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As novas variantes e a aceleração da COVID-19 | Colunistas

As novas variantes e a aceleração da COVID-19 | Colunistas

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Desde o início da pandemia da COVID-19, existe a preocupação com a possibilidade de surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2. É motivo de preocupação entre a comunidade científica global, que se desdobra para responder diferentes questões, como a possibilidade de ampliação da capacidade de transmissão, de aumento da letalidade e redução da eficácia das vacinas desenvolvidas contra a Covid-19. 

Uma variante é resultado de modificações genéticas que o vírus sofre durante seu processo de replicação. Um único vírus pode ter inúmeras variantes; quanto mais ele circula, mais faz replicações, e maior é a probabilidade de modificações no seu material genético.

Variantes do SARSCOV-2

Variante B.1.1.7 (também conhecida como 20I/501Y.V1 ou VOC-202012/01)

Foi identificada no Reino Unido e carrega a mutação N501Y, que aumenta a afinidade do vírus pelo receptor ACE-2, o que pode explicar a sua rápida expansão associada ao agravamento da situação epidemiológica no Reino Unido, Portugal e outros países da Europa entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Esta linhagem foi considerada mais transmissível e mais letal que as linhagens dominantes no Reino Unido anteriormente.

Variante B.1.351 (501Y.V2 ou 20H/501Y.V2)

Foi descoberta na África do Sul e carrega três importantes mutações (K417N, E484K e N501Y), parecendo ser mais transmissível e menos vulnerável a anticorpos gerados por uma infecção anterior ou por vacina. Ainda não existem estudos sobre a severidade clínica associada a esta linhagem.

Variante P.1 (20J/501Y.V3 ou VOC-202101/02)

Emergiu inicialmente no estado brasileiro do Amazonas e possui um conjunto grande de mutações, dentre as quais se destacam a K417T, E484K e N501Y. Imediatamente, após a identificação desta variante, as autoridades de saúde pública alertaram sobre o risco potencial de disseminação mais rápida ou agravamento dos resultados clínicos da doença por coronavírus. A proporção de amostras de pacientes com COVID-19 em Manaus (capital do Estado do Amazonas) com linhagens identificadas como P.1 que não circulavam até novembro de 2020 passou de 52.2% em dezembro para 85,4% em janeiro de 2021.

Nesse contexto, observou-se um aumento do número das internações hospitalares pela COVID-19 em Manaus, o que causou colapso do sistema de saúde local. Estudos iniciais estimaram que a linhagem P.1 pode ser entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível que suas precursoras, isto pode ajudar a explicar a rápida piora da situação epidemiológica naquele local. Apesar de ter havido um grande aumento no número de mortes por COVID-19 no estado a partir de dezembro de 2020, não é possível, ainda, afirmar se isto se deveu exclusivamente ao aumento no número total de casos associados à crise nos serviços de saúde ou se houve, também, uma mudança no padrão de gravidade da doença devido à circulação de uma nova variante.

Variante B.1.617

Com a explosão de casos na Índia e sua disseminação no Reino Unido, ela passou a preocupar o mundo. Segundo a OMS, existem evidências de que a linhagem B.1.617 tenha maiores taxas de transmissão. Isso ocorreu porque provavelmente a variante se tornou mais transmissível após mutações sofridas desde a sua descoberta. Essa variante indiana apresenta uma modificação na proteína que fica na superfície do vírus, responsável por se conectar aos receptores das células humanas e dar início à infecção. A OMS classificou a linhagem B.1.617 como uma “variante de preocupação” (VOC – Variant of Concern, em inglês).

Impacto das mutações

Um único vírus pode ter diversas variantes, por exemplo, a B.1.617. Essa variante apresenta pelo menos 18 mutações, sendo nove localizadas na estrutura da proteína spike, ou proteína S, relacionada à entrada do vírus nas células humanas, e outras nove presentes em diferentes regiões do genoma viral, tendo uma maior capacidade de transmissão.

Os especialistas afirmam que ainda não existem evidências sobre o impacto da variante na evolução da infecção para casos mais graves ou no número de mortes. Estudos estão sendo realizados para identificar as características e o real impacto dela, principalmente nessa questão da severidade da doença.

Medidas de vigilância

Os especialistas explicam que a forma mais eficiente de conter a dispersão das novas variantes é pelo isolamento e cuidado dos infectados e rastreio dos contatos, ou seja, pessoas que estiveram próximas e que podem ter sido infectadas.

Diante de uma variante de preocupação, estratégias de saúde pública específicas podem ser necessárias, como a notificação à OMS e o estabelecimento de medidas locais ou regionais para controlar a disseminação, além do desenvolvimento de novos testes de diagnóstico, mais específicos, e até mesmo a revisão e reformulação de vacinas.

Autora: Bianca Santos Simões

Instagram: @biancasants


O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências:

The emergence of novel SARS-CoV-2 variant P.1 in Amazonas (Brazil) was temporally associated with a change in the age and gender profile of COVID-19 mortality  

European Centre for Disease Prevention and Control. European Centre for Disease Prevention and Control. Risk related to spread of new SARS-CoV-2 variants of concern in the EU/EEA, first update – 21 January 2021. Stockholm, 2021.

FIOCRUZ – Estudo aponta maior aceleração da covid-19 em estados do Norte e Nordeste

FIOCRUZ – Tendências atuais da pandemia de Covid-19: Interiorização e aceleração da transmissão em alguns estados

O que você precisa saber sobre a variante B.1.617, originária da Índia