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Um estudo buscou o avaliar a relação entre a concentração de cortisol e taxa de mortalidade de pacientes internados por COVID-19. O estudo foi realizado no Reino Unido, e pretendemos discuti-lo no post de hoje.
O papel do hormônio
O cortisol é um hormônio que normalmente se eleva durante situações de estresse físico ou psicológico. Por exemplo, durante um procedimento cirúrgico, a ativação do eixo hipotálamo-hipófise leva à aumento da secreção dele.
O hormônio Cortisol é considerado peça fundamental na resposta ao estresse, ocasionando mudanças adaptativas no metabolismo, na função cardiovascular e regulação do sistema imune.
O cortisol na COVID-19
O efeito que a COVID-19 causa nos níveis do hormônio são desconhecidos. Mas, no passado, sugeriu-se que a SARS pudesse disparar resposta imunogênica contra o ACTH, hormônio responsável por induzir liberação do cortisol na glândula adrenal, devido a mimetismo.
O mesmo mecanismo poderia ser atribuído ao SARS-CoV-2, o que na teoria poderia aumentar morbidade e mortalidade, pela indução de insuficiência do hormônio cortisol. Para compreender se o processo descrito se mostra verdadeiro na prática é que o presente estudo mencionado foi realizado.
Como o estudo foi realizado
Os pacientes foram inscritos na coorte a partir de três grandes centros hospitalares em Londres, Reino Unido.
Inicialmente, o critério para inclusão se deu por suspeição de COVID-19. Os pacientes então passaram por exames laboratoriais, que incluiu medição de cortisol total sérico.
A medida foi feita apenas na linha de base, dentro de até 48 horas após admissão hospitalar. Pacientes com condições que pudessem afetar os níveis séricos de Cortisol foram excluídos como, por exemplo, hipoadrenalismo ou tratamento corrente com glicocorticoide sistêmico.
Um total de 403 pacientes foram classificados como COVID-19 com diagnóstico confirmado. O grupo de comparação de pacientes sem COVID-19 constituiu-se de 132 pacientes.
Resultados do estudo: níveis aumentados de cortisol na COVID-19
A média da concentração de cortisol no grupo com COVID-19 foi de 619 nmol/L [IQR 456–833] versus 519 nmol/L [378–684] no grupo sem COVID-19 (p<0·0001). Fatores preditivos de mortalidade foram: níveis aumentados de Cortisol, PCR, relação neutrófilo/leucócito e creatinina.
Após ajustes para idade, presença de comorbidades e resultados laboratoriais, a análise multivariada mostrou que o dobro da concentração de cortisol esteve associada, significativamente, a aumento de 42% no risco de mortalidade.
Discussão dos achados
O estudo foi o primeiro a mostrar que, ao contrário do que se imaginava, pacientes com COVID-19 montam resposta aguda de cortisol marcante e apropriada, e esta resposta foi maior em pacientes com COVID-19 em comparação com aqueles sem a doença.
No estudo, portanto, os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 não exibiram insuficiência adrenal relacionada à infecção pelo vírus. Todavia, permanece a possibilidade da insuficiência adrenal ser desenvolvida no curso tardio da doença, como foi verificado para o caso do vírus SARS-CoV, o que não pôde ser verificado pelo presente estudo.
O estudo também encontrou associação entre aumento de mortalidade e média de sobrevivência reduzida com concentrações elevadas de Cortisol. Provavelmente, a associação se deve ao fato de ser o Cortisol marcador de gravidade da doença.
No estudo, inclusive, o cortisol se mostrou marcador preditivo independente melhor que outros parâmetros, como PCR, D-dímero e relação neutrófilo/leucócito.
Vale lembrar que o estudo possui limitações, como única medida de cortisol, o que desconsidera variações ao longo do período de hospitalização. Para finalizar, o papel potencial do cortisol como preditor de prognóstico requer validação em estudos prospectivos.
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