versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385
Einstein (São Paulo) vol.16 no.3 São Paulo 2018 Epub 17-Set-2018
http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082018ai4394
Homem de 56 anos, hipertenso e diabético, assintomático, submetido à tomografia computadorizada (TC) do abdome com contraste endovenoso para acompanhamento de esteatose hepática. A TC demonstrou nódulo sólido hipervascularizado na cabeça pancreática (características de lesão neuroendócrina - figura 1) e formação ovalada anterior à bifurcação aortoilíaca (Figura 2).
Figura 1 Nódulo pancreático. Tomografia no plano coronal, fase arterial, demonstrando nódulo hipervascularizado com características de lesão neuroendócrina na cabeça pancreática (seta)
Figura 2 Formação ovalada pré-aórtica. Tomografia no plano axial, fase portal, demonstrando formação ovalada anterior à bifurcação aortoilíaca (seta)
Nesta situação, o corte axial da TC pode simular uma linfonodomegalia, especialmente no contexto clínico oncológico. Entretanto, a avaliação das diversas fases do exame e das reformatações coronais e sagitais auxiliam no correto diagnóstico de uma variação anatômica vascular: um trajeto anômalo da veia cava inferior (VCI) anterior à bifurcação aortoilíaca (Figuras 3 e 4).
Figura 3 Veia cava inferior anómala. Tomografia com MIP no plano coronal, fase portal, demonstrando que a estrutura anterior à bifurcação aortoilíaca representa trajeto anômalo da veia cava inferior (seta)
Figura 4 Veia cava marsupial. Reconstrução tridimensional da tomografia demonstrando a veia cava inferior (em azul) com trajeto anterior à bifurcação aortoilíaca (em vermelho)
A embriogênese da VCI é composta por regressões, anastomoses e substituições de precursores fetais, ao fim da qual a VCI é convertida em uma estrutura unilateral, destro-posicionada no abdome, composta por quatro segmentos: hepático, suprarrenal, renal e infrarrenal.(1,2) Eventos aberrantes nesse período determinam anomalias de desenvolvimento deste sistema, possibilitando 14 variações anatômicas diferentes.(2) As mais comuns são a duplicação da VCI e seu posicionamento à esquerda do abdome.(1,3) Outras são eventualmente identificadas, a exemplo da confluência ilíaca pré-aórtica, conhecida como veia cava marsupial.(4)
A veia cava marsupial é uma anomalia congênita na qual a VCI ou a veia ilíaca comum esquerda localizam-se anteriormente à bifurcação aórtica ou à artéria ilíaca comum direita.(1,5) Essa apresentação provavelmente representa a persistência do segmento ventral do anel venoso aórtico, associada à regressão do segmento dorsal desse anel - situação oposta ao desenvolvimento normal esperado.(5)
Embora complicações como trombose venosa profunda sejam possíveis, a maioria das anomalias da VCI é assintomática.(2) Entretanto, podem gerar erros de interpretação durantes exames de imagem ao serem confundidas com lesões retroperitoneais.(2) Seu reconhecimento é útil para planejamento de intervenções vasculares e cirúrgicas.(2)