tabela 1, identificou-se que a grande maioria dos juízes participantes do Delphi I era do sexo feminino (n=10; 66,7%), doutores (n=11; 73,3%), que atuavam na área de urgência e emergência associado à docência (n=5; 33,3%). Além disso, eram formados há mais de 10 anos (n=9; 60,0%) e exerciam a profissão, predominantemente, na região Sul (n=5; 33,3%) e Sudeste (n=5; 33,3%) do Brasil.
Quanto aos juízes arrolados no Delphi II, constatou-se que o maior quantitativo era do sexo feminino (n=8; 61,5%), com doutorado (n=11; 84,6%), enfermeiros assistenciais e/ou pesquisadores em urgência e emergência (n=7; 53,8%) e estavam em exercício na díade docência-assistência (n=3; 23,1%) e apenas na docência (n=3; 23,1%). Quanto ao tempo de formação e a prática na urgência e emergência, houve preponderância entre aqueles que eram formados há mais de 10 anos (n=9; 69,2%) e os que estavam na prática da urgência e emergência até 10 anos (n=7; 53,8%) no Sul (n=5; 38,5%) e Sudeste (n=5; 38,5%) brasileiro.
A tabela 2 descreve o consenso final entre os juízes quanto aos itens que obtiveram total concordância (“concordo totalmente”) de acordo com os critérios de avaliação de Pasquali.
Tabela 2 Consenso entre os juízes acerca dos itens avaliados nas fases Delphi I e Delphi II
Requisitos de avaliação | Estrutura | Processo | Resultado | |||
---|---|---|---|---|---|---|
Delphi I (ρ-value*) | Delphi II (ρ-value*) | Delphi I (ρ-value*) | Delphi II (ρ-value*) | Delphi I (ρ-value*) | Delphi II (ρ-value*) | |
Utilidade / Pertinência | 80,0% (0,04)** | 92,3% (0,03)** | 93,3% (0,001)** | 100,0% (0,00)** | 73,3% (0,12) | 92,3% (0,003)** |
Consistência | 66,7% (0,30) | 92,3% (0,003)** | 80,0% (0,04)** | 92,3% (0,003)** | 80,0% (0,04)** | 92,3% (0,003)** |
Clareza | 86,7% (0,007)** | 100,0% (0,00)** | 80,0% (0,04)** | 84,6% (0,02)** | 86,7% (0,007)** | 92,3% (0,003)** |
Objetividade | 80,0% (0,04)** | 84,6% (0,02)** | 86,7% (0,007)** | 92,3% (0,003)** | 86,7% (0,007)** | 100,0% (0,00)** |
Simplicidade | 66,7% (0,30) | 92,3% (0,003)** | 93,3% (0,001)** | 100,0% (0,00)** | 86,7% (0,007)** | 100,0% (0,00)** |
Exequibilidade | 80,0% (0,04)** | 100,0% (0,00)** | 93,3% (0,001)** | 100,0% (0,00)** | 86,7% (0,007)** | 100,0% (0,00)** |
Atualização | 80,0% (0,04)** | 100,0% (0,00)** | 86,7% (0,007)** | 100,0% (0,00)** | 73,3% (0,12) | 100,0% (0,00)** |
Precisão | 80,0% (0,04)** | 84,6% (0,02)** | 80,0% (0,04)** | 92,3% (0,03)** | 93,3% (0,001)** | 100,0% (0,00)** |
Comportamento | 73,3% (0,12) | 84,6% (0,02)** | 86,7% (0,007)** | 100,0% (0,00)** | 93,3% (0,001)** | 84,6% (0,02)** |
Fonte: Pimenta CA, Lopes CT, Amorim AF, Nishi FA, Shimoda GT, Jensen R. Guia para a construção de protocolos assistenciais de enfermagem. São Paulo: Conselho Regional de Enfermagem; 2015.(12)
*Teste Binomial;
**ρ ≤ 0,05
Segundo o exposto na tabela 2, observou-se que apenas os requisitos referentes à consistência (66,7%) e a simplicidade (66,7%) dos itens componentes da estrutura encontravam-se abaixo do preconizado para que os protocolos fossem considerados válidos no Delphi I. No Delphi II, nenhum dos requisitos teve concordância abaixo de 80,0%, o que reflete alta taxa de aprovação dos protocolos gráficos.
No entanto, o requisito “comportamento” relacionado ao resultado mostrou queda no DII (84,6%) em relação ao DI (93,3%). Isto pode estar relacionado à redução do número de juízes (n=2; 13,3%) no DII que concordaram totalmente na primeira rodada de Delphi. Além disso, outro fator é a concordância parcial de alguns juízes, mesmo diante da disponibilização de justificativa e referência utilizada como embasamento, no que diz respeito ao item associado ao tempo máximo recomendado para a permanência do paciente no setor de emergência. Porquanto, verificou-se que a literatura apresenta número de horas diferentes para tal situação.
Quanto ao nível de significância estatística na concordância entre os juízes, verificou-se que na primeira rodada de Delphi, os requisitos consistência, simplicidade e comportamento não apresentaram significância na avaliação dos itens que compõem o protocolo da estrutura. Assim como, os aspectos inerentes à utilidade/pertinência e atualização referente à avaliação dos itens do protocolo do resultado obtiveram o ρ- valor não significativo no Delphi I. Entretanto, no Delphi II todos os itens avaliados foram estatisticamente significativos (ρ ≤ 0,05) no que concerne a concordância entre os juízes, bem como o protocolo do processo obteve significância estatística em todas as rodadas de Delphi.
A análise alusiva à avaliação da qualidade dos protocolos gráficos, assim como o Índice de Validação de Conteúdo (IVC) e a consistência interna (Alfa de Cronbach) é demonstrada na tabela 3.
Tabela 3 Julgamento dos juízes sobre a qualidade dos protocolos gráficos nas fases Delphi I e Delphi II
Avaliação | Estrutura | Processo | Resultado | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
DI* | DII** | p-value*** | DI* | DII** | p-value*** | DI* | DII** | p-value*** | |
Mediana | 9,0 | 9,0 | 0,321 | 9,0 | 9,0 | 0,454 | 10,0 | 9,0 | 0,874 |
Desvio padrão | 2,0 | 0,8 | - | 1,1 | 0,8 | - | 1,0 | 1,0 | - |
IVC | 0,77 | 0,92 | 0,007 | 0,87 | 0,96 | 0,007 | 0,84 | 0,96 | 0,020 |
Alfa de Cronbach (α) | 0,51 | 0,95 | - | 0,75 | 0,92 | - | 0,56 | 0,89 | - |
*Delphi I;
**Delphi II;
***Teste de WILCOXON
Em relação às médias de avaliação da qualidade dos protocolos, constatou-se variação entre 3,0 e 10,0 na estrutura; 7,0 e 10,0 no processo; e, 7,0 e 10,0 no resultado, com média geral no Delphi I de 8,4; 9,0 e 9,3, respectivamente. Na segunda rodada de Delphi, as médias oscilaram entre 8,0 e 10,0 tanto na estrutura quanto no processo e no resultado, cuja média geral foi de 9,1; 9,2 e 9,2, na devida ordem. Além disso, verificou-se que não houve variação estatisticamente significativa entre as medianas, consoante o apresentado na tabela 3.
Sobre o IVC, constatou-se que a rodada final de Delphi possibilitou o alcance de melhor escore na validação de conteúdo e aparência dos protocolos gráficos. O teste de Wilcoxon demonstrou significância estatística entre as rodadas de Delphi dos três protocolos – estrutura (ρ = 0,007), processo (ρ = 0,007) e resultado (ρ = 0,02).
No que concerne ao Alfa de Cronbach, apenas os itens relacionados ao processo apresentaram confiabilidade aceitável (α = 0,75) no Delphi I, e os demais (estrutura e resultado) alcançaram a consistência interna válida somente na segunda rodada de Delphi. Ao final, os três protocolos se apresentaram expressivamente confiáveis – estrutura (α = 0,95), processo (α = 0,95) e resultado (α = 0,89).
Por fim, não houve objeção dos juízes quanto à recomendação para a aplicação dos protocolos gráficos na prática do serviço de emergência. No Delphi I, 60,0% dos juízes indicaram o uso do instrumento de avaliação desde que fossem realizadas modificações. E no Delphi II, quase 70,0% fizeram a recomendação sem a necessidade de alterações (Apêndice 2).
Reconhece-se que as situações causadoras de lesões traumáticas são responsáveis por cerca de 50,0% da taxa de mortalidade mundial e deficiência motora e sensorial nas populações dos países desenvolvidos, especialmente em jovens e adultos de idades entre 15 e 44 anos.(18,19)
Tal realidade posiciona os eventos traumáticos como um notável problema de saúde global e contribui com uma grande carga de incapacidade e sofrimento.(19,20) Diante dessa conjuntura, torna-se de suma importância, implementar medidas para o cuidado seguro e de qualidade na assistência ao paciente politraumatizado.
Portanto, este estudo envolveu a participação de 15 juízes no Delphi I (DI) e 13 no Delphi II (DII), com vistas a tornar os protocolos de avaliação do cuidado seguro ao paciente politraumatizado em situação de emergência confiáveis e válidos no que diz respeito ao conteúdo e a aparência.
A validade e confiabilidade constituem-se em critérios essenciais para avaliação da qualidade de um instrumento. Entrementes, a validade diz respeito ao grau em que determinado instrumento se mostra apropriado para mensurar aquilo que supostamente deveria medir, isto é, o propósito pelo qual está sendo usado. A confiabilidade refere-se ao seu nível de precisão, ou seja, o quanto suas medidas conseguem refletir, de forma precisa, as medidas reais do atributo investigado.(13,21)
Em relação à hegemonia do sexo feminino (66,7% – DI e 61,5% – DII) entre os juízes participantes dessa pesquisa, estudo(22) demonstrou que esta realidade acompanha a profissão desde os primórdios da história da enfermagem, marcado pela presença do sexo feminino e pela inserção da mulher no mercado de trabalho. Isto é ratificado por dados publicados pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEn), que descreve a composição do quadro brasileiro por 87,2% de profissionais de enfermagem mulheres.(23,24)
Quanto à qualificação profissional, observou-se grande participação de doutores (73,3% – DI e 84,6% – DII) nesse estudo de validação. Neste sentido, pesquisadores(25) relatam que mestres e doutores são os grandes responsáveis por promover o impacto nas práticas e, consequentemente, no avanço da Enfermagem.
Logo, estudo(26) aponta que enfermeiros brasileiros com algum tipo de pós-graduação stricto sensu enquadram-se veementemente em uma realidade que é orientada por políticas que fortalecem e trazem inovações em suas ações para o alcance de impactos educacionais, sócio-políticos e científico-tecnológicos significativos para a Enfermagem e para a Saúde, como ciência, tecnologia e profissão social.
No tocante a atuação da maior parcela de juízes na díade assistência/docência (33,3% – DI e 23,1% – DII), na enfermagem, como em qualquer outra área da saúde, docência e assistência representam uma via de mão dupla, visto que uma não existe sem a outra e as duas mantêm uma correspondência constante.(27)
Diante disso, compreende-se que a participação de profissionais experientes e envolvidos no âmbito da pesquisa e da assistência é veementemente relevante para a validação de instrumentos de avaliação a serem aplicados na prática, como se propôs esse estudo ao validar protocolos para avaliar a estrutura, o processo e o resultado dos serviços de emergência.
À vista disso, a estrutura corresponde aos recursos físicos, humanos, materiais e financeiros necessários para a assistência à saúde, o que inclui o financiamento e disponibilidade de mão de obra em número adequado e qualificada. O processo se refere às atividades que estão relacionadas aos profissionais de saúde e pacientes, com base em padrões aceitos. E o resultado envolve o produto final da assistência prestada, o qual considera a saúde e a satisfação de padrões e expectativas.(11)
No processo de validação dos protocolos, produto final da presente pesquisa, os juízes apresentaram índice de concordância significativo em todos os itens avaliados, de modo a tornar o instrumento válido em relação à avaliação da utilidade/pertinência, consistência, clareza, objetividade, simplicidade, exequibilidade, atualização, precisão e comportamento.(13) Isto certifica que o instrumento apresenta-se adequado para a aplicabilidade na prática de maneira confiável.
A validação de conteúdo e aparência das informações que compõe instrumentos é essencial para o alcance da validade e confiabilidade dos mesmos, a fim de torná-los seguros para a aplicação nos serviços e/ou população a que se destinam. Destarte, o reconhecimento da qualidade dos instrumentos torna-se um aspecto fundamental para a legitimidade e credibilidade dos resultados de uma pesquisa, o que reforça a importância do processo de validação.(21,28,29)
No que tange ao IVC, se pode inferir que houve consenso entre os participantes no julgamento da validade dos protocolos e ao que o mesmo intenciona medir, assim como se considerou que o instrumento avaliado supre o teor conteudístico para avaliar o que se propõe. Realidade esta que é comprovada pela concordância obtida entre os juízes na avaliação dos componentes da estrutura (IVC: DI – 0,77 e DII – 0,92), do processo (IVC: DI – 0,87 e DII – 0,96) e do resultado (IVC: DI – 0,56 e DII – 0,89). Tais variações se mostraram estatisticamente significativas (ρ ≤ 0,05), o que denota alcance de melhor consenso associado a melhorias do instrumento entre as rodadas de Delphi.
Quanto à consistência interna, nesse estudo, o resultado do Alfa de Cronbach apresentou-se expressivamente melhor entre as rodadas de Delphi. Este coeficiente reflete a reprodutibilidade e estabilidade nos protocolos, de forma que múltiplas aplicações poderão gerar resultados similares e precisos.(30,31) Assim sendo, o resultado do Alfa de Cronbach aponta um indicador sumário da consistência interna dos instrumentos pesquisados e, consequentemente, dos itens que os compõem.(32)
A enfermagem requer conceituações dos fenômenos dos quais trata e/ou cuida. Nesta perspectiva, os estudos de validação mantêm-se fundamentais para que a prática seja embasada cientificamente e supere a elaboração de diagnósticos ou cuidados de enfermagem indutivos/dedutivos, de modo a favorecer o aumento da qualidade do cuidado e a visibilidade da prática profissional.(33)
Realça-se que o presente estudo apresentou como limitação a especificidade dos protocolos para avaliar a segurança do paciente atrelada apenas ao cuidado de enfermagem. Logo, recomenda-se que outras pesquisas sejam realizadas para a construção e validação de instrumentos voltados para os demais âmbitos da emergência, como o pré-hospitalar, bem como seja amplo o suficiente para a avaliação do cuidado multiprofissional.
Apesar disso, essa pesquisa contribuirá de forma substancial para suscitar a atenção dos profissionais quanto à importância das adequações para a prestação de um cuidado seguro no serviço de emergência, com vistas a contribuir para um melhor prognóstico da vítima de trauma e o fornecimento da assistência de enfermagem livre de danos e redução de óbitos atrelados a eventos adversos.
O processo de validação dos protocolos gráficos arrolou 15 juízes no Delphi I, os quais julgaram que apenas os itens relacionados à estrutura não se mostravam adequados quanto à consistência (66,7%) e a simplicidade (66,7%) e, consequentemente, obteve o IVC aquém do preconizado (IVC = 0,77). Além disso, não foi alcançada a validação interna na avaliação da estrutura (α = 0,51) e do resultado (α = 0,56). Na segunda rodada de Delphi, a qual abrangeu 13 juízes, atingiu-se a validação de conteúdo e de aparência dos protocolos integralmente (Estrutura [IVC = 0,92], Processo [IVC = 0,96] e Resultado [IVC = 0,96]), assim como, a validação interna com exímio (Estrutura [α = 0,95], Processo [α = 0,92] e Resultado [α = 0,89]). Diante dos resultados alcançados, comprova-se que os protocolos gráficos para avaliação do cuidado seguro ao paciente politraumatizado em situação de emergência são confiáveis e válidos quanto ao conteúdo e a aparência para serem submetidos à validação clínica na prática dos serviços de saúde.