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Já tratamos aqui diversas vezes sobre uma das complicações da COVID-19, a trombose, seja ela arterial ou venosa. Um estudo recente aponta para autoanticorpos como agentes causadores, ou contribuidores, para o processo de trombogênese na COVID-19.
O que motivou o estudo
A hipótese foi levantada baseada na observação prévia de doenças que predispõem a trombose com componente autoimune, como a Síndrome do Antifosfolipídeo (SAF).
O professor de Reumatologia Jason S. Knight, da Universidade de Michigan, escreveu que desde o início da pandemia havia sido notadas similaridades entre a coagulopatia induzida pela COVID-19 e aquela induzida pela SAF.
A principal similaridade notada é a predileção por leitos vasculares de todos os tamanhos, desde largas artérias e veias à capilares microscópicos.
Pesquisa de autoanticorpos
A suspeita levou o professor Jason S. Knight e demais pesquisadores a buscarem a presença de autoanticorpos contra fosfolipídeos em amostras de soro de 172 pacientes com COVID-19.
Nos resultados, encontraram a presença dos anticorpos em 52% das amostras analisadas, utilizando o ponto de corte padronizado. Quando o ponto de corte foi mais restrito, o número de positividade foi 30%.
Autoanticorpos e maior gravidade da COVID-19
Outro importante achado do estudo diz respeito à associação entre os níveis de autoanticorpos contra fosfolipídeos e a gravidade da doença. Esta relação se mostrou diretamente proporcional.
Quanto maior o nível de autoanticorpos, maior a gravidade da doença respiratória, menor a função renal do paciente e maior a hiperreatividade do seu sistema imune.
Um tipo específico de resposta neutrofílica esteve aumentada, aquela envolvida na produção de armadilhas extracelulares, onde substâncias responsáveis por conter infecção são liberadas, formando uma rede extracelular que é capaz de conter e eliminar microorganismos invasores.
Quando elevadas excessivamente, as armadilhas extracelulares promovem inflamação exacerbada e trombose.
Nos experimentos laboratoriais, os neutrófilos tiveram sua atividade produtora de armadilhas extracelulares aumentada quando colocados em contato com autoanticorpos de pacientes infectados pelo SARS-CoV-2.
Como esse conhecimento poderá ajudar na COVID-19?
Os conhecimentos adquiridos com o estudo se somam ao corpo de evidências já descoberto a respeito da fisiopatologia da trombose na COVID-19.
Permanece ainda para investigação se estes autoanticorpos poderão se tornar alvo de drogas no futuro, sendo uma opção terapêutica no combate à COVID-19.
Um outro uso que pode ser feito a partir da descoberta é a associação de níveis de autoanticorpos com gravidade, morbidade e mortalidade.
Além disso, esta dosagem poderá indicar pacientes com maior potencial de se beneficiarem com terapia anticoagulante mais agressiva.
Estes dados podem e certamente serão extrapolados no futuro. Como podemos perceber, apesar do muito conhecimento já adquirido, ainda resta muito a se descobrir da doença COVID-19.
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Referências
Autoantibodies May Drive COVID-19 Blood Clots – JAMA Network