versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.111 no.5 São Paulo nov. 2018 Epub 18-Out-2018
https://doi.org/10.5935/abc.20180202
Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) é uma síndrome multifatorial caracterizada por limitação ao exercício. O treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) é uma estratégia emergente para a reabilitação do exercício em diferentes contextos. Em pacientes com ICFEP, os efeitos subagudos do HIIT sobre a função endotelial e a pressão arterial ainda são desconhecidos.
Avaliar o efeito subagudo de uma única sessão do HIIT sobre a função endotelial e a pressão arterial em pacientes com ICFEP.
Dezesseis pacientes com ICFEP foram submetidos a uma sessão de 36 minutos de HIIT em esteira rolante, alternando quatro minutos de intervalos de alta intensidade com três minutos de recuperação ativa. O diâmetro da artéria braquial, a dilatação mediada pelo fluxo e a pressão arterial foram avaliados imediatamente antes e 30 minutos após a sessão de HIIT. Em todas as análises, p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
Houve aumento do diâmetro da artéria braquial (pré-exercício: 3,96 ± 0,57 mm; pós-exercício: 4,33 ± 0,69 mm; p < 0,01), e diminuição da pressão arterial sistólica (pré-exercício: 138 ± 21 mmHg; pós-exercício: 125 ± 20 mmHg; p < 0,01). A dilatação mediada por fluxo (pré-exercício: 5,91 ± 5,20%; pós-exercício: 3,55 ± 6,59%; p = 0,162) e pressão arterial diastólica (pré-exercício: 81 ± 11 mmHg; pós-exercício: 77 ± 8 mmHg; p = 1,000) não se alteraram significativamente. Não houve eventos adversos durante o experimento.
Uma única sessão do HIIT promoveu aumento do diâmetro da artéria braquial e redução da pressão arterial sistólica, mas não alterou a dilatação mediada pelo fluxo e a pressão arterial diastólica.
Palavras-chave: Insuficiência Cardíaca; Pressão Arterial; Exercício; Vasodilatação; Arteria Braquial; Endotélio/função
Heart failure with preserved ejection fraction (HFpEF) is a multifactorial syndrome characterized by a limited exercising capacity. High-intensity interval training (HIIT) is an emerging strategy for exercise rehabilitation in different settings. In patients with HFpEF, HIIT subacute effects on endothelial function and blood pressure are still unknown.
To evaluate the subacute effect of one HIIT session on endothelial function and blood pressure in patients with HFpEF.
Sixteen patients with HFpEF underwent a 36-minute session of HIIT on a treadmill, alternating four minutes of high-intensity intervals with three minutes of active recovery. Brachial artery diameter, flow-mediated dilation, and blood pressure were assessed immediately before and 30 minutes after the HIIT session. In all analyses, p <0.05 was considered statistically significant.
There was an increase in brachial artery diameter (pre-exercise: 3.96 ± 0.57 mm; post-exercise: 4.33 ± 0.69 mm; p < 0.01) and a decrease in systolic blood pressure (pre-exercise: 138 ± 21 mmHg; post-exercise: 125 ± 20 mmHg; p < 0.01). Flow-mediated dilation (pre-exercise: 5.91 ± 5.20%; post-exercise: 3.55 ± 6.59%; p = 0.162) and diastolic blood pressure (pre-exercise: 81 ± 11 mmHg; post-exercise: 77 ± 8 mmHg; p = 1.000) did not change significantly. There were no adverse events throughout the experiment.
One single HIIT session promoted an increase in brachial artery diameter and reduction in systolic blood pressure, but it did not change flow-mediated dilation and diastolic blood pressure.
Keywords: Heart Failure; Arterial Pressure; Exercise; Vasodilatation; Brachial Artery; Endothelium/function
A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) é uma síndrome clínica complexa e prevalente. Caracteriza-se por limitação acentuada ao exercício, sendo que e o tratamento farmacológico ainda não demonstrou melhora na taxa de mortalidade nesse cenário.1,2 As abordagens terapêuticas são limitadas e se baseiam principalmente no controle dos sintomas e no manejo dos fatores de risco cardiovascular, como pressão arterial (PA) elevada.3-5
A hipertensão está associada ao aumento do estresse oxidativo e da inflamação vascular, intimamente relacionados à disfunção endotelial.6,7 Por outro lado, a função endotelial atenuada em indivíduos com ICFEP contribui para a intolerância ao exercício8-10 e é um preditor independente de eventos cardiovasculares adversos.11,12 Como uma intervenção não farmacológica, o treinamento físico aparece como uma estratégia potencial a ser incluída no arsenal terapêutico da ICFEP.13,14
O treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) surgiu como uma modalidade de exercício com impacto positivo em alguns resultados cardiovasculares, sendo pelo menos tão eficaz quanto o treinamento contínuo de intensidade moderada em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.15-17 Meta-análises recentes demonstraram que o HIIT, em longo prazo, é superior na promoção da melhora da função endotelial e na redução da PA em indivíduos com fatores de risco cardiovascular.18,19 Em estudos anteriores, após uma única sessão de HIIT, os pacientes com doença arterial coronariana e hipertensão apresentaram aumento do diâmetro da artéria braquial,20,21 melhoraram a função endotelial20 e reduziram a PA.21-23
Sabe-se que pacientes com ICFEP têm a reserva vasodilatadora atenuada durante o exercício, assim como comprometida resposta no acoplamento ventrículo-arterial.9,10,24 Entretanto, o efeito de uma única sessão do HIIT sobre a função endotelial e sobre a PA nesses pacientes ainda é desconhecido. Considerando esta lacuna na literatura, o objetivo do presente estudo foi avaliar o diâmetro da artéria braquial, a função endotelial e a PA 30 minutos após uma única sessão do HIIT em pacientes com ICFEP.
Este estudo do tipo antes e depois (quase experimental) foi realizado entre junho de 2014 e novembro de 2015. Dezenove pacientes com ICFEP, de acordo com os critérios da Sociedade Europeia de Cardiologia,25 foram recrutados sequencialmente em um ambulatório de cardiologia de um hospital terciário no sul Brasil. Os critérios de elegibilidade foram a presença de sinais e sintomas de insuficiência cardíaca, fração de ejeção preservada (> 50%), disfunção diastólica (índice de volume diastólico final do ventrículo esquerdo < 97 mL/m2) com aumento da pressão de enchimento (E/e' > 8) e, no caso de E/e' < 15, pelo menos outro critério de diagnóstico para ICFEP, de acordo com o documento acima mencionado. Idade entre 40 e 75 anos, classe funcional I a III da New York Heart Association (NYHA), e estabilidade clínica sob terapia medicamentosa ótima nos últimos 3 meses também foram considerados critérios de elegibilidade. Pacientes com doença pulmonar grave, doença valvar e arterial periférica de moderada a grave foram excluídos. Da mesma forma, neuropatia autonômica, angina instável, história de arritmias complexas induzidas por estresse, pacientes com dispositivos eletrônicos cardíacos implantáveis, e aqueles com condições musculoesqueléticas e/ou cognitivas limitantes foram excluídos.
Primeiramente, os pacientes foram submetidos à ecocardiografia Doppler com mapeamento de fluxo em cores para confirmação dos critérios de diagnóstico de ICFEP. Em seguida, um teste cardiopulmonar do exercício foi realizado para avaliar os limiares ventilatórios e consumo de oxigênio de pico, bem como a resposta da frequência cardíaca ao exercício. Até 14 dias após o teste cardiopulmonar do exercício o diâmetro da artéria braquial, a dilatação fluxo-mediada (DFM) e a dilatação independente do endotélio foram avaliados imediatamente antes e 30 minutos após uma sessão de HIIT. Na mesma sessão experimental, a PA e a frequência cardíaca foram medidas em dois momentos diferentes, antes e após o exercício, conforme descrito abaixo.
Os dados demográficos e clínicos foram coletados no primeiro dia através de um questionário, e verificados nos prontuários de cada paciente. Dados antropométricos foram coletados no momento da conclusão do questionário.
Todos os exames ecocardiográficos foram realizados utilizando equipamento Envisor C HD ou HD 11 (Philips, EUA) com um transdutor setorial multifrequêncial padrão, por um cardiologista treinado. As imagens foram adquiridas segundo um protocolo padronizado, seguindo as recomendações correntes nas diretrizes atuais.25,26 As imagens em formato cine-loop e as imagens estáticas de 3 batimentos consecutivos foram registradas em vistas padrão 2D, M-mode, vistas ecocardiográficas com Doppler e com Doppler tecidual. A fração de ejeção do ventrículo esquerdo foi calculada pela fórmula de Teichholz, a partir da vista paraesternal do eixo longo. Para pacientes com anormalidades regionais de movimento da parede, a regra de Simpson foi utilizada para calcular a fração de ejeção. O volume do átrio esquerdo foi medido na sístole ventricular, imediatamente antes da abertura da válvula mitral, e calculado a partir das incidências apicais de 4 e 2 câmaras usando o método biplano dos discos. A função diastólica do ventrículo esquerdo foi avaliada com Doppler pulsátil transmitral (pico de velocidade E, pico de velocidade A relação E/A e tempo de desaceleração) e velocidade do Doppler tecidual do anel mitral (velocidade diastólica precoce - e', velocidade diastólica final - a').
O teste foi realizado em esteira rolante (General Electric T-2100, GE Healthcare, Waukesha, EUA) e a análise dos gases expirados respiração-a-respiração foi realizada utilizando-se um sistema Cortex Metalyzer 3B (Cortex Medical, Leipzig, Alemanha). A frequência cardíaca foi monitorada com um eletrocardiógrafo de 12 derivações (Nihon Kohden Corporation, Tóquio, Japão), com colocação de eletrodos como descrito por Mason e Likar.27 A PA foi medida com um esfigmomanômetro (PA 2001, PA MED, São Paulo, Brasil) a cada 3 minutos durante o teste, e adicionalmente a critério do médico. Todos os testes foram realizados no período da manhã, com temperatura ambiente entre 18 e 22ºC e umidade relativa em torno de 60%, e sempre pelo mesmo pesquisador (ADS), cardiologista com experiência em Teste cardiopulmonar do exercício, certificado pelo Departamento de Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Um protocolo de rampa individualizado foi usado como descrito em estudo prévio.28 Os testes foram considerados máximos quando o quociente respiratório (R) era igual ou maior que 1,10.
A PA foi medida com um dispositivo digital (G-Tech MA100, Shenzen, China) em quatro momentos diferentes: 1) pré-avaliação da função endotelial (depois de 15 minutos em repouso); 2) imediatamente antes da sessão de HIIT; 3) 5 minutos após a sessão de HIIT; 4) 30 minutos após a sessão de HIIT.
Os pacientes foram instruídos a não realizar qualquer tipo de exercício, não fumar, e a não consumir cafeína ou álcool por 24 horas antes da avaliação. A avaliação foi feita após 15 minutos de descanso em uma sala com temperatura entre 18 e 22ºC. Os pacientes estavam em decúbito dorsal, com o braço esquerdo posicionado confortavelmente. As medidas não invasivas da função endotelial foram realizadas com o sistema bidimensional Philips EnVisor Ultrasound (Philips, EUA) com um módulo de eletrocardiograma e um transdutor vascular de alta frequência (7-12 MHz).
Uma imagem da artéria braquial foi obtida a 2-5 cm da fossa antecubital em um plano longitudinal. O diâmetro da artéria foi medido manualmente a partir da camada íntima anterior e posterior. A inspeção visual de quadros isolados foi realizada, e os marcadores foram colocados em pontos discretos ao longo da imagem em modo B, quando as médias foram calculadas.
Após a medição basal do diâmetro da artéria braquial, um esfigmomanômetro foi inflado no antebraço esquerdo do paciente 50 mmHg acima da PA sistólica, permanecendo por 5 minutos. Sessenta segundos após a desinsuflação do manguito do esfigmomanômetro, uma nova imagem foi registrada sincronizada com a onda R do eletrocardiograma para identificação do diâmetro da artéria, possibilitando a mensuração da DFM.
Após 15 minutos (para normalização), o diâmetro da artéria foi medido novamente. Em seguida, administrou-se sublingualmente uma dose (0,4 mg) de nitroglicerina em spray. Após 5 minutos, outra imagem foi gravada para medir a dilatação independente do endotélio. Esses dados foram coletados antes do exercício e 30 minutos após a sessão de HIIT.
A DFM foi expressa como a mudança relativa no diâmetro da artéria braquial como segue: [(diâmetro pós-hiperemia - diâmetro basal) / diâmetro basal] × 100.
A sessão de HIIT foi realizada em esteira rolante de acordo com o protocolo recomendado pela European Society of Cardiology (ESC).15 A sessão começou com um aquecimento de 8 minutos com intensidade moderada, seguido de quatro blocos de 4 minutos cada, a 85-95% da frequência cardíaca máxima, 15 a 17 na classificação de Borg de escala de esforço percebido,29 alternando com 3 minutos com a 60-70% da frequência cardíaca máxima, 11 a 13 na escala de Borg. O treinamento terminou com 3 minutos de desaquecimento com intensidade moderada, totalizando 36 minutos. A zona alvo da frequência cardíaca estipulada para cada bloco se baseou na frequência cardíaca máxima atingida no teste cardiopulmonar do exercício, e que foi continuamente medida durante o treinamento através de monitorização eletrocardiográfica de 12 derivações (Nihon Kohden Corporation, Tóquio, Japão).
Os dados foram analisados no programa SPSS, versão 20.0. As variáveis categóricas são descritas como frequências absolutas e porcentagens. As variáveis contínuas com distribuição normal são descritas como médias e desvios padrão. A única variável sem distribuição normal (VE/VCO2 slope) foi descrita como mediana e intervalo interquartil. Após o cumprimento das suposições de normalidade, o teste t de Student para amostras pareadas foi utilizado para comparar as médias das variáveis de função endotelial (diâmetro da artéria braquial, DFM, e dilatação independente do endotélio) pré e pós-exercício. Equações de estimativas generalizadas (GEE) foram usadas para comparar a média da pressão arterial e a frequência cardíaca entre quatro momentos diferentes durante o experimento. Em todas as análises, p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
Inicialmente, dezenove pacientes foram incluídos no estudo. Após a primeira avaliação, dois pacientes que não completaram o teste cardiopulmonar do exercício, e um que tinha uma condição médica limitante, foram excluídos, como mostrado na Figura 1.
A Tabela 1 mostra as características demográficas, antropométricas e clínicas da amostra.
Característica | n = 16 |
---|---|
Sexo feminino | 9 (56%) |
Idade (anos) | 59 ± 7 |
Peso (kg) | 87 ± 28 |
Altura (cm) | 159 ± 10 |
Índice de massa corporal (kg/m2) | 34 ± 7 |
Circunferência da cintura (cm) | 110 ± 27 |
Tabagista | |
Tabagista ativo | 2 (12%) |
Ex-tabagista | 7 (44%) |
Classificação funcional NYHA | |
II | 12 (75%) |
III | 4 (25%) |
Comorbidades | |
Hipertensão | 16 (100%) |
Diabetes | 7(44%) |
Doença reumática (gota) | 2 (12%) |
Fibrilação atrial | 1 (6%) |
IRC | 4 (25%) |
IAM | 2 (12%) |
Acidente vascular encefálico | 3 (19%) |
Medicamentos | |
IECA/ARA | 16 (100%) |
Betabloqueadores | 13 (81%) |
Diuréticos | 13 (81%) |
Bloqueadores dos canais de cálcio | 11 (69%) |
Estatinas | 10 (62%) |
Antiagregantes plaquetários | 9 (56%) |
Vasodilatadores | 7 (44%) |
Medicamentos hipoglicêmicos | 7 (44%) |
Os valores são descritos como média ± desvio padrão ou frequência absoluta (porcentagem). Ex-tabagista: mais de 1 ano sem fumar; NYHA: New York Heart Association; IRC: insuficiência renal crônica; IAM: infarto agudo do miocárdio; IECA: inibidores da enzima conversora de angiotensina; ARA: antagonistas do receptor angiotensina.
Todos os pacientes apresentaram fração de ejeção normal, redução do volume diastólico final do ventrículo esquerdo e aumento da pressão de enchimento, como mostrado na tabela 2. Entretanto, oito pacientes apresentaram 15 > E/e' > 8. Nestes últimos, pelo menos outro critério diagnóstico para ICFEP foi confirmado. Redução da capacidade funcional e aumento da ineficiência ventilatória foram identificados no teste cardiopulmonar do exercício. A razão de trocas respiratórias máximas > 1,1 foi alcançada como critério de maximalidade, como mostrado na tabela 3.
Variáveis | n = 16 |
---|---|
FEVE (%) | 68 ± 5 |
E/e’ | 13 ± 4 |
DAE (cm) | 4,22 ± 0,1 |
VSFVE (ml) | 37,9 ± 9,10 |
VDFVE (ml) | 124,41 ± 23,24 |
VDFVEI (ml/m2) | 67,09 ± 6,35 |
ESIV (cm) | 1,15 ± 0,17 |
EPP (cm) | 1,10 ± 0,19 |
MVE (g) | 244,35 ± 58 |
MVEI (g/m2) | 146,2 ± 35,84 |
VAEI (ml/m2) | 20,81 ± 3,40 |
Os valores são descritos como média ± desvio padrão. FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo; Razão entre a velocidade diastólica precoce do fluxo mitral e a velocidade diastólica precoce do anel mitral; DAE: diâmetro do átrio esquerdo; VSFVE: volume sistólico final do ventrículo esquerdo; VDFVE: volume diastólico final do ventrículo esquerdo; VDFVEI: volume diastólico final do ventrículo esquerdo indexado pela superfície corporal; ESIV: espessura do septo interventricular; EPP: espessura da parede posterior; MVE: massa ventricular esquerda; MVEI: massa ventricular esquerda indexada pela superfície corporal; VAEI: volume atrial esquerdo indexado à superfície corporal.
Variáveis | n = 16 |
---|---|
VO2 pico (mL.kg-1min-1) | 18,40 ± 3,16 |
FC máx. (bpm) | 125 ± 23 |
VE/VCO2 slope | 33 ± 6 |
PET CO2 de repouso (mmHg) | 33 ± 3 |
Pulso O2 | 11,36 ± 4,45 |
R pico | 1,16 ± 0,13 |
Os valores são descritos como média ± desvio padrão ou mediana ± intervalo interquartílico. VO2 pico: consumo de oxigênio de pico; FC máx.: frequência cardíaca máxima; VE/VCO2 slope: inclinação do equivalente ventilatório do dióxido de carbono; PET CO2 de repouso: pressão expirada do dióxido de carbono; Pulso O2: pulso de oxigênio; R pico: quociente respiratório.
Todos os pacientes toleraram o exercício e completaram a sessão experimental. As variáveis do protocolo de exercício se encontram descritas na tabela 4.
Variáveis | Intensidade moderada | Alta intensidade |
---|---|---|
FC (bpm) | 98 ± 19 | 113 ± 24 |
Escala BORG | 13 ± 2 | 16 ± 2 |
Velocidade (km/h) | 3 ± 0,3 | 4,9 ± 0,8 |
Inclinação (%) | 0,9 ± 0,9 | 5,5 ± 1,9 |
Os valores são descritos como média ± desvio padrão. FC: frequência cardíaca; BORG: escala de esforço percebido.
Uma única sessão do HIIT promoveu um aumento subagudo de 0,37 ± 0,44 mm no diâmetro da artéria braquial, como mostrado na Figura 2. Esse aumento também foi observado no diâmetro da artéria braquial pós-hiperemia. Entretanto, quando esses dados foram utilizados para calcular a variação pré e pós-HIIT no diâmetro da artéria, não houve diferença na DFM absoluta e na DFM relativa. Além disto, não houve diferença no diâmetro da artéria braquial pré-NTG (Nitroglicerina) e pós-NTG. Da mesma forma, não houve diferença na dilatação absoluta independente do endotélio e na dilatação relativa independente do endotélio após uma única sessão do HIIT, conforme apresentado na tabela 5.
Variáveis | Pré | Pós | p |
---|---|---|---|
Diâmetro artéria braquial (mm) | 3,96 ± 0,57 | 4,33 ± 0,69 | < 0,01 |
Diâmetro artéria braquial pós hiperemia (mm) | 4,19 ± 0,61 | 4,47 ± 0,66 | < 0,05 |
DFM absoluta (mm) | 0,23 ± 0,20 | 0,13 ± 0,26 | 0,177 |
DFM relativa (%) | 5,91± 5,20 | 3,55 ± 6,59 | 0,162 |
Diâmetro | 4,11 ± 0,65 | 4,16 ± 0,68 | 0,528 |
Diâmetro artéria braquial pós-NTG (mm) | 4,57 ± 0,65 | 4,52 ± 0,64 | 0,541 |
NTG absoluto (mm) | 0,46 ± 0,17 | 0,35 ± 0,20 | 0,106 |
NTG relativo (%) | 11,4 ± 4,4 | 9,0 ± 5,37 | 0,117 |
Os valores são descritos como média ± desvio padrão. DFM: dilatação fluxo mediada; NTG: nitroglicerina.
A pressão arterial sistólica e diastólica no basal foi de 138 ± 21 mmHg e 81 ± 11 mmHg, respectivamente. A Figura 3 mostra a variação na PA em quatro diferentes momentos do experimento. Uma redução significativa na PA sistólica foi observada 5 e 30 minutos após a sessão de HIIT em comparação com a primeira aferição. Não houve diferença na PA diastólica e na PA média antes e depois da sessão de HIIT.
Até onde temos conhecimento, este é o primeiro estudo que mostra que uma única sessão de HIIT é eficaz em promover aumento subagudo significativo no diâmetro da artéria braquial, que foi acompanhado por uma redução significativa na PA sistólica em pacientes com ICFEP. Borlaug et al.,9 demonstraram que esses indivíduos apresentam disfunção global na reserva cardiovascular, demonstrando tanto prejuízo na diminuição da resistência vascular sistêmica, quanto no aumento do fluxo sanguíneo durante o exercício. Segundo os autores, esses fenômenos são potenciais contribuintes para a capacidade funcional limitada nesta condição clínica.
Pacientes com ICFEP em nossa amostra demonstraram vasodilatação após uma única sessão do HIIT, sugerindo que esse tipo de exercício é um estímulo capaz de promover alterações vasomotoras sistêmicas subagudas, mesmo em pacientes com comprometimento do acoplamento ventrículo-arterial9-11 e disfunção vascular crônica.6,8,30 É importante mencionar que algumas respostas fisiológicas agudas e subagudas ao exercício podem ser clinicamente relevantes. Essas respostas podem ser sobrepostas após a realização de sessões consecutivas de exercícios como uma somação temporal, assim contribuindo para adaptações crônicas do exercício físico no sistema cardiovascular.31 Assim, sessões sucessivas de exercícios que aumentam o fluxo sanguíneo, a tensão de cisalhamento e, consequentemente, a biodisponibilidade do óxido nítrico, podem ser um mecanismo-chave para adaptações crônicas na hemodinâmica periférica.32 Fu et al.,33 verificaram que, após 12 semanas de HIIT, pacientes com ICFEP aumentaram o VO2 pico e melhoraram a hemodinâmica periférica, através do aumento da distribuição sanguínea e da extração de oxigênio pela musculatura durante o exercício.33
Aumentos mediados pelo exercício na tensão cisalhamento têm um efeito forte e dose-dependente na dilatação arterial.33 Birk et al.,34 observaram que a vasodilatação ocorreu de forma mais significativa imediatamente após o exercício com intensidades mais altas em comparação às sessões de exercício com intensidades mais baixas.34 Entretanto, parece que quanto maior a vasodilatação promovida pelo exercício, menor a resposta vasodilatadora observada pela oclusão imediatamente depois da sessão de exercício com indivíduos saudáveis.
Embora não haja publicações anteriores sobre o efeito subagudo de uma sessão de exercício sobre a função endotelial em pacientes com ICFEP, estudos anteriores avaliaram pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida em um contexto semelhante.35,36 Esses participantes responderam a uma única sessão de exercício de ciclismo com melhora da vasodilatação dependente do endotélio do antebraço (hiperemia reativa) avaliada por pletismografia até 30 minutos após o exercício.35 Currie et al.,20 avaliaram pacientes com doença arterial coronariana após uma única sessão de HIIT e encontraram um aumento na função endotelial após 60 minutos.20 Em outro experimento, o mesmo grupo mostrou que apenas indivíduos com doença arterial coronariana com disfunção endotelial apresentaram aumento da DFM após 15 minutos de uma sessão de HIIT.21 Curiosamente, como em nosso experimento, em ambos os estudos o diâmetro basal da artéria braquial aumentou.
Algumas evidências apontam que o exercício realizado com intensidades submáximas próximas ao pico do exercício promove uma redução da PA maior e mais longa depois do exercício do que quando o exercício é realizado em intensidades mais baixas.37,38 O efeito hipotensivo de HIIT já está bem estabelecido na literatura, mas antes do presente estudo, a PA não havia sido avaliada em pacientes com ICFEP após uma sessão de qualquer tipo de exercício. Em nosso experimento, observamos uma redução absoluta de 12,7 ± 3,8 mmHg na PA sistólica 30 minutos após uma sessão de exercício.
Em uma situação crônica, esta redução pode ter relevância clínica, especialmente no caso de uma síndrome cujo controle rigoroso da PA é crucial. Curiosamente, uma meta-análise recente demonstrou que o HIIT realizado pelo menos 3 vezes por semana durante 12 semanas resultou em uma redução significativa na PA sistólica em indivíduos com sobrepeso/obesidade.19
É interessante notar que neste subgrupo de indivíduos com ICFEP e reduzida da capacidade funcional, o exercício de alta intensidade foi bem tolerado, pois a sobrecarga adequada (velocidade e inclinação) foi prescrita individualmente, considerando sempre as zonas-alvo estabelecidas com base nos resultados teste cardiopulmonar do exercício de cada indivíduo.
Finalmente, em uma situação caracterizada pela limitação ao exercício, o treinamento com exercícios aeróbicos tem um papel significativo, e é indicado para todos os pacientes capazes de realizá-lo. Em um cenário agudo e subagudo, o HIIT reduziu a PA e aumentou o diâmetro da artéria braquial, sugerindo que essa modalidade de treinamento pode ser uma alternativa benéfica para indivíduos com ICFEP.
Este foi um pequeno estudo antes e depois, unicêntrico, com pacientes com ICFEP, nos quais a presença de diabetes, aterosclerose, gota e o uso de tabaco podem ter influenciado os seus resultados. Entretanto, estas características representam a realidade dessa complexa síndrome que se apresenta com múltiplas comorbidades. Reconhecemos que mais estudos são necessários para avaliar o efeito de uma sessão de HIIT, especialmente após uma hora, bem como a eficácia de longo prazo desta estratégia de exercício como parte de um programa de reabilitação cardiovascular para estes pacientes. Finalmente, a presença de um grupo controle de indivíduos pareados sem ICFEP poderia ajudar a estabelecer quais respostas podem ser atribuídas à síndrome em estudo. Da mesma forma, a comparação de uma sessão de HIIT com uma sessão de treinamento contínuo de moderada intensidade poderia ajudar a estabelecer as diferenças na resposta hemodinâmica entre estes diferentes protocolos de exercício.
Uma única sessão de HIIT promoveu aumento no diâmetro da artéria braquial e redução na PA sistólica, sem alterar a DFM e a PA diastólica 30 minutos após a sessão de exercício.