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Caso Clínico detalhado de Hanseníase | Ligas

Caso Clínico detalhado de Hanseníase | Ligas

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A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada por Mycobacterium leprae (ARAÚJO, 2003). Essa patologia possui características peculiares e pode resultar em alterações na pele e nos nervos periféricos, provocando, dessa forma, alteração de sensibilidade da pele.

Na maior parte dos casos, o diagnóstico é simples pela sua apresentação clínica. É curável, mas, se não tratada, evolui, causando danos importantes para diversos outros órgãos além da pele.

Caso Clínico: identificação do paciente

JMS, sexo masculino, 77 anos, natural de Uberlândia – Minas Gerais, residente em Formosa-Goiás há mais de 30 anos, aposentado, divorciado e se auto declara como pardo e de baixo grau de escolaridade.

Queixa principal

Paciente relata “Ferida no pé” que se iniciou com um “nó” parecido com furúnculo e em seguida se tornou uma “casquinha”. As lesões tiveram início há um ano

História da doença Atual (HDA)

Paciente JMS, sexo masculino,77 anos, procurou atendimento no pronto atendimento queixando-se de lesões nos pés que apresentaram início súbito há um ano. Tais lesões seguiam padrões ulcerativos, sem sensibilidade ao toque ou estímulo de dor.

Paciente apresentava membros inferiores com edema 3+/4+, falta de sensibilidade nas extremidades superiores e inferiores do corpo e parestesia nos dedos dos pés.

Relata uso de cefalexina há duas semanas e uso de pomada na região lesada, mas não houve fator de melhora do quadro clínico.

Antecedentes pessoais, familiares e sociais

Etilista, nega tabagismo.

Aposentado servente de pedreiro e apresenta hipertensão arterial (HAS) controlada e faz uso de losartana potássica de 25 mg/ 1 vez ao dia

Há 3 anos atrás residiu em condição precária com 8 pessoas e teve contato próximo e prolongado com a ex esposa diagnosticada com Hanseníase.

Exame físico

Paciente apresentava-se orientado em tempo e espaço, sem distúrbios na fala, hidratado, anictérico, acianótico e em ótimo estado nutricional.

Apresentava edema importante na região dos membros inferiores, sem sensibilidade ao toque e ao estímulo moderado de dor nas extremidades dos pés e mãos. Na região queixosa não apresentava sensibilidade alguma.

Suspeitas diagnósticas

  • Hanseníase tuberculóide (HT);
  • Hanseníase virchowiana (HV);
  • Hanseníase dimorfa (HD).

Exames complementares

O exame complementar mais indicado para diagnóstico é a baciloscopia, em alguns casos outros exames podem ser necessários, sendo eles: exame histopatológico da pele nos casos em que há dúvidas diagnósticas ou na classificação, biópsia do nervo em casos que há dúvida no diagnóstico diferencial com outras neuropatias.

Caso Clínico Hanseníase: diagnóstico

O diagnóstico correto de hanseníase é realizado de acordo com a história de evolução da lesão, epidemiologia e no exame físico, ou seja, uma investigação clinica completa.  Nesse paciente a descrição levou para a hipótese de hanseníase multibacilar (MB)

Discussão do caso da Hanseníase

Qual o agente etiológico da Hanseníase?

O agente etiológico causador da hanseníase é a M. leprae, uma bactéria intracelular obrigatória. Sua característica microscópica é imobilidade, apresentação gram positiva e álcool-ácido resistente, em forma de bastonete, sendo que possui afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos. 

Qual a patogênese dessa patologia?

A hanseníase acomete todas as faixas etárias, em ambos os sexos, porém dados da OMS refere uma proporção de 2:1 homens para mulheres, mas ressalva que esse dado não é universal e sim, regional.

A forma de transmissão se dá através do contato entre indivíduos infectados com o M. leprae e indivíduos sadios, por meio do convívio, além da susceptibilidade genética.

O diagnóstico clínico de Hanseníase:

Para concluir o diagnóstico clínico de hanseníase, deve-se obter dados interligados com a apresentação de uma ou mais das seguintes características:

  • Lesões de pele com alteração de sensibilidade;
  • Acometimento de nervo, com espessamento neural; 
  • Baciloscopia positiva.

Como é realizado o prognóstico?

       Paucibacilar (PB) Multibacilar (MB)
* Provável baciloscopia negativa.* Provável baciloscopia positiva.
Hanseníase indeterminada:  Constitui -se no estágio inicial da doença, com um número de até cinco manchas de contornos mal definidos e sem comprometimento neural.Hanseníase dimorfa: Apresenta manchas e placas, acima de cinco lesões, com bordas às vezes bem ou pouco definidos, com comprometimento de dois ou mais nervos, e ocorrência de quadros reacionais com maior frequência.
Hanseníase tuberculóide: Manchas ou placas de até cinco lesões, bem definidas, com um nervo comprometido. Podendo ocorrer neurite (inflamação do nervo).Hanseníase virchowiana: Corresponde a forma mais disseminada da doença. Há dificuldade para separar a pele normal da danificada, podendo comprometer nariz, rins e órgãos reprodutivos masculinos. Pode haver a ocorrência de neurite e eritema nodoso (nódulos dolorosos) na pele.
Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia

*OBS.: O resultado positivo de uma baciloscopia classifica o caso como MB, porém o resultado negativo não exclui o diagnóstico clínico da hanseníase, e nem classifica o doente obrigatoriamente como PB.

Após exames, o diagnóstico foi de Hanseníase dimorfa e a equipe médica decidiu seguir um tratamento de poliquimioterapia obtendo melhora significativa.

Conclusão

O tratamento da hanseníase se dá por meio de quimioterapia específica, supressão dos surtos reacionais, prevenção de incapacidades físicas, reabilitação física e psicossocial (ARAÚJO, 2003).

Em casos do tipo 1 ou reversa que apresenta um quadro clínico discreto sem neurite que pode ser tratada com analgésicos ou anti-inflamatórios não hormonais.

Em casos que apresentam neurites, placas reacionais extensas sobre trajeto nervoso ou com risco para ulceração são tratadas com prednisona na dose de 1 a 2mg/kg/dia até a regressão do quadro, a dose de manutenção deve ser feita por período mínimo de 2 meses.

Autores, revisores e orientadores

Liga: Liga de Infectologia de Formosa (LINFO) – @linfofsa

Autor(a): Maria Eduarda Barros Galvão

Revisor(a): Júlia Oliveira da Silva – @juliaoliiveira

Orientador(a): Heliara Maria Spina Canela

O texto acima é de total responsabilidade do(s) autor(es) e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


Referências

ARAÚJO, Marcelo Grossi. Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, [S.L.], v. 36, n. 3, p. 373-382, jun. 2003. FapUNIFESP (SciELO). dx.doi.org/10.1590/s0037-86822003000300010.

Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). HANSENÍASE. www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/hanseniase/9/#o-que-e  

Ministério da Saúde.  GUIA PRÁTICO SOBRE A HANSENÍASE. Brasília, 2017.

Ministério da Saúde. DIRETRIZES PARA VIGILÂNCIA, ATENÇÃO E ELIMINAÇÃO DA HANSENÍASE COMO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA. Brasília, 2016.