Doenças que classificam os grupos como vulneráveis ao novo coronavírus: como prevení-las?
As doenças cardiovasculares estão entre aquelas que agravam o quadro de saúde dos pacientes que se infectaram com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), representando índices de mortalidade aumentado. Diabetes, Hipertensão Arterial e Obesidade também estão na lista de doenças com maior índice de mortalidade quando associadas à Covid-19. O que pode-se perceber em todas estas doenças é que elas podem ser, na maioria das vezes, prevenidas ainda na infância, e significariam menos complicações à saude do indivíduo nos dias atuais.
Doenças cardiovasculares tem obesidade e dislipidemias (o famoso “colesterol alto”) como principais fatores de risco, e embora podendo se iniciar prevenção precocemente, percebe-se que são pouco valorizadas na infância.
Com a industrialização, a mudança nos hábitos alimentares foi rapidamente alterada, sendo no cenário atual caracterizada por consumo de comidas prontas industrializadas, com elevado teor de sódio (sal causa retenção hídrica), fast-foods, açúcar (principalmente os brancos refinados e mais calóricos ), frituras, carboidratos (aqueles processados de pães e massas) e gorduras em excesso.
O desequilíbrio dietético nestes casos representa um aumento da glicose no sangue, excedendo as necessidades calóricas – e nutricionais – e aumentando a deposição de gordura, principalmente na região da circunferência abdominal, além de produção acentuada de colesterol no plasma, sendo que em quantidades aumentadas eles podem aderir à vasos sanguíneos, podendo levar a entupimento de artérias e veias; esta fisiologia alterada repercute na clínica e é compatível com o encontrado nos dias de hoje: aumento do sobrepeso, doenças cardiovasculares cada vez em idades mais jovens, hipertensão arterial e diabetes do tipo 2 (quando instala-se resistência à insulina devido à exposição a pico frequente de ingesta de açúcares) também mais precocemente.
Sabemos que com os adventos tecnológicos da internet e com a facilidade em locomover-se com carros, diminui-se muito a quantidade de horas que passamos em atividade ativa, ficando presos a computadores, celulares, e indo para nossos compromissos sem sequer caminhar alguns minutos no dia. O sedentarismo é outro fator de risco para desenvolver doenças cardiovasculares, e a prática de atividade física, por outro lado, seria aliada ao controle dos níveis de açúcar sanguíneo, além de mobilizar reservas lipídicas para tais atividades e, portanto, diminuindo o colesterol, e também proporcionando outras melhorias no bem estar.
Sabe-se ainda que de acordo com o tempo de persistência destas doenças, maior é o prejuízo no organismo, com desdobramentos sistêmicos. Assim, quando levantamos dados que demonstram o aumento de crianças e jovens obesos, e o aparecimento de hipertensão, diabetes associadas a obesidade, com surgimento de doenças cardiovasculares mais precocemente, pensamos em adultos que detém tais morbidades já há alguns anos e que, portanto, são grupos de risco para outros acometimentos, incluindo o cenário atual onde vivemos ameaçados pelo SARS-CoV-2.
A prevenção da obesidade e de doenças cardiovasculares tem tido ampla discussão ao longo dos últimos anos, pois vai de encontro com as evidencias científicas encontradas com este novo perfil epidemiológico, mas não parece ter sido o bastante, e por isso merece ainda mais atenção em vista dos números agora apresentados de mortalidade em pacientes com associação de doenças cardiovasculares e CoVid-19.
A pandemia atual retoma a discussão da necessidade de prevenção de doenças cardiovasculares já na infância, visto que a obesidade adquirida nesta fase da vida tende a persistir na vida adulta, além da realidade das nossas crianças hoje ser de ingestão alimentar com perfil lipídico/glicêmico diretamente favorável ao surgimento da aterosclerose (formação de “placas” nas paredes das artérias levando à oclusão, rompimento, e elevação da pressão), e consequentemente associação com hipertensão e diabetes.
Para promover a prevenção de obesidade e doenças cardiovasculares na infância é preciso valorizar boas práticas em saúde, como bons hábitos alimentares, atividades físicas regulares, e tratar nossas crianças como prioridade, a fim de reduzir custo e danos, visto que a população adulta atualmente vive silenciosamente doente, mas ameaçada com comorbidades a todo momento. Incentivar saúde deve preceder a existência de uma ameaça às nossas vidas: ela deve garantir ao indivíduo uma vida livre de riscos associados, devendo ser tratada como prioridade.
Autora: Ana Cecília Cunha, Estudante de Medicina
Instagram: @anaceciliacunha