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Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, o que reforça a extrema importância da cardiologia como especialidade dentro da medicina. O cardiologista é o responsável por estudar a fundo as doenças cardiovasculares, proporcionando uma conduta adequada aos seus pacientes. Porém, muitas vezes, o manejo de determinada doença exige um grau de especialização e conhecimento ainda maior. Por isso, com a evolução da cardiologia, surgiram as chamadas subespecialidades, onde o profissional pode escolher uma área de atuação que seja do seu interesse, aprofundando-se nela. Nesse texto, descobriremos um pouco mais sobre a atuação do cardiologista, bem como os principais caminhos a seguir dentro da área.
Locais de atuação
Por ser uma especialidade muito ampla, a cardiologia permite que você possa atuar em um grande número de locais, desde o mais calmo ao mais agitado, em contato direto com o paciente ou não.
Ambulatório
É dentro do ambulatório que você consegue um contato mais próximo com o seu paciente. As chamadas “consultas de rotina” permitem ao cardiologista diagnosticar, tratar e, o mais importante, acompanhar o seu paciente a longo prazo, verificando o resultado terapêutico e adequando conforme o necessário.
Hospital
O ambiente hospitalar é muito mais complexo, oferecendo ao cardiologista diversas possibilidades de locais de trabalho. O profissional poderá atuar no pronto atendimento, em contato direto com as mais frequentes emergências cardiovasculares, entre elas o infarto agudo do miocárdio. Já para quem gosta de uma atuação intervencionista, o laboratório de hemodinâmica é um ótimo caminho a seguir. Também é possível ao cardiologista atuar dentro da UTI Geral e/ou da Unidade Coronariana, manejando pacientes críticos e de alto risco.
Caminhos na cardiologia
Para que você possa escolher qual será o caminho a seguir dentro da cardiologia, precisa levar em conta três pontos principais. O primeiro deles é em qual local de trabalho você gostaria de atuar, como já foi abordado anteriormente. O segundo ponto é quanto tempo você está disposto a usar para o processo de formação. E o terceiro ponto, leva em consideração qual é o seu perfil profissional: clínico, diagnóstico, intervencionista ou misto.
O perfil clínico é responsável por abordar o paciente diretamente e acompanhá-lo ao longo do tempo, ao contrário do perfil diagnóstico, que tem pouco contato com o paciente e trabalha utilizando ferramentas para auxiliar outros profissionais no diagnóstico. O intervencionista atua com procedimentos minimamente invasivos, como o cateterismo, para tratar as comorbidades. Já o profissional de perfil misto, une o clínico e o intervencionista, diagnosticando e tratando os problemas cardiovasculares, como por exemplo, o caso de uma arritmia tratada com o implante de um dispositivo.
Hemodinâmica
Essa especialidade é treinada para tratar problemas cardiovasculares utilizando procedimentos minimamente invasivos como stents, cateterismo cardíaco e angioplastia com balão. Os profissionais dessa área têm grande atuação em casos de infarto agudo do miocárdio.
A formação ocorre durante dois anos, tendo como pré-requisito a residência médica em cardiologia ou em pediatria, com atuação em cardiologia pediátrica.
Ecocardiografia
A ecocardiografia é a área onde o profissional responsável precisa dominar conceitos básicos e avançadas do método, realizando exames como ecocardiografia transtorácica, transesofágica, de stress, tridimensional e fetal, além de interpretar os resultados com excelência. É uma subespecialidade de atuação abrangente, estando presente em ambulatórios, emergência, unidades de terapia intensiva, centro cirúrgico e laboratórios de hemodinâmica. É, sem dúvida nenhuma, uma ferramenta de extrema importância para diagnóstico e manejo de doenças cardiovasculares.
O processo de especialização tem duração de um ano, tendo como pré-requisito a residência médica em cardiologia ou em pediatria, com atuação em cardiologia pediátrica.
Ergometria
O teste ergométrico é um exame realizado de forma não invasiva, utilizado para auxiliar no diagnóstico de doenças cardiovasculares, bem como para avaliação terapêutica e/ou de condicionamento físico. Consiste na realização de esforço físico dinâmico programado, com o objetivo de evidenciar alterações cardiovasculares que, muitas vezes, não estão presentes em repouso. Apesar de ser um exame simples, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por meio do seu Departamento de Ergometria e de Reabilitação Cardiovascular (DERC), orienta que é obrigatório que o teste ergométrico seja realizado sempre por um médico, evitando assim possíveis erros diagnósticos. Por isso, o profissional dessa área tem uma importante contribuição para uma melhor abordagem ao paciente, realizando e interpretando o teste com os conhecimentos adequados e auxiliando os outros profissionais dentro do universo da cardiologia.
A duração do processo de formação é de um ano, tendo como pré-requisito a residência médica em cardiologia.
Cardiologia nuclear
Com o auxílio da cardiologia nuclear é possível realizar uma avaliação completa do coração, quantificando o grau de dano e identificando a presença de bloqueios nas coronárias. Tudo isso é possível com o emprego de substâncias radioativas ou radiofármacos, possibilitando a visualização dos mecanismos fisiopatológicos das doenças cardiovasculares, bem como o acompanhamento do efeito da terapia instituída. Os profissionais desta área trabalham em conjunto com outros profissionais da cardiologia, buscando os melhores exames a serem realizados para complementar a prática clínica.
Cardiologia clínica
Durante a atuação clínica, o cardiologista maneja as doenças do coração e do aparelho cardiovascular, focando no diagnóstico, prevenção e tratamento. Este profissional é capacitado para interpretar exames complementares básicos como eletrocardiogramas, testes de esforço e holter. Acompanha o paciente a longo prazo, tornando-se habilidoso na escolha personalizada de medicações apropriadas para o tratamento de um grande número de comorbidades cardiovasculares.
Arritmias e eletrofisiologia
Essa subespecialidade é responsável por diagnosticar, tratar e conduzir distúrbios elétricos do coração, incluindo as arritmias. Os profissionais são qualificados para implantar dispositivos como marca-passos e desfibriladores, bem como a realizar ablações por cateter. Também são responsáveis por realizar o seguimento dos pacientes pós-procedimento, garantindo o seu bem-estar e o pleno funcionamento do dispositivo.
A duração da especialização irá depender da área de atuação desejada, apenas clínica ou clínica e intervencionista, podendo variar de um a três anos. Tem como pré-requisito a residência médica em cardiologia.
Cardiologia pediátrica
É uma área de atuação muito abrangente, onde são necessários conhecimentos em pediatria, neonatologia, terapia intensiva neonatal e pediátrica, cardiopatias congênitas, cardiologia fetal, cardiopatias congênitas no adulto, cardiologia preventiva, cardiopatias adquiridas (valvopatias, miocardiopatias) e muito mais. O profissional responsável atua desde o pré-natal, com a realização do diagnóstico fetal das cardiopatias, até o seguimento de pacientes portadores de cardiopatias congênitas na vida adulta.
Essa subespecialidade tem duração de dois anos, tendo como pré-requisito a residência médica em cardiologia ou pediatria.
Hipertensão arterial
O profissional que escolhe esse tipo de especialização aprofundar-se-á em hipertensão arterial, adquirindo desde conhecimentos básicos, como fisiopatologia e fisiologia humana, até os mais complexos, como aspectos clínicos, tratamento e atualizações em novas metodologias da área.
Cardio-oncologia
A cardio-oncologia é uma subespecialidade extremamente nova que vem ganhando cada vez mais espaço na área médica. É responsável por cuidar de pacientes oncológicos com problemas cardiovasculares prévios ou adquiridos durante o tratamento. As toxinas utilizadas para combater o câncer podem acabar atingindo também os tecidos cardíacos, levando ao aparecimento de problemas como isquemia, arritmias, valvulopatias e até insuficiência cardíaca. Por isso, além do processo diagnóstico, a cardio-oncologia também abrange a prevenção e o tratamento precoce dos principais efeitos da terapia oncológica sobre o sistema cardiovascular, trabalhando em conjunto com as equipes de oncologia clínica e cirúrgica.
O processo de especialização nessa área tem duração de um ano. Em 2020, durante a 12º Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Residência Médica, foi aprovado o ano adicional ao programa de residência médica em cardiologia na área de cardio-oncologia. Agora, além de obter os conhecimentos específicos da área através de estágio de complementação especializado ou curso de pós-graduação lato sensu, os residentes interessados poderão aproveitar a oferta de um ano adicional à residência de cardiologia.
Conclusão
As doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço das mortes ao nível global e, portanto, a cardiologia tornou-se uma importante especialidade dentro da Medicina, crescendo cada vez mais e dando espaço às chamadas subespecialidades. Cabe ao cardiologista conhecer e escolher qual caminho seguirá dentro da especialidade, bem como qual é o local de atuação de seu interesse e quanto tempo ele dispõe para o processo de formação. A subespecialização pode ser feita dentro da área clínica, diagnóstica, intervencionista ou mista, e pode durar entre um e três anos. Além do estágio de complementação especializada e da pós-graduação lato senso, algumas subespecialidades podem ser adquiridas agregando um ano a mais no programa de residência em Cardiologia, dependendo da disponibilidade.
O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.
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Referências
EDUARDO MASTROCOLA, L. et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Cardiologia Nuclear – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 114, n. 2, p. 325–428, 2020.
GHOSH, A. K.; WALKER, J. M. Cardio Oncology- Subspeciality. Indian Heart Journal, v. 69, p. 556–562, 2017.
Conselho Federal de Medicina – CFM:
https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2018/2221
FMUSP:
https://www.fm.usp.br/ccex/programas-de-formacao-profissional/complementacao-especializada
Global Pré-Meds: