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Violência de gênero: comparação da mortalidade por agressão em mulheres com e sem notificação prévia de violência

Violência de gênero: comparação da mortalidade por agressão em mulheres com e sem notificação prévia de violência

Autores:

Laura Augusta Barufaldi,
Rayone Moreira Costa Veloso Souto,
Renata Sakai de Barros Correia,
Marli de Mesquita Silva Montenegro,
Isabella Vitral Pinto,
Marta Maria Alves da Silva,
Cheila Marina de Lima

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.22 no.9 Rio de Janeiro set. 2017

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017229.12712017

Introdução

A violência contra a mulher é um fenômeno histórico, complexo e de difícil conceituação que permeia as relações desiguais entre homens e mulheres. Suas raízes tem origem em estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais, possuindo forte associação com as desigualdades sociais1 e relações de gênero2.

A Convenção de Belém do Pará (1996) definiu a violência contra as mulheres como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado” (Art. 1°)3. Essa elaboração entende que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica e pode ocorrer no âmbito da família, unidade doméstica, na comunidade, e perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes.

A violência contra as mulheres refere-se a um fenômeno mundial, que atinge todas as classes sociais, por isso vários países vêm aplicando medidas de prevenção e controle na tentativa de frear essas ações. Assim, a violência contra a mulher começou a ser enfrentada como problema de saúde pública4. Também é uma das manifestações mais extremas e perversas da desigualdade de gênero, produto das diferenças de poder e que representa um importante fenômeno social e de violação dos direitos humanos, impactando significativamente no processo saúde-doença e na perspectiva de vida das mulheres5,6.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 35% das mulheres em todo o mundo são vítimas de violência física e/ou sexual perpetrada, em sua maior parte, por seus parceiros7.

O feminicídio, fase mais perversa e extrema da violência contra mulheres, se expressa por meio de assassinato destas por razões baseadas nas desigualdades de poder entre os gêneros. Portanto, trata-se da violência exercida pelos homens contra as mulheres em função do desejo de obter poder, dominação ou controle8. Estima-se que, no mundo, 38% de todos os assassinatos de mulheres são cometidos por parceiros íntimos7.

O objetivo do estudo é descrever o perfil de mortalidade por agressão em mulheres e analisar se as vítimas de violência notificadas apresentam taxas de mortalidade por agressão mais elevadas do que a população feminina geral.

Método

Trata-se de um estudo descritivo da mortalidade por agressão em mulheres e do linkage dos bancos de dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) e do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). Os dados de mortalidade de mulheres foram obtidos do SIM, cuja fonte de dados é a Declaração de Óbito (DO), e de notificação de violência, do SINAN, de onde foram selecionadas as notificações de violências interpessoais e autoprovocadas contra mulheres em todas as faixas etárias.

Os dados utilizados para o linkage foram todas as notificações de violência contra mulheres registradas no SINAN, no período de 2011 a 2015, tendo sido o ano de 2011 selecionado em virtude de ser aquele em que se universalizou as notificações de violências para todos os serviços de saúde. Com relação aos registros de óbitos de mulheres, considerou-se o período de 2011 a 2016 (preliminar até maio de 2016) para o linkage, e as seguintes causas pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID-10):Agressões (X85-Y09).

O relacionamento dos casos foi feito utilizando a técnica dos Filtros de Bloom. Foram consideradas como variáveis de pareamento entre os bancos de dados: nome da paciente, data de nascimento e município de residência. Todos os pares foram validados pelo nome da mãe.

Os pares com escore máximo (10.000) foram considerados como verdadeiros. Em seguida, todos os pares com escore inferior a 10.000 foram analisados considerando o nome do paciente e a data de nascimento. Quando um dos bancos não tinha a informação da data de nascimento, a validação foi feita pela idade da vítima. Após o processo de validação dos pares, obteve-se 2.599 verdadeiros.

Elaborou-se uma descrição dos óbitos de pessoas do sexo feminino, por agressão, registrados no SIM, no período de 2011 a 2015, considerando as seguintes variáveis: grau de instrução, raça/cor, local de ocorrência do óbito, tipo/meio de agressão e faixa etária (crianças, adolescentes, adultas e idosas). A análise descritiva dos pares validados também foi realizada segundo faixa etária por características das vítimas, do evento e do(a) provável autor(a) da violência.

Para calcular a taxa média de mortalidade por agressão em mulheres na população em geral, entre 2011 e 2015, foi considerada a média dos óbitos por agressão em mulheres nesse período, dividido pela população média de mulheres do período. As populações utilizadas para esse cálculo foram obtidas da “projeção da população das Unidades da Federação por sexo e grupo de idade”, disponível no sítio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS)9. As taxas foram calculadas por 100.000 mulheres.

Para calcular as taxas médias de mortalidade por agressão em mulheres que notificaram violência física, violência psicológica, estupro e negligência entre 2011 e 2015, considerou-se os óbitos por agressão, de mulheres com notificação desses tipos de violência (dados do linkage), dividido pelas notificações de violência física, violência psicológica, estupro e negligência contra mulheres no mesmo período, respectivamente.

O cálculo das taxas, tanto na população geral, quanto nas mulheres com notificação de violência, foram realizados por faixa etária: crianças (0 a 9 anos); adolescentes (10 a 19 anos); adultas (20 a 59 anos) e idosas (60 anos ou mais).

Por fim, calculou-se a razão de taxas de mortalidade, considerando no numerador as taxas de mortalidade das vítimas de violência e no denominador a taxa de mortalidade da população geral.

Resultados

De acordo com o SINAN, no período de 2011 a 2015, o número total das notificações de violências mais do que dobrou, passando de 107.530 para 242.347. As notificações de violência contra a mulher também cresceram, em proporção semelhante no mesmo período, passando de 75.033 para 162.575. Em 2015, do total de notificações de violências, 67,1% foram contra a mulher (Figura 1).

Fonte: Viva/SINAN/SVS/MS.

Figura 1 Número de notificações de violência interpessoal e autoprovocada (total e sexo feminino). Brasil, 2011 a 2015. 

De acordo com o SIM, no período de 2011 a 2015, foram registrados 23.278 óbitos por agressão em pessoas do sexo feminino, sendo 676 (2,9%) em crianças, 3.754 (16,1%) em adolescentes, 16.889 (72,5%) em adultas, e 1.589 (6,8%) em idosas (Tabela 1). A maioria das mulheres (adultas e idosas) tinham até 7 anos de estudo (44% e 37,6%, respectivamente), eram negras (61%), com exceção das idosas que eram de maioria branca (50,2%). Grande parte dos óbitos ocorreu em via pública (31%), seguido de domicílio (28%) – sendo que nas crianças o local de óbito mais frequente foi o hospital (38,2%) e nas idosas foi o domicílio (49,5%). Destaca-se ainda que 25% dos óbitos ocorreram no hospital, o que demonstra que a maioria ocorreu no local da violência, sem atendimento médico-hospitalar, ou sem que houvesse tempo hábil para isso. A maioria dos homicídios foi por arma de fogo (49%) – sendo que nas crianças este meio de agressão foi a segunda causa mais frequente (26,2%). Já em idosas o meio mais utilizado nas mortes por agressão foi objeto contudente/perfuro/cortante (43,3%).

Tabela 1 Características das pessoas do sexo feminino que foram a óbito devido à agressão, Brasil, 2011 a 2015*. 

Crianças Adolescentes Adultas Idosas

(0 a 9 anos) (10 a 19 anos) (20 a 59 anos) (60 anos ou mais) Total

n = 676 n = 3.754 n = 16.889 n = 1.589 n = 23.278

n % n % n % n % n %
Grau de Instrução
Nenhuma 30 4,4 32 0,9 524 3,1 304 19,1 892 3,8
Até 7 96 14,2 2.058 54,8 7.426 44,0 597 37,6 10.179 44
8 anos e mais 0 0,0 791 21,1 4.479 26,5 237 14,9 5.509 24
Sem inf. 550 81,4 873 23,3 4.460 26,4 451 28,4 6.698 29
Raça/Cor
Branca 223 33,0 1.005 26,8 5.520 32,7 798 50,2 7.631 33
Negra (preta/parda) 342 50,6 2.539 67,6 10.514 62,3 711 44,7 14.301 61
Amarela 1 0,1 4 0,1 31 0,2 11 0,7 47 0,2
Indígena 83 12,3 28 0,7 57 0,3 12 0,8 181 0,8
Sem Inf. 27 4,0 178 4,7 767 4,5 57 3,6 1.118 4,8
Local Ocorrência do óbito
Hospital 258 38,2 961 25,6 4.039 23,9 511 32,2 5.811 25
Domicílio 221 32,7 656 17,5 4.796 28,4 787 49,5 6.475 28
Via publica 84 12,4 1.421 37,9 5.314 31,5 142 8,9 7.142 31
Outros 107 15,8 700 18,6 2.618 15,5 139 8,7 3.684 16
Sem inf. 6 0,9 16 0,4 122 0,7 10 0,6 166 0,7
Tipo/meio de agressão
Arma de fogo 177 26,2 2.317 61,7 8.482 50,2 404 25,4 11.512 49
Obj. contudente/perfuro/cortante 133 19,7 923 24,6 5.969 35,3 688 43,3 7.823 34
Enforcamento 80 11,8 238 6,3 980 5,8 136 8,6 1.465 6,3
Demais meios 286 42,3 276 7,4 1.458 8,6 361 22,7 2.478 11

Fonte: MS/SVS/DANTPS/CGIAE - SIM.

*2015 são dados preliminares.

O perfil de mortalidade, a partir dos dados do linkage, revelou que, das 567.456 mulheres vítimas de violência que foram notificadas, entre 2011 e 2015, 2.599 vieram a óbito por agressão, sendo 54,7% em mulheres negras, seguidas de brancas (42,4%). A análise desagregada por raça/cor da pele mostra que, em todas as faixas etárias, as negras são as principais vítimas, com exceção das idosas, cuja raça/cor branca é superior, correspondendo a 64,3% (Tabela 2).

Tabela 2 Características das pessoas do sexo feminino que foram notificadas como vítimas de violências entre 2011 a 2015 e que vieram a óbito por agressão. Brasil, 2011 a 2015. 

Características Criança (0 a 9 anos) Adolescente (10 a 19 anos) Adulta (20 a 59 anos) Idosa (60 anos ou mais) Total

n = 108 n = 460 n = 1.891 n = 140 n = 2.599
n % n % n % n % n %
Raça/ cor
Branca 51 47,2 158 34,3 802 42,4 90 64,3 1.101 42,4
Negra (preta/parda) 57 52,8 287 62,4 1.035 54,7 42 30,0 1.421 54,7
Amarela e Indígena 0 0 2 0,5 12 0,7 1 0,7 15 0,5
Sem informação 0 0 13 2,8 42 2,2 7 5,0 62 2,4
Violência de repetição
Sim 12 11,1 50 10,1 335 17,7 16 11,4 413 15,9
Local de ocorrência da violência
Residência 75 69,4 161 35,0 914 48,3 101 72,1 1.251 48,1
Via pública 11 10,2 146 31,7 491 26,0 8 5,7 656 25,2
Outrosb 13 12,0 75 16,3 239 12,6 10 7,1 337 13,0
Sem informação 9 8,3 78 17 247 13,1 21 15,0 355 13,7
Tipo de Violênciaª
Física 91 63,6 419 75,1 1.809 80,8 129 71,7 2448 78,4
Psicológica/ moral 8 5,6 74 13,3 333 14,9 29 16,1 444 14,2
Negligência/ abandono 20 14,0 13 2,3 11 0,5 13 7,2 57 1,8
Estuprod 22 15,4 48 8,6 72 3,2 4 2,2 146 4,7
Outrosc 2 1,4 4 0,7 15 0,7 5 2,8 26 0,8
Provável Autorª
Pai/Padrasto 41 41,4 19 5,7 16 1,1 0 0 76 3,8
Mãe/Madrasta 27 27,3 10 3,0 11 0,8 1 1,0 49 2,5
Cônjuge/Ex-Cônjuge/Namorado(a)/Ex-namorado(a) 0 0 132 39,9 874 59,9 26 27,1 1.032 52,0
Amigos/ conhecidos 12 12,1 71 21,5 180 12,3 12 12,5 275 13,9
Desconhecido 14 14,1 88 26,6 300 20,6 29 30,2 431 21,7
Outrose 5 5,1 11 3,3 78 5,3 28 29,2 122 6,1

Fonte: Vigilância de Violências e Acidentes - VIVA/SINAN/SVS/MS.

ªTotal é maior que o n, pois se trata de uma questão de múltipla escolha. bEscola, bar, comércio/serviços, habitações coletivas. cTortura, tráfico de seres humanos, intervenção legal, trabalho infantil, violência financeira/econômica. d Excluiu-se outros tipos de violência sexual, como exploração sexual e assédio sexual. eFilho, irmão, cuidador, patrão, pessoa com relação institucional, policial/agente da lei, própria pessoa.

Do total de óbitos das mulheres, 15,9% tinham história prévia de violência de repetição, com destaque para as adultas (17,7%). O local onde, predominantemente, ocorreu a violência foi a residência (48,1%) para todos os grupos, seguido de vias públicas (25,2%) (Tabela 2).

A violência mais notificada foi a física (78,4%), seguida da psicológica/moral (14,2%), estupro (4,7%) e por fim, negligência/abandono (1,8%). A análise por faixa etária apresenta variação. Destaca-se que entre crianças e idosas, após a violência física, a negligência/abandono foi mais significativa (Tabela 2).

O provável autor da agressão variou de acordo com a faixa etária. Nas crianças o provável autor mais comum foi pai/padrasto (41,4%); enquanto que nas adolescentes e adultas teve-se o parceiro íntimo, com 39,9% e 59,9% respectivamente. Nas idosas, o principal agressor é desconhecido (30,2%), seguido do parceiro íntimo (27,1%).

A taxa de mortalidade por agressão na população do sexo feminino foi de 4,6/100.000 mulheres (dado não apresentado em tabela), sendo que na Tabela 3 são apresentadas as taxas médias de mortalidade por agressão na população geral do sexo feminino e taxas de mortalidade por agressão nas mulheres vítimas de violência notificadas, por faixa etária.

Tabela 3 Taxas médias de mortalidade por agressão na população geral do sexo feminino e nas pessoas do sexo feminino que foram notificadas por violência, por faixa etária. Brasil, 2011 e 2015. 

Mortalidade Mortalidade por agressão**

Numeradorb Denominadorc Taxa* Razão de taxa
Crianças (0 a 9 anos)

Na população geral de crianças do sexo feminino 676 76.754.864 0,9
Em vítimas notificadas por violência (todos os tipos) 108 70.708 152,7 173,4
Em vítimas notificadas por violência física 91 19.730 461,2 523,7
Em vítimas notificadas por estupro a 22 15.709 140,0 159,0
Em vítimas notificadas por violência psicológica 8 14.255 56,1 63,7
Em vítimas notificadas por negligência 20 29.244 68,4 77,7

Adolescentes (10 a 19 anos)

Na população geral de adolescentes do sexo feminino 3.754 84.113.598 4,5
Em vítimas notificadas por violência (todos os tipos) 460 142.500 322,8 72,3
Em vítimas notificadas por violência física 419 80.435 520,9 116,7
Em vítimas notificadas por estupro a 48 37.314 128,6 28,8
Em vítimas notificadas por violência psicológica 74 39.522 187,2 42,0
Em vítimas notificadas por negligência 13 12.779 101,7 22,8

Adultas (20 a 59 anos)

Na população geral de adultas do sexo feminino 16.889 285.750.029 5,9
Em vítimas notificadas por violência (todos os tipos) 1.891 348.567 542,5 91,8
Em vítimas notificadas por violência física 1.809 272.858 663,0 112,2
Em vítimas notificadas por estupro a 72 19.882 362,1 61,3
Em vítimas notificadas por violência psicológica 333 126.575 263,1 44,5
Em vítimas notificadas por negligência 11 4.148 265,2 44,9

Idosas ( acima de 60 anos)

Na população geral de idosas do sexo feminino 1.589 61.723.472 2,6
Em vítimas notificadas por violência (todos os tipos) 140 27435 510,3 198,2
Em vítimas notificadas por violência física 129 15.359 839,9 326,3
Em vítimas notificadas por estupro a 4 721 554,8 215,5
Em vítimas notificadas por violência psicológica 29 9.901 292,9 113,8
Em vítimas notificadas por negligência 13 9.166 141,8 55,1

Fonte: SIM e Vigilância de Violências e Acidentes - VIVA/SINAN/SVS/MS.

(*) As taxas foram calculadas por 100.000 mulheres . (**) Inclui: mortalidade por agressão (CIDX85-Y09). a Excluiu-se outros tipos de violência sexual, como exploração sexual e assédio sexual. b Numerador: para população geral é a média dos óbitos por agressão registrados no SIM e para as vítimas de violência é a média dos óbitos por agressão registrados no SIM e que tinham notificação de violência. c Denominador: para população geral é a média da população e para às vítimas de violência é a média do número de notificações.

Quando comparadas as taxas de mortalidade de vítimas de violência notificadas com aquelas para o sexo feminino, no período de 2011 a 2015, observa-se que em todos os casos, as vítimas de violência notificadas anteriormente tiveram taxas de mortalidade superiores às de mortalidade da população feminina total (Tabela 3).

No mesmo período, quando consideradas as razões de taxas, que expressam o risco de expostos com relação à população geral de referência, observa-se que as mulheres com notificação de violência física foram as que apresentaram um risco maior para a morte por agressão, em todas as idades. Entre crianças vítimas de violência física, o risco de mortalidade por agressão foi 523,7 vezes maior; em adolescentes foi 116,7 vezes; em adultas foi de 112,2 vezes; e em idosas 326,3 vezes (Tabela 3).

As mulheres vítimas de estupro também apresentaram alto risco de serem assassinadas, principalmente idosas, cuja taxa foi 215,5 vezes maior. Em crianças esse número também foi elevado, ou seja, 159 vezes maior.

A violência psicológica e a negligência também aumentaram o risco de mortalidade em mulheres por agressão, principalmente entre os extremos de ciclos de vida. Entre crianças, o risco de morte por agressão entre vítimas de violência psicológica e negligência foi, respectivamente, 63,7 e 77,7 vezes maior com relação à população geral feminina. Para idosas esse risco foi de 113,8 e 55,1, respectivamente.

Discussão

Os resultados demonstram que o risco das mulheres notificadas por violência morrerem por agressão foi maior do que na população feminina geral, revelando assim uma situação de vulnerabilidade. Esse risco apresenta diferentes variações com relação ao ciclo de vida, embora a violência física e o estupro tenham maiores razões de taxas.

Esse fenômeno pode ser explicado pela questão de gênero, a qual, pelas diferenças socialmente construídas, reproduz a desigualdade, a discriminação e a subordinação estrutural das mulheres10, as quais ocupam posições subalternas e secundárias11,12. A morte de mulheres por seus companheiros, pais, namorados, conhecidos ou desconhecidos encontra uma raiz comum na subordinação e opressão que elas ocupam na hierarquia dos papéis sociais10. Além disso, mulheres em situação de violência têm taxas mais altas de absenteísmo, atrasos no trabalho e diminuição da produtividade que podem interferir em suas atividades profissionais, tornando-as mais vulneráveis à dependência financeira do agressor, comprometendo sua autonomia13. Um estudo que analisou a mortalidade feminina por agressão no estado do Rio Grande do Sul mostrou que a mortalidade masculina e a feminina por agressão estiveram associadas, evidenciando a maior prevalência de violência contra a mulher em locais onde a violência entre homens também é elevada. Esse resultado corrobora a percepção de que a violência estrutural e a desorganização social são fatores que aumentam a vulnerabilidade das mulheres, e em territórios disputados pelo tráfico, conflitos armados e violações de direitos humanos, os crimes de gênero são frequentes14,15.

A violência contra a mulher repercute na ausência de saúde e na falta de qualidade de vida das mesmas e tem sido associada à frequente procura pelos serviços de saúde. Plichta mostra associações da violência com efeitos imediatos como lesões e traumas que levam aos serviços de emergência, tanto quanto efeitos indiretos e de longo prazo, como as dores crônicas, problemas gastrointestinais, fibromialgias, doenças sexualmente transmissíveis, infecções urinárias de repetição, problemas com menstruação e disfunções sexuais, entre outras. No mesmo estudo, ainda chama a atenção o comprometimento da saúde mental destas usuárias16. As mulheres que sofreram violência sexual são 2,3 vezes mais propensas a desenvolver distúrbios relacionados ao álcool e 2,6 vezes mais propensos a sofrer de depressão ou ansiedade7.

O perfil de mortalidade por agressão de mulheres vítimas de violência demonstra uma situação preocupante, sendo que as mais afetadas eram negras, de baixa escolaridade (menor que 7 anos de estudo). São vítimas, principalmente, de agressão física e sexual, praticadas, na sua maioria, por familiares/conhecidos/amigos com destaque para a violência cometida pelo companheiro nas próprias residências que utilizam como principais meios armas de fogo e objetos cortantes. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2015, realizada em adolescentes do 9º ano do ensino fundamental, mostrou que o envolvimento em briga na qual teve uso da arma de fogo foi declarado por 5,7% dos escolares, sendo mais frequente entre alunos do sexo masculino (7,9%) do que entre os do feminino (3,7%)17. Isso demonstra que mesmo com a lei de desarmamento, as armas de fogo continuam disponíveis para comercialização e seu acesso é cada vez mais precoce.

Por meio dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade não é possível responder se os homicídios contra as mulheres são provocados em razão do gênero. No entanto, alguns pesquisadores consideram que de 60 a 70% dessas mortes femininas por agressão são feminicídios14,15. Eles alegam que por mais que o total das mortes femininas por agressão superestime os reais valores de feminicídio, acredita-se que essa possível superestimativa possa compensar os diagnósticos mal definidos, em que homicídios femininos foram classificados como outros tipos de mortes violentas (suicídios ou acidentes)14.

A produção de informações fidedignas sobre feminicídio é um desafio em todo o mundo18. Na maioria dos países, os sistemas de informação sobre mortalidade não documentam a relação entre a vítima e o agressor, ou os motivos do homicídio7. Aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres, no mundo, são cometidos por um parceiro íntimo. Além disso, é provável se tratar de estimativas conservadoras devido à falta de qualificação da informação. Não obstante, os 66 países participantes do levantamento de dados, mostram que o principal risco de homicídio entre mulheres é de ser cometido por um parceiro íntimo19. Ademais, as mulheres que matam seus parceiros íntimos geralmente agem em autodefesa, ou seja, também são vítimas que reagem a situações de ameaça e intimidação20.

A América Latina registra, depois da África Subsahariana, as taxas mais altas de agressão às mulheres, ainda que existam diferenças importantes entre os países. As taxas de mortalidade por agressão em mulheres do Brasil, Colômbia e México, entre 2001 e 2011 foram superiores à média mundial (2,8 por 100.000 habitantes) e à média da América Latina (3,2 por 100.000 habitantes)15. Esta situação, apesar de grave, constitui apenas o que se chama a ponta do Iceberg, pois a esses números visíveis somam-se muitos outros invisíveis envolvendo lesões leves que não demandam cuidados de saúde e não são notificadas ou aquelas que permanecem ocultas em virtude dos padrões culturais ou dos vínculos existentes entre vítima e agressor, como é o caso da violência doméstica21.

Os dados do SINAN, em 2015, revelam que 33,8% dos casos de violência notificada em mulheres tiveram como possível autor o parceiro íntimo, e quando consideradas apenas as mulheres adultas, esse percentual alcança 48,2%22.

Estudo abrangendo as notificações de violência doméstica, sexual e/ou outras contra mulheres adultas (20 a 59 anos de idade), realizadas no ano de 2011, mostra que o principal autor de agressão foi o cônjuge (38,2%), que, somado aos demais parceiros íntimos, ultrapassa a metade das ocorrências notificadas23. Estudo realizado em um centro de saúde-escola, na região do Butantã, Município de São Paulo, mostrou que os casos de agressão física perpetrada pelo companheiro foram na maioria, 78%, severas, que são aquelas que resultaram em sequelas temporárias ou permanentes ou, ainda, em que há ameaça ou uso de armas, indicando o potencial impacto direto e indireto para a saúde das envolvidas2. Outro estudo, realizado no município de São Paulo nos serviços de emergência, mostrou que 59% de violência foi perpetrada por parceiro íntimo (VPI), independente de sua repetição. Porém o maior número de consultas mostrou-se associado com VPI repetitiva24. Estudo realizado pela OMS em diversos países, incluindo o Brasil, revelou que entre 15 e 71% das mulheres em todo o mundo já sofreram algum tipo de violência física ou sexual provocada por parceiro íntimo, em algum momento de suas vidas. As mulheres residentes em zonas rurais foram as mais acometidas por violência provocada por parceiros íntimos, comparadas às residentes nas zonas urbanas25.

Um estudo multicêntrico da OMS revelou que mais da metade das mulheres em Lima e Cusco (Peru), 51% e 68%, respectivamente, reportaram violência sexual ou física por parte de seus parceiros26. No Peru, se estima que oito de cada 10 casos de abuso sexual tem como agressor uma pessoa familiar ou conhecida da vítima e seis de cada 10 gravidezes em meninas de 11 a 14 anos de idade são produto de incesto ou violência26. Nos Estados Unidos, o feminicídio foi a sétima maior causa de morte prematura de mulheres jovens (15 a 45 anos), sendo que a maior parte dos crimes foi cometida por parceiros e ex-parceiros27.

Em estudo realizado nos Estados Unidos, 70% das vítimas haviam notificado atos de violência pelo mesmo autor do crime, sendo que tal fator foi o maior determinante do risco de feminicídio. Dessa forma, torna-se necessária uma maior atenção e proteção às mulheres vítimas de violência por parceiros íntimos, pelo fato de tal grupo possuir maior risco de morte pelos mesmos. Agentes e profissionais da saúde possuem papel fundamental na identificação e notificação de mulheres agredidas por parceiros ou ex-parceiros27, incluindo a importância de que a investigação e o aconselhamento sobre violência íntima contra as mulheres faça parte das consultas rotineiras em ginecologia e obstetrícia.

A violência de repetição entre mulheres notificadas e que vieram a óbito ocorreu em 15,9% dos casos, o que demonstra o caráter crônico da violência, cujo ciclo precisa ser interrompido. Em vários países, grande parte das mulheres assassinadas possuía história de violências reiteradas e tentava obter a separação antes de ser morta, especialmente nos três meses que antecederam o crime28. Estudos mostram que os episódios de violência são repetitivos e tendem a se tornar progressivamente mais graves29,30. Apontam ainda, consumo mais intenso dos serviços de saúde, ambulatoriais e hospitalares, delineando-se, assim, uma clientela expressiva31,32. Além disso, a violência de repetição e as mortes por causas violentas em mulheres notificadas evidenciam a fragilidade da rede de atenção e proteção àquelas em situação de violência.

Apesar do aumento crescente das notificações nos últimos anos no Brasil, ainda há uma subnotificação dos casos que chegam às unidades de saúde. A subnotificação pode ser explicada pela denominada “invisibilidade da violência” que impede seu reconhecimento, sobretudo a doméstica, que aparece com muita frequência na atenção básica. A procura das mulheres por serviços de saúde com “queixas vagas” ou “invisíveis” sugerem situações de violência, nem sempre abordada abertamente, constituindo desta forma um problema velado33-35.

O que chega aos serviços de saúde, geralmente, são os casos mais graves, como observado em estudo sobre violência contra mulheres nas unidades de saúde de Belo Horizonte, entre 2001 e 2011, onde maior número de notificações ocorreu em hospitais e serviços especializados no acolhimento de pessoas nessa situação34. Para este autor, a subnotificação ocorre por motivos plurais: medo dos profissionais de sofrerem retaliações, dificuldade ou constrangimentos de preencher a ficha de notificação, sobrecarga no cotidiano do serviço, dificuldade em lidar com os casos e a impotência diante da situação de violência34.

Os dados aqui evidenciados sobre as taxas de mortalidade por agressão em mulheres que tiveram notificação prévia de violência mostram que são mortes anunciadas que seguiram uma história de agressões e que expõem a ineficácia das medidas protetivas. Nesse sentido, evidencia-se a importância das Redes de Atenção e Proteção às Pessoas em Situação de Violência e da notificação de violência contra a mulher, fundamentais para implementar políticas públicas de enfretamento do problema e promoção da cultura de paz. E neste contexto a violência contra a mulher assume prioridade na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

A rede de atenção e proteção social para vítimas de violência é composta por serviços das áreas de Saúde, Sistema de Justiça, Segurança Pública e Assistência Social. O enfrentamento à violência é um importante desafio para a saúde pública, devido aos sérios impactos sociais, econômicos, epidemiológicos e organizativos da rede de atenção à saúde. A incorporação da temática à agenda do setor saúde no Brasil, que é signatário de acordos internacionais e desenvolve um conjunto de iniciativas para a promoção da saúde, para a prevenção da violência e para o atendimento integral e humanizado às pessoas em situação de violência, demonstra a relevância do tema.

Para que o enfrentamento à violência se efetive é importante que serviços e instituições atuem de forma articulada e integrada. No âmbito da assistência, é fundamental que os serviços atuem de forma intersetorial e que definam fluxos de atendimento compatíveis com as realidades locais. A perspectiva da intersetorialidade é um desafio, pois requer uma ruptura com o modelo ‘tradicional’ de gestão pública que tende à departamentalização, à desarticulação e à setorilização das ações e das políticas públicas36.

Outras medidas são necessárias em resposta a esse problema, de caráter intersetorial, como fortalecer as Redes de Atenção e Proteção às Pessoas em Situação de Violência, tendo como referência os Núcleos de Prevenção de Violências e Promoção da Saúde, locos de gestão intersetorial, ao qual cabe o papel de articulação desta rede. Assim deve-se articular a notificação de violência contra a mulher, via ficha de notificação, com o encaminhamento da pessoa para a rede de atenção à saúde e aos demais serviços que compõem a rede de cuidado e proteção, visando à interrupção desse ciclo. De nada adianta produzir informações se a realidade não for alterada, ou seja, não se consiga proteger as mulheres de novos episódios de violência e da mortalidade.

O conhecimento do perfil das notificações e da mortalidade por violência contra a mulher é fundamental para traçar estratégias de enfretamento deste problema de saúde pública. Faz-se necessário qualificar cada vez mais as informações para conhecer a magnitude e as características do problema para fazer vigilância, promover saúde e prevenir a violência, por meio de ações intersetoriais. Este estudo contribui para subsidiar a implantação de políticas públicas voltadas para a prevenção das violências e promoção da saúde e da cultura de paz, bem como para a atenção e proteção às pessoas nessa situação, para romper com este ciclo e preservar vidas.

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