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As mudanças climáticas e o aumento das áreas de urbanização aumentam a vulnerabilidade dos indivíduos à doença de Chagas. Essa patologia é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que tem como vetor os triatomíneos, tais como Triatoma infestans. Ainda, a infecção pode ser transmitida por via oral, vertical, por transplante de órgãos, transfusão de sangue e pelo contato acidental com materiais biológicos. A fase crônica da doença pode resultar em cardiomegalia, sendo importante causa de insuficiência cardíaca; megaesôfago e megacólon, interferindo no trato gastrointestinal; ou indeterminada, sem alterações aparentes.
Identificação do paciente
J.K.L, sexo masculino, casado, 40 anos, católico, ensino fundamental incompleto, natural de Buritis dos Lopes-Pi, residente em Piracuruca-Pi há mais de 15 anos, caminhoneiro há 20 anos e se autodeclara negro.
Queixa principal
J.K.L deu entrada no pronto socorro às 22h00, apresentando como queixa barriga alta e redonda, pés inchados, dificuldade para urinar, falta de ar e coração fraco.
História da Doença Atual
Paciente relata edema em membros inferiores, disúria e dispneia. Apresenta bradicardia e distensão abdominal. Nega comorbidades e alergias a medicamentos.
Antecedentes pessoais e patológicos
Hipertenso e portador de Insuficiência cardíaca congestiva há 3 anos, uso de espirolactona 50mg, digoxina 0,5 e enalapril 10mg. Nega cirurgias, é portador da síndrome extrapiramidal do plasil. Pai falecido por infarto agudo do miocárdio e mãe falecida por Câncer de pulmão. Ex-tabagista, fumou durante 10 anos e etilista leve.
Exame Físico
Bom estado geral, acianótico, anictérico, afebril, eupneico, hipocorado (1+/4+), hidratado e orientado.
Sinais Vitais (SSVV): TAX: 36,4; FC: 80bpm; FR: 20 imp; PA: 110x80mmhg.
Respiratório: Tórax na conformação habitual e apresenta na ausculta murmúrios vesiculares.
Cardíaco: Bulhas hipofonéticas, com desdobramento paradoxal de segunda bulha, sem sopro.
Abdômen: globoso às custas de ascite, ruídos hipoaéreos presentes, fígado doloroso e palpável a 3cm do rebordo costal direito. Piparote positivo.
Membros inferiores: Cacifo (+++/++++)
Depois de algumas horas, paciente evolui com uma arritmia demonstrando alargamento do espaço PR e onda T bifásica.
Suspeitas diagnósticas
- Arritmia
- Insuficiência cardíaca congestiva
- Doença de Chagas – fase crônica
Exames complementares
ELISA (com antígeno total do parasito Trypanossoma cruzi): Soro reagente para IgG e não reagente para IgM. Na realização do exame de gota espessa resultou-se negativo.
Diagnóstico
Doença de Chagas.
Discussão do Caso Clínico
A Doença de chagas é uma doença causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi, que adentra o hospedeiro e invade as células, ocasionando alterações teciduais. A forma aguda muitas vezes apresenta sintomas indistintos, o que dificulta o diagnóstico e favorece a evolução para a fase crônica, que pode ser indeterminada ou marcada por alterações digestivas e cardíacas.
O tratamento da doença de Chagas pode ser etiológico, com fármacos que eliminam o parasita, e sintomático, de acordo com as alterações apresentadas pelo paciente.
O tratamento etiológico é feito com benznidazol e o nifurtimox, que são mais efetivos na fase aguda e fase crônica indeterminada. Ainda há ampla discussão sobre a efetividade de tais tratamentos nas fases crônicas da doença.
O tratamento sintomático é variado, compreendendo fármacos utilizados no tratamento de cardiopatias, como diuréticos e vasodilatadores, e tratamento de desordens digestivas, como laxativos.
Conclusão
- A doença de Chagas é uma doença parasitária, que pode evoluir para fase crônica;
- Os sinais e sintomas apresentados dependem do tempo da doença, aguda ou crônica, e dos órgãos acometidos;
- O diagnóstico precoce favorece melhor qualidade de vida ao paciente, podendo evitar alterações crônicas irreversíveis;
- O tratamento pode ser etiológico e sintomático.
Autores, revisores e orientadores
Autor: Brenda de Sousa Oliveira e Rômulo Leles da Silva Araújo.
Revisor: Maria Flávia Campos Adelino
Orientador: Heliara Maria Spina Canela
Liga: Liga de Infectologia de Formosa (LINFO)
O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.
Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.
Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.
Referências
MENDES, Larissa Lima; SILVA, Mariana Santos da; MARTINS, Ana Luisa Oenning. Treatment of chronic phase of Chagas Disease: systematic review. Revista Brasileira de Análises Clínicas, [S.L.], v. 49, n. 4, 2016.
Revista Brasileira de Análises Clínicas. http://dx.doi.org/10.21877/2448-3877.201600437.
VERONESI, Ricardo; FOCACCIA, Roberto – Tratado de Infectologia – 2 Volumes – 4ª Edição, Editora Atheneu, 2010.