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A vacinação é tema de muito debate desde os primórdios do desenvolvimento e implementação desta técnica de imunização. No entanto, a ausência de informações sempre gerou insegurança na população; hoje, mesmo após o advento das tecnologias e comunicações, as dúvidas e suspeitas ainda persistem. O movimento “antivacina” vem ganhando grande destaque na pandemia de coronavírus no Brasil por fomentar na população a grande dúvida sobre a segurança das vacinas desenvolvidas contra essa doença altamente contagiosa.
Abaixo você verá uma explicação sucinta de como as principais vacinas são feitas e utilizadas, bem como sua eficácia e segurança, seguida de um questionamento sobre as vacinas de Covid-19.
Surgimento
Cerca de 200 anos atrás, um surto de varíola em vários países deixou um rastro de óbitos e deu início ao que hoje chamamos de vacinação. As pessoas se contaminavam propositalmente ao entrar em contato com infectados através de feridas ou pus para que ficassem imunes da doença, técnica denominada variolação.
Cientistas perceberam que, ao entrar em contato uma segunda vez com o agente infeccioso da varíola, estas pessoas não contraiam a forma grave da doença, dando abertura à origem da técnica de vacinação.
Com o passar do tempo, foi observado que as pessoas vacinadas estavam contraindo a doença novamente. Os cientistas da época concluíram que isso se devia ao fato de a imunidade proporcionada pela vacinação possuir “data de validade”, ou seja, era necessária uma dose de reforço para garantir total imunidade. Aos olhos das pessoas comuns da época, esse acontecimento foi visto como um erro da ciência, dando origem aos questionamentos sobre a eficácia das vacinas.
Resposta imune
É importante compreender o funcionamento do sistema imune para entender o processo de vacinação.
De forma geral, os linfonodos e o baço constituem importantes “filtros” sanguíneos contra agentes externos (antígenos) que entram no nosso organismo. O sistema linfático, uma rede de vasos responsáveis por devolver à circulação sanguínea o líquido extravasado nos tecidos durante as trocas de nutrientes, é responsável por carregar esses antígenos até estes órgãos.
Quando um agente infeccioso entra em contato o organismo pela primeira vez é desencadeada o que chamamos de reação inata. As células de defesa inespecíficas, como neutrófilos, células natural killer e macrófagos, iniciam o processo de destruição desse agente. Ao mesmo tempo, várias células carreadoras levam esses antígenos através da corrente linfática para os órgãos já citados, onde serão reconhecidos por células de defesa específicas, os linfócitos B e T.
Com o passar dos dias, os linfócitos B desenvolvem anticorpos específicos para combater o agente infeccioso, enquanto os linfócitos T amadurecem e participam da eliminação deste. O processo é denominado resposta imune adaptativa, uma vez que promove a adaptação das células de defesa a um agente específico, sendo mais eficaz e voraz na eliminação do patógeno.
Esse processo dá origem às células de memória que juntamente com os anticorpos combaterão com maior eficiência e rapidez uma segunda infecção pelo mesmo agente, evitando versões graves da doença.
Imunidade passiva X ativa
A imunidade passiva ocorre através da infusão de anticorpos produzidos em outros animais que tiveram contato com o antígeno específico. De tal modo, não possuem durabilidade e são capazes de promover apenas uma resposta imune eficiente momentânea. Esse tipo de imunidade é utilizado em situações críticas, nas quais o paciente necessita de uma resposta imune potente contra uma infecção de evolução rápida, como o soro antiofídico utilizado em pessoas com picadas de cobras.
A imunidade ativa, por sua vez, ocorre por meio do contato direto do organismo com o agente infeccioso, desencadeando a resposta imune já explicada a partir da geração de anticorpos e células de memória. Como estes anticorpos são gerados pelo próprio organismo do infectado, possuem vida longa, variável de acordo com cada antígeno, sendo este o mecanismo utilizado pela vacina.
Principais tipos de vacinas
A segurança das vacinas não é integralmente garantida, pois durante a sua produção podem ocorrer falhas como a não inativação de um agente. Entretanto as chances de algo relacionado acontecer são mínimas, enquanto os benefícios da vacinação podem ser comprovados por dados mostrados adiante.
Importante salientar que a pessoa vacinada se torna imune à doença, mas ainda é capaz de transmiti-la e colocar a vida de outros em risco. O objetivo da vacina é estimular uma resposta imune sem que a pessoa adoeça, portanto, modificações devem ser feitas nos agentes infecciosos para que o processo seja formidável.
Abaixo você verá um breve resumo sobre o mecanismo de ação de três principais métodos utilizados na produção de vacinas.
Agentes inativados
Os agentes infecciosos podem ser inativados através de processos físicos ou químicos que aniquilam suas características infectantes. Essa técnica é utilizada devido à vantagem de aplicação em pessoas imunossuprimidas (adoecidas), pois o vírus é incapaz de gerar a infecção. Como já é de conhecimento geral, quando se está doente não é indicada a vacinação, pois o sistema imune já está combatendo uma infecção atual e ficaria sobrecarregado. Nessas situações, mesmo um agente atenuado poderia desencadear uma infecção devido à supressão do sistema imune no momento. Isso também é valido para pessoas portadoras de HIV e outras imunodeficiências.
Agentes atenuados
A técnica mais utilizada é denominada DNA recombinante que, de forma bem simplificada, consiste no isolamento do DNA do agente para remoção ou modificação do gene responsável por sua virulência. Dessa forma a capacidade de gerar uma infecção é debilitada e o antígeno não é capaz de adoecer a pessoa.

Código genético
Técnica de vacinação que consiste no uso de material genético do agente patógeno para geração da resposta imune. De forma sucinta, o nosso DNA é composto por genes que contêm “mensagens” que são codificadas, lidas, em proteínas capazes de determinar nossas características. Essa codificação acontece em etapas, onde o gene é transformado em RNA antes de se tornar uma proteína.
Nessa técnica, parte do material genético do agente é injetado, DNA ou RNA, entra na célula e será lido pelo nosso corpo como se fosse um de nossos genes sendo normalmente codificado em proteínas. Entretanto, quando a leitura é finalizada, o organismo reconhece que a proteína produzida é estranha dando início à resposta imune contra o tal código genético, impossibilitando que ocorra qualquer tipo de mudança genética no nosso organismo.
Eficácia da vacinação
Após conhecer as técnicas mais utilizadas para vacinação, você verá dados que mostram como a vacinação diminui os números de infecções e óbitos em uma população.
Doença | Número máximo de casos (ano) | Casos em 2014 | Redução em % |
Difteria | 206.939 | 0 | – 99,99% |
Sarampo | 894.134 | 669 | – 99,93% |
Caxumba | 152.209 | 737 | – 99,51% |
Coqueluche | 265.269 | 10.631 | – 95,99% |
Poliomielite | 21.269 | 0 | – 100% |
Rubéola | 57.686 | 2 | – 99,48 |
Tétano | 1.560 | 8 | – 99,48% |
Hepatite B | 26.611 | 1.098 | – 95,87% |


Segurança das vacinas Covid-19
Como elas são seguras se foram desenvolvidas em tão pouco tempo? As vacinas da Covid-19 foram desenvolvidas por inúmeros cientistas ao redor de todo o planeta que se comprometeram a descobrir uma cura que pudesse controlar os números catastróficos de óbitos. Além dos milhões de falecidos, o mundo enfrenta um colapso na área da saúde e um desafio socioeconômico decorrente do desemprego.
A trágica situação de escala global exigiu urgência no desenvolvimento de um antídoto. Com isso, cientistas se reuniram com esse propósito mediante obtenção de recursos internacionais, empenhando tempo, estudo e horas incessantes de pesquisas.
As vacinas, normalmente, demoram mais de uma década para serem aprovadas e utilizadas pela população, pois as pesquisas ocorrem em âmbito local, resultados de estudos pertinentes à determinada comunidade, doenças que não se alastram por todo planeta como ocorreu com a Covid-19. Geralmente se destinam a socorrer endemias locais, a exemplo da dengue ou malária.
No Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) segue um procedimento padrão para aprovação do uso de vacinas que podem ser produzidas em breve espaço de tempo ou levar décadas. Se todos os objetivos forem cumpridos, fica certificada a segurança e eficácia da vacina, inexistindo motivo palpável para suspeitas e dúvidas, uma vez que tais métodos são aplicados e fiscalizados por pessoas extremamente experientes na área.
Os mesmos padrões ou mais rigorosos são exigidos por outros países, fator que corrobora a segurança da vacina, submetida sucessiva e reiteradamente à avaliação científica.
As fake news com relação à vacinação não datam de hoje e só trazem prejuízo à saúde da população. Poderia se afirmar que o compartilhamento de notícias e dados inverídicos seja a falta de estímulo ao aprendizado, de capacidade ou disposição de entender o mecanismo de funcionamento da vacina.
Para mais informações sobre as vacinas do Covid-19 clique aqui.
Conclusão
No cenário atual de pandemia, é importante que os cidadãos abandonem práticas individualistas e considerem o contexto social em questão. Como mostrado anteriormente, desde os primórdios da vacinação a sociedade sente suas vantagens e benefícios para a coletividade.
Através dos inúmeros dados já produzidos sobre os ganhos da vacinação e a explicação dos métodos de produção das vacinas, fica evidente que não existem riscos graves as pessoas, além de ser a maneira mais segura e eficaz de imunizar uma população, impedindo mais óbitos. Sendo assim, ela deve ser aderida por todos para diminuir drasticamente a contaminação da Covid-19.
O movimento “antivacina” surgiu em um tempo distante onde não existia acesso à informação. O mundo deve se adaptar às novas descobertas científicas agora que tem capacidade para conhecê-las. Todas as críticas anteriormente feitas à vacinação durante sua descoberta advêm de processos humanos incompreendidos pelo homem até então. Com a evolução da sociedade e com os novos conhecimentos, basta analisar cuidadosamente os apontamentos antivacina para averiguar que não estão de acordo com o conhecimento científico atual.
O texto acima é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Referências:
ABBAS, A. K. Imunologia Celular e Molecular. 9ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
BALLALAI, I.; BRAVO, F. Imunização: Tudo o que você sempre quis saber. Rio de Janeiro: RMCOM, 2016.
Tipos de Vacinas em estudo contra COVID-19 – Resumo – https://www.sanarmed.com/tipos-de-vacinas-em-estudo-contra-covid-19-resumo