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Definição de COVID Longa
Saber o conceito de COVID Longa é de extrema importância para entender o objeto dos estudos que estão sendo desenvolvidos com relação à COVID-19 e, em especial, com relação às vacinas. Isso porque, para saber o papel da vacinação na prevenção contra a COVID Longa é necessário saber qual, de fato, é essa condição.
COVID Longa é, portanto, uma condição debilitante para muitos pacientes diagnosticados com COVID-19, que apresentam variados sintomas e com prognóstico ainda não muito claro. Recentemente foram desenvolvidas duas definições para essa condição, sendo uma para adultos e outra para crianças.
A primeira é a definição oficial desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde, que diz que a COVID Longa (ou condição pós COVID-19) ocorre em indivíduos com histórico de infecção por SARS CoV-2 provável ou confirmada, geralmente 3 meses após o início da COVID-19 com sintomas persistindo por pelo menos 2 meses e que não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo. Os sintomas podem ter início após a recuperação inicial de um episódio agudo de COVID-19 ou podem persistir desde a doença inicial, sendo que podem flutuar ou recair ao longo do tempo.
Os sintomas mais comuns da COVID Longa incluem fadiga, falta de ar, disfunção cognitiva e geralmente têm impacto no funcionamento diário. Além desses sintomas, vários outros também são citados em estudos científicos, como mal estar pós exercício físico, ansiedade, perda de atenção, anosmia, insônia etc.
Quanto à COVID Longa em crianças, recentemente foi estabelecida uma definição em um trabalho científico aprovado para publicação na revista Archives of Disease in Childhood. A definição foi desenvolvida com a participação de 120 especialistas, que concluíram que a Covid Longa em crianças é uma condição que ocorre em jovens com histórico de infecção confirmada por SARS CoV-2, com pelo menos um sintoma físico persistente por um período mínimo de 12 semanas após o teste inicial e que não pode ser explicado por um diagnóstico alternativo. Os sintomas têm impacto no funcionamento diário da criança e podem continuar ou se desenvolver após a infecção por COVID-19. Assim como nos adultos, os sintomas podem flutuar ou regredir ao longo do tempo.
Quem desenvolve COVID Longa?
Ainda não está totalmente claro qual é o mecanismo de ação da COVID-Longa, o que faz com que essa condição represente um desafio para os médicos, para os pacientes e para a sociedade. Além de não estar totalmente evidenciado qual é a história natural dessa doença, suas causas, o perfil de pacientes e seu tratamento também não são bem estabelecidos.
No entanto, o que se sabe atualmente é que adultos e idosos frágeis são mais propensos a ter doenças mais prolongadas. Além disso, a COVID Longa também tem se mostrado mais comum entre mulheres do que entre homens. E, ao contrário do que se imagina, essa condição pós COVID não parece estar associada à gravidade da doença apresentada pelo paciente, de tal forma que também é bastante comum entre os pacientes que se recuperaram de um forma leve da doença.
O papel da vacina para a COVID Longa
Para compreender o papel da vacinação para a COVID Longa é necessário, primeiramente, tentar entender o papel da vacinação para a doença inicial. Nesse momento, a efetividade da vacina contra COVID-19 para além de 6 meses ainda permanece incompreendida. No entanto, estudos recentes têm mostrado que aa vacinação tem sido efetiva para prevenir formas graves da doença.
Dessa forma, o que se vê é que após a vacinação com duas doses, a hospitalização em decorrência da COVID-19 tem sido menor e também é menor a proporção de indivíduos sintomáticos, sendo mais comum haver indivíduos assintomáticos. Além disso, dentre as pessoas sintomáticas, percebe-se que há menos tipos de sintomas associados, se comparados com os não vacinados. Ainda, o tempo de manifestação de sintomas por indivíduos vacinados é substancialmente menor do que 28 dias.
Dessa forma, levando-se em consideração o tempo de manifestação de sintomas necessário para que a pessoa possa ser diagnosticada com COVID Longa e também levando em consideração a redução do tempo em que o paciente vacinado permanece sintomático, os estudos que ainda estão sendo produzidos evidenciam que poderá haver menos COVID Longa após a vacinação.
Nesse sentido, um estudo recente realizado em Israel (Preprint no MedRxiv) aponta que o recebimento de duas doses da vacina COVID-19 foi associado a uma diminuição substancial no relato dos sintomas pós-COVID-19 mais comuns. Dessa forma, os pesquisadores sugerem que, além de prevenir doenças graves e morte, as vacinas contra a COVID-19 podem desempenhar um papel crítico na prevenção de resultados a longo prazo da infecção por SARS-CoV-2 que se encaixam na definição atual da OMS de COVID Longa, em particular entre adultos mais velhos.
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